
ESCRITOS
DA BEATA ALEXANDRINA
— 16
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4 de Junho – Dia
do Corpo de Deus
— Não
temas, minha filha, o teu Jesus. Quem o possui e ama deveras não
o pode temer. Jesus quisera que todos falassem nas bondades do seu
divino Coração com toda a simplicidade e amor. Jesus
quisera que todos falassem nas bondades do seu divino Coração,
da sua ternura, da sua compaixão, do seu perdão. Jesus
é louco por todos os filhos seus. Jesus ama-os apaixonadamente
e a todos quer dar os tesouros inesgotáveis do seu amável
Coração. Jesus a todos quer ver à volta do seu
Sacrário a amá-lo e a recebê-lo com aquele amor e
carinho como as andorinhas com os seus filhinhos. Que timoratos são
os que temem deveras a Jesus e todos aqueles que desconfiam das suas
bondades e misericórdia! O amor e a confiança é
tudo para a alma que deveras ama e pertence a Jesus!
― Ó
Jesus, eu confio plenamente em vós. Vós ides atender
aos meus pedidos, ides, Senhor? E depois ides logo levar-me para o
Céu, sim, meu Jesus? Que desejos e saudades eu tenho dele! Não
posso viver aqui, meu Jesus! Este exílio é aterrador!
— Jesus
vai alcançar à louquinha da Eucaristia tudo o que ela
lhe pede. Jesus não pode deixar de velar e olhar pelo filho
predileto a quem tanto ama! Jesus não pode deixar no momento
final a sua esposa em abandono completo. Jesus vai dar-lhe tudo e vai
dar-lhe o Céu.
― Obrigada,
Jesus, para sempre: um eterno obrigada!
6 de Junho – Primeiro
sábado
— Minha
filha, minha filha, Jesus anda como a avezinha que não pode
poisar, que não pode descansar. Jesus anda louquinho a pedir
amor amor a todos os corações. Que tristeza amar e não
ser amado; amar e ser ofendido! Mas ainda bem que a louquinha do amor
divino ama-o apaixonadamente, ama-o como Jesus o deseja, ama-o com o
amor mais puro e desprendido de tudo o que é terreno; é
amor santo, é amor divino. Foi por este amor que Jesus se
enlouqueceu pela sua louquinha; é pelo amor da louquinha da
Eucaristia que Jesus se apaixona pelas almas que a amam. É por
este amor tão puro que Jesus lhe vai dar uma morte de amor,
amor, só amor. Jesus está louco de alegria, Jesus está
contentíssimo com o Paizinho da sua benjamina querida. São
as humilhações por que está a passar que o
hão-de glorificar e exaltar. O prémio é grande
no Céu e grande será na terra ainda a recompensa. Jesus
está louco, louco de alegria com o Sr. Doutor, com o santo
cuidado com que ele está a desempenhar tão grande
missão. Jesus escolheu-o para velar pela sua crucificada e as
almas a quem mais amo. O Coração divino de Jesus está
superabundante de graças para derramar sobre todas elas. O
mundo, Satanás odeia-as e odiá-las-á. A sua
causa é só a soberba e o orgulho: só isso é
a razão da sua raiva. Porém Jesus ama-as com sua
bendita Mãe, triunfa e vence com elas, e só isso basta.
― Ó
meu Jesus, defendei-as sempre, amai-as sempre apaixonadamente,
triunfai e vencei com elas. Levai-me então depressa para o Céu
para eu fazer descer sobre elas as vossa graças e as vossas
bênçãos. Sim, sim, meu Jesus; confio que sim, meu
Amor.
— Está
o Céu mais próximo da louquinha de Jesus do que está
a terra.
― Levai-me,
levai-me então para lá; só por ele suspiro!
6 de Junho, deviam ser 13
horas solares
Estando a Deolinda deitada a
meu lado e junto à minha cama, dormindo ela, vi a horrenda
figura de Satanás perto de mim entre a cama e o local onde
repousava a Deolinda. Satanás estava montado num cão
escuro, malhado de preto, e Satanás tinha as mãos de
macaco, com seus dedos separados, vestido de vermelho; era um vulto
informe, cabeça baixa, olhos levantados para me fitar. Não
o vi entrar nem o vi retirar; todavia assustou-me e tentei chamar a
Deolinda que, doente dos dentes, dormia por efeito de uma pastilha de
Vermon e por isso mesmo não ouviu a minha voz. Creio que a
chamei duas vezes; depois desisti de a chamar com pena de lhe
perturbar o repouso. Entretanto Satanás desapareceu.
9 de Junho – pelas
13 horas
Em alguns dias precedentes
eu ouvia umas harmonias muito suaves, como toques de acordes de
instrumentos celestes, executando música angélica; e
apreciando a doçura dessa música divina, eu esquecia-me
do mundo e da vida terrena, perdia a noção de mim
própria e parece que passava a viver numa região
estranha onde tudo é ventura e inefável.
Foi então que no dia
9 de Junho de 1942, pelas 13 horas, me apareceu sobre a cama descendo
do Céu a figura deslumbrante da Mãezinha que parece se
fixou em minha frente um pouco para a minha esquerda. Vestia ricos
vestidos brilhantes, de cores variadas, trazia os pés nus,
chegou-se a mim para me acariciar e com sua mão direita
apontou para o Céu. Parecia comovida com o meu sofrimento a
prometer-me a recompensa e a inspirar-me confiança. O trono em
que veio era brilhantíssimo como ouro pálido em que o
sol projectava os seus mais brilhantes raios. Foi inefável a
consolação que me deixou a primeira aparição.
Por uns minutos me tem desaparecido para novamente me aparecer, agora
mais junto de mim, do lado direito, e pude ver distintamente que
agora era o Imaculado Coração de Maria. Também
me acariciou como da primeira vez, porém não fez o
gesto de apontar o Céu. A sua presença consolou-me
profundamente e essa consolação celeeste permaneceu na
minha alma, que por alguns dias gozou aquele conforto maravilhoso.
Este conforto era como que um íman que me elevava para Jesus,
sentindo-me então na bem-aventurança.
12 de Junho – Dia
do Sagrado Coração de Jesus
De tarde, talvez pelas 18
horas solares, eu vi novamente aquele feixe de raios celestes que me
haviam visitado e que tanto me aproximavam do Céu. Agora nova
elevação, novo conforto e parece que agora me puseram
mesmo juntinho à porta do Paraíso, faltando-me apenas
bater e entrar! Deixaram-me umas ânsias devoradoras do Céu,
que por vezes me custam a suportar. Parecia-me que tinha duas asinhas
para voar e força de voar, mas qualquer coisa me estorvava o
movimento das asas; uma pressão sem prisão mo tirava,
que eu não vencia, e por isso me angustiava. Todavia a
impressão de que essa prisão das minhas asas era
qualquer coisa de maldade dos homens contra a vontade do meu amado
que suspirava por me receber e por me possuir no seu amor.
27 de Junho
O meu viver: que pequenino
sopro de vida! Só corpo para sofrer e nada, nada mais! Que
saudades do Céu! Que ânsias tão consumidoras! Os
raios divinos arrastaram-me mesmo, mesmo para as portinhas do Céu,
mas um não sei quê humano obriga-me a viver na terra,
obriga-me à imolação contínua. Não
me dão o meu Paizinho. Pobre de mim, e eu não posso
esperar mais! Miro e remiro o meu corpo a ver se ainda existe. O que
nele se passa só Jesus o conhece. Parece-me que nem posso ter
união com Jesus nem ao amor que me há-de matar. O que é
a vida da vítima! Contudo não me arrependi pela minha
oferta a Jesus e pelas almas. Ele derrama sobre mim de vez em quando
os raios do seu amor. Foi no dito dia 27, que era sábado, e eu
sem poder rezar redobrava o meu esforço por lhe estar unida na
Eucaristia longe de pensar receber dele tão depressa a
recompensa. Jesus, eu toda para vós e vós todo para
mim. Eu quero estar sempre unida a vós em todas as prisões
de amor. Que maravilha! De repente, à minha frente vi um
sacrário. A portinha estava fechado, mas por todas as
frestazinhas da porta do sacrário saíam numerosos raios
dourados; davam toda a luz e todos eles vinham bater e repousar no
meu pobre peito. Não foi uma ilusão minha, pois nunca
pensei Jesus pagar com tanta generosidade o meu grande esforço.



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