BEATA ALEXANDRINA
“Sofrer, amar, reparar”: lema da Beata Alexandrina
01 – UMA MENINA DE DEUS
A
tua vida, minha filha, é uma escola de amor, é uma escola de dor. Eu
quero, eu quero, grito bem forte que toda a humanidade
aprenda da
tua vida: é uma escola de sabedoria, é uma escola sublime, é uma
escola toda da vida divina. (28/03/1952)
Alexandrina Maria da Costa nasceu em 30 de março de 1904 no pequeno
lugarejo português de Balasar, concelho de Póvoa do Varzim, a 50 Km
do Porto, foi batizada a 02 de Abril, Sábado de Aleluia. Durante
toda a sua infância teve uma vida muito simples ao lado de sua mãe,
D. Ana Costa, e sua irmã Deolinda. De fisionomia robusta,
Alexandrina logo se destacaria nos trabalhos domésticos e agrícolas.
É
perceptível desde a mais tenra infância um amor muito grande a Deus,
à Eucaristia e às obras do Criador, principalmente as flores, que
vão ter uma grande importância na vida da Beata, tanto que o próprio
Jesus a presenteou mais tarde, com um lírio, uma açucena e uma
palma, simbolizando a pureza e o martírio.
Sem
duvidar, o principal acontecimento ocorrido na infância de
Alexandrina foi a sua Primeira Eucaristia:
Foi
na Póvoa de Varzim que fiz a minha Primeira Comunhão, com sete anos
de idade. Foi o Senhor P.e Álvaro Matos quem me perguntou a
doutrina, me confessou e me deu pela vez primeira a Sagrada
Comunhão. Como prémio, recebi um lindo terço e uma estampazinha.
Quando comunguei, estava de joelhos, apesar de pequenina, e fitei a
Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira que me ficou tão
gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus para nunca mais me
separar dele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu
sentia era inexplicável. A todos dava a boa nova. A encarregada da
minha educação levava-me a comungar diariamente.
02 – UM EXEMPLO DE
PUREZA
Um
acontecimento marcante na vida da Beata Alexandrina ocorreu no
Sábado Santo de 1918. Estando em sua casa, juntamente com sua irmã
Deolinda e uma amiga, foram surpreendidas pela presença suspeita de
três homens, um deles antigo patrão de Alexandrina; percebendo a
intenção deles homens e para defender a sua pureza, pulou da janela
a uma altura de mais de três metros. Conseguiu expulsar os homens da
casa, todavia contraiu uma mielite na espinha dorsal, o que lhe
ocasionará uma paralisia progressiva.
Ë
durante este período que Alexandrina tem uma visão, na qual o Senhor
lhe revelaria a sua missão na terra, este episódio lembra o ocorrido
com diversos outros santos, como S. Pio de Pietrelcina.
Subi
ao Paraíso por umas escadinhas tão estreitinhas que mal me cabiam as
pontas dos pés. Foi com muita dificuldade e com muito tempo que lá
cheguei, porque não tinha nada onde me amarrar. Pelo caminho, via
algumas almas que ficavam ao lado das escadas, dando-me conforto sem
me falarem.
Lá
em cima, vi ao centro, num trono, Nosso Senhor e, ao lado d’Ele, a
Mãezinha. Todo o céu estava cheio de bem-aventurados. Depois de
contemplar tudo isto, tive que vir à terra, o que eu não queria.
Desci com muita dificuldade e encontrei-me na terra, e tudo tinha
desaparecido.
03 – VÍTIMA PELOS
PECADORES
A
partir de 1918 passa por momentos de crises e melhoras; em junho de
1924 participa, com muita dificuldade, no Congresso
Eucarístico em
Braga e a partir de 14 de Abril de 1925 fica acamada
definitivamente. Ansiava por ser curada, sonhava em tornar-se
freira. Em 1928, volta a sonhar com a cura, após a peregrinação de
sua paróquia a Fátima. Logo depois afirma:
“Como não consegui nada, morreram os meus desejos de ser curada e
para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento e
de só pensar em Jesus”.
Amando
cada vez mais o sofrimento e o Seu Jesus, Alexandrina passou a ser
uma vítima pelos pecadores, oferecendo os seus sofrimentos também em
reparação pelas blasfêmias com que Jesus era ofendido no Santíssimo
Sacramento.
“Sem
saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima; e vinha, desde há
muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me
tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto
há no mundo”
Jesus
confirmou a cada dia a escolha daquela alma para tornar-se vítima
pela humanidade, como Ele, existindo aí uma união mística entre
Jesus e Alexandrima. A Beata passa a sofrer cada vez mais, pois
agora como vítima ela sofre pelos pecados da humanidade. Diversas
vezes, o Senhor descontava sobre ela o furor da sua ira por causa
dos pecados.
Maldita! Satanás é o teu senhor. Expulsaste-me a Mim, para ele te
possuir. Ele quer instalar-te em corpo e alma no aposento dele que é
o inferno: és digna dele! As tuas paixões desregradas to fizeram
merecer. Converte-te: ouve a voz do teu Deus; deixa-me de novo tomar
posse do teu coração, para poderes ser digna da minha mansão
celeste. Para que Eu te possa instalar lá, arrepia caminho!
Cruel! Insensata! De ti esperava tudo: desprezaste-me, calcaste aos
pés o alimento da tua alma e de todas as almas. Desafias com os
crimes mais horrendos a justiça divina. Criei-te para mim,
desprezaste-me; abandonaste o teu Deus, o teu Criador: és digna de
morte, és digna de inferno!
Essas palavras não eram para Alexandrina, eram para a humanidade que
se desviara do plano de Deus. Mas como Alexandrina sofria!!! Como
era difícil ouvir estas palavras do Senhor, seu Amado, e reparar
pelos pecadores! Alexandrina tornou-se fiel reparadora pelos pecados
da humanidade. E como ela se sentia feliz por esta árdua missão!
Cada vez mais amava a humanidade, mesmo conhecendo e sofrendo pelos
seus pecados. Assim, sentia-se mãe da humanidade, e os pecadores
como sendo seus filhos.
Desde domingo sinto-me mãe da humanidade, mãe terna.
Contra este amor vem ao mesmo tempo a dor: dor causada pelas
desordens destes irmãos que sinto serem meus filhos.
Queria apresentar-me aos governantes de todas as nações para lhes
pedir que se reconciliem uns com os outros; mas queria uma
reconciliação feita de perdão duradouro,
Para que não aconteçam mais as mesmas desordens.
O
desejo de fazer isto é às vezes tão grande que me parece voar até
eles.
Para obter esta paz, submeteria o meu corpo aos maiores suplícios e
sacrifícios,
Mesmo que devesse ser arrastada de nação em nação e fazer o que há
de mais custoso.
Queria tomar nas minhas mãos o Coração de Jesus e dizer-lhes:
Vede quanto está ferido! São os nossos pecados que o ferem assim!...
(6/3/1945)
Além
de reparar pelos pecados e pela salvação dos pecadores, a Beata
Alexandrina também se tornou uma grande consoladora de Jesus
Eucarístico nos Sacrários e uma alma reparadora dos sacrilégios
cometidos contra o Santíssimo Sacramento do Altar. Vejamos a oração
que o Santíssimo Senhor ensinou a Beata para que rezasse em
reparação:
Diz
às almas que Me amam que vivam unidas a Mim durante o seu trabalho.
Nas
suas casas, seja de dia seja de noite, ajoelhem-se muitas vezes em
espírito e de cabeça inclinada digam
Jesus,
Eu Vos adoro em todo o lugar onde habitais
sacramentado;
Faço-Vos companhia pelos que Vos desprezam,
Amo-Vos pelos que não Vos amam;
Desagravo-Vos pelos que Vos ofendem.
Jesus, vinde ao meu coração!
Jesus fala a Alexandrina sobre a alegria que Ele sente ao ser
consolado por orações reparadoras; ao
mesmo tempo menciona a Sua grande tristeza por ser ofendido,
principalmente, pelas almas que se dizem piedosas.
Estes momentos (de adoração) serão
para Mim de grande alegria e consolação.
Que crimes se cometem contra Mim na Eucaristia!
Sou horrivelmente mais ofendido neste sacramento de amor por aquelas
almas que se dizem piedosas (…) que pelos grandes pecadores.
Estes cometem grandes sacrilégios pela grande ignorância, enquanto
os outros com conhecimento do mal que fazem.
Repara, minha filha; vive a vida da cruz, vive a vida da Eucaristia.
Alexandrina, uma alma essencialmente eucarística, torna-se o “Anjo
Consolador”de Jesus nos sacrários. Põe-se em reparação também pelas
pessoas que comungam o Santo Corpo do Senhor sem estar preparadas;
também repara pelos Sacerdotes, dispensadores dos Santos Mistérios.
No seu diário, Alexandrina narra uma visão que teve da Santa Ceia:
no meio da visão, pode ver as almas das pessoas que comungam
indevidamente e as almas de sacerdotes que distribuíam o Corpo e
Sangue do Senhor (na época de Alexandrina, a Sagrada Comunhão só era
distribuída pelos ministros sagrados).
Dali em
diante toda aquela cena seria renovada …
Vi
tantos Judas a comerem e a beberem indignamente!
Que
línguas tão sujas!
Mas
mais horror ainda: mãos tão indignas a distribuírem este Pão e este
Vinho!
Mãos
indignas, corações cheios de demónios.
Que
horror, que horror de morte!
Senti
tanta dor que, de dor e de horror, parecia-me rasgar a alma e
despedaçar o coração. (12/04/1945)
04 – VIVER DA
EUCARISTIA.
A
Beata Alexandrina pode ser considerada sem sobras de dúvidas uma
alma Eucarística! Foi chamada por Jesus para reacender no
mundo o
Amor a Jesus no Santíssimo Sacramento. Em 1934, Jesus confia-lhe
esta missão, que será desenvolvida até o final de vida: a devoção
aos sacrários.
...
seja bem pregada
e propagada a devoção aos Sacrários, porque passam-se dias e dias
que Me não visitam, não me Amam, não Me desagravam. Não crêem que eu
habito lá.
Eu
quero que se acenda nas almas a devoção para com estas Prisões de
Amor; não somente naquelas que já Me amam, mas em todas. Em todo o
trabalho podem consolar-Me.
Que seja bem pregada e bem propagada a Devoção aos Sacrários, porque
são tantos aqueles que, embora entrando na Igreja, nem sequer Me
saúdam, e não param um momento para adorar-Me!
Eu quereria muitos
guardas fiéis,
prostrados diante dos Sacrários, para impedirem tantos e tantos
crimes!
(01-11-1934)
Alexandrina era solicitada pelo seu Amado a fazer-lhe companhia nos
sacrários, com suas dores e orações reparadoras, e cada dia mais
ansiava pelos Sacrários, queria estar noite e dia diante de Jesus
Sacramentado. Em 08-11-1934 assim fala Jesus:
Não acreditam na Minha Existência! Não acreditam que Eu ali habito!
Blasfemam contra Mim!
Outros crêem, mas não Me amam e não Me visitam,
vivendo como se Eu não estivesse presente!
Faz tuas as Minhas Prisões!
Escolhi-te para Me fazeres companhia nesses pequenos Refúgios.
Muitos são tão pobrezinhos!
Mas, dentro deles, que riqueza! Aí está a Riqueza do Céu e da Terra!
Ouve, minha filha, e atende ao pedido do teu Jesus: anda fazer-me
companhia nos meus Sacrários, nesta noite, nestas horas em que Eu
sou mais ofendido.
Não me deixes sozinho, tem pena de Mim! Anda com essas tuas dores e
com as tuas orações sustentar o braço da minha justiça, prestes a
cair sobre os pecadores, que ainda para alguns o baixarei sem
castigar; mas para muitos não! Muitos no pecado e daí a poucos
momentos no inferno!
Eu morri por eles e por eles dei o meu sangue e por eles fiquei nos
Sacrários há tantos séculos; e lá estarei até ao fim. Mas eles
desprezam as minhas graças: triste verdade!
(13-01-1935)
No dia
seguinte
Jesus volta a pedir a presença de Alexandrina nos Sacrários, mas
desta vez avisa que Alexandrina vai estar parte das noites nos
Sacrários de todo o mundo, consolando e reparando Jesus pelas
ofensas à Santíssima Eucaristia.
A Eucaristia é
a Paixão recordada. Por isso, Minha esposa fiel, vai, com o teu amor
e com a tua reparação, curar as feridas que Me são abertas pelos
delitos!
As dores
[na Eucaristia]
são mais horríveis que as do Calvário!
Quantos cravos, quantas coroas de espinhos e quantas lanças!
Vai passar grande parte da noite nos Meus Tabernáculos, com o teu
coração!
E, assim
mesmo, estarás neles em todo o Mundo!
(14-01-1935)
A partir de 27 de março 1942, Jesus concede à Alexandrina uma graça,
“viver somente da Eucaristia”, como aconteceu a Santa Catarina de
Sena. Alexandrina passou sem se alimentar até 13 de Outubro de 1955,
quando “entrou para a Glória dos Céus”, perfazendo 13 anos e alguns
meses. Muitos contestaram este jejum eucarístico; de 10 de junho de
1943 a 20 de julho do mesmo ano a Beata ficou internada numa clínica
na “Foz do Douro”, junto ao Porto, para, sob rígida vigilância,
verificarem se se alimentava às escondidas: provou-se que nada comeu
durante esse tempo!
Sobre este período a Alexandrina comenta: “Não faltaram as
seduções para ver se eu tomava alguma coisa das suas comidas. Quando
me mostravam os petiscos sem dizer nada, eu contentava-me com
sorrir-lhes... E quando ofereçam comida com palavras, eu agradecia,
“Muito obrigada”, mas sempre a sorrir, mostrando não compreender a
sua maldade.”
Quando os médicos duvidam, pois ela além de não se alimentar também
não evacuava, e acreditavam que por isso ele viria a falecer, ela
escreveu: “Coitados deles!... Jesus sabe fazer as coisas bem
melhor do os homens”.
Em 1946, assim disse Jesus à Beata a respeito do Jejum:
Não te alimentarás jamais na Terra: o teu alimento é o Meu Corpo; a
tua bebida é o Meu Divino Sangue.
A tua vida é a Minha Vida, de Mim a recebes, quando te bafejo e
acalento, quando uno ao teu o Meu Coração.
Não quero que uses medicina, a não ser aquela a que não se possa
atribuir alimentação. Esta ordem é para o teu médico. É grande o
milagre da tua vida...
(07-12-1946)
Em 1954, Jesus revela a Beata o motivo da abstinência:
Faço que vivas só de Mim para provar ao mundo o que vale a
Eucaristia e o que é a minha vida nas almas: luz e salvação para a
humanidade.
A Quinta-Feira, o dia da Instituição da Sagrada Eucaristia,
tornou-se o dia mais feliz para Alexandrina, assim ela escreveu:
Que
belo dia a Quinta-feira! É o dia em que o Senhor instituiu o
Santíssimo Sacramento. (1-10-1934).
É
Quinta-feira; é o meu dia! (20-12-1934).
Hoje
[Quinta-feira] é o teu dia, o grande
dia, a tua paixão: dia do Meu Sacramento. Pede que Me procurem
almas que Me amem no Meu Sacramento de Amor, as quais te
substituam à tua partida para o Céu. (24-3-1938).
Em 25
de fevereiro de 1949, Jesus confiou à Beata Alexandrina a divulgação
da Devoção às Seis primeiras Quintas-feiras do mês:
Minha filha, minha esposa querida, faz que Eu seja amado, consolado
e reparado na minha Eucaristia.
Diz em meu nome que todos
aqueles que comungarem bem, com sinceridade e humildade, fervor e
amor em seis primeiras quintas-feiras seguidas e junto do meu
sacrário passarem uma hora de adoração e íntima união comigo, lhes
prometo o Céu.
É para honrarem pela Eucaristia
as minhas santas Chagas, honrando primeiro a do meu sagrado ombro
tão pouco lembrada.
Quem isto fizer, quem às santas
Chagas juntar as dores da minha Bendita Mãe e em nome delas nos
pedir graças, quer espirituais, quer corporais, eu lhas prometo, a
não ser que sejam de prejuízo à sua alma.
No momento da morte trarei
comigo minha Mãe Santíssima para defendê-lo.
A prática desta Devoção está
totalmente fundamentada na Santa Missa, Comunhão e Adoração. Jesus
quis por este pedido e promessa trazer o maior número possível de
almas até à Sua presença nos Sacrários.
Longe do Céu, longe de Jesus estão todos os que estão longe do
sacrário.
Eu quero almas, muitas almas verdadeiramente eucarísticas.
O
sacrário, o sacrário, oh, se fosse bem compreendido o sacrário!
O
sacrário é a vida, o sacrário é o amor, o sacrário é a alegria e a
paz.
O
sacrário é lugar de dor, é lugar de ofensas, é lugar de sofrimentos:
o sacrário é desprezado, o Jesus do sacrário não é compreendido!
(11-09-1953)
Jesus faz uma ligação muito importante entre a Virgem Maria e a
Adoração à Sua Presença Real nos sacrários: elas são imprescindíveis
para se viver uma vida na graça de Deus.
Estou ali
no sacrário naquela Hóstia pura, em Corpo, Alma e Divindade (...)
Venham
com os seus corações puros, muito puros e sequiosos!
Se vierem
ao sacrário nas devidas disposições e rezarem o Rosário, ou uma
parte dele, todos os dias, de mais nada mais é preciso para que se
afaste a justiça de Deus.
O
Rosário, o sacrário e as minhas
vítimas, a vítima deste
Calvário, são o suficiente para que ao mundo seja dado o perdão e a
paz.
Quem vem
ao sacrário vive puro.
Quem vive
à sombra de minha Mãe bendita, vive da sua pureza.
E assim a
humanidade vive a vida nova, pura, santa, neste quartinho tantas
vezes recomendada por Mim.
(10-12-54)
Jesus tinha prometido a Beata que não permitiria que ela ficasse sem
receber a Santíssima Eucaristia, pois Ele mesmo ou o Anjo da Guarda
de Alexandrina traria a Santa Comunhão.
—
Vou dar-Me agora a ti na Eucaristia. Como prova de que és a minha
verdadeira crucificada, prometo-te, minha filha, não deixar-te
sexta-feira nenhuma sem Me dará ti sacramentado, ou pelas mãos dos
meus discípulos, ou pelos meus anjos, ou mesmo como agora vou fazer.Tomou Jesus em Suas Saníssimas Mãos uma hóstia e disse:
—
Corpus Domini Jesu Christi: sou Eu sacramentado, sou a tua vida e
teu alimento.
Pede-Me agora o que quiseres. Confias que sou Eu?
—
Confio, porque confio na vossa palavra, não por me pareceres aquele
Jesus cheio de luz e amor.
Jesus, peço-Vos para ser santa, como Vós o quereis, se o quereis.
Peço-Vos para amar-Vos tanto como o vosso Divino Coração deseja.
Peço-Vos para não Vos ofenderem gravemente todos os que me são
queridos e me pertencem.
Peço-Vos para não Vos ofender.
Deixai-me entrar com todos no vosso Santíssimo Coração e lá viver e
morrer.
Deixai-me entrar com o mundo inteiro, para que ele seja salvo.
(14-09-45)
Noutro momento, é o Anjo da Guarda juntamente com S. Miguel e S.
Gabriel que levam até Alexandrina o Corpo do Senhor.
—
Minha filha, esposa querida, vais agora receber-Me pelas mãos do teu
Anjo da Guarda. Vem ao seu lado o S. Miguel Arcanjo e o Anjo S.
Gabriel; atrás deles seguem-nos uma grande multidão deles.
Prepara-te; descem do Céu.
Só disse: “Senhor, eu não sou digna, ...”
Vínhamos três Anjos, como disse Jesus, e pararam à minha frente. O
do meio com a Sagrada Hóstia nas mãos; os dos lados alumiavam e
cobriam o do meio, o que trazia Jesus, com uma umbela rica. A
multidão deles não cantavam, mas de mãos levantadas, cabeças
inclinadas, num profundo recolhimentos, diziam:
—
Glória, glória ao nosso Deus, ao nosso Rei, ao nosso Amor!
A
Ti glória, a Ti glória, Jesus, nosso Deus e Senhor!
Isto era em tom de quem reza e não de quem canta.
Inclinou-se para mim o Anjo; eu estendi-lhe a língua e ele ao dar-me
Jesus não principiou pelas palavras do costume, mas sim:
“Viaticum Corporis Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam
in vitam aeternam.
Desapareceram com a mesma reverência, no mesmo silêncio com que
tinham aparecido em volta de mim. E toda a multidão de Anjos batia
as suas asinhas brancas e pronunciavam as mesmas palavras.
Vi-os seguir: tudo era luz. Fiquei mergulhada em amor, numa
intimidade com Jesus; parecia-me inseparável dele. (04/04/1947)
05 – NA CRUZ COM CRISTO
A
Beata Alexandrina, pelo seu próprio sofrimento, uniu sua vida aos
Sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, o Seu
Amado
queria que ela estivesse com Ele desde a Agonia no Horto das
Oliveira até o Monte Calvário.
Em
1934, Jesus falou à Beata que a queria crucificada com Ele:
Dá-me as tuas mãos, que as quero crucificar; dá-Me os teus pés, que
os quero cravar comigo; dá-Me a tua cabeça, que a quero coroar de
espinhos, dá-Me o teu coração que a quero trespassar com a lança,
como Me trespassaram a Mim. Consagra-Me todo o teu corpo; oferece-te
toda a Mim!
Contudo somente a 03 de Outubro de 1968 Alexandrina revive em seu
próprio corpo a Paixão de Nosso Grande Deus e Senhor Jesus Cristo.
Quando revivia a Paixão, Alexandrina, mesmo paralisada na cama desde
1925, em êxtase, levanta-se, prostra-se completamente no chão com os
braços erguidos. Depois de um tempo levanta-se ajoelha-se e ergue os
olhos ao céu e abre os braços, repete por três vezes este sinal.
Neste momento revive a Suprema Angústia de Jesus no Horto, ouve-se
alguns gemidos e soluços. Algumas pessoas assistiram no decorrer dos
anos estas cenas e choravam muito. Era perceptível o momento da
traição de Judas e da prisão de Jesus. Andando ou arrastando-se pelo
quarto repetia as palavras que Jesus falou a Pilatos. Durante a
flagelação, a Alexandrina ficava de joelhos apoiada na cama e
algumas vezes caia no chão, ficava completamente molhada de suor. Em
seguida recebe a Coroa de Espinhos, o que torna visível as dores que
sente na cabeça.
No
momento de carregar a Cruz, a Alexandrina anda vagarosamente pelo
quarto, carregando um imenso peso às costas. Caía, exatamente três
vezes, com grande força, tanto que chegava a machucar os joelhos.
Também se percebia um certo alívio, no momento em que era ajudada
pelo Cireneu. Depois de um tempo a caminhar, deitava-se ao chão, com
os braços abertos – era a hora da crucifixão. Percebia-se o momento
que os pregos perfurarem os seus pulsos e os seus pés. Após este
momento a Beata levantava e fica na posição de Cruz, permanecendo
assim por um certo tempo, até quando, prostrada, exclamava: “Pai, em
tuas mãos eu entrego o Meu Espírito”.
Estas cenas se repetiram de 1938 até 27 de Março de 1942. A partir
desta data, a Alexandrina continuou a reviver a Paixão de Nosso
Senhor, só que não mais visivelmente com todas estas cenas e sim
deitada na sua cama em êxtase. Destes momentos temos muitas
referências nos escritos de Alexandrina.
Esta manhã saí da prisão e,
por horas, percorri muitas estradas, desfalecida, caindo aqui e ali:
Ficava com o rosto em terra e a terra fechava os meus lábios
sufocando os gemidos da minha dor.
Sentia chegarem-me de longe
as zombarias de escárnio e satisfação.
Com quanta fadiga subi o
calvário!
Lá em cima tiraram-me as
cordas que tinha ao pescoço e à cintura. Que dores!
Estavam cravadas na carne,
embebidas de sangue.
No arrancá-las deixaram-me
no corpo a que estavam coladas sinais de grandes feridas.
Custou-me muito ser despida
em público: Com as vestes levaram-me pedaços de carne.
Não os olhos do corpo mas os da alma viam que com a espada cortavam
as vestes para distribuí-las. A alma sentia tudo.
Com os olhos ao céu,
aterrorizada pelas trevas e abandono, ouvi sair muitas vezes do
coração este grito:
Pai, Pai, não desvies de mim
o teu Rosto; não afastes de mim o teu olhar! Os meus olhos,
mergulhados nas trevas, não podiam ver nada; havia neles outro olhar
que via tudo.
Viam, através dos tempos, o
sofrimento que até ao fim do mundo devia ferir um Coração que estava
vizinho do meu. Aquele coração sentia toda a ingratidão do mundo.
As orelhas tinham outro
ouvido para ouvir os insultos, as maldades, os delitos de todos os
tempos. Ondas contínuas se levantavam no mar imenso do sofrimento.
No meu corpo sentia Jesus:
Era Ele o crucificado, era
Ele que do alto da cruz contemplava a Mãezinha numa agonia de dor e
murmurava:
Mãezinha, Mãezinha, até tu
me serves de martírio: a tua dor aumenta a minha; nem tu me podes
dar consolo.
Parecia-me que o coração e a
alma fossem despedaçados pelas punhaladas.
(04/05/45)
A
união mística entre Jesus e a Beata Alexandrina se deu por seu amor
incondicional à Santíssima Eucaristia, mas também pela união no
sofrimento e na Paixão. Sua Santidade o Papa João Paulo II, de santa
memória, assim resumiu a vida da Beata:
A
vida da beata Alexandrina Maria da Costa pode resumir-se neste
diálogo de amor. Permeada e ardorosa desta ânsia de amor, não quis
negar nada ao seu Salvador: forte de vontade, aceita tudo para lhe
demonstrar que o ama. Esposa de sangue, revive misticamente a paixão
de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a
força da Eucaristia que se torna o seu único alimento nos últimos
seus treze anos de vida.
Contudo, o Santíssimo Esposo deu à Beata Alexandrina uma grande
prova de Seu amor: uma Gota do Seu Precisíssimo Sangue. Segundo S.
Tomás de Aquino e S. S. Clemente IV, uma só Gota deste Precioso
Sangue bastaria para salvar o mundo de toda a culpa. À Beata
Aelxandrina, segundo o próprio Jesus, foi a primeira alma a receber
uma Gota do Seu Sangue, desta forma tão extraordinária.
Venho depressa, minha filha, a dar-te a vida : só recebendo-a de Mim
poderás viver. E para que vivas opero um milagre.
Vou
dar-te mais três gotas do Meu Sangue divino: é com ele que tu vives.
Vou
fazer esta transformação sagrada, transformação divina:
transformar-Me em ti, transformar-te em Mim.
És o
fontanário das almas. É este sangue o maná que lhes preparo, o maná
que vem do Céu. Dá-o, dá-o ao mundo: é este sangue o sangue da
pureza, o sangue da nova geração. O sangue de Cristo, o sangue da
Minha esposa e virgem.
Estudem, estudem os doutores da Igreja, estudem os sábios; repito:
estudem os doutores e sábios das ciências divinas.
Que
maravilhas, que prodígios opero na tua alma! Que riquezas dou por ti
ao mundo, ao mundo que é meu, ao mundo que é teu, porque to confiei!
(02/11/1945)
Este
fenômeno místico, no qual a Beata recebe o Sangue de Cristo, será
repetido muitas outras vezes:
Dar-te-ei o meu Sangue gota a gota, assim como gota por gota o dás
por Mim e pelas almas”. (29-6-45)
Recebe-o
antes que percas todo o sangue que tens em tuas veias.
Quero sempre esta mistura: o sangue da vítima deste Calvário (o
lugar de Balasar onde vive Alexandrina), da maior vítima da
humanidade, com o sangue da Vítima do Gólgota, de Cristo redentor.
Assim tens todo o poder e tudo vencerás. (19/10/45)
O
próprio Cristo menciona que teria guardado tal particularidade
mística para a maior vítima da humanidade.
Vou
dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu infinito
amor, a maior de todas as maravilhas, a maravilha única, que tinha
destinado de dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei a
missão mais sublime. (13/02/1948)
Recebe agora esta gota do Meu divino Sangue,
a
vida que vives
a
vida com que dás as vidas,
a
vida de prodígios e de maravilhas,
a
vida que a nenhuma outra vida foi igualada.
És a
primeira alma a quem desta forma dei o meu Sangue.
Alexandrina, também tinha recebido os estigmas, mas de forma
escondida, pois tinha pedido a Jesus que eles não ficassem visíveis.
Sobre estas chagas escondidas o próprio Jesus falou:
Pouco depois, de todas as suas Chagas divinas saíram raios que me
vinham trespassar os pés e as mãos! Da sua sacrossanta cabeça para a
minha passava-se também um «sol» que me trespassava todo o cérebro.
Falando do primeiro clarão e raios que saíam do seu Divino Coração,
disse Jesus com toda a clareza:
— Minha filha, à semelhança de Santa Margarida Maria, eu quero que
incendeies no mundo este amor tão apagado nos corações dos homens.
Incendeia-o, incendeia-o!
Eu quero dar, Eu quero dar o meu Amor aos homens!
Eu quero ser por eles amado. Eles não mo aceitam e não Me amam.
Por ti quero que este amor seja incendiado em toda a humanidade,
assim como por ti foi consagrado o mundo à minha Bendita Mãe.
Faz, esposa querida, que se espalhe no mundo todo o amor dos nossos
Corações!
— Como, Jesus? Como trabalhar dessa forma?! Se ele não é aceite por
Vós, como hão-de os homens recebê-lo por mim?
— Com a tua dor, com a tua dor, minha filha! Só com ela as almas
ficam agarradas às fibras da alma e depois se vão deixar os corações
incendiar no meu amor.
Deixa que estes raios das minhas Chagas divinas vão penetrar nas
tuas chagas escondidas, nas tuas chagas místicas.
(01/10/1954)
06 – A DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA
VIRGEM
E A CONSAGRAÇÃO DO MUNDO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA.
A
Beatíssima Virgem estava muito presente na Vida da Beata
Alexandrina; pode-se afirmar que Alexandrina teve dois grandes
amores: Jesus Eucarístico e a sua Mãezinha (era assim que se referia
a Nossa Senhora). Diversas são as orações e poemas à Virgem
tributados. A maioria das suas orações a Jesus é encerrada em união
com a Virgem Maria. Vivia, principalmente no mês de Maio, uma
profunda intimidade com Maria: era o mês mais feliz do ano! A
própria revelação de Jesus à Alexandrina confirma uma intima unidade
entre a devoção à Virgem através do Rosário e a Adoração a Jesus no
Santíssimo Sacramento do Altar.
Se vierem
ao sacrário nas devidas disposições e rezarem o Rosário, ou uma
parte dele, todos os dias, de mais nada mais é preciso para que se
afaste a justiça de Deus.
Jesus
confiou à Alexandrina a missão de acender no mundo a Adoração ao
Santíssimo Sacramento e a Consagração ao Imaculado Coração de Maria.
Somente por Ela (Virgem Maria) o mundo
poderá ser salvo, e se o mundo fizer penitência e se converter. Ela
é a Minha Rainha, Rainha do céu e da terra. (25/04/1938)
Veja-se
um dos seus belos sobre a sua “Mãezinha”, que tem a forma de carta:
Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!
Ave Maria, cheia de Graça!
Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!
Soberana Rainha do Céu e da Terra, Mãe dos pecadores,
Eu, a mais indigna de todas as Vossas filhas,
Vos agradeço de todo o coração,
Ó
Santa Mãe de Deus,
Por terdes consentido que o meu Amabilíssimo Jesus
Encarnasse em Vossas puríssimas entranhas
Para redenção da Humanidade.
Sim, minha Mãezinha, encarnar, nascer,
Viver trinta e três anos no mundo,
E
por fim morrer numa cruz
Pelos miseráveis filhos de Eva!...
Entenda quem puder tantos excessos de Amor, que eu por mim só tenho
que confundir-me e lamentar este meu pobre coração, por não ter
correspondido a tanta bondade dos meus dois queridos Amores, Jesus e
Maria!
A
mais indigna das Vossas filhas.
O seu
amor a Santíssima Virgem ocorreu de maneira tão bela que a Virgem
Maria, no dia 02 de Dezembro de 1944, lhe entregou o Seu Santíssimo
Manto:
Aceita o meu santíssimo Manto, aceita-o... Podes cobrir com o meu
manto o mundo inteiro, chega para todos. Aceita a minha coroa... És
rainha.
Para a
Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, solicitada à
Beata por Jesus, contou com a ajuda do seu primeiro diretor
espiritual, o sacerdote jesuíta Pe. Mariano Pinho, que mais tarde
veio para o Brasil. A empreitada não era fácil: por ela a
Alexandrina viveu visivelmente a Paixão de Cristo.
No
dia 30 (de Julho), depois da sagrada
Comunhão... ouvi que Ele (Jesus) me chamava:
— Minha filha... manda dizer ao teu pai
espiritual que... assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser o
mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim o peço a ti para que
seja consagrado a Ela (“Virgem sem mancha de pecado”) com uma festa
solene.
O
Pe. Mariano Pinho, sempre com os pés bem assentes, leu atentamente a
carta, mas esperou. Um ano depois, em fins de Agosto de 1936, teve
de pregar um tríduo em Balasar. Volvidos poucos dias após o seu
regresso a casa, recebe uma carta da Alexandrina, datada de 10 de
Setembro, em que lhe é transmitido novo recado de Jesus :
— Manda, filhinha, já dizer ao teu pai
espiritual que espalhe já, que faça chegar aos confins do mundo que
este flagelo (a revolução comunista em
Espanha — anota o Pe. Pinho) é um castigo... Eu vou dizer-te
como será feita a consagração do mundo à Mãe dos homens e minha Mãe
Santíssima. Amo-A tanto! Será em Roma, pelo Santo Padre, consagrando
a Ela o mundo inteiro e depois pelos Padres em todas as igrejas do
mundo, sob o título de Rainha do Céu e da terra, Senhora da Vitória.
Se o mundo corrompido se converter e arrepiar caminho, Ela reinará e
a vitória por Ela será ganha. Vai, minha filha, não haja receios que
os meus desejos sejam cumpridos.
Se,
à distância de todo este tempo, examinarmos o comportamento de Pio
XII no tocante a este assunto, veremos como ele se ateve fielmente a
estas indicações de grande importância pastoral. Para além da
consagração do Mundo a Maria, efectuada em 1942, aquele grande Papa
instituiu a festa de Nossa Senhora Rainha em 31 de Maio, ou seja, na
conclusão de um mês de pregações então muito seguido pelos fiéis.
Também decretou que, por essa ocasião, todos os sacerdotes
renovassem a consagração do mundo a Maria.
E
pena que estas sábias disposições pastorais tenham sido abolidas.
Primeiros passos junto do Cardeal Pacelli
As
primeiras respostas às palavras ouvidas durante os êxtases da
Alexandrina foram imediatas. O Padre Mariano, que já reflectia havia
um ano e rezava por esta comunicação celeste, a 11 de Setembro de
1936 escreveu uma breve carta ao então Secretário de Estado, o
Cardeal Pacelli, expondo sucintamente aquilo de que se tratava. De
Roma, imediatamente pediram informações sobre a Alexandrina ao
Arcebispo de Braga. As informações foram boas e muito exactas, pois
que o Arcebispo se valeu para o efeito do auxílio do Pe. Pinho.
Depois, a Santa Sé mandou um seu representante, como já dissemos, o
P.e Paulo Durão, Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, que
encarregou o seu irmão, Padre António, também Jesuíta, do desempenho
dessa missão.
A
visita à Alexandrina realizou-se no dia 21 de Maio de 1937 e vem
descrita na autobiografia da Serva de Deus. A impressão colhida pelo
Pe. António e transmitida para o Vaticano pelo irmão, Pe. Paulo
Durão, foi óptima.
Decorrido quase um ano, na noite de 24 para 25 de Abril de 1938, a
Alexandrina ouviu Nosso Senhor segredar-lhe:
Atenta ao que te vou dizer, para que se não perca nenhuma palavra. O
teu pai espiritual é boa testemunha da angústia que te fiz passar.
Diz-lhe que escreva ao Santo Padre, que Eu quero a consagração do
mundo à minha Imaculada Mãe.
Nesse
instante, a Alexandrina teve a visão de grandes ruínas. E a voz
acrescentou:
O
que vês é o castigo que está preparado para o mundo... Só por Ela
poderá ser salvo e se fizer penitência e se converter.
Movimenta-se o Episcopado português
O Padre
Pinho escreveu pela segunda vez ao Cardeal Pacelli no dia 9 de
Fevereiro de 1938, sem imaginar que estava muito próxima a ascensão
do Cardeal ao Pontificado. Entretanto, aproveitou uma outra ocasião
que podemos considerar como historicamente decisiva. Em princípios
de Maio de 1938, foi encarregado de pregar os Exercícios Espirituais
aos Bispos portugueses, reunidos em Fátima. Teve assim a
oportunidade de lhes falar também da Alexandrina e do pedido de
Jesus. A sua palavra foi tão convincente que o Episcopado português,
no fim dos Exercícios, dirigiu colegialmente um pedido oficial ao
Papa, a fim de obter a consagração de Maria (a súplica tem a data
de 13 de Maio de 1938).
À
procura de “Sinais”
Mas
parecia que tudo isso não fosse suficiente. Falámos do Pe. António
Durão, que em 1937 tinha ido examinar a Alexandrina por mandato da
Santa Sé. Através do seu irmão Pe. Paulo, Provincial dos Jesuítas em
Portugal, sabemos que o bom êxito da visita não convenceu.
Pretendia-se um sinal exterior que autenticasse a origem
sobrenatural das locuções interiores e, particularmente, do pedido
da Alexandrina. Este sinal foi dado pela Paixão revivida todas as
Sextas-Feiras, desde o dia 3 de Outubro de 1938 até ao dia 27 de
Março de 1942, exactamente durante o período em que amadureceu a
ideia e se decidiu fazer a consagração. Durante um êxtase, no
primeiro ano, Jesus tinha dito a Alexandrina:
“Eu
quero a consagração do mundo à minha Mãe Imaculada... E por isso que
te faço sofrer assim, e tens de sofrer muitas vezes isto, até que
ele (o Papa) o consagre”.
Carta aos Papas
Quando
começaram os fenómenos da Paixão (3.10.38), o Pe. Pinho informou
directamente o Santo Padre Pio XI, através duma carta datada de 24
de Outubro desse mesmo ano. Depois escreveu ainda outra, desta vez a
Pio XII, no dia 31 de Julho de 1941. Já a sua primeira carta tinha
obtido um resultado: a Santa Sé decidira proceder a um novo exame
sobre a Alexandrina. Foi dele encarregado o Cónego Manuel Pereira
Vilar, Reitor do Seminário de Braga, depois Reitor do Pontifício
Colégio Português, em Roma. Em Janeiro de 1939, o Cónego Vilar
interrogou a Alexandrina, conforme ela própria narra na
autobiografia. Depois do colóquio, ele quis assistir ao fenómeno da
Paixão. Naquela ocasião, nos êxtases que habitualmente se seguiam,
Jesus repetiu o Seu desejo de que o mundo fosse consagrado a Sua
Mãe.
A
impressão que o Cónego Vilar colheu dos vários encontros com a
Alexandrina foi óptima. Fez sua a causa e, a partir daquele momento,
não hesitou em prodigalizar-se para que acreditassem na “crucificada
de Balasar” e se chegasse à consagração pedida. Transferido para
Roma, procurou falar pessoalmente com o Santo Padre. Não o tendo
conseguido imediatamente, enviou ao Papa toda a documentação que
tinha preparado na sua missão de inquérito a respeito da Alexandrina
e do pedido de Jesus. Infelizmente, a saúde não o ajudou e não pôde
ver realizado o que tinha sido também um sonho seu. Regressado a
Portugal para ser tratado num hospital do Porto, veio a falecer de
cancro em 1941.
Ao
morrer Pio XI, a Alexandrina afirmava com toda a segurança que o
novo Papa seria o Cardeal Pacelli. Depois, imediatamente após a
eleição de Pio XII, teve a confirmação disso da parte do Céu:
“Este é
o Papa que fará a consagração” (20 de Março de 1939).
Chegou-se finalmente a 1942, o ano da consagração e um dos anos mais
dolorosos da vida da Alexandrina. Ela, em Janeiro, recebe a visita
de despedida do P.e Mariano Pinho, transferido pelos seus Superiores
para o Brasil. A Alexandrina continuará a esperar durante todo o
resto da vida, mas em vão, de voltar a tê-lo como seu guia
espiritual. No dia 27 de Março, a enferma revive pela última vez a
Paixão, acompanhada por movimentos externos. Até ao fim da sua vida
continuará a vivê-la, mas sem manifestações visíveis, de tal modo
que os presentes que a não conhecessem bem não se apercebiam de
nada.
Nesse
mesmo dia, teve início um novo prodígio: o jejum total, acompanhado
por uma anúria completa. A partir de então, nunca mais poderá comer
nem beber nada, embora sinta fortemente os estímulos da fome e da
sede. Somente poderá receber a comunhão, que se tornará o seu único
alimento do corpo, além de ser o alimento da alma. No dia 3 de
Abril, Sexta-Feira Santa, começa a sofrer as dores da segunda morte
mística, que durarão cerca de dois anos.
A
consagração
Como
recompensa de tantos sofrimentos, a 22 de Maio desse ano (1942),
Nosso Senhor anuncia-lhe:
Glória, glória, glória a Jesus!
Honra, honra e glória a Maria!
O
coração do Papa, o coração de oiro está resolvido a consagrar o
mundo ao Coração de Maria!
Que
grande dia e alegria para o mundo, pertencer mais que nunca à Mãe de
Jesus!
Todo
o mundo pertence ao Coração Divino de Jesus; vai pertencer todo ao
Coração Imaculado de Maria!
Finalmente, no dia 31 de Outubro, todo o mundo pôde ouvir a
radiomensagem através da qual, em língua portuguesa, Pio XII
consagra o mundo ao Coração Imaculado de Maria. A mesma fórmula da
consagração será depois repetida, em língua italiana, na Basílica de
S. Pedro, no dia 8 de Dezembro seguinte. A Alexandrina soube da
notícia imediatamente, por um telegrama que o Pe. Pinho lhe enviou
de Fátima, onde se encontrava naquele dia juntamente com os Bispos
portugueses, com muitos sacerdotes e uma grande multidão de povo.
Foi, de facto, um dia muito feliz para ambos.
Mas não
esclareceremos completamente este assunto se não acenarmos a um
facto que interveio e que pôde encorajar ainda mais a tomada de
decisão pontifícia. Lúcia de Fátima estava a desempenhar a missão
que o Céu lhe tinha confiado. Em 1917, Nossa Senhora tinha-lhe dito:
“Virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração”.
Manteve esta promessa aparecendo a Lúcia em 1929, em Tuy, onde ela
se encontrava nessa altura: “Chegou o momento em que Deus pede que o
Santo Padre faça, em união com todos os Bispos do mundo, a
consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado, prometendo salvá-la
por este meio”. A partir daquele momento, a Irmã Lúcia escreveu
muitas cartas e fez tudo o que estava ao seu alcance para dar a
conhecer e realizar os desejos da Virgem, mas com pouco sucesso.
Note-se
bem esta diferença: à Irmã Lúcia tinha sido confiada a mensagem de
pedir a consagração somente da Rússia e não do mundo. Portanto, a
isso se limitou o pedido da vidente de Fátima. Quando, em 1938, a
seguir à pregação do Pe. Pinho, o Episcopado português pediu ao Papa
a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, estava
presente e apoiante também o Bispo titular de Gurza, D. Manuel
Ferreira da Silva, que, na altura, era confessor da Irmã Lúcia. Este
informou a sua penitente do pedido dos Bispos — que tinha
probabilidades de ser atendido — e aconselhou-a a juntar a sua
súplica à deles. (Gabriele Amorth, Por detrás de um sorriso,
Ed. Salesianas, Porto, 1994, pp. 75-85)
07 – ALEXANDRINA E OS
“PREDILETOS DO REINO”
Mesmo
sendo de uma família bastante simples, e algumas vezes passando por
sérios problemas de subsistência, a Beata Alexandrina tinha um
coração completamente sensível aos irmãos mais pobres. Escreveu em
1948, que queria percorrer todo o mundo para ajudar os que mais
sofrem:
Queria percorrer o mundo para enxugar todas as lágrimas, consolar
todos os aflitos, vestir todos os nus, saciar todos os famintos.
Queria difundir na humanidade inteira, nos corpos e nas almas, a
caridade de Cristo.
Ó
santa caridade do meu Senhor, como tu és bela, quanto tu podes
alegrar e consolar o meu Jesus!
(12-02-48)
Eu
queria ser bálsamo para todas as feridas, consolação para todas as
tristezas, conforto para todos os desalentos, alimento para toda a
fome, agasalho para todo o frio, remédio para todo o mal.
Eu
não sou ninguém, não sou nada, nada valho.
(21-5-48)
Mesmo
não podendo fazer “grandes coisas” aos olhos humanos, Alexandrina
intercedia por inúmeras pessoas que acorriam ao seu quarto. Para
diversas delas conseguiu empregos. Distribuia muitas esmolas a quem
chegasse na sa casa, ajudava financeiramente vários pobres, até
mesmo com doações mensais. Conseguia quem ajudasse as pessoas que
não tinha habitação. Obteve a entrada de diversas crianças e doentes
em casas de misericórdia. Facilitou a entrada de crianças em Ordens
religiosas para estudarem. No Natal e na Páscoa distribuia roupas e
calçados aos necessitados da paróquia. Vestia os órfaos e conseguia
madrinhas para os estudantes.
Alexandrina socorreu vários necessitados, espirituais e temporais.
Quero praticar o bem, quero que todos os meus actos levem em si toda
bondade e doçura. Não posso saber que os pobrezinhos têm fome e não
têm com que se cobrir. Não posso saber que os meus semelhantes
estejam em grande aflições, sejam elas quais forem. O meu coração
apesar de ser tão mau, sofre, morre por não poder desfazer-se em
pão, agasalhos, conforto e alegria, consolação e bálsamo para
quantos sofrem. Jesus amo a todos e a todos quero consolar por vosso
amor.
08 – ATÉ AOS CONFINS DO
MUNDO
Tu
és a missionária de Jesus. Esta missão sublime continuará com maior
eficiência, com maior esplendor quando estiveres no Céu.
(21-08-53)

Alexandrina faleceu a 13 de Outubro de 1955, na sua casa em Balasar;
seu velório e enterro foram dos mais belos de que se recordam na
região: milhares de pessoas se vieram despedir daquela que ficou
conhecida como a “Doente do Calvário”; até as rosas brancas, símbolo
da pureza de Alexandrina, se esgotaram no Porto, para serem trazidas
para junto do seu caixão.
A 14
de julho de 1948, Alexandrina escreveu o epitáfio para o seu túmulo:
Pecadores, se as cinzas do meu corpo vos têm utilidade para vos
salvardes, aproximai-vos, passai por cima delas, calcai-as até que
desapareçam, mas não pequeis mais, não ofendais mais vezes o nosso
Jesus.
Pecadores, tantas coisas queria dizer-vos! Não me chegava este
grande cemitério para as escrever!...
Convertei-vos! Não ofendais a Jesus, não queirais perdê-Lo
eternamente. Ele é tão bom! Basta de pecar!
Amai-O! Amai-O!
Efectivamente estas palavras encontram-se por sobre o seu túmulo.
Em 14
de Junho de 1946, Jesus fez à Alexandrina esta promessa:
Vai,
louquinha das almas, vai ditar tudo: tens a força divina, tens o
Espírito Santo. Vai dá-Lo às almas, vai dar a Sua luz com todas as
riquezas que de Mim recebeste.
Prometo-te – confia – que depois da tua morte todas as almas que
visitarem o teu túmulo serão salvas, a não ser que o visitem
para prevalecer no pecado, abusando da grande graça que por ti lhes
dei.
Para todas as que visitarem o teu túmulo se salvarem, necessitam
doutras graças, que não são precisas às que o teu leito visitarem,
mas por ti lhes serão dadas.
São
promessas minhas, sou o teu Jesus: prometo e não falto!”
Alexandrina foi enterrada no cemitério local, com o rosto voltado
para a Igreja, onde está Jesus, seu Amado Senhor, pois assim era o
seu desejo. Posteriormente, os seus restos mortais foram depositados
na Igreja Paroquial de Balasar, onde permanecerão aguardando a
Ressurreição da Carne.
Contudo, a Missão de Alexandrina não terminou. Do Céu ela continua a
interceder pelos pobres pecadores para que encontrem a conversão e a
reparar pelos sacrilégios contra Jesus Sacramentado e,
principalmente, guiando almas para se tornarem almas verdadeiramente
eucarísticas, conforme lhe pediu Jesus:
Escolhi-te como vítima para tu continuasses a minha obra de
redenção.
Pus no teu coração o amor, o amor louco pela Eucaristia.
É
graças a ti, é à luz de este fogo que tu deixaste acender que
muitas almas, guiadas por esta estrela escolhida por mim,
transportadas do teu exemplo, si transformarão em almas ardentes, em
almas verdadeiramente eucarísticas.
Pobre mundo, sem a Eucaristia! Pobre mundo, sem as minhas vítimas,
sem hóstias imoladas comigo continuamente!
Eu
quero, minha filha, diz que eu quero um mundo novo, de pureza, um
mundo todo eucarístico. (05-01-52)
Por
isto mesmo Jesus prometeu que a vida de Alexandrina seria conhecida
por todo o mundo!
Eu
quero, logo depois da tua morte, que a tua vida seja conhecida,
chegue até os confins do mundo.
(20-11-1937)
Wendell Mendonça
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