Alexandrina de Balasar

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DOCUMENTOS

Carta em latim enviada em 1936 pelo Padre Pinho ao cardeal Pacelli a pedir a Consagração

O Padre Mariano Pinho, S. J., era o Director espiritual da Alexandrina. Cumpre aqui a incumbência de propor ao Papa, pela primeira vez, a mensagem que fora comunicada à sua dirigida no sentido de se realizar a Consagração.

Emminentissime ac Reverendissime Domine Cardinalis Pacelli

Extranaeum certe videbitur quod humilis Sacerdos a Societate Jesu ad Emm. Vestram Reverendissimam accedat, nullo interposito mediatore, per has litteras. Res tamen versatur quae, si a Domino est, nulla alia meliori via obtinebitur.

Agitur enim de impetrando Summo Pontifice, ut in tantis rerum discriminibus et angustiis, mundus totus Reginae Coeli et Terrae ac Dominae a Victoria consecretur.

Originem huius petitionis simpliciter narrabo:

Est hic in Lusitania, in quodam pago humili et ignoto, puella quaedam, graviter aegrota, 32 annos nata, quae undecim abhinc annis, in lectulo ferme immobilis continuisque cruciata doloribus jacet, propter varias insanabiles infirmitates, praesertim osteite (Mal de Pott), ex qua jam decimo aetatis suae anno gravissime laborare coepit.

Mirum tamen est quanta patientia, fortitudine, jucunditate et humilitate tantos sustineat dolores. Unum sempre in votis habuit: totam se continuo Sanctissimo Sacramento saepe in Sacrario derelicto (quem semper mente et corde comitatur) immolare pro salute pecatorum. Hoc ducta desiderio, constanter sincereque a Domino postulat ut sibi magis magisque in dies augeat dolores, ut solitudo Sua in tabernaculis levetur peccatoresque salventur. Huic puellae saepe Dominus sese communicavit ut ipsam in hac sua pro peccatoribus patiendi vocatione confirmaret, saepe etiam per longos menses reliquit in magna ariditate spiritus et desolatione amarissima, quam illa angellica omnino mansuetudine subridens perfert.

Inter has a Domino communicationes, ipsa mihi uno abhinc anno declaravit Dominum sibi dixisse velle ut mundus a Summo Pontifice Dominae Nostrae consecraretur: imminebat enim toti orbi magna punitio, propter scelera hominum multa.

Rem audivi nec tamen quidquam faciendum curavi, ne imprudenter agerem. Tempus erat quo puella magnis inter dolores fruebatur consolationibus visitationibusque spiritualibus. Sed ecce repente per longos menses incredibilis obtenebratio, desolatio, angores spiritus... Tamen mense Augusti hujus anni iterum se Dominus communicasse videtur:

«Ne timeas, filiola, Ego tecum sum; Ego scio quid agam. Innumeras mihi animas hac tua desolatione et doloribus salvasti... Exora Me pro mea dilecta Spania! Vides punitionem de qua tibi saepe dixi?! Hoc incendium toto Mundo communicabitur si veritas non praedicetur ubique et non convertentur peccatores. Aut conversio aut punitio !… Volo ut mundus totus a Summo Pontifice Matri Meae consecretur… Dic Confessario tuo ut id directe Romam mittat. Postulat Jesus qui imperare potest.»

Transactis denuo decem diebus in tenebris et ariditate, en iterum Dominus:

«Sciat mundus universus flagellum hoc esse punitionem, esse iram Dei. Punio ut illos ad Me revocem; omnes volo salvare; pro omnibus mortuus sum... En quomodo facienda consecratio mundi Matri hominum et Meae Matri Sanctissimae (quomodo Ipsam diligo!). Fiet Romae a Summo Pontifice consecratio universi orbis, dein in omnibus ecclesiis a Sacerdotibus sub titulo Reginae Coeli et Terrae et Dominae a Victoria. Si mundus corruptus convertatur et remeet pedem, Ipsa regnabit et victoriam per Eam obtinebitur… Noli timere, filia, desideria mea adimplebuntur.

Non equidem, Emm. Domine, tale opus aggredi auderem, nisi certus essem puellam esse solidae omnino probataeque virtutis, nisi prasertim timerem me, meo silentio, gravem ommissionem contra Dei voluntatem commissum iri.

Nunc autem rem totam in prdentissimis manibus Emm. Vestrae Reverendissimae depono, quae judicabit opportunum necne erit totum Summo Pontifici renuntiare.

Pro omnnibus gratias agens quam maximas, Emm. Vestrae Rever. humilis servus in Xto.

Portugal........11 September, 1936.

Marianus Pinho, S. J.

Carta enviada de Roma à Alexandrina pelo Mons. Vilar

A este ilustrado sacerdote, natural de Terroso, Póvoa de Varzim, que fora colocado à frente do Pontifício Colégio Português de Roma, cabia-lhe também a incumbência de desenvolver aí as diligências respeitantes à Consagração.

« Roma, 2/6/39

Boa Alexandrina

É hoje a primeira sexta-feira de Junho e está a fazer um mês que recebi a sua estimada cartinha. Esperava, ao escrever esta, poder dar-lhe alguma notícia acerca da nossa Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, tão insistentemente pedida por Jesus, mas infelizmente ainda nada de positivo lhe posso dizer. As coisas em Roma contam-se em comparação com a eternidade, e por isso nunca têm pressa. Continuaremos porém a rezar e a trabalhar para que por fim os santíssimos desejos de Jesus sejam realizados.

Esta manhã, ao recordar-me de si (é sexta-feira) na santa Missa, como costumo fazer, recordei-me da sua paixão (quer dizer: os sofrimentos extraordinários das sextas-feiras) e ofereci tudo a Nosso Senhor. Encontrei assim um meio de desagravar a Justiça Divina pelas minhas tão numerosas e tão graves infidelidades. E já tenho feito assim muitas vezes. Olhe: isto é só para si: se soubesse como tenho sido mau e ingrato para com Jesus... procuro ser bom para com todos e só para Jesus continuo a ser assim infiel! E, depois disto, ainda Ele vem dizer-me (por meio de Alexandrina a quem Nosso Senhor o revelou) que em ama e me compreende. Sabe? Quando li estas palavras, as lágrimas saltaram-me aos olhos; e  a sua carta lá ficou aos pés do meu crucifixo até hoje. A Alexandrina peça muito perdão a Jesus por mim e diga-lhe que tenha pena da minha miséria e que acabe de uma vez por todas com a minha teimosa resistência.

Se soubesse a tortura íntima que tenho suportado este mês, mas por minha culpa. Afinal, dei tudo a Jesus e só não acabo de me dar a mim.

A Alexandrina há-de me conseguir ainda esta graça, sim? Quando acabamos por nada mais ter neste mundo que nos prenda, é evidente que não podemos pensar no céu sem profundas saudades, e a própria vida só é compreensível como um contínuo acto de amor. Jesus ouviu-a; foi mais uma grande graça. Mas compreendo que o amor seja hoje para si ao mesmo tempo o algoz, o amparo e força, a consolação e felicidade. Mas deixe: esse Artista divino sabe realizar obras adoráveis;  e se Ele a levar à imolação heróica, maior será a glória do Senhor, mais completa a reparação, mais bela a recompensa.

E é isto o que Ele lhe pede, não é verdade? Mas nem admira. Nesta hora de desvario, Jesus tem necessidade de vítimas que com Ele desagravem a Justiça Divina.

E agora talvez gostasse de saber alguma coisa da obra que Deus me confiou (de dirigir o Colégio Português de Roma), já que a confiou também a si. Olhe: está apenas a começar e por enquanto tenho ido muito devagar, procurado com bondade desfazer as desconfianças que encontrei. Há boas vontades que parecem despertar; e as outras virão vindo também. De resto, Nosso Senhor tem ido aplanando o caminho. A Alexandrina não deixe de continuar a considerar como sua esta obra tão importante e tão necessária à Igreja em Portugal. Continuaremos assim muito unidos no Coração Divino e trabalhando juntos. Tenha a certeza que uma e muitas vezes me lembra aos pés do altar.

Fará o que entender das minhas cartas. O que não queria era que viessem amanhã a ser conhecidas. Não aproveitam nem edificam a ninguém. Antes têm pedaços que me saem espontâneos, pela muita confiança que em si deposito, mas que doutra forma não escreveria. E mesmo, não sendo compreendidas, poderiam fazer mal.

Os meus respeitosos cumprimentos para sua mãe e irmã.

Creia-me muito dedicado em Jesus.

M. Pereira Vilar ».

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