16 DE
FEVEREIRO
Quanto sofro,
meu Jesus! Sede a minha força! Só Vós sabeis o sacrifício que faço
para ditar o que em mim se passa. Este esforço parece arrancar-me
tudo o que tenho dentro em mim. Servi-Vos dele para arrancardes ao
demónio todas as almas. Faço sacrifício por não poder e faço-o por
revelar os segredos da minha alma. Gosto tanto de sofrer sozinha, em
silêncio, encobrindo o mais possível as minhas mágoas!
Ó meu Jesus,
quanta dor abafada, quantas lágrimas escondidas! Perdoai-me a minha
falta de eu hoje exclamar:
Ó meu Jesus, não
acabam as sextas-feiras! Se eu pudesse fugir delas e esconder-me,
para não passarem por mim!
A Vossa bondade,
Senhor, o Vosso amor, meu Jesus!

Logo de manhã
cedo, senti tão maltratado o meu coração! A dor, as humilhações
espremiam-me, já não tinha sangue para dar ao corpo.
Senti o caminho
do meu calvário, saiu-me ao encontro a Mãezinha: fitou-me, eu fitei-a
a Ela. Uniram-se os nossos corações na mesma dor. A troca dos nossos
olhares não se demoraram, tive de caminhar à frente, maltratada,
empurrada, arrastada. Mas a dor dos nossos corações não se separou.
Era como que dois fios eléctricos que dão ligação um para o outro.
Quase logo que
cheguei ao calvário, fui cravada na cruz. Que grande tempo de agonia!
O sangue corria, as chagas rasgavam-se cada vez mais. As lágrimas da
Mãezinha corriam em meu coração. Ela era um farol para mim e eu
outro para Ela, farol que dava luz para descobrir todos os nossos
sofrimentos.
Ainda sem ter
expirado, senti que me rasgaram o coração. Essa dor antecipou-se,
porque, depois de morrer, não a podia sentir. Quando assim sentia o
coração, lancei um olhar ao mundo e disse-lhe:
É por ti que
estou assim!
Veio então o meu
Jesus. Senti a entrada dele em meu coração. Sentou-se e inclinou-Se
a mim e disse-me:
- Minha filha,
loucura de amor pelas almas, loucura de amor por Mim: és louca pelas
almas à minha semelhança. Assemelhei o teu calvário ao meu.
A tua vida é
vida de Cristo: vive Cristo transformado em ti.
Sobes o calvário,
porque não posso subi-lo Eu agora. Levas a cruz, porque não posso
levá-la Eu também. És o cordeirinho sacrificado e imolado, dás a
vida na maior das agonias, porque agora não posso Eu sofrer assim. É
revestida de Mim que sofres, é comigo que levas a cruz, é comigo que
nela expirarás.
Por um grande
intervalo de tempo, vi Jesus com a cruz aos ombros. Não O senti,
vi-O. Mas eu era Jesus e era a cruz. Que cruz tão grande! E Jesus
tão curvado debaixo dela; o Seu santíssimo rosto quase chegava ao
chão.
- Minha filha,
assim me obrigam os pecados do mundo, assim me obriga o meu amor às
almas. São os crimes, é o amor a causa de caminhar quase de rosto em
terra.
Sofre, minha
amada querida, sofre à minha semelhança, és vítima escolhida por
Mim.
Minha filha,
fonte de salvação, fonte de toda a humanidade, és fonte que não
seca, és água que sacia todo o mundo: todo em ti pode beber, todos
nesta água se podem purificar.
Minha filha,
língua de louvor. Pela tua língua sagrada toda a terra Me louvará
até ao fim do mundo. E já no Céu os anjos e santos Me louvam ao
verem o teu sofrimento e a glória que Me dás.
Minha filha,
coração de fogo de amor, fogo que se estenderá e abrasará milhares e
milhares de corações!
Minha filha,
corpo de pureza, pureza angélica, assaltada sempre e sempre guardada
no meio dos mais agudos e penetrantes espinhos: o teu corpo de
pureza, adornado de todas as virtudes, as mais ricas e preciosas,
estende as suas pétalas de lírio com toda a sua alvura e perfume.
Crescem açucenas tenras e viçosas, abrem as suas pétalas e com a
aragem que passa estendem ao longe o seu perfume, vicejam em prado
mimoso. Fazem sombra ao mundo que te confiei. Ditosos todos aqueles
que estão à sua sombra, ao teu abrigo se colocaram.
Causa espanto a
tua vida, as minhas maravilhas em ti. Não há igual, porque igual não
há ao teu sofrimento.
Tu partes para o
Céu. Coragem, ele aproxima-se! Tantos te verão partir com amor e
saudade e quantos com remorso e dor por terem sido causa do teu
martírio, por terem servido de estorvo à minha divina causa, por
tentarem encobrir ao mundo as minhas maravilhas em ti!
Rastejam pela
terra, não olham ao alto, não compreendem, nem procuram compreender
a minha vida divina, apesar de Eu em todos os caminhos lhes pôr um
guia e uma luz. Fecham os olhos, deixam os guias, seguem caminhos
errados.
Que mágoa para o
meu divino coração e que mal para as almas! Dou todas as graças, dou
todo o remédio para as salvar, e tudo é desprezado, não olham à
minha dor nem à minha divina vontade.
- Meu Jesus, não
estejais triste, dai-me a Vossa tristeza, dai-me toda a dor do Vosso
divino Coração! Não posso consentir no Vosso sofrimento. Conheço a
loucura do Vosso amor pelas almas; aqui me tendes pronta a sofrer
por elas, a dar a vida por elas.
Ficais assim
consolado, meu Jesus? Deixai os homens ferir o meu coração para
assim Vos poder salvar mais almas. Mas não consintais que o Vosso
seja ferido.
- Não, não,
minha filha, não, não, minha amada, não posso consentir que esta
cegueira se prolongue. A luz vai brilhar, a minha divina causa
triunfa estrondosa e brilhante. É necessário, é urgente, as almas
necessitam de conhecer as minhas maravilhas e de aprender em ti a
amarem o meu divino coração, a amarem tudo o que é meu, amarem a dor
e a cruz que lhes dou.
Filhinha,
filhinha, dor e amor sem igual, descansa em meu coração como Eu
descansei no teu. Descansou o Rei no seu trono, no palácio da sua
Alexandrina. Descansa a rainha no trono do seu Rei, no palácio do
seu Jesus.
Jesus abriu-me o
Seu divino Coração, eu entrei e inclinei-me a ele, nele descansei. O
meu Jesus cobriu-me de beijos e carícias e apertou-me com tanta
força e com tanto amor que me parecia perder-me nesse amor e nesse
amor morrer.
Ai, que dita a
minha morrer de amor e dentro do Coração do meu amado Jesus! Como
será a morte que me dá a vida eterna?
Ó meu Jesus,
fazei que seja de amor, só de amor! |