Alexandrina de Balasar

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HISTÓRIA DE BALASAR
EM LINHA

 
 

José Ferreira

Capítulo 1-1

A COMEÇAR

Localização e caracterização

A freguesia de Balasar fica no extremo norte do Distrito do Porto, a 14 quilómetros para nascente da sede concelhia, a cidade da Póvoa de Varzim; limita com Barcelos, Vila Nova de Famalicão e Vila do Conde e só se liga, através de Rates e por uma estreita faixa, com outras terras poveiras.

Do seu concelho é a freguesia mais acidentada, com áreas planas e muito férteis, mas com outras de monte, cuja altitude chega a ser a mais elevada de todo o espaço do município.

O rio Este atravessa-a em curso sinuoso, alagando-lhe vastas áreas no Inverno, mas potenciando-lhe as aptidões agrícolas. Esta terra contudo possui ainda largas zonas de mata, sobretudo a sudeste e sudoeste.

A estrada que vai da Póvoa para Vila Nova de Famalicão atravessa-a a norte; a auto-estrada A7 corta-a a sul. A sua via estruturante acaba por ser a que vai de Gestrins, passa junto à igreja e segue depois para Fradelos. Perpendicular a esta, vem uma outra dos lados de Arcos, pelo Casal e Lousadelo, passa também junto à igreja e vai até Além e Gresufes.

Em tempos, Balasar foi servida pelo caminho-de-ferro que ligava a Póvoa de Varzim a Vila Nova de Famalicão. A estação das Fontainhas era movimentada. Talvez por isso, mas sem dúvida também por o lugar se encontrar na encruzilhada das estradas que vinham de várias sedes de concelho e ainda de Rates, houve ali uma animada feira e uma ou outra indústria significativa. A quase vila que lá se desenvolveu, hoje voltada para o comércio e os serviços, deve muito a estes condicionalismos do seu passado.

Até 1836, Balasar pertenceu ao gigantesco concelho de Barcelos, passou depois para o da Póvoa, esteve mais tarde alguns anos no de Vila Nova de Famalicão, mas foi posteriormente reintegrada no da Póvoa de Varzim.

Até ao séc. XV, na área da freguesia havia duas paróquias, ambas a sul do rio, a de Balasar e a de Gresufes, sendo então esta integrada na primeira e tendo-se construído uma igreja nova, no lugar onde fica hoje o cemitério. Estão publicados diversos documentos relativos a esta anexação.

Gresufes era de senhorio nobre, mas não régio Balasar possuía terras reguenga, mas também de diversas instituições religiosas, como os Mosteiros de Rates, de S. Simão da Junqueira, de Landim e da Várzea, etc.

No século XVI, quando as duas freguesias já estavam unidas, foi instituída a Comenda de Balasar.

Uma chaminé que é uma obra-prima…
a caminho da ruína.

Característico desta freguesia, devido ao tipo da rocha local, foi o uso do xisto nas construções[1]. Quem repara em edifícios mais antigos, sobretudo os que caíram em abandono, verifica a constante presença deste material. Ainda mais fácil é encontrá-lo em muros. Isto é tanto mais notório quanto, em freguesias próximas, não há dele nenhum uso. Muitas pessoas parece que hoje o olham como material menos nobre e por isso no geral até os muros com ele construídos ameaçam ruína. Casos há todavia em que os proprietários souberam tirar felizes efeitos das construções que usavam este material tradicional[2].

Conciliação feliz entre o uso tradicional do xisto e o gosto artístico moderno.

Quem percorre a freguesia não deixa de notar que houve e há aí grandes casas de lavoura, quase sempre assinaladas por vistosas chaminés.

Balasar terá possuído uma casa nobre de raiz medieval, mas irrelevante, embora sejam conhecidos nomes de nobres que na freguesia tiveram bens, em particular no lugar de Gresufes, mas também em Gestrins.

A nobreza dos Grã-Magriços, da Quinta de D. Benta, vem só da Idade Moderna.

Em 21 de Junho de 1832, dia do Corpo de Deus e cerca de duas semanas antes do desembarque de Mindelo, ocorreu na freguesia um fenómeno extraordinário, sobre que se possui ainda uma documentação inteiramente fidedigna, a aparição de uma cruz desenhada no chão do lugar do calvário. Graças ao empenho do balasarense Custódio José da Costa, primeira testemunha da aparição, o fenómeno pôde originar uma devoção à Santa Cruz que rapidamente teve larga divulgação, como é testemunhado por quatro ex-votos e ainda pelo romance As Duas Fiandeiras, de Francisco Gomes de Amorim, natural de Aver-o-Mar.

A actual igreja foi construída apenas há um século e a sua localização teve a ver com a devoção à famosa Santa Cruz.

Actualmente, Balasar é a freguesia poveira mais conhecida no mundo, graças à Beata Alexandrina. Apesar de ter passado os últimos 30 anos de vida na cama, em 1955, quando faleceu, o seu nome e era já conhecido em todo o país e mesmo além-fronteiras, devido principalmente ao seu jejum de treze anos e sete meses, medicamente comprovado por uma observação rigorosa de 40 dias numa casa de saúde.

Em 25/4/2004, Alexandrina Maria da Costa foi beatificada por João Paulo II na Praça de S. Pedro. Sobre ela existe uma vasta bibliografia em línguas variadas e às vezes surpreendentes, como japonês, tailandês ou letão.

Não existia até agora nenhuma monografia histórica sobre Balasar mas são conhecidos valiosos e variados subsídios sem os quais esta compilação nunca seria possível.

No Internet podem-se consultar agora os Registos Paroquiais, o Tombo da Comenda e até as Memórias Paroquiais de 1758.

O pároco de Balasar P.e Leopoldino Mateus foi quem iniciou o estudo histórico da freguesia, com dois longos artigos saídos nos primeiros números do Boletim Municipal poveiro. Embora fale principalmente de realidades que conheceu é um ponto de partida imprescindível. Os seus noticiários para a imprensa poveira são também preciosos.

Outros correspondentes de Balasar escreveram assiduamente para jornais da sede do concelho.

A palavra Balasar

O P.e Leopoldino Mateus menciona um escrito do P.e Arlindo Ribeiro da Cunha que é bem claro sobre a origem da palavra Balasar[3]. Ela deriva de Belisário e daí que não haja nenhuma razão para a grafar com z em vez de s no princípio da última sílaba.

Nas Inquirições aparece Belsar e nos documentos do séc. XV que se verão adiante são usadas formas várias.

Quando porém se diz que a palavra deriva de Belisário, deve-se estar precavido para o seguinte: nunca terá havido qualquer Belisário em Balasar, mas só um Belsar. Paio Correia o Velho e o seu filho Pêro Pais Correia que aparecem à frente só no latim dos documentos tabeliónicos é que se chamavam, em formas alatinadas, respectivamente, Pelagius Corrigia vetus e Petrus Pelagii Corrigia, como é confirmado pelos nobiliários[4]. A língua já tinha evoluído muito e as pessoas comuns não sabiam mais latim do que hoje.

Mas o P.e Leopoldino tem uma explicação para a adopção do nome de Balasar para a freguesia que é errada e que deve ser corrigida. O erro nasce dele desconhecer mesmo, ao que parece, o texto das Inquirições.

Afirmou este antigo pároco que, no momento de se juntarem as duas paróquias, se pôs a questão do nome a dar à nova realidade que surgia e que houve polémica, acabando por se adoptar a solução de eliminar os dois nomes anteriores e optar pelo dum lugarejo insignificante. Pode ser que algo disto esteja na tradição local, mas o nome que na altura se adoptou foi o da freguesia anexante, que há muito se chamava Balasar, e não está documentada qualquer polémica a este respeito.

A ter existido alguma disputa do género, ela faria algum sentido se tivesse a ver com acontecimentos muito mais antigos, entre Lousadelo e Casal, quando a freguesia deixou de ser Santa Eulália de Lousadelo e passou a ser Santa Eulália de “Belsar” [5].


[1] Balasar chamou-se originalmente Lousadelo – Santa Eulália de Lousadelo – palavra que deriva de lousa.
[2] Em Gresufes parece que o xisto não suscitou tanto interesse como no resto de Balasar.
[3] Santa Eulália de Balasar, in Boletim Cultural Póvoa de Varzim, vol. I, nº 2, 1958, pp. 1-2.
[4] No Conde D. Pedro, o nome destes homens vem assim escrito: Paay Soarez Correa o Velho e Pero Paaez Correa.
[5] É preciso corrigir também a afirmação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira sobre Balasar como vila romana da cividade de Bagunte. Se Balasar era nome dum lugar insignificante, nunca poderia ser nome dessa vila… Depois, na área da Balasar original, só está documentada a antiga Vila do Casal.

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