Zaragoza, 11 de outubro
de 1797
Ao
entardecer desse dia, depois de um longo caminho desde a fronteira
francesa, chega em Zaragoza um
sacerdote
francês. Está cansado, mas ao avistar a única torre que, então tem,
a basílica da Virgem do Pilar, apressa seus pés cansados nas últimas
léguas do caminho. Para culminar, nem que tivesse calculado
propositadamente, chega nas vésperas da festa da padroeira. Há
alegria nas ruas. Com que inveja olha o povo simples expressar seu
amor à Virgem! Atrás, tinha deixado alguns duros anos de apostolado
em Bordéus, principalmente, o período mais cruel da revolução, o
Terror. Mas, justamente agora, quando parecia que a perseguição
amainava, o haviam expulsado como indesejável. Ele, que tanto ama
sua pátria. Escolheu Zaragoza para seu desterro, por ser uma cidade
mariana e, para ele, Maria é seu grande amor. Em sua primeira visita
ao Pilar, não pôde reprimir uma lágrima: “Senhora minha! Quanto
tempo terei que ficar aqui?”.
Uma família numerosa
Em 8
de abril de 1761, Brás Chaminade, comerciante de tecidos em
Périgueux, e sua esposa Catarina, acolhem seu sexto filho. Os cinco
anteriores, que o precederam com vida, também muito se alegram. Uma
família numerosa é uma graça. Com ela se aprende solidariedade,
tolerância, fraternidade...
O
irmão mais velho, João Batista, que tem 16 anos, se tornará
sacerdote secular e educador no Colégio São Carlos de Mussidan. Em
1762, o segundo, Brás, quererá ser Religioso. O pai, embora bom
cristão, tendo em vista a continuação de seu negócio pelos filhos,
se oporá. Brás inicia um jejum, nem curto nem longo ? hoje diríamos
uma greve de fome ?, que vence a oposição paterna.
Baptizaram o menino recém-nascido de Guilherme. É o menor, mas não
mimado. Nunca se esquecerá de uma lição que sua mãe lhe dera, e que
resume a pedagogia familiar de Catarina. O pequeno não gosta que o
penteiem. Sua mãe é firme: “Olhe,
mon
petit Minet,
ficar bonito tem um custo”.
Ao lado de seu irmão
Guilherme é atento e gosta de estudar. Por isso, em 1771, seus pais
o confiam ao seu irmão mais velho, João Batista, que agora é diretor
do Colégio São Carlos de Mussidan, a 35 km ao sudeste de Périgueux.
Lá recebe o sacramento da Confirmação e, nesse dia, Guilherme
acrescenta ao seu nome de Batismo, o de José. Não foi a pessoa mais
próxima de Maria? Ele também deseja sê-lo. A partir de então, sempre
assinará: G. José Chaminade. É um menino alegre, piedoso, muito
equilibrado e constante no esforço.
Um
episódio de sua vida colegial vai reforçar ainda mais seu amor à
Virgem Maria. Tem, então, doze anos e, em uma excursão, cisma de
subir pela ladeira de uma pedreira abandonada. O companheiro que
sobe à sua frente desprende uma pedra que cai no pé de Guilherme
José. Vira uma ferida grave que não fecha, apesar de todos os
cuidados. Por fim, depois de três semanas sem melhora, ele e João
Batista prometem à Virgem que, se a ferida for curada, irão a pé, em
peregrinação, ao santuário de Nossa Senhora de Verdelais. Não é uma
promessa qualquer, pois Verdelais fica a mais de 80 km dali. Mas o
remédio é eficaz: a ferida sara e, sem esperar mais, os dois irmãos
empreendem o caminho, andando, sem que o pé do menino se ressinta.
Em
1776, ao término dos estudos secundários, pede ao seu irmão para
ingressar na Congregação de São Carlos, isto é, em um grupo de
sacerdotes diocesanos que dirigem o colégio. Começa seus estudos
teológicos. São anos de silêncio, de oração, de trabalho, de
amadurecimento da fé... Faz um doutorado e termina seus estudos
sacerdotais em Paris. Uma “vida oculta”, tão oculta que não sabemos
sequer a data exata, nem o lugar da ordenação sacerdotal: mas em
1785, já assina como sacerdote. Ensina no colégio. É tranquilo, mas
incansável.
Explode a tormenta
Em
1789, reuniram-se em Paris os Estados Gerais e há presságios de
revolta política, simbolizada pela tomada da Bastilha, em 14 de
julho. Em janeiro de 1790, morre João Batista: é um duro golpe para
o colégio. Outro golpe pior chega em julho: a Assembléia Nacional
aprova a
Constituição Civil do Clero,
que todo sacerdote tem que jurar. Na prática, esse juramento é um
ato cismático, uma vez que sua finalidade é separar a Igreja da
França da cabeça visível de Roma. Os sacerdotes de Mussidan se
negam; o colégio desaparece e eles se tornam foras da lei. Têm um
nome maldito: são os “refratários”. Têm que passar à
clandestinidade. Guilherme José adquiriu, em Bordéus, uma casa para
seus pais já idosos. Pensa, com razão, que lá, em uma cidade grande,
poderá realizar melhor seu ministério, sem ser reconhecido. Percorre
as ruas vestido de caldeireiro ou de biscateiro, passando
frequentemente pela praça da Nação onde, durante quase um ano, entre
1793 e 1794, a guilhotina permanece erigida. Do sacada de uma casa,
ele deu algumas vezes, a absolvição às carretas de presos que iam
para a morte. As crianças o avisam: “Em tal casa, tal número..., tal
andar, se necessita de...”. E o caldeireiro leva os sacramentos aos
enfermos, confessa, celebra a Eucaristia, une em matrimônio... Mais
de uma vez, a polícia interrompe a celebração. Todos dissimulam.
Sempre pôde escapar... Lá pela metade do tempo do Terror, já haviam
caído vinte sacerdotes, a metade dos quais estavam escondidos em
Bordéus. “Em algumas ocasiões, só a espessura de uma tábua me
separou do cadafalso”, confessará mais tarde. Uma vez, os guardas
nacionais o seguiram e ele se enfiou na casa de seus pais. A moça,
Maria Dubourg, só teve tempo de colocá-lo debaixo de um barril.
Chegaram os perdigueiros: “Cidadã, viu um padre por aqui?”. “Os
senhores veem padres por toda parte... Estará debaixo deste
barril?”. Põem-se a rir. E ela acrescenta: “Os senhores estão
cansados. Vou servir-lhes uma taça de vinho”. E sobre o barril
salvador, tomam uns copos e vão embora alegres. José Maria Permán,
aluno dos marianistas em Cádiz, dedicou sua obra de teatro “Ama-me
ou deixa- me” a estes episódios de Chaminade (Edibesa, 1997).
Os anos do silêncio
Parecia que a tormenta amainava com a queda de Robespierre.
Finalmente, em 1797, como já vimos, o desterraram. Em Zaragoza,
havia muitos sacerdotes franceses. Tinham sido muito bem acolhidos,
mas não lhes era permitido exercer seu ministério. Para ganhar a
vida, além da missa que lhe confiavam, Guilherme José confeccionava
flores artificiais ou, fazia imagens de santos em gesso ou em cera,
usando moldes..., “na espera de poder fazê-los de carne e osso”,
dizia. Principalmente, estuda, lê, reza. Aos pés da Virgem do Pilar
descansa sua alma e sonha futuros apostolados. Ali, “vê” seus
futuros discípulos. Anos depois, ele lhes dirá: “Tal como os vejo
agora, os vi há muito tempo...” E não quis ser mais explícito.
Zaragoza foi um tempo chave em sua vida. Daí, voltará com nova
pujança e novas ideias. Por isso, seus discípulos levarão a imagem
da Virgem do Pilar até os confins do mundo.
A hora dos leigos
O
exílio durou três anos. Em novembro de 1800, Napoleão dá um golpe de
Estado: autonomeia-se primeiro cônsul. Os desterrados podem voltar.
Sem perder um minuto, Guilherme José retorna a Bordéus e se apressa
em abrir um andar com um oratório na rua Saint-Simon. Quer
dedicar-se, antes de tudo e sobretudo, à juventude. Um dia, vê dois
jovens que não se conhecem. Coloca-os em contato e os anima a
trazer, cada um deles, outro jovem. Foram quatro, depois oito, e em
08 de dezembro, festa da Imaculada, eram doze.
E
virão mais, atraídos por esse sacerdote que os compreende tão bem e
sabe despertar seu entusiasmo. Funda a “Congregação da Imaculada”,
as atuais “Comunidades Leigas Marianistas”. Inspiradas nas dos
jesuítas, Chaminade lhes dá um sentido mais apostólico. Pensa que é
hora dos apóstolos leigos e, nisso, se mostra um precursor.
Guilherme José lhes explica que seu batismo deve impulsioná-los a
“multiplicar os cristãos”. Por isso, lhes pede que vivam e renovem
as promessas batismais. Em 02 de fevereiro de 1801, onze jovens ?
pois um faleceu ?, com a mão sobre o Evangelho, pronunciam um
compromisso pessoal: “Eu, ..., servidor de Deus e filho da santa
Igreja Católica, Apostólica, Romana, me entrego e me consagro ao
culto da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Prometo honrá-la e
fazê-la ser honrada como Mãe da Juventude, enquanto depender de
mim.” Mãe da Juventude: um título novo de Maria. Depois virão homens
e mulheres maduros, mas sempre os jovens terão preferência. Irão se
multiplicar, apesar dos problemas de terão com Napoleão e com outros
governos. São a menina dos olhos de Chaminade, a “santa milícia que
avança em nome de Maria, para assisti-la em sua missão de
recristianizar a sociedade.”
Com
que entusiasmo Chaminade os descreve: “No século mais pervertido de
todos os tempos, do próprio seio da corrupção, em meio a todos os
vícios, vai nascer uma geração casta, uma geração virtuosa. Diz ser
a família da puríssima Maria ...”. As guerras de Napoleão contra
toda a Europa, com um serviço militar sem limite de tempo, levam
embora muitos congregantes. Apesar de tudo, em 1808, quando Napoleão
invade a Espanha, a congregação de Bordéus tem 300 rapazes, 250
moças, além de muitos pais e mães de família. Na origem da renovação
cristã pós-revolucionária de Bordéus, está sempre o nome de
Guilherme José Chaminade.
Cheios de Deus e em nome de Maria, procuram atender as necessidades
que se apresentam. Há analfabetismo: alguns congregantes criam uma
escola. Há meninos que vivem do campo, explorados como limpadores de
chaminés: os congregantes se ocupam deles. Há desemprego: organizam
uma oficina de colocação. Há ignorância religiosa: organizam
conversas sobre a fé. Há necessidade de combater as leituras
nocivas: monta-se uma biblioteca ambulante. Estão em tudo. Por
acréscimo, nesses anos, dentre os jovens, sairão centenas de
religiosos, religiosas, sacerdotes ? entre eles ?, seis bispos.
Teresa e Adélia
Duas
mulheres intrépidas na vida de Guilherme José. Muito diferentes em
idade, caráter, formação. Ambas estão, agora, em processo de
beatificação. Teresa de Lamourous (1754-1836) é algo maior que
Guilherme José, seu diretor espiritual. Durante o Terror, arriscou
sua vida, catequizando as pessoas e ajudando os sacerdotes
“refratários”. Agora é a alma da congregação das mulheres. O padre
Chaminade era uma coisa a mais! ? o assistente espiritual e o
confessor da Obra da Misericórdia, uma organização em favor das
prostitutas de Bordéus. Teresa o ajuda. Um dia, ela, vencendo sua
repugnância, decide ficar ali e funda um novo instituto religioso em
prol delas: as Irmãs da Misericórdia.
Adélia de Trenqueléon (1789-1828) (10 de janeiro) entrou na órbita
de Chaminade bem mais tarde e por “casualidade”. Nascida no ano da
eclosão revolucionária, filha de um nobre oficial da Guarda Real,
teve que sair com toda sua família, desterrada para Portugal e
Espanha. Uma infância dura, mas iluminada pela profunda fé de seus
pais. Volta à sua terra, em 1803, por causa de sua Confirmação,
organiza com suas amigas uma associação para viver uma vida cristã
autêntica e ajudar aos pobres. Em 1808, providencialmente, conhece a
congregação de Bordéus que a entusiasma. Afilia sua associação à de
Bordéus. Uma simpática e profunda correspondência vai estabelecer-se
entre Guilherme José e Adélia, colorida de mútua admiração e
carinho. Ela será, verdadeiramente, a filha de sua alma. Desejosa de
consagrar-se a Deus, em 1816, ajudada pelo padre Chaminade, inicia
em Agen, o Instituto das Filhas de Maria Imaculada, as marianistas.
Que dor para seu pai espiritual, quando morre tão jovem ? em 1828!
O “Dia grandemente
memorável”
João
Batista Lalanne, um dos primeiros congregantes, é estudante de
medicina. Tem 22 anos, e no dia 01 de maio de 1817, visita aquele
que, para ele, é seu pai espiritual. Pensou bastante e veio
colocar-se à sua disposição. Sente-se chamado a um estilo de vida, a
um apostolado, parecidos com o seu... Chaminade se emociona: “Estava
esperando por isto, há tantos anos!” E lhe explica sua idéia:
faremos um grupo de homens, consagrados a Deus através de votos
religiosos, sem hábito, com facilidade para adaptar-se a todas as
situações... E termina, dizendo: “E poremos tudo sob a proteção de
Maria Imaculada... Sejamos em nossa humildade o calcanhar da
mulher”.
Outros vão responder ao chamado: até sete. João Batista e mais outro
querem ser sacerdotes; há um professor e dois estudantes que querem
dedicar-se à educação, sendo religiosos, mas sem sacerdócio. Dois
operários unem-se a eles também; são toneleiros, fazem barris para o
bom vinho da região. Em 02 de outubro de 1817, estes sete jovens
decidem edificar “um homem que não morra”: a
Companhia de Maria.
Um instituto religioso em que religiosos e sacerdotes, educadores e
operários vão trabalhar em pé de igualdade, sem privilégios para
ninguém. Chaminade não tem medo de adotar o tríplice lema
“revolucionário” ? liberdade, igualdade, fraternidade ? que lhe
parece, e com razão, muito cristão. Dá-lhes ordens claras: “União
sem confusão”, “Todos sois missionários”, “Maria à frente, nós,
atrás da Virgem capitã”, e como Maria disse aos servidores de Caná,
lhes diz: “Fazei tudo o que Ele vos disser”... Chaminade está feliz.
Nasce a Companhia de Maria, nascem os marianistas. E se completa a
Família Marianista: leigos, religiosas, religiosos.
Em
outubro de 1817, Lalanne e seus companheiros começam sua vida em
comum. O que esses jovens vão fazer? Ocupar-se da congregação, é
claro. Mas, além disso, de tudo o que permita “propagar a fé”. Uma
constatação: na França, a grande maioria dos habitantes são
analfabetos. Por outro lado, há tão poucas escolas e colégios
cristãos! Ademais, a educação é própria, como nenhum outro
apostolado, a “multiplicar os cristãos”. Os marianistas se tornam
educadores. João Batista Lalanne será um pioneiro em metodologia
pedagógica. O sudoeste da França se enche de escolas dirigidas por
marianistas; começa-se a trabalhar com professores leigos,
iniciam-se as escolas normais. Rapidamente, a Companhia de Maria se
lança no Nordeste, a outra esquina da França: Alsácia e Lorena são
povoadas de escolas marianistas.
O crivo do diabo... ou do Senhor
A
revolução de julho de 1831, que acaba com o reinado de Carlos X, vai
ser como uma bordoada nessa expansão. Mas os acontecimentos
políticos nunca amedrontaram o Pe Chaminade. Vasculham sua casa, tem
que sair de Bordéus e se retira por uns anos em Agen, onde há um
colégio marianista e onde estão suas queridas religiosas
marianistas. Logo virão tempos melhores!
O
que lhe dói no mais profundo da alma é o abandono de dois dos sete
primeiros marianistas. Em maio de 1832, o padre Chaminade, que tem
71 anos, recebe uma triste notícia: dois dos que eram os pilares do
Instituto e seus mais próximos colaboradores, Augusto
Brugnon-Perrière e o padre João Batista Collineau perdem a fé nele.
Não em Deus, apenas nele, Chaminade. Pensam que a Companhia de Maria
não tem futuro, que não é sólida; que é um absurdo que sacerdotes e
religiosos não sacerdotes estejam em pé de igualdade, que o padre
Chaminade está velho... Quando se perde o amor primeiro, vêm
desentendimentos e dificuldades por qualquer coisinha. Como os
discípulos de Emaús, seus olhos estão ofuscados pela tristeza. O
novo arcebispo de Bordéus, monsenhor De Cheverus, que não sabia
quase nada sobre o padre Chaminade, lhes dá razão e, sem nenhuma
consulta prévia, desliga os dois de seus votos. E, ainda mais,
àquele que é sacerdote o faz cônego de sua catedral. Para o
arcebispo de Bordéus, a Companhia de Maria agoniza.
“O poder de Maria não diminuiu”
Guilherme José é um homem de profunda fé que não se deixa
impressionar. Sabe que as fundações feitas por ele foram “inspiradas
por Deus”. Um dos lemas que sempre propôs aos seus discípulos foi:
“Fortes na fé”. E dá o exemplo. Sua firmeza será amplamente
recompensada. Em 1839, recebe da Santa Sé o decreto de louvor (Decretum
laudis)
para seus dois institutos. Escreve uma valiosa carta aos religiosos
para inculcar-lhes o amor à sua vocação e a confiança total na
Companhia de Maria “que se colocou inteiramente a serviço e sob o
estandarte de sua augusta padroeira”.
Com
ânimo iluminado, lhes escreve: “Em nossa época, o poder de Maria não
diminuiu. Ela vencerá esta heresia (a indiferença religiosa) como
todas as outras, porque ela é, hoje e sempre, a Mulher por
excelência, a Mulher prometida para esmagar a cabeça da serpente...
Ela é a esperança, a alegria, a vida da Igreja... A ela está
reservada, em nossos dias, uma grande vitória, a ela corresponde a
glória de salvar a fé do naufrágio, pelo qual está ameaçada entre
nós”. “...E assim, como uma ordem merecidamente célebre, tomou o
nome e o estandarte de Jesus Cristo, nós tomamos o nome e o
estandarte de Maria, dispostos a voar para onde ela nos chamar, para
expandir seu culto e, através dele, o Reino de Deus nas almas”.
O
tempo deu e continua dando razão a Chaminade. Suas fundações e sua
espiritualidade perpassaram até hoje e continuam fazendo o bem no
mundo inteiro.
“Mas ela te esmagará a cabeça...”
Maria foi a grande força de Guilherme José Chaminade. Um dia, já em
sua velhice, deixou escapar esta confidência: “Pela grande
misericórdia de Deus, desde há muito tempo, não vivo nem respiro
mais, a não ser para propagar o culto da augusta Virgem e conseguir
assim, todos os dias, que sua família cresça e se multiplique”.
Chaminade é tranquilo, cheio de garra, sempre atento aos sinais de
Deus e, quando iluminado pela fé, está seguro, nada nem ninguém pode
detê-lo. Alguém o definiu como “força tranqüila”.
Seus
últimos anos vão trazer-lhe mais complicações. Não importa. No
noviciado de Santa Ana de Bordéus, já meio cego, apoiando sua mão no
ombro de um noviço, pede que o acompanhe até o fim da alameda, onde
há uma imagem da Imaculada. Ali, procura, com sua mão trêmula, a
cabeça da serpente sob o pé de Maria e repete com
força:
“Apesar de tudo, ela te
esmagou a cabeça e ta esmagará para sempre”. Sabe que, apesar das
múltiplas insídias que a serpente arma e armará sempre contra Maria
e contra a Igreja, da qual Maria é mãe e símbolo, no final, Cristo
vencerá.
Em
22 de janeiro de 1850, Guilherme José Chaminade morre em paz. Deixou
atrás de si uma família, um “homem que não morre”. Cento e cinquenta
anos depois, o papa João Paulo II o beatifica, solenemente, na praça
de São Pedro em Roma, em 03 de setembro do ano jubilar 2000.
José Maria Salaverri, S. M.
Ex-superior geral dos
religiosos marianistas
http://www.marianistasbrasil.org/ |