28 de
Janeiro de 1945
Jesus
hoje pede-me dois sacrifícios, um da alma, outro do corpo. Da alma,
por ter de ditar tudo o que ela sente e sofre; do corpo, por ser tão
grave o meu estado que nem posso mover os meus lábios para falar.
Parece-me que com cada palavra que pronuncio me vem arrancado o
coração e as entranhas. Confio em Jesus que me vai auxiliar ao menos
para dizer as suas divinas palavras. Resumo os sentimentos da minha
alma. De manhã logo, quando me sentia correr para a morte e a morte
correr para mim, corria porque impulsos de amor me obrigavam a
correr. Só o sangue e a morte seriam a salvação do mundo, e eu
queria salvá-lo. Quantas vezes, no trajecto que percorri, caí
desfalecida, e parecia mesmo, mesmo perder a vida. Perder a vida
para dar vidas dava-me forças, voltava a caminhar. No calvário, na
cruz, sentia o meu sangue sair de mim a jorros. Calma e serena, com
o espírito só em Deus, esperava o momento da maior felicidade, o
momento da salvação. Veio depois Jesus, tão cheio de ternura e amor
por mim.

– Minha
filha, tabernáculo divino, sacrário onde habito, prisão de doçura e
amor. Prendi o meu coração ao teu, ataram-nos os laços do mais santo
amor; prenderam-me, prenderam-me os teus laços encantadores, laços
brilhantes, laços do mais puro e fino oiro. Minha esposa, minha
esposa, nada há que possa separar-nos, nada há que possa cortar os
laços matrimoniais que nos prendem. Ó minha pomba bela, minha
rainha, meu palácio. Rainha do Rei Celeste, palácio da Sua
habitação. Minha filha, vida de amor, língua de louvor, pureza
angélica. Por ti o mundo será puro; pela tua língua o mundo Me
louvará; pelo teu amor seráfico o mundo me amará. Ó pomba, ó bola, ó
jardim divino, és tu o jardim, eu o jardineiro. És jardim de
virtudes de encantos, encantaste o meu Coração. És e serás sempre o
encanto dos pecadores.
– Isso,
sim, meu Jesus, isso quero eu encantá-los para Vós, custe o que
custar, meu amor. Peço-Vos a grande graça de os fechardes a todos em
Vosso Divino Coração; não quero que nenhuma alma se perca, não
quero, não quero, meu Jesus. Eu não Vos nego os sofrimentos, não me
negueis também as almas.
– Filhinha, filhinha, heroicidade do mundo, heroicidade sem igual,
assim como sem igual é a tua dor, o teu amor. És rica, és poderosa.
Preparei em ti um armamento forte, armamento de guerra; não é de
armas nem fogo destruidor, é armamento das virtudes mais heróicas,
da pureza mais angélica, de amor de Querubins e Serafins. Preparei
em ti o que preparam as nações para combater as guerras. O armamento
que em ti depositei não é só para combater Portugal, mas sim o mundo
inteiro. Combaterás, minha filha, e vencerás. Partes para o céu e na
terra ficará sempre o armamento divino que em ti guardei, e tu, ó
pomba branca, ó pomba angélica, recolheste-o em ti, abraçaste-o
sofrendo, abraçaste-o amando. Tu és, minha esposa amada, um novo
evangelho assim como és a nova redentora. Novo evangelho, onde está
escrita, gravada, bem gravada a vida de Cristo crucificado. Vida de
dor, vida de amor, vida de loucura pelas almas, vida de caridade,
vida das ciências e doutrinas de Cristo Redentor. Assemelhei-te a
mim, retratei-te em mim, ó vítima querida, ó inocente salvadora
deste ditoso calvário. Salva-me as almas, põe-nas ao abrigo do manto
que por minha bendita Mãe te foi dado. Coragem, filhinha. Já que
tanto te amei, tanto a mim te assemelhei. E, porque assim a mim te
assemelhei, à semelhança minha és caluniada, perseguida e
desprezada. Nada temas. Dias de sol brilhante e resplendoroso se
aproximam, sol que nunca mais se escurecerá, brilho que nunca mais
desaparecerá. A causa é minha, o triunfo é certo. Será esta minha
causa destruída, quando destruída para sempre for a minha Igreja, a
minha doutrina. Descansa, minha filhinha, descansa em meus divinos
braços. Sofres muito? Sofres ao máximo? É o meu divino amor.
Alegra-te, são salvas muitas almas. Toma conforto em meu Divino
Coração.
Senti-me nos braços de Jesus, por Ele fui muito acariciada. Sentia a
ternura do Seu Divino Coração e a compaixão pelos meus sofrimentos.
Teve-me em Seus divino braços por espaço de algumas horas. Fez-me
lembrar a mãe que não abandona o seu filhinho, quando ele está
moribundo. Eu sofria muito, é certo, mas confortada com os miminhos
de Jesus e as Suas ternas carícias. Humilha-me, aterra-me tanta
bondade de Jesus para comigo. |