Francisco
Jorge Mario Bergoglio
Cardeal, Papa desde Abril 2013
1936
O
argentino Jorge Bergoglio, 76 anos, eleito para suceder ao papa
Bento XVI, é um jesuíta austero, de tendência moderada e que leva
uma vida discreta. Sua designação para ocupar o trono de São Pedro é
a primeira de um americano para dirigir a Igreja Católica, que
também jamais esteve a cargo de um representante da Companhia de
Jesus.

Arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, este homem tímido e
de poucas palavras goza de um grande prestígio entre seus seguidores
que apreciam sua total disponibilidade e sua forma de vida, afastada
de qualquer ostentação. Ao se tornar o 266º papa da história, ele
adoptou a alcunha Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis.
Trajectória
Jorge
Bergoglio nasceu no dia 17 de Dezembro de 1936 no seio de uma
família modesta da capital argentina, filho de um funcionário
ferroviário de origem piemontesa e de uma dona de casa. Frequentou a
escola pública, onde se formou como técnico de química.
A 11 de
março de 1958 ingressou no noviciado da Compa-nhia de Jesus, estudou
Humanidades no Chile e em 1963, regressado a Buenos Aires,
licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Filosofia do Colégio «São
José» de São Miguel.
De 1964 a
1965 foi professor de Literatura e Psicologia no Colégio da
Imaculada de Santa Fé, e em 1966 ensinou a mesma matéria no colégio
de El Salvador de Buenos Aires.
De 1967 a
1970 estudou Teologia na Faculdade de Teologia do Colégio «São
José», em São Miguel, onde se licenciou.
Em 13 de
dezembro de 1969 foi ordenado sacerdote.
No ano
letivo de 1970-71, superou a terceira provação em Alcalá de Henares
(Espanha) e em 22 de abril fez a profissão perpétua.
Foi
professor de noviços em Villa Barilari, em São Miguel (1972-1973),
professor da Faculdade de Teologia, Consultor da Província e Reitor
do Colégio Massimo. A 31 de julho de 1973 foi eleito Provincial de
Argentina, cargo que exerceu durante seis anos.
Entre
1980 e 1986, foi reitor do Colégio Massimo e da Faculdade de
Filosofia e Teologia da mesma casa e pároco da paróquia do Patriarca
São José, na diocese de São Miguel.
Foi nos
anos difíceis da ditadura argentina (1976-83), que Jorge Bergoglio
precisou manter a qualquer custo a unidade do movimento jesuíta –
invadido pela Teologia da Libertação – sob o lema de “manter a não
politização da Companhia de Jesus”, segundo seu porta-voz Guillermo
Marcó. Depois, viajou à Alemanha para obter seu doutorado e em seu
retorno retomou a actividade pastoral como simples sacerdote de
província na cidade de Mendoza (1,1 mil km a oeste de Buenos Aires).
Em Março
de 1986 foi para a Alemanha para concluir a sua tese de doutoramento
e os seus superiores enviaram-no para o colégio de El Salvador, e
depois para a igreja da Companhia de Jesus, na cidade de Córdova,
como diretor espiritual e confessor.
Em 20 de
Maio de 1992, João Paulo II nomeou-o Bispo titular de Auca e
auxiliar de Buenos Aires. Em 27 de junho do mesmo ano recebeu na
catedral de Buenos Aires a ordenação episcopal das mãos do cardeal
Antonio Quarracino, do Núncio Apostólico D. Ubaldo Calabresi e do
Bispo de Mercedes-Luján, D. Emilio Ogñénovich.
Desde então, Jorge Bergoglio
começou
a escalar rapidamente a hierarquia católica da capital argentina:
vigário episcopal em Julho deste ano, vigário-geral em 1993 e
arcebispo coadjutor com direito de sucessão em 1998. Converteu-se
posteriormente no primeiro jesuíta primaz da Argentina e, em
Fevereiro de 2001, vestiu finalmente a púrpura de cardeal.
Homem moderado
O
arcebispo goza de prestígio geral por seus dotes intelectuais
e dentro do Episcopado argentino é considerado um
moderado,
a meio caminho entre os prelados mais conser-vadores e a minoria
progressista. Em um país de maioria católica, se opôs de forma tenaz
em 2010 à aprovação da lei que consagrou o casamento homossexual, a
primeira na América Latina.
“Não
sejamos ingénuos: não se trata de uma simples luta política; é a
pretensão destrutiva ao plano de Deus”, disse Jorge Bergoglio pouco
antes da sanção da lei. Também se opôs a uma mais recente lei de
identidade de gênero que autorizou travestis e transsexuais a
registrar seus dados com o sexo escolhido. Estas duas iniciativas
esfriaram as relações entre a Igreja argentina e a presidente
Cristina Kirchner, embora a presidente, que se declara cristã, seja
contrária à legalização do aborto.
Apesar de sua meteórica carreira na hierarquia católica, continua
sendo um homem muito humilde. Sua rotina começa às 4h30 e termina às
21h. O jornal argentino
La Nación
o definiu como um “inimigo de
aparições estriden-tes”. Segundo o periódico, Jorge Bergoglio possui
um per-fil discreto que lhe permite andar de metro ou autocarro como
um passageiro qualquer.
“Seu estilo de vida é sóbrio e austero. Esse é o modo com ele vive.
Anda de metro, autocarro. Quando ele vai a Roma, viaja de classe
económica”, diz Francesca Ambro-getti, co-autora de uma biografia de
Jorge Bergoglio, ou-vida pela Reuters. Homem
de hábitos monacais, ele rejeitou a residência oficial oferecida da
Arquidiocese de Buenos Aires, optando por morar em um simples
apartamento nos arredores da capital argentina.
Francisco é um grande leitor dos escritores argentinos Jorge Luis
Borges e Leopoldo Marechal e do russo Fiodor Dostoievsky, amante da
ópera e fã do clube de futebol San Lorenzo, curiosamente fundado por
um sacerdote.
Adaptação: Afonso Rocha |