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A PRIMEIRA CONSAGRAÇÃO DO MUNDO
AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, NA IMPRENSA

No ano de 1936, (a Beata Alexandrina) pediu ao Sumo Pontífice a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, o que Pio XII fez no dia 31 de Outubro de 1942.

Decreto das Virtudes Heróicas

A primeira Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria foi feita em português, aos microfones da Emissora Pontifícia, pelo Papa Pio XII, em 31 de Outubro de 1942, na conclusão do Jubileu das Aparições de Fátima, e repetida no dia da Imaculada Conceição, a 8 de Dezembro, do mesmo ano, na Basílica de S. Pedro. A Emissora Nacional retransmitiu para Portugal a alocução de 31 de Outubro.

Os pedidos de Jesus à Beata Alexandrina para que se efectuasse a consagração foram determinantes na decisão do Papa, mesmo que tal passasse quase inteiramente despercebido na altura. Aliás, já havia partido de Portugal o pedido para a primeira Consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus.

Esta consagração não terá tido significativo impacto imediato nas comunidades católicas portuguesas (que não viviam os horrores da guerra), como se deduz do que sobre ela noticiaram o Diário do Minho, da Arquidiocese de Braga, e dois jornais portuenses de circulação nacional, O Comércio do Porto e o Jornal de Notícias.

Antes de 31 de Outubro

No dia 18 de Outubro, o Diário do Minho publicava esta comunicação do Paço Arquiepiscopal sobre «Como se há-de celebrar o Ano Jubilar das Aparições de Fátima»:

«O Ano Jubilar que Sua Santidade se dignou conceder a Portugal, em comemoração do 25.º aniversário das Aparições de Fátima, termina em 31 do corrente mês de Outubro.

O Venerando Episcopado resolveu que as cerimónias do encerramento constassem do seguinte:

Em Lisboa, com a assistência do Episcopado, soleníssimas funções na Sé Catedral, cujo programa se publicará oportunamente.

Em todas as paróquias e Igrejas do País: de manhã, Missa e Comunhão Geral; de tarde, exposição solene do SSmo., recitação do Terço e Consagração ao Imaculado Coração de Maria, cantando-se em acção de graças o Te Deum onde seja possível.

Quando, por falta de sacerdotes, se não possam realizar as duas cerimónias da manhã e da tarde, realizar-se-á ao menos uma delas, havendo sempre a Consagração; e quando nem isso seja possível, procure-se que o povo se reúna na Igreja, e um leigo piedoso recite o Terço e a Consagração.

Estes actos poderão transferir-se para o Domingos imediato, 1 de Novembro, onde as circunstâncias, a juízo do Revs. Párocos, o tornem necessário.

Nas paróquias e Igrejas onde haja sacerdotes, o dia do Enceramento deve ser preparado com um tríduo de pregação, recitação do Terço e Bênção do Santíssimo. O objecto da pregação versará de preferência sobre a mensagem de Fátima: mudança cristã de vida, penitência pelos pecados, reparação das ofensas feitas a Deus, oração pala conversão dos pecadores, prática diária da recitação do Terço.

Espera-se que Sua Santidade o Papa fale aos portugueses, e certamente na nossa língua, que Ele tão bem conhece.

Devem, por consequência, instalar-se postos públicos de radiodifusão e convidar o povo a reunir-se junto deles a fim de ouvir a Mensagem Pontifícia e a saudá-la com aclamações ao Vigário de Cristo».

No dia 28, o mesmo jornal confirmava que Sua Santidade se dirigiria aos católicos de Portugal e dava conta de preparativos que se estavam a organizar para o Encerramento do Ano Jubilar.

A mensagem do Cardeal Cerejeira

No dia 30 Sua Eminência o Cardeal Cerejeira falou ao País. O Diário do Minho intitulou assim no dia seguinte a sua notícia: «A Igreja não impôs Fátima; foi Fátima que se impôs à Igreja, disse Sua Eminência». Depois resumiu a alocução nestes termos:

«O ilustre Purpurado, depois de se referir ao Ano Jubilar, que está prestes a encerrar-se, ano de oração e penitência segundo o espírito social, a que o Santo Padre se quis associar oficialmente, declarou que não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja.

Fátima porém, não se compreende sem a Igreja.

Sua Eminência dissertou largamente e fê-lo com aquele brilho e eloquência que todos os portugueses lhe reconhecem.

E no final da sua belíssima alocução, disse.

“Fátima ilustra a Igreja com o novo esplendor da fé e da graça.

Está predito pelo Senhor, ao despedir-Se dos Apóstolos, que a epifania do milagre há-de acompanhar a sua pregação.

Seria a credencial divina com que Se apresentaria aos que falassem em seu nome.

Esta Igreja Católica que se apresenta como a mensageira de Cristo traz sempre consigo, através do caminho da sua existência história, as atitudes que a acreditam.

Pensou Renan que o progresso da ciência removeria o campo do milagre como a luz dissipa a noite. O milagre, porém – seja o milagre físico, seja o milagre moral –, impõe-se cada vez mais (hoje mais que nunca, salvo o período apostólico), mostrando a mão toda-poderosa de Deus a sustentar a Igreja.

Não ensina o Concílio do Vaticano que a Igreja traz em si mesma a garantia da sua Divindade através do invólucro humano de que serve, a virtude divina de Cristo reside e actua sempre nela.

Sacrário de Cristo no mundo, Cristo aqui não Se esconde como nos Sacrários das nossas Igrejas, mas manifesta-se na própria vida dela.

Sucede, porém, com a Igreja como sucedeu com Cristo, e Ele era a Luz.

Muitos dos que O viram enganaram-se.

No Sermão da Montanha explica o Senhor que para o povo ver a Deus era preciso ter o coração limpo.

Fátima é mais um exemplo dessa divina assistência.

Renova-se a História nunca acabada da legenda áurea.

Julgam-na alguns apenas da época virginal das límpidas iluminuras – e ela é dos nossos dias”».

 

Nesta alocução anunciava-se a posição definitiva da Igreja sobre as revelações da Cova de Iria, posição que a alocução do Papa iria confirmar no dia seguinte. O Comércio do Porto transcreveu-a na íntegra.

Nesse mesmo dia o Diário do Minho, lembrava:

«Sua Santidade fala, hoje, às 5 horas da tarde, na nossa língua, a Portugal católico». O jornalista, que não tinha ideia do que a mensagem conteria, pergunta-se:

«Que nos dirá o Chefe da Igreja, que quererá Ele do velho Portugal, do filho fidelíssimo à sua doutrina e obediente aos Seus conselhos?

Que oremos cada vez mais ao Senhor e Rei do Mundo para que ilumine os homens e os conduza ao caminho do bem e da felicidade?

Que peçamos com fé à Virgem de Fátima, Mãe Misericordiosa e consolo dos aflitos, que seja a Mensageira da Paz junto de seu amado Filho?»

Nada portanto que pudesse sugerir a Consagração do Mundo e chamar para ela atenção dos leitores.

As cerimónias na Se Patriarcal

Convém saber que em Fátima ainda não havia basílica – que estava em construção, mas que só viria a ser sagrada uma dúzia de anos mais tarde. Por isso, um pouco estranhamente, as cerimónias mais solenes do encerramento do ano jubilar das Aparições de Fátima, como já foi dito, decorreram, em Lisboa, na Sé Patriarcal e contaram com a presença de todos os bispos do país.

No dia 1 de Novembro, o Diário do Minho, anunciava, em toda a largura da primeira página: «Encerramento do Ano Jubilar das Aparições de Fátima: ao soleníssimo Te Deum celebrado por Sua Eminência Cardeal Patriarca de Lisboa, assistiram todos os Bispos de Portugal. Alocução do Santo Padre, dirigida aos portugueses, foi ouvida com emoção em todo o país».

À esquerda, figura o retrato de Pio XII.

Depois de uma breve notícia sobre o «soleníssimo Pontifical» celebrado de manhã e duma alusão à breve homilia então proferida, o repórter conta o que se passou de tarde, desde o momento em que o Sr. Cardeal Patriarca chegou à Sé até às 5 horas em ponto, quando se começou a ouvir a o locutor da Emissora Pontifícia. O povo ouviu a alocução de Sua Santidade prostrado junto dos altifalantes.

A mensagem de Pio XII

A seguir, o jornal transcreve na íntegra a mensagem papal, sem que qualquer subtítulo chame a atenção para a consagração do mundo. Era tanta a atenção dada ao Jubileu das Aparições que, aparentemente, escapou às pessoas aquela que era a grande novidade.

O Comércio do Porto noticiou a meio do lado esquerdo da primeira página que «Encerrando o Ano Jubilar das Aparições de Fátima, Sua Santidade o Papa falou, em português, para os portugueses»; o trabalho vem ilustrado com uma fotografia das cerimónias na Sé Patriarcal, seguida do «discurso» do Papa.

O Jornal de Notícias remeteu o seu título para o fundo direito, anunciando: «Encerrou-se com toda a solenidade o Ano Jubilar das Aparições de Fátima. Sua Santidade proferiu uma expressiva e comovedora alocução dedicada à Nação Portuguesa». Uma pequena fotografia do Papa ilustra o começo da notícia, que inclui a alocução, seguida das informações mais detalhadas da cerimónia em Lisboa.

Nenhum destes jornais traz uma palavra sobre o que se passou em Fátima; muito menos uma palavra sobre a Beata Alexandrina. E dois deles, posteriormente, ainda tiveram o cuidado de noticiar a recepção que Sua Santidade concedeu ao embaixador português acreditado junto da Santa Sé.

Veja-se a oração com que concretizou a Consagração:

 

Rainha do Santíssimo Rosário, auxilio dos cristãos, refúgio do género humano, vencedora de todas as grandes batalhas de Deus! ao vosso trono, súplices, nos prostramos, seguros de conseguir misericórdia e de encontrar graça e auxilio oportuno nas presentes calamidades, não pelos nossos méritos, de que não presumimos, mas unicamente pela imensa bondade do vosso Coração “materno”.

A Vós, ao vosso Coração Imaculado, Nós, como Pai comum da grande família cristã, como Vigário d’Aquele a quem foi dado todo o poder no Céu e na terra, e de Quem recebemos a solicitude de quantas almas remidas com o seu sangue povoam o mundo universo, — a Vós, ao vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, confiamos, entregamos, consagra­mos não só a Santa Igreja, corpo místico de vosso Jesus, que pena e sangra em tantas partes e por tantos modos atribulada, mas também todo o mundo, dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio, vitima de suas próprias iniquidades.

Comovam-Vos tantas ruínas materiais e morais; tantas dores, tantas agonias dos pais, das mães, dos esposos, dos irmãos, das criancinhas inocentes; tantas vidas ceifadas em flor; tantos corpos despedaçados numa horrenda carnificina; tantas almas torturadas e agonizantes; tantas em perigo de se perderem eternamente.

Vós, Mãe de misericórdia, impetrai-nos de Deus a paz! e pri­meiro as graças que podem, num momento, converter os humanos corações: as graças que asseguram a paz! Rainha da paz, rogai por nós e dai ao mundo, em guerra, a paz por que os povos suspiram: a paz na verdade, na justiça, na caridade de Cristo. Dai-lhe a paz das armas e das almas, para que na tranquilidade da ordem se dilate o Reino de Deus.

Estendei a vossa protecção aos infiéis e a quantos jazem ainda nas sombras da morte; dai-lhes a paz e fazei que lhes rale o Sol da verdade, e possam connosco, diante do único Salvador do mundo, repetir: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!

Aos povos pelo erro ou pela discórdia separados, nomeadamen­te àqueles que Vos professam singular devoção, onde não havia casa que não ostentasse a vossa veneranda cone, (hoje talvez escondida e reservada para melhores dias), dai-lhes a paz e reconduzi-os ao único redil de Cristo, sob o único e verdadeiro Pastor.

Obtende paz e liberdade com­pleta à Igreja Santa de Deus; sustai o dilúvio inundante de neo-paganismo, todo matéria; e fomen­tai, nos fiéis, o amor da pureza, a prática da vida cristã e o zelo apostólico, para que o povo dos que servem a Deus, aumente em mérito e em número.

Enfim, como ao Coração do vosso Jesus foram consagrados a Igreja e todo o género humano, para que, colocando n’Ele todas as suas esperanças, lhes fosse sinal e penhor de vitória, assim desde hoje vos sejam perpetuamente consagrados também a Vós e ao vosso Coração Imaculado, ó Mãe nossa e Rainha do Mundo: para que o vosso amor e patrocí­nio apresse o triunfo do Reino de Deus, e todas as gerações huma­nas, pacificadas entre si e com Deus, a Vós proclamem bem-aven­turada, e convosco entoem, de um pólo ao outro da terra, o eterno “Magnificat” de glória, amor, reconhecimento ao Coração de Jesus, onde só podem encontrar a Verdade, a Vida e a Paz.

Nos dias seguintes

Depois de no dia 3, terça-feira, ter sido publicada uma brevíssima notícia vinda de Roma que afirmava que na segunda-feira, o «Osservatore Romano» publicara em letras enormes, que ocupavam dois terços da página a mensagem dirigida aos portugueses, sob o título de «Nesta hora grave o Pastor Supremo consagra o género humano ao Imaculado Coração de Maria», e de, na quarta-feira, um telegrama vindo também de Roma noticiar que ia «ser dada grande publicidade entre os fiéis à Consagração da humanidade ao Imaculado Coração de Maria que o Santo Padre fez na sua mensagem de sábado passado», um tal Constantino Coelho escreve uma desenvolvida nota, saída na primeira página, sob o título de «Desígnios da Providência» e com o subtítulo: «Foi em português que Sua Santidade consagrou o mundo ao Coração de Maria ao findar o Jubileu de Fátima». Veja-se o que disse este autor:

 

Quão memoráveis acontecimentos sucedem na terra lusitana, não o desconhecem nossos leitores. Alguma coisa nova perpassa rejuvenescendo na família portuguesa as virtudes e esplendor da sua história.

Mas na grandeza que se desenrola a nossos olhos, na majestade inconfundível dos nossos dias – e foi o papa quem disse ninguém ter direito hoje de ser medíocre – podem passar despercebidos pequenos pormenores, gomas, por vezes, de beleza incomparável, em que se não repara, perdidas, digamos assim, no conjunto de cintilante pedraria.

Uma dessas jóias encontramos na alocução com que Sua Santidade quis encerrar o jubileu das aparições de Fátima. É toda ela, para nós, documento de altíssima valia; o paternal acento e expressão paterna não podem ouvir-se, nem podem ler-se a olhos enxutos. Ora de uma dessas minúcias delicadíssimas queremos fazer especial menção.

No mesmo dia em que Mons. Eugénio Pacelli recebia das mãos do seu antecessor Bento XV a sagração episcopal, a 13 de Maio de 1917, começava em Fátima a epopeia das misericórdias de Maria. E na revelação fatimense, cujos mistérios, pouco a pouco, se têm tornado conhecidos do povo cristão, quando a Virgem Nossa Senhora pediu às crianças privilegiadas do céu orações, sacrifícios, santidade, manifestou o desejo de que fosse intensificada a devoção ao Seu Coração Imaculado, e a Ela se consagrasse todo o mundo.

São passados vinte e cinco anos depois que a Virgem Santíssima formulou, em português, este desejo. Vinte e cinco anos depois ergue-se a voz do Papa, todo o mundo pôde ouvi-la, porque as ondas hertzianas a transportaram por sobre a face da t erra. E o mundo inteiro ouviu, em português, estas palavras memoráveis:

 

«A Vós, ao vosso Coração Imaculado, Nós, como Pai comum da grande família cristã, como Vigário daquele a quem foi dado todo o poder no Céu e na Terra e de quem recebemos a solicitude de quantas almas remidas com o Seu sangue povoam o universo, a Vós, ao Vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, confiamos, entregamos, consagramos não só a Santa Igreja, corpo místico do Vosso Jesus, que pena e sangre em tantas partes, por tantos modos atribulada, mas também todo o mundo dilacerado por exiciais discórdias, abrasado em incêndios de ódio, vítima de suas próprias iniquidades.»

 

Assim falou, ou, mais propriamente, assim rezou connosco, diante de nós, portugueses, e em nossa língua portuguesa, o Santo Padre Pio XII, o Chefe da Igreja, o doce Cristo na terra. Foi em nossa língua portuguesa, e não na pátria italiana, nem na universal latina, que Ele dirigiu ao universo esta mensagem de paz, fervente súplica que Ele dirigiu à Mediadora de todas as graças, para despertar a magnanimidade do Seu Coração, e que Maria, decerto, ouviu benigna e compassiva.

Nesta consagração pedida pela Virgem, cumprida pelo Papa, foi Portugal o veículo providencial, nela andou de perto a alma portuguesa, o génio imortal da sua língua. Tal circunstância, porém, traz-nos maiores responsabilidades na obra superabundante da reconstrução do orbe civilizado, momento que se avizinha, embora ainda não se descortine na bruma imprecisa o seu dealbar. Há desígnios providenciais sobre Portugal, e é de recordar o pensamento de Pio XI, de feliz memória: - «ninguém tem hoje o direito de ser medíocre – nem Portugal também. Constantino Coelho.

 

Esta nota de Constantino Coelho, bem escrita, certeira, salva a honra do convento.

Quem virá a ser também bem explícito sobre a consagração há-de ser o Mensageiro de Maria, que em Dezembro publica a mensagem sob o título de «O Santo Padre Pio XII consagra o género humano ao Imaculado Coração de Maria»; isto, embora o Pe. Pinho tivesse sido recentemente afastado da direcção da revista, que dirigira largos anos.

Se ele, a esse tempo, não estivesse silenciado em Vale de Cambra, as coisas correriam de outro modo. Bastariam poucas palavras suas. Não tinha ele obtido dos Bispos portugueses que dirigissem o pedido da Consagração ao Papa? Todos eles conheciam, ao menos no essencial, a intervenção da Beata Alexandrina…

Embora arredado em Vale de Cambra, nesse dia teve o consolo de ir a Fátima com o seu confrade amigo Pe. Abel Guerra. De lá enviaram um telegrama à Beata Alexandrina a felicitá-la pelo jubiloso acontecimento.

No dia da Imaculada Conceição

Que se passou no dia da Imaculada Conceição quando Pio XII renovou na Basílica de S. Pedro a Consagração do mundo?

Para os jornais que vêm a ser referenciados, nada. O próprio Diário do Minho ignora o que lá se passou.

Mas isso não significa que na Arquidiocese o tema da Consagração não fosse actual, porque o era. Basta olhar para primara a página daquele diário. À direita, com o título de «Consagração ao Imaculado Coração de Maria. Oração de Sua Santidade Pio XII», transcreve-se a oração da consagração, com um pormenor a não esquecer. No seu final, vem esta informação entre parêntesis: «INDULGÊNCIAS: de 3 anos aos fiéis que recitarem devotamente esta oração; plenária, uma vez por mês; nas condições costumadas, recitando-se todos os dias – Pio XII, 17 Nov. 1942».

À esquerda, o director do jornal escreve sobre a Consagração:

«A Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Maria»

Quando Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus, bem aquele necessitava de refúgio num Porto Divino de abrigo onde as almas que desejassem salvar-se da tormenta revolucionária, das más doutrinas e das erróneas filosofias pudessem escapar, certas da protecção do Céu.

E as promessas de Jesus Cristo à vidente e confidente de Paray-le-Monial tornaram-se completa realidade.

Não necessita menos o Mundo, neste momento trágico, de outro refúgio de Omnipotência Suplicante: - o Sagrado Coração de Maria.

Aquele foi um brado de Misericórdia de Jesus – reservado para os últimos tempos, que o mundo não quis escutar.

As más doutrinas continuaram, a despeito de todas as Encíclicas e dos ensinamentos pontifícios e, uma vez sazonadas na desvairada mente humana, produziram os seus naturais frutos. Agora aí estão patentes os resultados de todo o mal que se espalhou entre as nações.

Para voltar ao Céu, à paz, à justiça e amor entre os homens, já não serão estas que terão de estabelecer um mundo novo, ou renovado, mas unicamente nas mãos de Deus está directamente o seu destino.

Os homens empurraram o mundo para o caos, como crianças ignorantes que lançassem pela encosta pedregosa a mó do moinho e quisessem depois detê-la… Impossível!

Tenham o s homens a certeza de que isto irá de mal a pior se mãos inocentes e corações simples, sacrificados e inflamados no amor de Deus, não se levantarem para o Céu.

Digitus Dei est hic, terão os humanos de dizer na sequência dos últimos acontecimentos.

E assim como Leão XII mandou que os povos se voltassem para o Rosário de Maria, assim Pio XII Lhe entrega o mundo ensanguentado.

Irão os homens por Maria até Deus, como caminho que Ele é, para as maiores graças divinas descerem sobre o mundo.

Este é quase morto, de tão maus-tratos que os homens lhe estão dando.

O Coração de Maria é a árvore da vida no paraíso, para comunicar vida ao mundo semi-morto.

Está eminente, se não já efectuada a ruínas de muitas nações, afundadas em dor, miséria e pranto.

O Coração de Maria é como a Arca de Noé, no meio deste dilúvio de fogo, para salvar ainda o género humano.

O mundo perdeu as doçuras e o encanto da paz e da harmonia social; as almas andam tristes, inquietas, famintas e quase morrem carcomidas pelo ódio e pelos vícios.

O Coração de Maria é como a Arca da Aliança, que continha o maná, alimento leve e sadio, para todos e por todos saboreado, como o que mais lhes apetecia.

O Coração de Maria é com outrora o Templo de Jerusalém, de alvura deslumbrante no exterior e brilhante de ouro por dentro. É que dela as orações vão direitas ao Coração de Jesus, como as setas despedidas por mãos certeiras dos anjos de amor.

Se o Coração de Maria tomar posse do mundo, ele será como Judite a degolar a cabeça de todos os inimigos de Cristo e dos homens.

Será como Ester salvando o seu povo, o povo deste mundo, da ruína temporal e eterna.

O mundo consagrado ao coração Imaculado de Maria encontrará nele a mais poderosa protecção junto de Deus, como outra não pode existir.

Se um pagão, Coriolano, resistindo a todo o Senado Romano e ao Pontífice para atacar Roma, se deixou vencer por sua mãe, Vetúria, ainda que esta condescendência tivesse de custar-lhe a vida, como não aceitará Jesus Cristo, o Senhor dos Exércitos, o pedido do Coração inigualável e Sua Mãe?

Escreveu S. Bernardo, o grande intérprete da Mãe de Deus, que a oração dirigida à Virgem N.ª Senhora é sempre atendida, sempre que isso é possível junto de Deus.

E acrescentou ousada e confiadamente: «Se alguém invocar em vão a Maria cesse para sempre de celebrar a sua clemência».

A mais pequena oração da Mãe de Deus não fica sem recompensa.

Basta uma simples observação do seu amor – lá o mostram as Bodas de Canã, na Galileia.

Virgem Clementíssima, é tão delicada que não volta a face a quem a saúda, não enjeita quem a Ela recorre, não despreza quem confia nela, nem deixa que periguem os que se acolhem à sua protecção e ao seu poder e amor maternal e divino.

Como poderia Ela esquecer o mundo, oferecido pela mão do Pontífice, sangrando em dor?

Condição bastante e suficiente é que os homens levantem os olhos para Ela e com o Pontífice se ofereçam e consagrem ao seu Coração amantíssimo e imaculado. Ela que é a Rainha do Céu e da Terra, terá cuidado do seu povo e levá-lo.

Á, depois da expiação, a receber a graça e o perdão do Senhor.

Bem-haja esta hora bendita!

Magalhães Costa

 

À data da Consagração, as forças do Eixo estavam no máximo da sua expansão. Curiosamente, a sorte começa na altura a ser-lhes claramente desfavorável. Lembrem-se a campanha do Norte de África, o desastre alemão em S. Petersburgo, mais adiante o Desembarque da Normandia ou o começo do fim do expansionismo japonês.

«Só ela (a sua Mãe) lhe (ao mundo) poderá valer»: afirmara Jesus à Beata Alexandrina. O terrível castigo infligido ao mundo chegaria ao fim apenas três anos depois, deixando atrás de si um rasto de violência e morte como não havia memória.

José Ferreira

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