20 DE
FEVEREIRO
Que horrível,
que extrema é a agonia da minha alma!
Eu queria
esconder a minha dor, não queria falar mais dela, queria abafá-la
por completo. Parece-me que o coração chora de amargura. De longe a
longe as mágoas que ele sente fazem-me bailar nos olhos as lágrimas.
Quero encobrir
tudo, bastava que Jesus soubesse, mas não posso; manda-me a
obediência. E, embora como que arrastada, vou descobrindo, vou
arrancando de dentro para fora alguma coisa do que sofro, do que
sinto. Não sei se pelo estado grave do sofrimento em que me encontro,
ou se é a realidade, sinto-me no pôr-do-sol da vida; parece-me que a
morte se avizinha de mim. Curvo-me, inclino-me de boa vontade a
receber o golpe que Jesus lhe aprouver dar-me. Sinto no meu coração
a separação dos que me são queridos. Vou para a minha Pátria, mas
alguma coisa quero deixar entre eles para os animar e consolar na
sua dor. Não sou daqui, vou para o meu lugar, depressa nos veremos
nessa glória sem fim.

Meu Deus, meu
Jesus, o que será isto?
Quero partir,
tenho de partir e custa-me tanto esta separação. A dor que isto me
causa parece-me arrancar o coração e com ele todas as veias do meu
corpo.
Seja tudo pelo
amor do meu Jesus e pela salvação das almas.
Sinto que o
mundo está em tanta desordem, tanta miséria e crimes! E eu quero pôr
termo a tudo isto e não posso; queria remediar todo este mal e não
sei como; não tenho mais que dar por ele.
Ah, se houvesse
alguém que por ele quisesse sofrer, que o pudesse salvar, o que lhe
daria eu?! O meu amor, tudo o que possuísse, o Céu com toda a glória,
se esse me pertencesse.
Ai de mim, não
sei a quem pedir e não tenho que lhes dar. Sinto a repugnância que
há ao sofrimento e à cruz. Se houvesse quem de boa vontade a
aceitasse, e eu pudesse levar a minha e ajudar os outros a levarem a
sua, seria a maior alegria e consolação para o meu pobre coração.
Meu bom Jesus,
vede o que por Vosso divino amor e amor às almas quero sofrer e
aceitai como se o fizesse, porque não posso mais.
Para atender aos
pedidos de Jesus, ofereci-Lhe mais ataques do demónio. Para esse fim,
só Lhe ofereço os mais custosos. Os de menos sofrimento, deixo-os
para reparar todas as almas.
Ele aparece-me
em forma de bichos tão variados, tão feios, em monte, misturados uns
com os outros. Mas é o que me faz sofrer menos. Atormenta-me muito
mais quando ele diz que eu não faço certas coisas porque o
sofrimento mas não deixa fazer, o cansaço e males do meu corpo que
são o que o impedem. Isto causa-me mais dor, faz sangrar mais o meu
coração. Quer ele dizer que tudo é feito por mim, por minha malícia.
Nos dois ataques
mais fortes, veio sempre Jesus a confortar-me. Depois de eu ter
ouvido os insultos mais feios e as palavras mais vergonhosas, depois
de ele usar de todas as manhas para me levar ao pecado e ao prazer,
como ele me diz, fiquei sobre abismos assustadores.
O que será de
mim, meu Jesus? Valei-me, valei-me, repetia eu.
Senti Jesus a
meu lado, sobre mim espalhou o Seu sopro divino, sopro que de
repente me levou às almofadas. Jesus continuou a bafejar-me e a
dizer-me:
- Coragem, minha
filha, não pecaste! É para livrar as almas de caírem neste abismo e
perderem-se eternamente que tu estás sobre eles.
As palavras de
Jesus encorajam-me, mas não me tiram da dor em que fico mergulhada.
Na segunda
afronta do demónio, causou-me uma amargura como ainda não me tinha
causado. Foi muito demorado o combate. Os gestos, as palavras, os
nomes, os conselhos eram vergonhosíssimos. Eu estava cansada de
tanta luta, e o demónio, furioso por não conseguir de mim o que
desejava. Principiei então a sentir desejos de pecar, eram uns
desejos de fora para dentro e não de dentro para fora. Algumas vezes,
dizia a Jesus: “Não, não, eu não quero pecar!” Estas palavras saíam-me
do coração, mas a vontade de pecar parecia ser mais forte do que o
brado que eu levantava ao Céu.
Oh, agonia,
triste agonia!
Ao parecer-me
que estava tudo conseguido, os desejos do demónio realizados, gritei
por Jesus e pela Mãezinha:
Ai de mim, o que
é isto?! Valei-me, valei-me!
Senti a dor
indizível que muitas vezes já tenho sentido.
Meu Deus, com
certeza a morte não custa tanto! Estava banhada em suor, parecia ter
saído dum lago. O coração batia alto e apressadamente. Em espírito,
oferecia tudo a Jesus e não cessava de chamar por Ele, pois era
dolorosa a posição em que estava e a vergonha e dor que sentia com o
receio de ter pecado. O demónio não saía de junto de mim, mas à voz
de Jesus retirou-se.
- Basta, basta,
maldito, deixa a minha vítima, a vitória é dela; a honra, a glória
são minhas, a reparação é pelas almas!
Sofre por amor,
ó minha filha querida.
Sem saber como,
tomei a minha posição, recebi as carícias de Jesus, enquanto o
demónio, voltado para Ele, amaldiçoava-O e raivosamente queria
retalhar-me. Retirou-se Jesus, e eu fiquei absorvida numa noite
triste e assustadora e numa dor sem fim.
Sinto na minha
alma que se levantam à volta de mim ondas fortíssimas como as ondas
do mar. Cercam-me com a mesma fortaleza (substituir
por força),
mas como as do mar que muita vez se infrangem (palavra
desconhecida que se pode substituir por desfazem)
uma contra a outra; longe da praia, estas também desaparecem sem
causarem estragos. Esta visão e o seu ruído, chegando aos meus
ouvidos, atormentam-me dolorosamente. Tenho a sensação de que sejam
coisas que se levantam contra mim. |