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de Janeiro de 1945
Jesus, quais são os miminhos que de Vós vou receber neste novo
ano? Estou cheia de medo ou, mais ainda, cheia de pavor. Venha o
que vier, por muito que eu seja ferida, humilhada e abatida, com
a Vossa graça divina a tudo direi:
Seja bem-vindo, faça-se a vontade de Jesus; sou vítima do seu
amor, vítima das almas.
Confesso,
meu Jesus, que o meu maior receio é a minha fraqueza: temo
ofender-Vos. Confio em Vós; seja firme o meu amor e subirei
alegre o meu calvário.
Reparai e vede, Jesus, as ânsias que tenho; se não fôsseis Vós,
tiravam-me a vida.
Queria nascer agora, mas já Vos conhecer para nunca manchar o
meu corpo.
Queria que comigo nascesse o mundo inteiro e que todo ele já Vos
conhecesse também para não se deixar manchar.
Queria um coração novo, mas que sempre Vos tivesse amado para
nunca deixar de Vos amar.
O
mesmo querer tenho para todas as criaturas, para assim Vos
amarem com o mesmo amor que para mim desejo.
Onde hei-de esconder-me e comigo esconder o mundo? Onde hei-de
purificar-me e purificar o mundo a não ser em Vós?
Escondei-me, purificai-me. Fazei-me nascer agora para a graça e
para o amor e comigo nascer o mundo, mas de tal forma como se eu
nem ele Vos tivesse ofendido.
Não
sei onde estou; não vivo neste exílio nem vivo no Céu. Parece-me
viver entre ele e a terra. Fui para esta morada, comigo levei o
mundo, morada sem luz, sem vida e sem nada.
A
minha alma rasga-se de dor, é indizível o que sinto em mim. Meu
Deus, que derrota! Não tenho luz, e roubaram-me os guias de tão
tremendos caminhos.
Morro na escuridão, Jesus, morro desfalecida. Vinde, vinde com a
Mãezinha, dai-me força, dai-me vida.
Não
posso pensar nos combates do demónio, tremo de horror. Ele arma
tantas ciladas para prender-me! Forma tantos assaltos à minha
alma!
Parece-me morrer de dor. Ouço a sua voz maldita desafiadora. E
quando fica só assim!... O que mais me aflige é quando ele faz o
que há de pior.
Na
manhãzinha de ontem, preparava-me para comungar e logo a alma
principiou a sentir os seus assaltos. A minha preparação foi um
terrível combate. Que vergonha a minha à chegada de Jesus ao meu
coração! À voz de chamada do demónio vieram muitos demónios. E o
maldito dizia-me:
— Tu és o manjar mais delicioso para todos os demónios do
inferno. Olha como te preparas para comungar. É assim que és uma
esposa de Jesus! Não és, não és, Ele não te quer, és minha,
dá-me o teu coração. Se mo deres por vontade, dou-te o mundo com
todos os encantos, grandezas e prazeres.
Nesta altura, consegui renovar a Jesus a minha oferta de vítima
e escrava.
Não
quero o mundo nem nada que lhe pertença, meu Jesus, o que eu
quero é não pecar. Amar-Vos só e não magoar o vosso Coração
Divino.
O
demónio redobrou de raiva. Sentia que o que ele queria era que
eu lhe desse de boa vontade o meu coração e com ele o mundo. O
meu corpo estava desfeito com o cansaço. O momento era grave. Ao
parecer-me estar tudo perdido, não haver remédio para mim,
bradei ao Céu de alma e coração:
Pecar não! Valei-me, Jesus!
Cessou a luta, mas ficaram-se na alma uns tristes efeitos. Uma
tristeza tão grande por não ter pecado, parecia-me que gostava
ter ofendido a Jesus. Que aflição a minha!
O
demónio, mais retirado, continuava raivoso; queria voltar a
arrancar-me a alma e a despedaçar-me o corpo.
A
pouco e pouco, uma suavidade e paz apoderaram-se de mim,
invadiram-me toda. Jesus fez-me sentir que tudo o que se passava
na minha alma eram efeitos do demónio. Era ele que tinha pena de
eu não ter pecado e estava raivoso por não o ter conseguido.
Chegou logo Jesus para eu O receber; gozava uma grande paz, mas
muito triste, tímida e envergonhada. Logo que O recebi, esqueci
por algum tempo tão tremenda e feia luta.
Hoje, voltou o maldito com outro ataque infernal. Só Jesus vê a
dor que me vai na alma. Disse-me que eram as pessoas cúmplices
do meu crime, ensinou-me a pecar.
Meu
Deus, como sair disto sem Vos ofender? Só com a Vossa graça. Por
misericórdia Vossa, só nos momentos da luta eu sei e compreendo
as lições do mafarrico. É mais uma prova do Vosso infinito amor.
Só Vós sabeis quanto eu quero amar-Vos e reparar as ofensas
feitas contra o Vosso divino coração e nunca manchar o meu corpo
nem a minha alma. Triste quinta-feira que me dás a sexta!
A
minha alma está cansada de tantos sofrimentos, de tanta dor que
a espera. Temo as horas que se aproximam, temo a morte. O Céu
está revoltado com tanta ingratidão da terra. Temo tudo, mas por
tudo quero passar; quero morrer para dar a vida! |