Importantíssima
carta esta, pois nela relata a Beata Alexandrina ao seu Director espiritual o
primeiro pedido de consagração do Mundo ao Coração Imaculado de Maria, que Jesus
lhe dirigiu. Ele sente a importância desta comunicação e por isso mesmo “não
pode passar aquele dia sem lhe dizer alguma coisa”, mesmo se “está de tal forma
que mal pode falar”.
Alexandrina
começa por indicar o dia em que este pedido foi feito : “No dia trinta, depois
da Sagrada Comunhão”. Trata-se do dia 30 de Julho desse mesmo ano 1935.

Jesus não entra
logo no “vivo do sujeito”, mas começa por saudá-la de maneira alegre, mesmo
jovial : — “Minha filha, ó minha querida rainha, a que alturas te levei, esposa
do Rei Sacramentado”. Depois, queixa-se da humanidade e pede à esposa amada que
“enquanto vives pede-me pelos ceguinhos, pelos pobres pecadores”.
Várias vezes
Jesus lhe dirá, como aqui, que “está à espera de almas que lhe dediquem um amor
como tu, mas não as tenho. Sou tão desprezado ! Mas não é só isso, sou tão
ofendido ! Tem pena do teu Jesus, meu anjo, meu amor !”
« Vem depois, o
grande pedido, que se renovará muitas vezes, até ser concretizado : a
consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria.
“Manda dizer ao
teu pai espiritual que, em prova do amor que dedicas a Minha Mãe Santíssima,
quero que seja feito todos os anos um acto de Consagração do mundo inteiro”.
Obediente como
sempre, Alexandrina mandou dizer ao seu Paizinho espiritual o que Jesus acabava
de lhe pedir, mas não foi ouvida, como no-lo confirma o Padre Mariano Pinho,
então seu Director espiritual :
« Não ligámos
por então importância a esta parte da carta, pois era a época, como ela afirma
acima, dos mimos e das consolações espirituais, e são tão fáceis nessas
circunstâncias os equívocos e enganos a respeito do que se experimenta na
alma... »
« Convém também
ter presente — lembra o professor José Ferreira, e com razão — que, embora
viesse de Jesus, o pedido impunha uma tarefa ingente : mobilizar o Papa e com
ele toda a Igreja ! E isto na base do pedido duma ignorada paralítica a viver
numa desconhecida paróquia rural dum pequeno país ».
Esta consagração
anual deveria, segundo os desejos e instruções de Jesus, realizar-se “num dos
dias das suas festas, escolhido por” Alexandrina : “Assunção, Purificação ou
Anunciação”. Na cerimónia mundial organizada pela hierarquia da Igreja, o clero
e os fieis deveriam pedir “à Virgem sem mancha de pecado que envergonhe e
confonda os impuros, para que eles arredem caminho e não ofendam” mais Jesus.
Uma outra
indicação interessante sobre esta consagração, encontramo-la ainda na mesma
mensagem de 30 de Julho de 1935:
“Assim, como
pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao Meu Divino Coração,
assim peço-te a ti para que seja consagrado a Ela com uma festa solene”. »
* * * * *
« Balasar, 1 de Agosto de 1935
Viva Jesus !
Meu P.
Estou de tal forma
que mal posso falar ; mesmo assim, não posso passar este dia sem lhe dizer
alguma coisa, enquanto o meu bom Jesus me for dando algum sopro de vida.
Ainda não deixei
dia nenhum de receber o meu querido Jesus em minha pobre alma. Como Ele é tão
bom para mim ! Concedeu-me esta graça tão grande sem eu merecer : Se ao menos,
eu lhe soubesse corresponder ! Pobre de mim, que não sei. Não o amo tanto como
desejo nem como Nosso Senhor é digno de ser amado. Parece que tudo vai acabar ;
já rezo tão pouquinho ! Não tenho forças para o fazer. Hoje confessei-me, fiquei
tão desanimada ! Nosso Senhor não me abandone, pela sua infinita misericórdia.
Se Ele estiver comigo, tudo venço sem dificuldades ; o que eu quero é sofrer
muito, muito pelo meu amado Jesus, e o que eu queria era que Ele não fosse
ofendido. Mas que horror ! Como se ofende tão gravemente ! Que pena eu tenho do
meu querido Jesus !
No dia trinta,
depois da Sagrada Comunhão, sentia-me muito bem com Nosso Senhor, sentia uma
grande união com Ele. Passados alguns momentos ouvi que Ele me chamava :
— Minha filha, ó
minha querida rainha, a que alturas te levei, a esposa do Rei Sacramentado.
Continua, minha querida filha, a tua breve missão : enquanto vives pede-me pelos
ceguinhos, pelos pobres pecadores. Ainda tens muitos para conduzires aos teus
caminhos. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, conduz-mos para que Eu seja
amado. Não me deixes nem um momento sozinho nos meus sacrários. E estou à espera
de almas que me dediquem um amor como tu, mas não as tenho. Sou tão desprezado !
Mas não é só isso, sou tão ofendido ! Tem pena do teu Jesus, meu anjo, meu amor!
Cura com a tua reparação esta lepra tão contaminosa. Manda dizer ao teu pai
espiritual que, em prova do amor que dedicas a Minha Mãe Santíssima, quero que
seja feito todos os anos um acto de Consagração do mundo inteiro, num dos dias
das suas festas, escolhido por ti : Assunção, Purificação ou Anunciação, pedindo
à Virgem sem mancha de pecado que envergonhe e confunda os impuros, para que
eles arredem caminho e não me ofendam. Assim, como pedi a Santa Margarida Maria
para ser o mundo consagrado ao Meu Divino Coração, assim peço-te a ti para que
seja consagrado a Ela uma festa solene.
Sentia as carícias
de Nosso Senhor de que já tenho falado a Vossa Reverência e dizia-me Nosso
Senhor :
― Não te
descuides com a tua tarefa. Manda-lhe dizer tudo que ele te mandará ordens.
Hoje mesmo, recebi
a notícia que por estes dias ia receber a visita da minha irmãzinha da Sertã :
fiquei imensamente satisfeita.
Muitas lembranças
da minha mãe e da Deolinda ; digo-lhe e peço para me não esquecer junto de Nosso
Senhor que eu continuo a fazer o mesmo. Abençoe, por caridade, a pobre
Alexandrina Maria da Costa. »
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