A PRIMEIRA CONSAGRAÇÃO DO MUNDO
AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, NA IMPRENSA
No ano de 1936,
(a Beata Alexandrina) pediu ao Sumo Pontífice a Consagração do mundo ao
Imaculado Coração de Maria, o que Pio XII fez no dia 31 de Outubro de 1942.
Decreto das
Virtudes Heróicas
A primeira
Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria foi feita em português, aos
microfones da Emissora Pontifícia, pelo Papa Pio XII, em 31 de Outubro de 1942,
na conclusão do Jubileu das Aparições de Fátima, e repetida no dia da Imaculada
Conceição, a 8 de Dezembro, do mesmo ano, na Basílica de S. Pedro. A Emissora
Nacional retransmitiu para Portugal a alocução de 31 de Outubro.
Os pedidos de Jesus
à Beata Alexandrina para que se efectuasse a consagração foram determinantes na
decisão do Papa, mesmo que tal passasse quase inteiramente despercebido na
altura. Aliás, já havia partido de Portugal o pedido para a primeira Consagração
do mundo ao Sagrado Coração de Jesus.
Esta consagração
não terá tido significativo impacto imediato nas comunidades católicas
portuguesas (que não viviam os horrores da guerra), como se deduz do que sobre
ela noticiaram o Diário do Minho, da Arquidiocese de Braga, e dois
jornais portuenses de circulação nacional, O Comércio do Porto e o
Jornal de Notícias.
Antes de 31 de
Outubro
No dia 18 de
Outubro, o Diário do Minho publicava esta comunicação do Paço
Arquiepiscopal sobre «Como se há-de celebrar o Ano Jubilar das Aparições de
Fátima»:
«O Ano Jubilar que
Sua Santidade se dignou conceder a Portugal, em comemoração do 25.º aniversário
das Aparições de Fátima, termina em 31 do corrente mês de Outubro.
O Venerando
Episcopado resolveu que as cerimónias do encerramento constassem do seguinte:
Em Lisboa, com a
assistência do Episcopado, soleníssimas funções na Sé Catedral, cujo programa se
publicará oportunamente.
Em todas as
paróquias e Igrejas do País: de manhã, Missa e Comunhão Geral; de tarde,
exposição solene do SSmo., recitação do Terço e Consagração ao Imaculado Coração
de Maria, cantando-se em acção de graças o Te Deum onde seja possível.
Quando, por falta
de sacerdotes, se não possam realizar as duas cerimónias da manhã e da tarde,
realizar-se-á ao menos uma delas, havendo sempre a Consagração; e quando nem
isso seja possível, procure-se que o povo se reúna na Igreja, e um leigo piedoso
recite o Terço e a Consagração.
Estes actos poderão
transferir-se para o Domingos imediato, 1 de Novembro, onde as circunstâncias, a
juízo do Revs. Párocos, o tornem necessário.
Nas paróquias e
Igrejas onde haja sacerdotes, o dia do Enceramento deve ser preparado com um
tríduo de pregação, recitação do Terço e Bênção do Santíssimo. O objecto da
pregação versará de preferência sobre a mensagem de Fátima: mudança
cristã de vida, penitência pelos pecados, reparação das ofensas feitas a Deus,
oração pala conversão dos pecadores, prática diária da recitação do Terço.
Espera-se que Sua
Santidade o Papa fale aos portugueses, e certamente na nossa língua, que Ele tão
bem conhece.
Devem, por
consequência, instalar-se postos públicos de radiodifusão e convidar o povo a
reunir-se junto deles a fim de ouvir a Mensagem Pontifícia e a saudá-la com
aclamações ao Vigário de Cristo».
No dia 28, o mesmo
jornal confirmava que Sua Santidade se dirigiria aos católicos de Portugal e
dava conta de preparativos que se estavam a organizar para o Encerramento do Ano
Jubilar.
A mensagem do
Cardeal Cerejeira
No dia 30 Sua
Eminência o Cardeal Cerejeira falou ao País. O Diário do Minho intitulou
assim no dia seguinte a sua notícia: «A Igreja não
impôs
Fátima; foi Fátima que se impôs à Igreja, disse Sua Eminência». Depois resumiu a
alocução nestes termos:
«O ilustre
Purpurado, depois de se referir ao Ano Jubilar, que está prestes a encerrar-se,
ano de oração e penitência segundo o espírito social, a que o Santo Padre se
quis associar oficialmente, declarou que não foi a Igreja que impôs Fátima, foi
Fátima que se impôs à Igreja.
Fátima porém, não
se compreende sem a Igreja.
Sua Eminência
dissertou largamente e fê-lo com aquele brilho e eloquência que todos os
portugueses lhe reconhecem.
E no final da sua
belíssima alocução, disse.
“Fátima ilustra a
Igreja com o novo esplendor da fé e da graça.
Está predito pelo
Senhor, ao despedir-Se dos Apóstolos, que a epifania do milagre há-de acompanhar
a sua pregação.
Seria a credencial
divina com que Se apresentaria aos que falassem em seu nome.
Esta Igreja
Católica que se apresenta como a mensageira de Cristo traz sempre consigo,
através do caminho da sua existência história, as atitudes que a acreditam.
Pensou Renan que o
progresso da ciência removeria o campo do milagre como a luz dissipa a noite. O
milagre, porém – seja o milagre físico, seja o milagre moral –, impõe-se cada
vez mais (hoje mais que nunca, salvo o período apostólico), mostrando a mão
toda-poderosa de Deus a sustentar a Igreja.
Não ensina o
Concílio do Vaticano que a Igreja traz em si mesma a garantia da sua Divindade
através do invólucro humano de que serve, a virtude divina de Cristo reside e
actua sempre nela.
Sacrário de Cristo
no mundo, Cristo aqui não Se esconde como nos Sacrários das nossas Igrejas, mas
manifesta-se na própria vida dela.
Sucede, porém, com
a Igreja como sucedeu com Cristo, e Ele era a Luz.
Muitos dos que O
viram enganaram-se.
No Sermão da
Montanha explica o Senhor que para o povo ver a Deus era preciso ter o coração
limpo.
Fátima é mais um
exemplo dessa divina assistência.
Renova-se a
História nunca acabada da legenda áurea.
Julgam-na alguns
apenas da época virginal das límpidas iluminuras – e ela é dos nossos dias”».
Nesta alocução
anunciava-se a posição definitiva da Igreja sobre as revelações da Cova de Iria,
posição que a alocução do Papa iria confirmar no dia seguinte. O Comércio do
Porto transcreveu-a na íntegra.
Nesse mesmo dia o
Diário do Minho, lembrava:
«Sua Santidade
fala, hoje, às 5 horas da tarde, na nossa língua, a Portugal católico». O
jornalista, que não tinha ideia do que a mensagem conteria, pergunta-se:
«Que nos dirá o
Chefe da Igreja, que quererá Ele do velho Portugal, do filho fidelíssimo à sua
doutrina e obediente aos Seus conselhos?
Que oremos cada vez
mais ao Senhor e Rei do Mundo para que ilumine os homens e os conduza ao caminho
do bem e da felicidade?
Que peçamos com fé
à Virgem de Fátima, Mãe Misericordiosa e consolo dos aflitos, que seja a
Mensageira da Paz junto de seu amado Filho?»
Nada portanto que
pudesse sugerir a Consagração do Mundo e chamar para ela atenção dos leitores.
As cerimónias na
Se Patriarcal
Convém saber que em
Fátima ainda não havia basílica – que estava em construção, mas que só viria a
ser sagrada uma dúzia de anos mais tarde. Por isso, um pouco estranhamente, as
cerimónias mais solenes do encerramento do ano jubilar das Aparições de Fátima,
como já foi dito, decorreram, em Lisboa, na Sé Patriarcal e contaram com a
presença de todos os bispos do país.
No dia 1 de
Novembro, o Diário do Minho, anunciava, em toda a largura da primeira
página: «Encerramento do Ano Jubilar das Aparições de Fátima: ao soleníssimo Te
Deum celebrado por Sua Eminência Cardeal Patriarca de Lisboa, assistiram todos
os Bispos de Portugal. Alocução do Santo Padre, dirigida aos portugueses, foi
ouvida com emoção em todo o país».
À esquerda, figura
o retrato de Pio XII.
Depois de uma breve
notícia sobre o «soleníssimo Pontifical» celebrado de manhã e duma alusão à
breve homilia então proferida, o repórter conta o que se passou de tarde, desde
o momento em que o Sr. Cardeal Patriarca chegou à Sé até às 5 horas em ponto,
quando se começou a ouvir a o locutor da Emissora Pontifícia. O povo ouviu a
alocução de Sua Santidade prostrado junto dos altifalantes.
A mensagem de
Pio XII
A seguir, o jornal
transcreve na íntegra a mensagem papal, sem que qualquer subtítulo chame a
atenção para a consagração do mundo. Era tanta a atenção dada ao Jubileu das
Aparições que, aparentemente, escapou às pessoas aquela que era a grande
novidade.
O Comércio do
Porto noticiou a meio do lado esquerdo da primeira
página que «Encerrando o Ano Jubilar das Aparições de Fátima, Sua Santidade o
Papa falou, em português, para os portugueses»; o trabalho vem ilustrado com uma
fotografia das cerimónias na Sé Patriarcal, seguida do «discurso» do Papa.
O Jornal de
Notícias remeteu o seu título para o fundo direito, anunciando: «Encerrou-se
com toda a solenidade o Ano Jubilar das Aparições de Fátima. Sua Santidade
proferiu uma expressiva e comovedora alocução dedicada à Nação Portuguesa». Uma
pequena fotografia do Papa ilustra o começo da notícia, que inclui a alocução,
seguida das informações mais detalhadas da cerimónia em Lisboa.
Nenhum destes
jornais traz uma palavra sobre o que se passou em Fátima; muito menos uma
palavra sobre a Beata Alexandrina. E dois deles, posteriormente, ainda tiveram o
cuidado de noticiar a recepção que Sua Santidade concedeu ao embaixador
português acreditado junto da Santa Sé.
Veja-se a oração
com que concretizou a Consagração:
Rainha do
Santíssimo Rosário, auxilio dos cristãos, refúgio do género humano, vencedora de
todas as grandes batalhas de Deus! ao vosso trono, súplices, nos prostramos,
seguros de conseguir misericórdia e de encontrar graça e auxilio oportuno nas
presentes calamidades, não pelos nossos méritos, de que não presumimos, mas
unicamente pela imensa bondade do vosso Coração “materno”.
A Vós, ao vosso
Coração Imaculado, Nós, como Pai comum da grande família cristã, como Vigário
d’Aquele a quem foi dado todo o poder no Céu e na terra, e de Quem recebemos a
solicitude de quantas almas remidas com o seu sangue povoam o mundo universo, —
a Vós, ao vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana,
confiamos, entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico de
vosso Jesus, que pena e sangra em tantas partes e por tantos modos atribulada,
mas também todo o mundo, dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em
incêndios de ódio, vitima de suas próprias iniquidades.
Comovam-Vos
tantas ruínas materiais e morais; tantas dores, tantas agonias dos pais, das
mães, dos esposos, dos irmãos, das criancinhas inocentes; tantas vidas ceifadas
em flor; tantos corpos despedaçados numa horrenda carnificina; tantas almas
torturadas e agonizantes; tantas em perigo de se perderem eternamente.
Vós, Mãe de
misericórdia, impetrai-nos de Deus a paz! e primeiro as graças que podem, num
momento, converter os humanos corações: as graças que asseguram a paz! Rainha da
paz, rogai por nós e dai ao mundo, em guerra, a paz por que os povos suspiram: a
paz na verdade, na justiça, na caridade de Cristo. Dai-lhe a paz das armas e das
almas, para que na tranquilidade da ordem se dilate o Reino de Deus.
Estendei a vossa
protecção aos infiéis e a quantos jazem ainda nas sombras da morte; dai-lhes a
paz e fazei que lhes rale o Sol da verdade, e possam connosco, diante do único
Salvador do mundo, repetir: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens
de boa vontade!
Aos povos pelo
erro ou pela discórdia separados, nomeadamente àqueles que Vos professam
singular devoção, onde não havia casa que não ostentasse a vossa veneranda cone,
(hoje talvez escondida e reservada para melhores dias), dai-lhes a paz e
reconduzi-os ao único redil de Cristo, sob o único e verdadeiro Pastor.
Obtende
paz e liberdade completa à Igreja Santa de Deus; sustai o dilúvio inundante de
neo-paganismo, todo matéria; e fomentai, nos fiéis, o amor da pureza, a prática
da vida cristã e o zelo apostólico, para que o povo dos que servem a Deus,
aumente em mérito e em número.
Enfim, como ao
Coração do vosso Jesus foram consagrados a Igreja e todo o género humano, para
que, colocando n’Ele todas as suas esperanças, lhes fosse sinal e penhor de
vitória, assim desde hoje vos sejam perpetuamente consagrados também a Vós e ao
vosso Coração Imaculado, ó Mãe nossa e Rainha do Mundo: para que o vosso amor e
patrocínio apresse o triunfo do Reino de Deus, e todas as gerações humanas,
pacificadas entre si e com Deus, a Vós proclamem bem-aventurada, e convosco
entoem, de um pólo ao outro da terra, o eterno “Magnificat” de glória, amor,
reconhecimento ao Coração de Jesus, onde só podem encontrar a Verdade, a Vida e
a Paz.
Nos dias
seguintes
Depois de no dia 3,
terça-feira, ter sido publicada uma brevíssima notícia vinda de Roma que
afirmava que na segunda-feira, o «Osservatore Romano» publicara em letras
enormes, que ocupavam dois terços da página a mensagem dirigida aos portugueses,
sob o título de «Nesta hora grave o Pastor Supremo consagra o género humano ao
Imaculado Coração de Maria», e de, na quarta-feira, um telegrama vindo também de
Roma noticiar que ia «ser dada grande publicidade entre os fiéis à Consagração
da humanidade ao Imaculado Coração de Maria que o Santo Padre fez na sua
mensagem de sábado passado», um tal Constantino Coelho escreve uma desenvolvida
nota, saída na primeira página, sob o título de «Desígnios da Providência» e com
o subtítulo: «Foi em português que Sua Santidade consagrou o mundo ao Coração de
Maria ao findar o Jubileu de Fátima». Veja-se o que disse este autor:
Quão memoráveis
acontecimentos sucedem na terra lusitana, não o desconhecem nossos leitores.
Alguma coisa nova perpassa rejuvenescendo na família portuguesa as virtudes e
esplendor da sua história.
Mas na grandeza
que se desenrola a nossos olhos, na majestade inconfundível dos nossos dias – e
foi o papa quem disse ninguém ter direito hoje de ser medíocre – podem passar
despercebidos pequenos pormenores, gomas, por vezes, de beleza incomparável, em
que se não repara, perdidas, digamos assim, no conjunto de cintilante pedraria.
Uma dessas jóias
encontramos na alocução com que Sua Santidade quis encerrar o jubileu das
aparições de Fátima. É toda ela, para nós, documento de altíssima valia; o
paternal acento e expressão paterna não podem ouvir-se, nem podem ler-se a olhos
enxutos. Ora de uma dessas minúcias delicadíssimas queremos fazer especial
menção.
No mesmo dia em
que Mons. Eugénio Pacelli recebia das mãos do seu antecessor Bento XV a sagração
episcopal, a 13 de Maio de 1917, começava em Fátima a epopeia das misericórdias
de Maria. E na revelação fatimense, cujos mistérios, pouco a pouco, se têm
tornado conhecidos do povo cristão, quando a Virgem Nossa Senhora pediu às
crianças privilegiadas do céu orações, sacrifícios, santidade, manifestou o
desejo de que fosse intensificada a devoção ao Seu Coração Imaculado, e a Ela se
consagrasse todo o mundo.
São passados
vinte e cinco anos depois que a Virgem Santíssima formulou, em português, este
desejo. Vinte e cinco anos depois ergue-se a voz do Papa, todo o mundo pôde
ouvi-la, porque as ondas hertzianas a transportaram por sobre a face da t erra.
E o mundo inteiro ouviu, em português, estas palavras memoráveis:
«A Vós, ao vosso
Coração Imaculado, Nós, como Pai comum da grande família cristã, como Vigário
daquele a quem foi dado todo o poder no Céu e na Terra e de quem recebemos a
solicitude de quantas almas remidas com o Seu sangue povoam o universo, a Vós,
ao Vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, confiamos,
entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico do Vosso Jesus, que
pena e sangre em tantas partes, por tantos modos atribulada, mas também todo o
mundo dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio, vítima
de suas próprias iniquidades.»
Assim falou, ou,
mais propriamente, assim rezou connosco, diante de nós, portugueses, e em nossa
língua portuguesa, o Santo Padre Pio XII, o Chefe da Igreja, o doce Cristo na
terra. Foi em nossa língua portuguesa, e não na pátria italiana, nem na
universal latina, que Ele dirigiu ao universo esta mensagem de paz, fervente
súplica que Ele dirigiu à Mediadora de todas as graças, para despertar a
magnanimidade do Seu Coração, e que Maria, decerto, ouviu benigna e compassiva.
Nesta
consagração pedida pela Virgem, cumprida pelo Papa, foi Portugal o veículo
providencial, nela andou de perto a alma portuguesa, o génio imortal da sua
língua. Tal circunstância, porém, traz-nos maiores responsabilidades na obra
superabundante da reconstrução do orbe civilizado, momento que se avizinha,
embora ainda não se descortine na bruma imprecisa o seu dealbar. Há desígnios
providenciais sobre Portugal, e é de recordar o pensamento de Pio XI, de feliz
memória: - «ninguém tem hoje o direito de ser medíocre – nem Portugal também.
Constantino Coelho.
Esta nota de
Constantino Coelho, bem escrita, certeira, salva a honra do convento.
Quem virá a ser
também bem explícito sobre a consagração há-de ser o Mensageiro de Maria,
que em Dezembro publica a mensagem sob o título de «O Santo Padre Pio XII
consagra o género humano ao Imaculado Coração de Maria»; isto, embora o Pe.
Pinho tivesse sido recentemente afastado da direcção da revista, que dirigira
largos anos.
Se ele, a esse
tempo, não estivesse silenciado em Vale de Cambra, as coisas correriam de outro
modo. Bastariam poucas palavras suas. Não tinha ele obtido dos Bispos
portugueses que dirigissem o pedido da Consagração ao Papa? Todos eles
conheciam, ao menos no essencial, a intervenção da Beata Alexandrina…
Embora arredado em
Vale de Cambra, nesse dia teve o consolo de ir a Fátima com o seu confrade amigo
Pe. Abel Guerra. De lá enviaram um telegrama à Beata Alexandrina a felicitá-la
pelo jubiloso acontecimento.
No dia da
Imaculada Conceição
Que se passou no
dia da Imaculada Conceição quando Pio XII renovou na Basílica de S. Pedro a
Consagração do mundo?
Para os jornais que
vêm a ser referenciados, nada. O próprio Diário do Minho ignora o que lá
se passou.
Mas isso não
significa que na Arquidiocese o tema da Consagração não fosse actual, porque o
era. Basta olhar para primara a página daquele diário. À direita, com o título
de «Consagração ao Imaculado Coração de Maria. Oração de Sua Santidade Pio XII»,
transcreve-se a oração da consagração, com um pormenor a não esquecer. No seu
final, vem esta informação entre parêntesis: «INDULGÊNCIAS: de 3 anos aos
fiéis que recitarem devotamente esta oração; plenária, uma vez por mês;
nas condições costumadas, recitando-se todos os dias – Pio XII, 17 Nov. 1942».
À esquerda, o
director do jornal escreve sobre a Consagração:
«A Consagração
do Mundo ao Sagrado Coração de Maria»
Quando Leão XIII
consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus, bem aquele necessitava de refúgio
num Porto Divino de abrigo onde as almas que desejassem salvar-se da tormenta
revolucionária, das más doutrinas e das erróneas filosofias pudessem escapar,
certas da protecção do Céu.
E as promessas
de Jesus Cristo à vidente e confidente de Paray-le-Monial tornaram-se completa
realidade.
Não necessita
menos o Mundo, neste momento trágico, de outro refúgio de Omnipotência
Suplicante: - o Sagrado Coração de Maria.
Aquele foi um
brado de Misericórdia de Jesus – reservado para os
últimos tempos, que o mundo não quis escutar.
As más doutrinas
continuaram, a despeito de todas as Encíclicas e dos ensinamentos pontifícios e,
uma vez sazonadas na desvairada mente humana, produziram os seus naturais
frutos. Agora aí estão patentes os resultados de todo o mal que se espalhou
entre as nações.
Para voltar ao
Céu, à paz, à justiça e amor entre os homens, já não serão estas que terão de
estabelecer um mundo novo, ou renovado, mas unicamente nas mãos de Deus está
directamente o seu destino.
Os homens
empurraram o mundo para o caos, como crianças ignorantes que lançassem pela
encosta pedregosa a mó do moinho e quisessem depois detê-la… Impossível!
Tenham o s
homens a certeza de que isto irá de mal a pior se mãos inocentes e corações
simples, sacrificados e inflamados no amor de Deus, não se levantarem para o
Céu.
Digitus Dei est hic,
terão os humanos de dizer na sequência dos últimos acontecimentos.
E assim como
Leão XII mandou que os povos se voltassem para o Rosário de Maria, assim Pio XII
Lhe entrega o mundo ensanguentado.
Irão os homens
por Maria até Deus, como caminho que Ele é, para
as maiores graças divinas descerem sobre o mundo.
Este é quase
morto, de tão maus-tratos que os homens lhe estão dando.
O Coração de
Maria é a árvore da vida no paraíso, para
comunicar vida ao mundo semi-morto.
Está eminente,
se não já efectuada a ruínas de muitas nações, afundadas em dor, miséria e
pranto.
O Coração de
Maria é como a Arca de Noé, no meio deste dilúvio
de fogo, para salvar ainda o género humano.
O mundo perdeu
as doçuras e o encanto da paz e da harmonia social; as almas andam tristes,
inquietas, famintas e quase morrem carcomidas pelo ódio e pelos vícios.
O Coração de
Maria é como a Arca da Aliança, que continha o
maná, alimento leve e sadio, para todos e por todos saboreado, como o que mais
lhes apetecia.
O Coração de
Maria é com outrora o Templo de Jerusalém, de
alvura deslumbrante no exterior e brilhante de ouro por dentro. É que dela as
orações vão direitas ao Coração de Jesus, como as setas despedidas por mãos
certeiras dos anjos de amor.
Se o Coração de
Maria tomar posse do mundo, ele será como Judite a
degolar a cabeça de todos os inimigos de Cristo e dos homens.
Será como
Ester salvando o seu povo, o povo deste mundo, da ruína
temporal e eterna.
O mundo
consagrado ao coração Imaculado de Maria encontrará nele a mais poderosa
protecção junto de Deus, como outra não pode existir.
Se um pagão,
Coriolano, resistindo a todo o Senado Romano e ao Pontífice para atacar Roma, se
deixou vencer por sua mãe, Vetúria, ainda que esta condescendência tivesse de
custar-lhe a vida, como não aceitará Jesus Cristo, o Senhor dos Exércitos, o
pedido do Coração inigualável e Sua Mãe?
Escreveu S.
Bernardo, o grande intérprete da Mãe de Deus, que a oração dirigida à Virgem N.ª
Senhora é sempre atendida, sempre que isso é
possível junto de Deus.
E acrescentou
ousada e confiadamente: «Se alguém invocar em vão a Maria cesse para sempre de
celebrar a sua clemência».
A mais pequena
oração da Mãe de Deus não fica sem recompensa.
Basta uma
simples observação do seu amor – lá o mostram as Bodas de Canã, na Galileia.
Virgem
Clementíssima, é tão delicada que não volta a face a quem a saúda, não enjeita
quem a Ela recorre, não despreza quem confia nela, nem deixa que periguem os que
se acolhem à sua protecção e ao seu poder e amor maternal e divino.
Como poderia Ela
esquecer o mundo, oferecido pela mão do Pontífice, sangrando em dor?
Condição
bastante e suficiente é que os homens levantem os olhos para Ela e com o
Pontífice se ofereçam e consagrem ao seu Coração amantíssimo e imaculado. Ela
que é a Rainha do Céu e da Terra, terá cuidado do seu povo e levá-lo.
Á, depois da
expiação, a receber a graça e o perdão do Senhor.
Bem-haja esta
hora bendita!
Magalhães Costa
À data da
Consagração, as forças do Eixo estavam no máximo da sua expansão. Curiosamente,
a sorte começa na altura a ser-lhes claramente desfavorável. Lembrem-se a
campanha do Norte de África, o desastre alemão em S. Petersburgo, mais adiante o
Desembarque da Normandia ou o começo do fim do expansionismo japonês.
«Só ela (a sua
Mãe) lhe (ao mundo) poderá valer»: afirmara Jesus à Beata
Alexandrina. O terrível castigo infligido ao mundo chegaria ao fim apenas três
anos depois, deixando atrás de si um rasto de violência e morte como não havia
memória.
José Ferreira
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