Alexandrina de Balasar |
ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA— 10 —27 de Fevereiro de 1942
Jesus, dai-me as
vossas forças divinas, quero a minha dor e sem elas nunca o conseguirei. Chore o
meu coração noite e dia se assim o quiserdes, mas alegrem-se os meus
Está próxima, Jesus, a minha crucifixão. Vêde-me na cruz cravada convosco, de olhos levantados para o Céu, que já não vejo, a bradar sempre : Jesus, Jesus, porque me abandonaste ? Estou sozinha, faltam-me todos os auxílios do Céu e da terra. Aceito para consolar-vos, tudo aceito, tudo sofro para que se fechem as portas do inferno. Depois da crucifixãoMeu bom Jesus, velais sempre sobre mim, estais sempre a fortificar-me com a vossa graça e força divinas. Animastes-me dizendo : — “Minha filha, minha loucura, é na tua crucifixão que está toda a salvação das almas. É no teu duro penar que está a minha consolação e na tua completa imolação que está a minha glória, é no teu calvário que está a minha completa alegria. Coragem, coragem ! Não te falta Jesus com a Mãezinha e o teu Paizinho. Tens en ti a graça divina”. Caminhei para o Horto. Não se podem comparar as agonias e tristezas humanas com as Vossas. Quanto sofrestes por meu amor. Terei eu coragem de negar-vos alguma coisa ? Oh ! não, meu Jesus, não. Dai-me força para que eu não use de tal ingratidão. As trevas do Horto eram aterradoras. Todos os sofrimentos eram pavorosos. Os pecados do mundo eram a prensa mais dura que apertava o meu coração e o Vosso. Era o pecado, só o pecado a causa de todos os sofrimentos ; era o pecado que eu sentia a rasgar-me as veias ; era o pecado que afastava de mim o Céu, deixando-me no maior abandono, obrigando-me a suar sangue. Foi o pecado, só o pecado o algoz de toda a Vossa Paixão. Quanto Vos devo, meu bom Jesus, por sofrerdes em mim e me associardes a Vós. Já não podia resistir mais e segredou-me a Vossa voz divina : — “Tens, minha filha, sempre à tua frente o amor do teu Jesus”. Ó meu Amor, sinto desaparecer dia à dia, momento a momento, as forças do meu corpo e da minha alma ! Só quando Vós crucificado em mim poderei vencer. Eu já não vivo, porque tudo em mim é morte. Fui flagelada, fui coroada de espinhos, descansei no vosso divino Coração ; apertava-o com amor ao meu : prender-vos para sempre, não me separar mais de Vós eram os meus desejos. Tive uns momentozinhos que deixastes cair sobre mim a vossa divina Graça e uns raiozinhos do vosso Amor aqueceram o meu coração. Quando descansei na Mãezinha Ela unia aos meus os seus lábios santíssimos demorando-se assim todo o tempo do meu descanso. Isto não são consolações, meu Jesus, bem sabeis que tudo isso desapareceu para mim, são os auxílios que me dais, sem os quais era impossível a minha crucifixão. Fui para o calvário, a cada passo sentia-me cair por terra, a perder a vida. Estava pregada na cruz; das chagas escorria o sangue como dumas fontes. Os insultos que ouvia golpeavam-me todo o corpo. A dor do coração fazia-o ansiar com tanta força que parecia levantar-me o peito a pontos de o abrir. Chamar por vós, bradar ao Céu, tudo era inútil. Só trevas e abandono, só agonia mortal. Ó meu Jesus, passou a crucifixão, a noite já vai alta e no alto do calvário estou eu de braços abertos, na cruz pregada, na noite mais triste e tenebrosa a bradar sempre: Ó Céu, ó Céu, ó Céu que me abandonaste. Ó terra que me desprezaste e me odeias. O meu brado perde-se num mundo de abandono, o meu eco perde-se num mundo que não tem fim. Estou só, Jesus, a tiritar de frio e de fome. Estou cega, perdi a luz. Já não existirá no mundo, meu Amor? Todo ele é trevas, todo ele é cegueira. Juntai, meu Jesus, a este duro penar, a dor que me causa ao ser notada a falta do meu Paizinho aqui. Jesus, Jesus, permiti tudo, menos o escândalo; eu não quero que sejais ofendido, mas muito menos ainda naquilo que me diz respeito. Perdoai a todos, perdoai a mim e dai-me a vossa bênção, Jesus.
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