
ESCRITOS DA BEATA ALEXANDRINA
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4 de
Julho – Primeiro sábado
― Sol brilhante,
sol esplendoroso será aquele que se vai reflectir no mundo. Os homens não querem
deixar reflectir seu brilho. Ai deles, pobres daqueles que se opõem à
frente
dos caminhos do Senhor! Jesus todo Se consola e alegra nas almas suas amadas.
Jesus todo Se delicia no arminho das almas puras. Os raios do amor divino formam
sobre elas uma auréola brilhante e encantadora que atrai a si o mundo e os
corações. Os que se dizem amigos de Jesus não conhecem as almas suas esposas.
Jesus está descontentíssimo com a maior parte dos seus discípulos: não têm luz,
não a procuram, não sabem, não procuram saber. Lançam-se como Satanás a deitar
por terra as obras do Senhor. Desviam de si as bênçãos divinas e toda a
protecção da Virgem Maria.
A Mãezinha celeste
está preparada para vir buscar a sua filhinha para junto de Si. O prémio é
brilhantíssimo.
A dor do Paizinho
da louquinha de Jesus tem dado toda a glória e triunfo ao Céu. Pobres daqueles
que assim o têm feito sofrer. Jesus nada deixa sem recompensa.
Jesus dá toda a
graça e amor ao médico da alma e ao médico do corpo da louquinha da Eucaristia.
Jesus será todo e tudo para eles.
Os homens tornam-me
pesada e triste a minha vida na terra! Oh, triste não, deixai-me dizer: tudo o
que é suportado por amor de Jesus e das almas é alegre e consolador! Pobres
daqueles que se opõem contra a vontade de Jesus!
Fui subindo,
subindo vagarosamente e muito ferida com os sofrimentos que os homens me
inventaram. Subi e tive que suspender viagem à portinha do Céu. É lá que me
encontro parada há longos dias, aparecendo-me uma entreaberturazinha; compreendi
que era a entrada para o Paraíso. Porém foi tal a prisão que os homens me
fizeram que tenho que demorar por largo espaço de tempo. Até quando? Só Jesus o
sabe. Eu fio e espero nele. Os meus voos estão presos fortemente e só Jesus os
pode desprender, só Ele pode transformar os corações dos homens que nada
compreendem e não sei o que julgam de mim. É doce amar e seguir a Jesus, mas ai
de mim se Ele me abandona um só momento! Ele deu-me sinal de que tudo na terra
estava completo. Era de noite, mas tenho a certeza de que não dormia e estava em
meu juízo perfeito. Apareceram à minha frente dois Anjos: que belos que eles
eram! Só do Céu podiam vir! Um sustentava nas suas mãozinhas uma cora brilhante
e toda completa, e o outro a par uma grande palma de martírio. Tudo isto deu
conforto à minha pobre alma. Animei-me ao ver que Jesus me mostrava que a minha
missão na terra estaria terminada, mas por mais que me esforçasse por me
desprender destas prisões terrenas, não consigo. Esperarei que Jesus me solte,
pedindo-Lhe sempre por aqueles que me prendem. Pobrezinhos! Não compreendem a
grandeza nele e nas almas. Hei-de sofrer por eles. Se não fossem os sofrimentos
causados por eles, não poderia dar tanta glória a Jesus e salvar-Lhe as almas.
Que grande dor ver-me assim tão pertinho do Céu! Querer entrar e não poder! Por
vezes me custa conter as lágrimas. Parece-me morrer de saudades! Na terra não
tenho vida, nem nada que me satisfaça! Só o Céu, só no Céu!... Só o Céu será a
minha vida, só no Céu serão satisfeitas as minhas ânsias! Que belo que ele é!
Quisera que todos já na terra o conhecessem! Pobres daqueles que desprezam a
Jesus e seguem a Satanás!
― O Coração de
Jesus com o de sua Santíssima Mãe alegram-se e enchem-se de regozijo com os
sofrimentos da louca, louca de Jesus, da crucificada do calvário e com os
sofrimentos do seu Pai espiritual, que o tem sido é e será por toda a
eternidade. Que meses de tanta honra e glória para o Céu! As almas esposas de
Jesus, as almas martirizadas, a imolarem-se por Jesus e pelas almas... Jesus e
Maria anseiam por verem brilhar no mundo inteiro este farol resplandecente. Os
homens tentam apagá-lo e destruí-lo, mas em vão. Jesus, escondido na sua vítima,
submete-se aos seus falsos juízos. Jesus, escondido na sua vítima, sujeita-se à
vontade de seu Pai espiritual e do médico da sua louquinha. Tudo o que fizerem
para glória do Altíssimo, Jesus acolherá bem. Nada seria preciso, Jesus mesmo
não o queria se os ceguinhos quisessem ver. Que cegueira e crueldade! Sujeitam
aos maiores martírios as almas mais amantes de Jesus. Levam às maiores
humilhações aqueles que são as pupilas mais queridas dos olhos de Jesus. Jesus,
o Rei de Amor, tem vencido e sempre vencerá. Ama com toda a loucura de amor as
almas que amam e rodeiam a sua crucificada. São belos os desígnios de Jesus.
Tudo é encantador o que Ele deixa transparecer através da sua amada.
- Ó meu Jesus, que
grande é o vosso amor para comigo! Dai-me toda a coragem precisa, dai-me o vosso
amor infinito e levai-me para a minha Pátria. Sou do Céu e não da terra, sou
vossa e não do mundo.
― Em breve vai o
Céu gozar esse grande triunfo, ver entrar nele a maior heroína da humanidade.
Obrigada, obrigada,
meu Jesus!
― É com os laços
mais firmes e do mais puro amor que Jesus enleia ao seu divino Coração e de sua
Santíssima Mãe a sua louquinha de amor, a vítima de maior imolação, a maior
alegria e glória do Altíssimo que tem e poderá ter na terra.
É com os mesmos
laços de amor que Jesus prende aos mesmos divinos Corações o Pai espiritual da
sua benjamina, o médico e almas amadas que por ela se sacrificam.
As predilecções da
heroína do calvário são as predilecções de Jesus. Jesus ama apaixonadamente a
sua benjamina, mais do que às pupilas dos seus olhos. Vai dar-lhe o Céu. Vai
dar-lhe toda a glória e todo o amor para ela distribuir às almas.
– Ó meu Jesus, são
tão doces as vossas carícias e da vossa querida Mãezinha!
― É a recompensa de
tanta dor e martírio; é a loucura de amor que Jesus e a Mãezinha têm pela sua
crucificada. É com o mesmo amor que Jesus e Maria ama e se dá às almas amantes
da sua louquinha.
A Santíssima
Trindade inclina-se, o divino Espírito Santo estende os seus raios, irradia-os
sobre este cofre riquíssimo do Santíssimo Coração de Jesus.
– Obrigada,
obrigada, meu Jesus!
Não custam as
nossas ofertas a Jesus; dizer-Lhe que todo o corpo é dele, dizer-lhe: Sou vossa
para o martírio e para a cruz. Mas quando se sentem os rigores da sua divina
Justiça, quando Ele dá sinal que tomou a sério e se utilizou do nosso frágil
instrumento para assim salvar o mundo, é de morrer. Que tremenda e aterradora é
a Justiça divina!
No dia 21 de
Agosto, que era sexta-feira, Jesus veio como de costume desabafar comigo,
mimoseando-me com os seus doces e ternos carinhos. Neste dia a sua bondade
infinita não quis dispensar-mos. Tinha que sofrer, tinha que experimentar o que
o Eterno Pai reservava para o mundo culpado, mas sobretudo para Portugal. Sentia
tudo em fogo, tudo em ruínas. Eram tais as labaredas que incendiavam Portugal
que não deixavam nele pedra sobre pedra, nem se podia descobrir o maior
edifício. Com todas as queixas de Nosso Senhor, com todo o peso da Justiça
divina, fiquei deveras assustadíssima durante dois dias e duas noites. Repetidas
vezes todo o meu ser estremecia aterrado de medo. As labaredas continuavam e eu
sentia-me no meio de toda esta destruição. Era impossível poder resistir a este
sofrimento se ele se prolongasse por muito tempo e se Jesus não tivesse para ele
uma atenuante. O que vou descrever não juro que foi a realidade, se bem que me
parece poder jurar.
Deviam ser 4 horas
da manhã, formou-se sobre mim um Paraíso. Este era formado só de anjos
formosíssimos, brilhantes como ouro. Só via cabecinhas e asinhas; com estas
esvoaçavam continuamente, fitando-me todos com os seus olhos brilhantes.
Compreendi que aquele bater de asas era a chamar-me para o Paraíso. A minha alma
sentiu tanto conforto que me fez sair fora de mim. Já não vivia na terra e uma
força invisível me fez subir e aproximar-me desses anjinhos. Não sei o que me
sustinha no ar. Desde então, todo esse medo das ameaças do Senhor foi
suavizando, o brilho dos anjos, aquele bater de asas vence tudo o que é dor,
tudo o que ameaça o mundo e Portugal. O Céu pode mais que a terra! O amor de
Jesus é mais forte que a sua divina Justiça!
A minha alma
obriga-me a descrever tudo isto, deixando ao juízo do meu Pai espiritual se isto
foi sonho ou ilusão minha ou a verdadeira realidade. Parece-me que não dormia e
o conforto que me deu só do Céu podia vir. Foi um remédio divino.



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