13 DE
FEVEREIRO
Que hei-de eu
dizer da minha dor? Nada em comparação do que sinto.
Ó meu Deus, que
dias tão cheios de dores, tristezas e amarguras! Oh, quanto eu tive
de oferecer a Jesus! Oh, se eu Lhe soubesse oferecer tudo quanto
magoou o meu coração, o meu corpo e a minha alma!
Pobre de mim,
não sei falar ao meu Amado, ao meu tudo!
Ai, quem me dera
que estes dias fossem cheios de amor a Jesus, como foram cheios de
grande martírio! Que miséria a minha, eu não O sei amar. Sinto que é
Ele a minha loucura em tudo e acima de tudo; sinto que tudo o que
faço é por Ele e para Ele. Sinto que todo o amor que dedico a todos
os que me são queridos nada é em comparação daquele com que desejo
amar o meu Jesus. E não tenho nisto consolação alguma. Não tenho
gosto em nada do que sofro e Lhe ofereço, nada é meu, nada vejo em
mim a não ser os maiores horrores de miséria.
Ó Jesus, ó
Mãezinha, como nada mais tenho para oferecer-Vos, aceitai esta minha
miséria, fazei que ela sirva de honra e consolação para Vós e
proveito para as almas.
Ando louquinha à
volta do mundo, numa canseira incessável, levo comigo fortes cadeias,
quero cercá-lo, quero prendê-lo nessas cadeias. Quero o mundo todo
num molhinho, no meio dele, Jesus e a Mãezinha.
Ó meu Deus, se
eu conseguisse não deixar sair deste molhinho nenhuma alma! Se o
fogo de Jesus e da Mãezinha incendiasse todos os corações deste
molhinho, que bendiria eu por toda a eternidade todos os meus
sofrimentos! A chuva orvalhosa continua a cair sobre a humanidade.
Jesus, Jesus,
fazei que seja chuva de amor, chuva de salvação. Não digo nada do
que me vai na alma, não digo nada das aspirações que sinto.
Se eu deixasse o
mundo preso e pudesse ir para o Limbo baptizar as almas! E se,
depois disso, pudesse ir ao Inferno arrancar para Vós as que lá
estão!
Meu Deus, não
sei o que hei-de fazer. Jesus, resisti Vós à minha dor. Vede o meu
coração e a minha alma a rasgarem-se continuamente com esta amargura.
É por Vós, é pelas almas.
Jesus disse-me
que o demónio viria em algumas noites com dois ataques e logo na
primeira noite ele não faltou: foram dolorosos. Atormentou-me tanto
e por tanto tempo! Vi o Inferno e nele uma chuva de almas. E tantos
demónios: não tinham conta.
Dizia-me coisas
tão feias, um que era o senhor deles todos. Sentado numa bancada de
delícias, como ele lhe chamava, dizia as palavras mais feias e
maliciosas.
Tanto queria
recorrer ao Céu e só tarde o consegui fazer. Ele dava-me a afirmação
de me levar ao prazer, ao pecado, à ofensa a Deus. O primeiro ataque
ofereci-o a Jesus em honra da chaga do Seu santíssimo ombro e para
reparar pelo sacerdote, como Jesus me pediu. Quando eu dizia a Jesus
que era pelo sacerdote, então é que o demónio se enraivecia contra
mim. Senti a dor, dor mortal, que já expliquei. Sem poder resistir a
ela, disse:
Morro, morro,
Jesus. Se morrer, morro contente, morro vítima do Vosso amor, morro
vítima daquela alma.
Ao dizer isto,
uma aragem passou por mim, colocou-me nas minhas almofadas. Horas
depois, ofereci o segundo combate em honra das cinco chagas de Jesus
por uma das outras almas. Quando me parecia estar sem vida, num
cansaço indizível, ouvi Jesus dizer:
— Anjo bendito,
suaviza a dor da minha esposa querida, coloca-a no seu lugar. És, à
minha ordem, o seu enfermeiro celeste.
Fiquei libertada
das artes manhosas de Satanás e direitinha sobre as minhas almofadas.
Não sinto mãos, mas sim um enlevo fofo, uma frescura suave.
Fiquei em tanta
amargura, na tristeza mais profunda. Se houvesse um lugar onde eu
pudesse esconder-me de Jesus, fugiria para lá. Ó meu Deus, que
vergonha! E quando Jesus veio para eu O receber!... Ansiava pela Sua
vinda, mas queria fugir e desaparecer-Lhe; não era digna de O
receber em meu coração.
Já ofereci mais
três combates a Jesus, pois só Lhe ofereço os mais dolorosos. O
maldito aparece-me em formas de bichos e feras tão desconhecidas! É
horroroso vê-los à minha frente. Um em forma de crocodilo, só mais
alto do que eles; tinha uns poucos de metros de comprido. E o
Inferno com umas cabanas tão feias, tão medonhas! Fogo, um fogo tão
escuro e atormentador. Por entre ele tantos cornos de demónios a
sobressair. Ele dizia-me coisas tão feias. Que vergonha ao eu ouvi-las
e que medo de as ouvir. No auge da minha aflição, bradei por Jesus,
porque a dor atormentadora tirava-me a vida.
Morro, morro,
Jesus, e não quero pecar.
O meu coração
dava estalos estrondosos, só a morte podia causar tão grande
sofrimento. Ao meu brado de agonia, veio Jesus.
— Não pecas, não
morres, minha esposa amada. A morte que sentes não é real, a tua
morte dá a vida, vida de pureza, vida de amor. Se soubesses o valor
desta reparação!... Levanta-te, toma o teu lugar, sou o teu Jesus,
tenho poder para o fazer, assim como tive poder para mandar levantar
e caminhar os mortos.
Já nas minhas
almofadas, Ele estreitou-me ao Seu Divino Coração, acariciou-me e
beijou-me.
— Se o mundo
conhecesse, minha filha, o que é a vida do amor divino!
Dito isto,
senti-me sozinha, confortada, sim, e só em ânsias de consolar o meu
Jesus, mas logo mergulhada num mar imenso de dor. De vez em quando a
receber espinhos, que vêm cercar o meu coração, e continuamente a
ser esmagada por desgostos e humilhações.
Esperava receber
um pouquinho de alegria, não por mim, mas por ver os meus contentes.
Jesus não o permitiu, tirou-me a ocasião dessa alegria, desse
bocadinho de consolação que eu queria sentir. Ao ver que Jesus me
tirava tudo, não tive outras palavras a não ser repetir muitas vezes:
Bendito seja o
Senhor, a Sua santíssima vontade se faça. Ó meu Jesus, aceitai a
consolação e alegria que eu poderia sentir, seja ela consolação e
alegria para Vós. Aceitai a alegria e aquele regozijo que eu poderia
ver entre os que me são queridos. Seja tudo pela salvação das almas.
Ontem, depois
das três horas ou mais que passei a falar das coisas de Jesus com
uma alma arredada d’Ele há muitos anos e que nunca conheci a
frequentar a igreja, fiquei banhada em suor e cansada, sem poder
mover meus lábios para dizer palavra. Mas este meu esforço não ficou
sem recompensa. Jesus permitiu que eu sentisse por algum tempo
alegria em meu coração. Essa alma deu-me sinais de arrependimento e
prometeu-me esforçar-se por em breve mudar de vida. Parece-me bem
que, dentro de breves dias, ela vai ser arrancada das garras de
Satanás.
Ai, se eu visse
assim nestas disposições todas as que estão arredadas de Jesus!
Quero sofrer, quero sofrer, quero salvá-las. Amo-as, são de Jesus. |