Gresufes
é um lugar muito antigo da freguesia de Balasar, que durante alguns
séculos foi sede de paróquia. O homem que lhe deu o nome deve ter
vivido uns mil anos antes da Alexandrina e chamava-se Gresulfo.
Ilustração 1:
Quando nos aproximamos de Gresufes, deparamo-nos com
o espectáculo dum povoado tradicional,
mas que se renova.
A
paróquia tinha por padroeiro próprio Jesus ou S. Salvador.
Ilustração 2:
Gresufes visto do norte. A casa dos Vicentes ficava ao centro da
imagem,
onde está aquela habitação com um grande portão e a sacada em cima a
castanho.
Gresufes
é rodeado de colinas pelo nascente, sul e poente, e cheio de
verdura. Abre-se só para norte, em direcção ao
lugar
de Além e ao rio Este.
É
certamente um recanto bucólico, bom para descanso e meditação.
A
Gresufes vai-se e regressa-se, pois a estrada pára ali.
Que pode
ter feito deste lugar uma paróquia?
Por um
lado a água, que ali há-de ser abundante. Se ela exista, podia-se
criar o povoado.
Ilustração 3:
Esta imagem mostra a frente poente da antiga casa
dos Vicentes. Quase ao fundo, ficava o portal.
Mas
poder-se-á apontar outra razão: muito perto tinha havido um outeiro,
qualquer pequeno centro religioso de antes da nossa era. A paróquia
de Gresufes há-de ser de algum modo sua sucessora.
Hoje
reúnem-se lá uma dezena e meia de casas: umas recentes, outras
antigas e bastante humildes, mas ao menos umas três impõem-se pelo
seu carácter vistoso.
A dos
Vicentes, isto é, a da família da mãe da Alexandrina, não era das
mais pobres. Mas depois, talvez por má administração, a casa teve de
ser vendida e arruinou-se.
No lugar
da casa original, foi reconstruída uma habitação recente: mas
escapou a cozinha onde, nesse memorável dia de 30 de Março de 1904,
nasceu a Alexandrina. Devia estar frio e a mãe deu à luz a filha
junto à lareira.
Ilustração 4:
Lareira e forno. Foi frente a eles que a Alexandrina nasceu.
Além da
lareira, a cozinha mantém também o forno e a chaminé: o forno para
semanalmente nele se cozinhar o pão familiar e a grande chaminé para
o seu efeito comum, de libertar o fumo da cozinha. Era sob a
chaminé, frente à lareira, que se rezava, que se conversava e se
fiava nas longas noites de inverno.
Tradicionalmente, as chaminés eram aparatosas.
Na parede
há uma área escavada certamente destinada a um louceiro ou outro
arrumo.
Ilustração 5:
Lintel do antigo portal da casa dos Vicentes. A
inscrição pretendia dizer:
Anno Domini 1764 (Ano do Senhor de 1764). Ao meio, vê-se uma cruz.
A casa
vinha, ao que parece, do séc. XVIII. Ao menos é assim que se vê no
lintel que havia sobre a porta principal.
Desta
porta, salvou-se também uma das ferragens da fechadura.
Na
Autobiografia, a Alexandrina deixou-nos algumas memórias da infância
passada em Gresufes, algumas até divertidas. Veja-se uma, que é a
mais antiga, a da malga partida.
Como era
desinquieta e, enquanto minha mãe descansava um pouco, tendo-me
deitado junto dela, eu não quis dormir e, levantando-me, subi à
parte de cima da cama para chegar a uma malga que continha gordura
de aplicar no cabelo – conforme era uso da terra – e, por ter visto
alguém fazê-lo, principiei também a aplicá-la nos meus cabelos.
Minha mãe
deu por isso, falou-me e eu assustei-me. Com o susto, deitei a malga
ao chão, caí em cima dela e feri-me muito no rosto.
Foi
preciso recorrer imediatamente ao médico que, vendo o meu estado,
recusou-se a tratar-me, julgando-se incapaz. Minha mãe levou-me a
Viatodos, a um farmacêutico de grande fama, que me tratou, embora
com muito custo, porque foi preciso coser a cara por três vezes e
levou bastante tempo a cicatrizar a ferida. O sofrimento foi
doloroso.
Este
acidente deixou à Alexandrina uma marca bem visível ao lado da boca:
não dava para esquecer. O farmacêutico de Viatodos era o Sr.
Oliveira, da Farmácia da Isabelinha.
Deste
segundo episódio a Alexandrina podia-se ter saído bastante mal, mas
a brincadeira terminou sem problemas:
Um dia,
fui com a minha irmã e uma prima apascentar o gado, entre ele, uma
égua. A certa altura, a égua fugia para o lado do campo que estava
cultivado e, como a fosse tornar, ela atirou-me ao chão, dando-me
com a cabeça, e depois colocou-se sobre mim; de vez em quando
raspava-me o peito com uma pata sobre o meu coração, como quem
brinca. Levantava-se, relinchava e voltava a fazer o mesmo. Fez
assim algumas vezes, mas não me magoou.
As minhas
companheiras gritaram e acudiram várias pessoas que ficaram
admiradas de eu sair ilesa da brincadeira do animal.
Ilustração 6:
Era comum haver um par destas ferragens nos portais das casas de
lavoura. Este, da casa dos Vicentes, deve datar de cerca de 1870. É
semelhante a vários outros da freguesia.
J.F. |