D. Manuel
Linda em Balasar
“Só vive para Deus quem vive de Deus”
Do
“Diário do Minho” de 14/10/09, copiamos este óptimo trabalho
noticioso sobre a Festa da Beata Alexandrina, do dia anterior.
Centenas de pessoas, entre as quais doentes e idosos, encheram,
ontem, a igreja paroquial de Santa Eulália de Balasar,
Póvoa
de Varzim, para celebrarem a festa litúrgica da Beata Alexandrina,
onde se recordava o 54.º aniversário do seu nascimento para junto de
Deus.
Presidiu a esta celebração eucarística o Bispo Auxiliar de Braga D.
Manuel Linda, sendo concelebrada pelo pároco de Balasar, padre
António Loureiro Lopes, pelo vigário paroquial, padre Paulo Sérgio,
pelo arcipreste de Vila do Conde/Póvoa de Varzim, padre Manuel Sá
Ribeiro, e outros sacerdotes.
Foi uma
celebração cheia de emoção, de fervor e de fé. Diante de uma
assembleia tão diversifi-cada e numerosa, respirava-se um profundo
clima de oração, de paz, um aroma que, através dos cânticos e da
Palavra de Deus, a todos contagiava.
O padre
António Loureiro tomou a palavra, no início da celebração, para dar
as boas-vindas a todos os devotos da Beata Alexandrina, estendendo
as felicitações a D. Manuel Linda, que foi a primeira vez que esteve
em Balasar.
Na sua
intervenção, o sacerdote referiu que, através deste dia, dá-se
«graças a Deus pela vida e pelo testemunho de vida da querida Beata
Alexandrina: uma vida apaixonada pela Eucaristia e pela
reconciliação; um amor especial pelos sacerdotes; uma vida voltada
para os sacrários; no fundo, uma vida com uma espiritualidade
marcadamente eucarística. Assim, este santuário reveste-se hoje de
festa».
«As
rosas brancas, flor muito admirada por ela, e com as quais a igreja
estava ontem embelezada, falam-nos da pureza, falam-nos da brancura,
falam-nos que a vida, a nossa vida, tem também duas dimensões: a
alegria, simbolizada na brancura e no aroma das rosas, e os espinhos
que, simbolizam as amarguras, os sofrimentos que a nossa vida de
todos os dias nos apresenta. Só o perfume, só o suave odor das
rosas, que simbolizam o próprio Deus, são capazes de atenuar os
dramas da nossa vida», acrescentou.
As
palavras proferidas pelo novo Bispo Auxiliar de Braga, no momento da
homilia, foram bastante profundas e convincentes, resumidas a três
aspectos:
1)
Centralidade eucarística: ligação de Fátima e Balasar. No dia 13
de Outubro, lembramos também todos os peregrinos de Fátima; há uma
ligação, uma ponte muito grande entre Balasar e o Altar do Mundo.
Lembremos a aparição do Anjo com o cálice e a hóstia consagrada,
convidando à adoração. Em Tui, Lúcia recebe a visão de Jesus
Cristo. Isto para dizer que a mensagem de Fátima começa e termina
com a Eucaristia.
A Beata
Alexandrina exemplo disso: não tinha força física, não tinha grande
saúde, mas deixou-se fortalecer com a força de Deus, através da
Eucaristia; uma vida somente a partir de Deus, chegando ao extremo
de se alimentar apenas da Eucaristia.
Verifica-se, hoje, um afrouxamento da prática religiosa.
Deixando-se a Eucaristia, deixa-se o mistério de Deus e fica apenas
o dormir, o comer, ou seja, meramente humano.
Neste
momento da sua reflexão, D. Manuel Linda deixou um
desafio-compromisso a todos os presentes: que daqui até ao Natal,
cada um de nós fosse capaz de trazer um nosso irmão que, em alguma
fase da sua vida, abandonou a prática da Eucaristia, orientando-o,
propondo as nossas ideias e os nossos ideais cristãos, mas nunca
impondo, pois só vive para Deus quem vive de Deus.
2)
Dimensão missionária da vida de Alexandrina. Habituada a dar
tudo, Alexandrina chega mesmo a oferecer a sua saúde. No seu coração
cabem todas as intenções do mundo, quem vive de Deus sente pena
daqueles que não vivem de Deus. Há vizinhos nossos em que esta
situação acontece. Há pessoas que conhecem Cristo, mas nunca tiveram
com Ele uma experiência de intimidade, nunca se deixaram enamorar
por Ele.
Mês de
Outubro, mês das missões: impulso a que todos os cristãos estão
chamados, este amor que cada um deve dedicar para com aqueles que
ainda não conhecem Cristo, tal como foi a vida e o testemunho de
Alexandrina que, embora "presa" na sua cama, a quem a visitava
deixava sempre uma palavra de estímulo, coragem, fé, profunda
oração e sintonia com o sentimento de Jesus Cristo, que a ninguém
deixava indiferente.
3)
Mentalidade dominante. Aparentemente, a nossa sociedade não
rejeita de forma expressa as pessoas que não têm saúde ou que já são
mais idosas. Contudo, começa a estabelecer-se a ideia de que os
jovens são os únicos que contribuem para a sociedade. Esta ideia é
perigosa pois valorizam-se os que estão no auge da vida e
desprezam-se os doentes e as pessoas de mais idade. Não pode passar
por aqui a mensagem de Deus, da Igreja, pois Deus ama a todos, todos
somos criados à Sua imagem e semelhança. Uma sociedade que não
reconhece a todos de igual modo, é uma sociedade perigosa.
Com
Alexandrina não se verificou isso. Balasar é uma terra histórica.
Doentinha, Alexandrina levou tão longe o nome desta paróquia,
muito mais do que os grandes ilustres desta terra do seu tempo, por
quem aos olhos do mundo não davam "10 reis”.
Aos
olhos de Deus todos somos iguais. A contabilidade de Deus é
diferente da nossa, pois diante de Deus, tal como foi a vida
de Alexandrina, aqueles que pensam que nada fazem são os que fazem
mais, e isto mesmo se passa no campo da evangelização.
A Beata
Alexandrina é um exemplo acabado do que é viver a partir de
Deus e não das nossas próprias armaduras. A nossa vida não
tem sentido fora da vida em Jesus Cristo, celebrada na
Eucaristia.
D.
Manuel Linda terminou a sua bela e profunda reflexão com um excerto
de um dos escritos de Alexandrina em 1942-43: «Anseio viver a
vida de Jesus, ser sua, só sua. A Ele me entreguei. É neste abandono
que me deixo levar por alguém em quem sei que posso confiar. Vou com
confiança. Vou em segurança. A vida que me leva é sábia, tem força,
tem poder infinito».
Após a
Comunhão procedeu-se à bênção do Santíssimo Sacramento a todos os
doentes presentes. Momento de intenso silêncio e emoção. Este Jesus
a que os presentes foram convidados a adorar e que os
convidava: “Vinde a mim todos os que andais cansados e
oprimidos e Eu vos aliviarei; o meu jugo é suave a
minha carga é leve”.
Neste
clima de oração e de festa, Balasar homenageou D. Manuel Linda com
um ramo de flores. Agradecendo este gesto, o Bispo Auxiliar de Braga
disse que consagrava e confiava o seu ministério episcopal à Beata
Alexandrina, pedindo-lhe que fizesse crescer nele o fervor e a
paixão pela Eucaristia. E, como sinal disso, foi seu desejo deixar o
ramo de flores junto do túmulo da Beata, acompanhado pela sua
oração.
Padres António Loureiro e Paulo Sérgio |