Mas vós sois corpo de Cristo
e seus membros”
(1 Cor. 12, 27).
Membro vivo de Cristo foi a
Alexandrina Maria da Costa, que recebeu do Senhor a vocação de
participar nos
sofrimentos da paixão do Senhor Jesus, que se
“humilhou a si próprio, feito obediente até à morte e morte de cruz”
(Fil. 2, 8). Unida ao Divino Esposo, seguiu-o com amor e por
amor se devotou no caminho do calvário pela conversão dos pecadores
e pela conversão das almas, desempenhando a sua missão, que lhe fora
confiada pelo Céu, de “amar, padecer e expiar”.
A Serva de Deus, segunda
filha natural de Ana Maria da Cos-ta, nasceu no dia 30 de Março de
1904, no lugar de Gresufes, na aldeia de Balasar, no território da
Arquidiocese de Braga, Portugal, e recebeu o Baptismo no dia 2 de
Abril seguinte. A mãe dela, abandonada pelo esposo pouco antes do
casamen-to, suportou com dignidade o peso da família e educou as
filhas com fortaleza e diligência segundo as leis de Deus e da
Igreja, dando-lhes admiráveis exemplos de oração e de prá-tica de
caridade, sobretudo para com os doentes.
Desde a meninice, a
Alexandrina sofreu os efeitos de dura pobreza quando a família,
perdidos todos os bens, contraíra um grande empréstimo para ajudar
um parente necessitado. Frequentou a escola primária durante pouco
tempo na cidade da Póvoa de Varzim, onde, com grande alegria, fez a
Primeira Comunhão. Depois do regresso à sua aldeia natal, trabalhou
nos campos e aprendeu costura. Gozava de óptima saúde, era de
espírito alegre, folgazão, afável e vivaz. Dedica-va-se à oração com
assiduidade, estudava o catecismo, parti-cipava nas actividades
paroquiais e empenhava-se na cor-recção dos seus defeitos. Assistia
de boamente doentes e moribundos.
No Sábado Santo do ano de
1918, para defender a virgindade de alguns homens que se tinham
infiltrado em sua casa, atirou-se de uma janela abaixo e a partir
daí caminhou com dificuldade e com sofrimento. De início, os médicos
não conseguiram fazer um diagnóstico acertado, mas mais tarde
chegaram à conclusão de que ela sofria de mielite comprimida da
medula. Todo o tratamento resultou ineficaz e os sofrimentos foram
aumentando de dia para dia, até que no ano de 1925 viu-se obrigada a
acamar definitivamente. A paralisia dos membros foi aumentando cada
vez mais e por fim a atrofia dos músculos foi tal que a impediram de
qualquer movimento.
Nos primeiros anos da
doença, como é natural, pediu instantemente a cura, mas foi-lhe
concedida a graça de aceitar a vontade de Deus e também desejar
sofrer ainda mais. Deste modo o seu leito tornou-se um altar do
sacrifício, o seu corpo um templo no qual Deus realizou maravilhas e
a alma transformada numa chama ardente de caridade. Começou por
sentir uma grande pena de “Jesus prisioneiro dos Sacrários”, ao
mesmo tempo que tomava consciência mais claramente da sua vocação de
vítima. Instruída pelo próprio Cristo e por Ele guiada na sabedoria
da Cruz, ofereceu-se como vítima de expiação, aceitou ser
crucificada e tornar-se participante da Redenção através dos seus
sofrimentos, que foram muitos, atrozes e contínuos. Experimentou na
sua carne e no seu espírito os sofrimentos da paixão de Jesus,
moléstias diabólicas, a que se juntaram tentações, períodos de
aridez e de trevas interiores, dúvidas contra a fé e morte mística.
Tinha desgosto de não poder ir à igreja e de não ter possibilidade
de comungar frequentemente, bem como de que fossem demasiado
divulgadas as suas admiráveis experiências. Sofreu igualmente devido
aos transtornos causados pelas visitas de muitas pessoas, devido ao
afastamento do seu primeiro director espiritual, aos inquéritos
eclesiásticos e dos médicos, devido às repreensões deles, por não
acreditarem na sua sinceridade e honestidade. Deus favoreceu-a com
êxtases, visões, conhecimento de factos futuros, perscrutação dos
corações. Nos últimos treze anos de vida não tomou qualquer alimento
a não ser o Pão eucarístico.
Apesar de doente, exerceu um
grande e frutuoso apostolado: recebia com amabilidade as muitas
visitas às quais dirigia palavras de fé e de consolação exortando-as
a receberem os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a rezarem
o terço e não raramente obteve a conversão dos pecadores. Ensinou
durante muito tempo o catecismo às crianças; foi zeladora da Pia
União do Apostolado da Oração, promoveu a edição de livros católicos
e das missões; fomentou as vocações sacerdotais e religiosas; aderiu
às Filhas de Maria e à Associação dos Cooperadores Salesianos. Com
as ofertas recebidas de benfeitores favoreceu o culto divino, a
pregação da Palavra de Deus, ajudou a sua paróquia, as missões, os
alunos dos seminários e jovens necessitados, pobres e desempregados.
Interessou-se pela celebração das festas religiosas e da Santas
Missas; contribuiu para a construção de casas para os que delas
careciam. No ano de 1936 pediu ao Sumo Pontífice a consagração do
mundo ao Imaculado Coração de Maria, o que fez Pio XII no dia 31 de
Outubro de 1942.
Esquecida de si mesma, viveu
só para Deus e para o próximo e, entre os espinhos do sofrimento,
cultivou muito belas e perfumadas virtudes cristãs. A fé foi a luz
dos seus pensamentos, dos seus afectos, das suas palavras e acções.
Acreditou firmemente em Jesus Cristo, no Evangelho, nas verdades
reveladas e no magistério da Igreja. Cumpriu perfeitamente os
mandamentos de Deus, obedeceu prontamente à vontade de Deus e foi
instrumento dócil nas suas mãos para o desempenho da missão que lhe
foi confiada para bem da humanidade. Elevada à contemplação dos
grandes mistérios da fé e da oração, nutriu uma particular devoção à
Santíssima Trindade, à Eucaristia e à Virgem Maria. Identificada com
Cristo pregado na cruz até ao ponto de afirmar: “Não sou eu que
sofro: é Jesus que sofre em mim”; e de poder repetir de si com
S. Paulo: “Estou crucificada com Cristo; já não sou eu que vivo,
é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20), e acrescentar:
“Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo
Seu Corpo, que é a Igreja” (Col. 1,24).
O seu coração ardia de amor
para com Deus, a Igreja e as almas. Escreveu:
Amarei a Jesus nas trevas,
amá-Lo-ei nas humilhações, nos sofrimentos e nas angústias da alma;
amá-Lo-ei com transportes de alegria, esforçando-me por cumprir em
tudo a sua vontade.
Afirmava ao mesmo tempo que
estava disposta a sofrer até ao fim do mundo pela salvação dos
pecadores.
Na lápide do seu sepulcro
quis que fossem gravadas estas palavras, compêndio do seu
apostolado:
Pecadores, se as cinzas
do meu corpo vos podem servir para a vossa salvação, vinde,
calcai-as aos pés até elas desaparecerem, mas não continueis a
pecar, nem ofendais mais o nosso Jesus!
Pecadores, quereria
dizer-vos muita coisa! Este cemitério não chegaria para as conter!
Convertei-vos!
Não ofendais a Jesus, não
queirais perdê-lo eternamente!
Ele é tão bom!
Basta de pecados!
Amai-O! Amai-O
Não foi menor a sua caridade
para com a mãe e a irmã Deolinda que a assistiram carinhosamente,
para com os pobres, os doentes, as almas do Purgatório; e aqueles
que lhe causaram qualquer desgosto, receberam imediatamente o seu
perdão e a sua benevolência. Sinceramente humilde, tinha-se em conta
de nada diante de Deus e indigna de qualquer reputação diante dos
homens; evitava louvores e regozijava-se quando era desprezada.
Alheia às coisas do mundo, abraçou com alegria a temperança e a
pobreza, colocando a sua esperança em Deus e na Providência; tendia
continuamente ao prémio eterno, que esperava alcançar não pelos seus
méritos, mas pelos de Cristo. Conservou-se livre e pura de qualquer
afecto desordenado e observou perfeitamente a castidade, superando
não leves tentações. Em todas as circunstâncias falou e agiu com
prudência sobrenatural. Foi justa para com Deus e o próximo: foi
forte na obediência aos superiores eclesiásticos, nos sofrimentos
do corpo e do espírito, na fidelidade ao dever e no cumprimento
quotidiano da vontade divina. Também na proximidade da morte, quando
os sofrimentos atingiram o máximo, perseverou com fortaleza e
generosidade na entrega de si mesma e da sua vida. Com ânimo sereno
foi ao encontro da eternidade murmurando:
Sou feliz, porque vou para o
Céu.
Confortada com os
sacramentos, concluiu o seu caminho doloroso e com a lâmpada acesa
entrou na morada de Deus no dia 13 de Outubro de 1955.
O povo, que a tinha em
conceito de santa, afirmou:
“Morreu a mãe dos pobres, o
auxílio dos necessitados; foi-se a consoladora dos aflitos”.
Uma multidão imensa visitou
o seu corpo e esteve presente nas suas exéquias. No ano de 1977, o
seu corpo foi trasladado para a igreja paroquial de Balasar, onde
presentemente se encontra, venerado pelos fiéis, que numerosos
acorrem e se encomendam à sua intercessão.
Conhecida a grandeza e a
consistência da fama de santidade, de que a Serva de Deus deu
mostras em vida, na morte e depois da morte, o Arcebispo de Braga
deu início à Causa de beatificação e canonização, celebrando o
processo informativo ordinário (1967-1973), cuja autoridade e valor
foram reconhecidos pela Congregação para as Causas dos Santos com
decreto promulgado no dia 16 de Novembro de 1990. Completada a
preparação da Posição, discutiu-se se a Alexandrina teria
exercido as virtudes como os heróis. No dia 13 de Maio de 1995,
realizou-se, com êxito feliz, o Congresso Peculiar dos Consultores
Teólogos. Depois, os Cardeais e Bispos, na Sessão Ordinária do dia 7
de Novembro do mesmo ano, sendo Ponente da Causa o Ex.mo Senhor D.
Ottorino Pedro Alberti, Arcebispo de Cagliari, reconheceram que a
Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa tinha observado de maneira
heróica as virtudes teologais, cardeais e suas anexas.
Feita, finalmente, por parte
do abaixo assinado Pró-Prefeito, uma cuidada relação de tudo isto ao
Sumo Pontífice João Paulo II, Sua Santidade acolheu e ratificou os
votos da Congregação para as Causas dos Santos, e mandou que fosse
publicado o Decreto sobre as Virtudes heróicas da Serva de Deus.
Cumprido fielmente o
estabelecido, chamados hoje à sua presença o abaixo assinado
Pró-Perfeito, o Ponente da Causa e eu, Bispo Secretário da
Congregação, bem como os demais como é hábito convocar, a todos eles
o Santíssimo Padre solenemente declarou:
Consta que a Serva de Deus
Alexandrina Maria da Costa, Virgem Secular, Membro da Associação dos
Cooperadores de S. João Bosco, no caso e para os efeitos que lhe
estão ligados, praticou as virtudes teologais da Fé, Esperança e
Caridade para com Deus e para com o próximo, bem como as Virtudes
cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza, e suas
anexas, em grau heróico.
E deu ordem para que este
decreto fosse tornado público e referenciado nas actas da
Congregação para as Causas dos Santos.
Roma, 12 de Janeiro de 1996.
† Alberto Bovone
Arcebispo titular
de Cesareia na Numídia
Pro-Prefeito
† Eduardo Nowak
Arcebispo titular
de Luna
Secretário |