Alexandrina de Balasar

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EM LOUVOR DE BALASAR

 

 

Não conheço mais nada sobre o Armindo Fonseca que escreveu este trecho em louvor de Balasar que saiu no jornal poveiro Ideia Nova. Ao contrário do que aqui promete, penso que não lhe deu continuação. Quer-me parecer que nas entrelinhas do escrito se adivinha alguma presença da Beata Alexandrina.

Terra linda esta, como se vêem poucas neste antigo Entre Douro e Minho! Que os digam os numerosos visitantes, sempre maravilhados com as suas belezas paisagísticas, a alma hospitaleira e alegre deste povo nascido para trabalhar a gleba e louvar o Criador, que o vai cumulando de benefícios.

Uma dúzia de quilómetros a leste da sede concelhia; servida pela linha-férrea, que a C. P., num requinte de compreensiva atenção, vai melhorando dia a dia com veículos cómodos e rapidíssimos; cortada por uma estrada nacional em que é um regalo viajar; com os seus prados, veigas e lameiros, que um rio generoso e amigo, vindo lá de longe aos meandros e murmúrios, transforma em seios úberes donde brotam carradas de pão e largas pipas dum pingato delicioso; cruzando-lhe os caminhos da mais remota aldeola, os fios condutores da energia eléctrica; com meia dúzia de homens cujo férreo dinamismo e enternecido amor à terra que lhes foi berço ninguém é capaz de contestar em face do que aí se vê e eles fizeram (ou no campo da iniciativa particular — louvável o exemplo — ou no do bem público — louvável o interesse «desinteressado» pela comodidade alheia e pelo nome da freguesia) — é esta uma povoação das que têm a esperá-las um futuro grandioso, próspero, estímulo com certeza para outras terras avessas ao progresso.

Sinos, escolas, estradas, luz, fábricas — eis alguma coisa do muito que se fez já. Arranjo do adro e telefone – eis duas promessas, transformadas em belas realidades muito em breve graças à intervenção quase teimosa dos homens bons da terra junto dos poderes superiores. É que a elite balasarense é duma têmpera difícil de igualar. Surge uma ideia cuja concretização redunda em proveito público? Mãos à obra, toca a erguer o edifício dessa ideia teimosa, qualquer que seja o cérebro onde ela aflore. E tudo se consegue, todos os obstáculos se removem quase por milagre. Energia, coragem, persistência, sacrifício próprio em prol do bem comum, eis o segredo único do progresso de Balasar.

Aqui moureja-se com afã, mas há pão. Há autoridade, mas há ordem e sem esta nada haverá de jeito debaixo do Sol. Canta-se, folga-se, a cada festazinha estrondeia no ar potente foguetório; contenta, dá saúde e ânimo até ouvir-se, aqui e ali, o cascalhar ruidoso de francas gargalhadas, núncias de alegria pura e calma de espírito; mas há também exemplar respeito pelos sãos costumes, pelos sentimentos religiosos de cada um, pelo cerimonial litúrgico, respeito, enfim, por tudo e todos que o merecem.

Cá vivo há anos e — com franqueza — não me sinto mal. Fez-me o infortúnio andejo por essas terras de Cristo em busca dum pouco de paz, mas em parte alguma me vi rodeado de tanto acolhimento e compreensão como nesta grande e boa povoação, em meio desta santa gente, hospitaleira até ao requinte, generosa, alegre e empreendedora. Por cá decorreram as horas dum delicioso período romântico da minha juventude. Aqui ensaiei os primeiros voos no céu maravilhoso da poesia, aqui senti as primeiras vibrações da harpa mágica que trago no meu peito, por estes sítios de uma amenidade bucolicamente encantadora gastei não poucas frases em honra de sua majestade, o Amor. Bons tempos esses, mas de penosa lembrança, pois me saíram bem caras essas horas de encantamento amoroso e arrebatamento poético…

Muito fica ainda por dizer desta querida freguesia, do seu povo, costumes, típicos cantares, belezas panorâmicas, etc., mas para outra vez continuaremos.

Balasar, 9-3-1951.

Armindo Fonseca