9 DE
FEVEREIRO
Se todos os dias,
ao despertar dos meus ligeiros sonos, desperto mergulhada numa
grande dor e tristeza, às sextas-feiras redobra este sofrimento. Não
tenho palavras nem sabedoria para o saber exprimir.
Quando hoje
despertei, sentia-me cansadíssima. Parecia-me que os meus cabelos
estavam ensopados em sangue assim como a roupa que tinha (ensopada
estava também e colada ao meu corpo). Eu estava sozinha numa escura
prisão. Sentia a dor do abandono em que me tinham deixado aqueles
que me eram mais queridos. Onde estavam as palavras afirmativas de
não me deixarem? Tudo isto é um livro de letras bem claras que tenho
gravado em minha alma, não são coisas da imaginação. Oh, quantas
vezes me esforço por me distrair, para ver se desaparece este
sofrimento da alma! Que grande engano! É ferida profunda, é dor
vivíssima que só Jesus ou a Mãezinha ma podem suavizar.

Veio depois o
demónio em forma de lobo e de leão para a minha frente fazer cenas
horrorosas. Confio que não pequei, porque confio na afirmação de
Jesus de não me deixar pecar. Se assim não fosse, ai de mim! Maldito
demónio, que grande escola de pecado! Eu só queria que as almas
conhecessem as suas manhas diabólicas, para não se deixarem iludir
por ele.
Com a visita de
Jesus sacramentado, com o calor do Seu amor divino, que me fez
sentir com abundância, revivi um pouco. O conforto que Ele me deu
animou-me para poder durante a manhã percorrer o caminho do calvário.
Fui tão
maltratada! Caí tantas vezes com o peso da cruz e com cordas fui
arrastada para trás a tanta distância! Caía com o rosto em terra, e
as minhas carnes ficavam pelas pedras aos bocadinhos. Todos os
sofrimentos à minha frente aniquilavam-me o coração; era um aperto
que o sufocava e tirava a vida. Na cruz, de todos abandonada, ao
ouvir as maiores injúrias, sentia correr no meu corpo bagadas do
suor da morte. Juntavam-se às gotas do sangue que da minha cabeça e
das minhas chagas caíam com abundância. Sentia no sofrimento grande
doçura por ser a moeda das almas, mas não podia ter um sorriso.
Neste abismo de dor, veio Jesus.
— Minha filha,
estou no meu trono, no palácio da minha realeza. É o Rei do Céu
unido à sua rainha, à rainha da terra. Aqui, sim, minha pomba bela,
aqui não sou ferido, estou bem ao calor do teu amor, aqui está bem
guardado o meu divino Coração. A sentinela do teu palácio é a tua
pureza, os guardas são as tuas angélicas virtudes, o fogo das armas
é o teu amor. São armas que estenderão as suas balas, o seu fogo aos
confins do mundo. Não é fogo de morte, é fogo que dá a vida, é fogo
que atrai os corações e as almas ao meu Divino Coração. Tu és um mar
imenso de riqueza, és porto de salvação.
Quando estiveres
no Céu, junto do trono divino, e lá chegarem em teu nome súplicas a
favor de pecadores em perigo, quando a tua voz se fizer ouvir - “meu
Pai, quero que aquele pecador se salve” - no mesmo momento ele
sentirá o toque da graça; todos por ti serão salvos. Serás um fio de
oiro finíssimo que a mim os prende para sempre.
— Ó meu Jesus,
já que na Vossa bondade e poder infinito me fazeis no Céu assim
poderosa, fazei que já na terra todos os pecadores que eu Vos nomear
se convertam e sejam salvos.
— Pede, pede,
filhinha, és poderosa. Lembra todos quantos quiseres ao meu Divino
Coração. A tua vida na terra é fazer bem à mesma terra, nela
espalhares o bem. A tua vida no Céu será enriquecer o mundo, será
orvalhá-lo com um orvalho de purificação e salvação. Oh que riqueza
tenho para te dar no Céu, para distribuíres para a terra. Já aqui e
depois de lá, incendiarás o fogo do meu divino amor.
Escuta, minha
filha amada, fulanos – e nomeou-mos – estão em perigo de se perderem.
Estão tão cegos nas paixões! Ofendem-me tão gravemente, tão
escandalosamente! Queres oferecer-me por eles alguma reparação, para
eles se não perderem?
— Ó meu Jesus,
eu quero oferecer-Vos tudo, para Vos consolar e para os salvar.
Escolhei a reparação que quereis, dai-me a Vossa graça e força
divina: com ela estou pronta para todo o sacrifício.
— Aceitas quinze
ataques do demónio a mais do que terias de sofrer? Algumas noites
sofrerás dois combates. Oferece-me cinco por cada um deles em honra
das minhas divinas chagas. Desejava tanto que elas fossem mais
amadas e mais amado fosse o meu divino Coração. Espalha, espalha,
incendeia no mundo o meu divino amor. Aceita e oferece-me mais um
combate em honra da chaga do meu sagrado ombro; oferece-ma pelo
sacerdote. Concorreu tanto para ma aprofundar! Oh, quanto eu sofri
com ela!
— Bem sabeis,
meu Jesus, que os combates do demónio são o maior sacrifício que
podeis pedir-me, mas, se com eles Vos posso dar consolação, se só
eles podem reparar como é preciso para tão grandes crimes, aqui me
tendes, Jesus, aqui me tendes, Amor: sou a Vossa vítima. Quero
salvar essas almas ceguinhas pelo pecado, quero desviar para longe
do Vosso divino Coração esses cruéis golpes que vêm ferir-Vos.
— Minha pomba,
minha pomba, flor angélica, alvura da graça, jardim de delícias,
trono de amor para o meu divino Coração: bati, abriste-me a porta,
pedi e tudo recebi. Recebe também em troca o meu amor, todo o meu
amor. Amo-te como se não houvesse na terra nem no céu mais a quem
amar. Vive a minha vida, vive a vida do céu aqui na terra, vive-a,
para ensinares, vive-a, para que em ti aprendam. O teu Céu vem, não
demora, depressa te levo comigo.
Jesus acariciou-me,
beijou-me docemente, ao mesmo tempo que me abraçou e abrasou no fogo
do Seu divino amor. Poucos momentos fiquei alegre, depressa caí na
minha cruz, depressa o meu coração principiou a sangrar de dor.
Lembro-me tanto
das almas de que Jesus me falou! Mas mais da do sacerdote que, por
ser sacerdote, mais ofende a Jesus. |