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Bruno de Colónia
Fundador dos Cartuxos, Santo
c. 1030-1101

Dotado de uma das mais belas inteligências de seu século, aplaudido em toda a Europa como Mestre, São Bruno deixou todas as glórias humanas e encerrou-se no deserto da Cartuxa, a fim de viver somente para Deus

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“Grandeza de nascença, grandeza de espírito, grandeza de fortuna, graças exteriores, inteligência clara e vigorosa, incomparáveis aptidões para as ciências, presentes já magníficos que faziam brilhar o mais belo deles, a virtude: eis em que meio de esplendor se desenvolvia essa jovem alma”[1]. É assim que um hagiógrafo descreve a infância e adolescência de São Bruno de Hartenfaust, nascido em Colônia por volta do ano 1030, cuja festa comemoramos no dia 6.

Ainda muito jovem foi completar sua educação em Reims, atraído pela reputação de sua escola episcopal e de seu diretor, Heriman[2]. Brilha ali, obtendo sempre os primeiros lugares em todas as matérias. Colando grau, é nomeado professor, adquirindo fama, sobretudo pela segurança e profundidade de sua doutrina. Mas o jovem mestre Bruno Gallicus — como passou a ser conhecido nos meios universitários da Europa de então — ou simplesmente Mestre Bruno não se deixa embair pelo sucesso. Desde há muito sua nobre alma aspirava a uma glória imorredoura e a servir a outro Senhor que não o mundo. A corrupção de sua época o entristecia; a simonia (venda dos bens eclesiásticos), que então grassava nos ambientes do clero, lhe causava indignação; a heresia o horrorizava. Queria ele reformar o mundo, e não ser por ele seduzido.

Por isso voltou para sua Colónia natal e ali ordenou-se sacerdote, entregando-se depois à evangelização do povo pobre e ignorante dos lugares mais afastados.

Formador de futuros santos

Mas, se ele foge da glória, esta o persegue. O Arcebispo de Reims, Gervásio, também quer reformar sua diocese e pensa no jovem levita. E Bruno retoma sua cátedra, torna-se chanceler da cúria, diretor dos estudos ou inspetor de todas as escolas da diocese.

Entre seus alunos de Teologia, ressaltam dois que teriam grande papel no futuro: São Hugo, futuro Bispo de Grenoble, e o Bem-aventurado Urbano II, o Papa das Cruzadas.

Porém, “Mestre Hugo é um homem austero e grave. Não sorri diante dos aplausos nem parece ter em grande estima seu renome de sábio. Em seu comportamento e em sua palavra há um quê de desengano, que não pode encobrir o brilho de todos seus êxitos. [...] Entre outras coisas, dizia: ‘Feliz o homem que tem sua mente fixa no Céu e evita o mal com vigilância contínua; feliz também aquele que, tendo pecado, chora seu crime com arrependimento. Mas, ai, os homens vivem como se a morte não existisse e como se o inferno fosse uma pura fábula’”[3].

E o mal aproxima-se dele na pessoa do novo Arcebispo, Manassés, que à força de intrigas tinha conseguido apossar-se da Sé de Reims. Bruno se levanta contra os escândalos do novo Arcebispo e apela para o legado do Papa. Um Concílio em Autun, do qual foi a alma, condena Manassés, que é obrigado a deixar o cargo e morre na obscuridade, depois de todo o mal que fizera.

Fundação da Cartuxa: vocação realizada

Entretanto, Bruno atinge os 40 anos e resolve de vez abandonar o mundo. Com alguns discípulos, vai para Molesmes pôr-se sob a direção de São Roberto. Mas, apesar do rigor desse mosteiro, ele sente que ainda não é a solidão absoluta que almeja. Com seus discípulos, despede-se de São Roberto — os santos se entendem — e parte em direção a Grenoble, onde seu amigo São Hugo era bispo.

Narra-se que, durante a viagem, Bruno sentiu-se fatigado e recostou-se com a cabeça apoiada num pilar. Três anjos lhe apareceram em sonho e anunciaram que Deus marcharia a seu lado e bendiria sua obra.

Nessa mesma noite, durante o sono, esses três anjos apareceram a São Hugo, em Grenoble, anunciando-lhe a próxima vinda de seu amigo e companheiros. O prelado foi transportado ainda em sonhos até um lugar ermo e agreste de sua diocese, onde viu erguer-se um templo e descerem do céu sobre ele sete estrelas. Representavam São Bruno e seus seis companheiros.

São Hugo revestiu os novos solitários com um hábito de lã branca e depois os levou para o lugar visto em sonhos.

Assim, São Bruno tomou posse do deserto da Cartuxa — que depois deveria dar nome à sua Ordem — e começou a viver a vida que imaginara para si e para os seus.

Austeridade de vida toda voltada para Deus

O que o Santo almejava era viver no isolamento, do modo mais semelhante possível ao dos primeiros eremitas do deserto, mas tendo ao mesmo tempo os recursos da vida cenobítica, isto é, em comunidade. E fundou assim uma das Ordens mais austeras da Igreja. Os cartuxos usam “ásperos cilícios, fazem longas vigílias, jejum contínuo, silêncio perpétuo com os homens e conversação incessante com Deus. Nunca comem carne, seu pão é um pão negro de cevada; admitem peixes, se lhos oferecem, mas jamais os compram. Unicamente às quintas e aos domingos chegam à sua mesa queijo e ovos. Nas terças e nos sábados alimentam-se de legumes cozidos. Às segundas e quartas jejuam a pão e água. Não têm mais que uma refeição diária. À porta de suas celas morrem os rumores do mundo externo. Rezam, transcrevem códices ou trabalham no jardinzinho circundante [...]. Só se reúnem na igreja para rezar as Matinas, à meia-noite, e durante o dia para a Missa e Vésperas. Fora disso vivem sós, ‘levantando a Deus suas orações, com os olhos fixos na Terra e os corações elevados ao Céu’”[4].

O Bispo Hugo providenciou a construção de uma igreja e de pequenas celas de madeira para cada um dos monges. De vez em quando, ia passar períodos de recolhimento entre os monges, como um deles.

Contra o cisma reinante, a serviço da Igreja

Os primeiros anos da recém-fundada Cartuxa passaram rapidamente no fervor da contemplação e da oração. Mas a Terra não é o Céu, e a felicidade perfeita tem seu limite. Certo dia, Bruno recebeu um correio urgente de seu ex-discípulo e então Pai da Cristandade, o Papa Urbano II: o Imperador Henrique IV não aprovara sua eleição ao Sólio Pontifício e provocara um cisma na Igreja ao eleger um antipapa, Guiberto. O verdadeiro Papa, necessitando dos conselhos e das luzes de São Bruno, chamava-o a Roma. Este, cheio de tristeza pelo futuro incerto de sua obra, designou Lauduíno como superior em seu lugar e partiu para a Cidade Eterna.

O Papa recebeu-o com todas as honras e a estima com que um discípulo recebe seu mestre. Mas as apreensões do Santo, quando deixara a Cartuxa, realizaram-se: sem o mestre e superior, os outros seis monges não agüentaram, e acabaram seguindo-o a Roma. Urbano II designou um lugar para alojá-los nas Termas de Diocleciano, onde eles procuraram levar a vida contemplativa que seguiam na Cartuxa. Mas não era a mesma coisa. Aos poucos, os fugitivos foram se dando conta de que o lugar deles era lá na Cartuxa, e não em meio a uma cidade cosmopolita como Roma. E, animados por Bruno, refizeram o caminho de volta.

Como um bom pai, ele mantinha constante contato por carta — tanto quanto era possível naqueles tempos — com seus filhos espirituais, estimulando-os, instruindo-os, revigorando-os na vocação, respondendo às suas dúvidas e animando-os a perseverarem.

Conta-se que, certo dia em que eles estavam especialmente provados e a ponto de tudo abandonar, apareceu-lhes um venerando ancião que dissipou-lhes todas as dúvidas, como que afastou com a mão a tentação, assegurando-lhes que a Santíssima Virgem velava por eles e seria sempre sua advogada e protetora. Dito isto, o ancião desapareceu, pelo que os monges supuseram ser ele São Pedro, mandado por Deus para animá-los. Com isso eles perseveraram, e desde então sempre houve monges naquele mosteiro até 1903, quando novas leis persecutórias da Igreja, na França, expulsaram os religiosos do país, e com eles os cartuxos. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial, lá estavam eles de volta, onde até hoje permanecem.

Segunda Cartuxa, na Calábria

E São Bruno? Implorava ele ao Papa, noite e dia, que lhe permitisse voltar para sua querida solidão. O Papa esteve tentado a aceitar o pedido dos habitantes de Reggio Calábria, dando-lhes o Santo por Arcebispo. Mas, ante a insistência de Bruno, julgando que talvez estivesse indo contra a vontade de Deus com a recusa, aquiesceu em parte aos seus justos pedidos. Entretanto, para tê-lo mais à mão para o caso de alguma necessidade, recomendou que ele escolhesse qualquer outro lugar solitário mais perto de Roma. Assim São Bruno, com alguns novos discípulos, encontrou um vale na Calábria, que foi o berço da segunda Cartuxa.

Ali ele passou os últimos dias de sua vida em contemplação e escrevendo comentários aos Salmos e às Epístolas de São Paulo. “Seus sentidos não lhe serviam senão para as necessidades indispensáveis do corpo e para os ofícios de piedade. Sua conversação estava continuamente no Céu, e ele gozava uma paz e uma tranquilidade de alma tão perfeita, que já experimentava, adiantado, o repouso e as doçuras da eternidade”[5].

Enfim chegou para ele esse tão esperado tempo. E, rodeado de seus discípulos, entregou sua alma a Deus num domingo, seis de outubro de 1101.

Plínio Maria Solimeo


[1] Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XII, p. 91.
[2] Ambrose Mougel, The Catholic Encyclopedia, 1908, vol. III, online edition.
[3] Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 48.
[4] Id., pp. 50-51.
[5] Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 98.

 



 

 

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