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BEATA ALEXANDRINA

“Sofrer, amar, reparar”: lema da Beata Alexandrina

 

01 – UMA MENINA DE DEUS

A tua vida, minha filha, é uma escola de amor, é uma escola de dor. Eu quero, eu quero, grito bem forte que toda a humanidade aprenda da tua vida: é uma escola de sabedoria, é uma escola sublime, é uma escola toda da vida divina. (28/03/1952)

Alexandrina Maria da Costa nasceu em 30 de março de 1904 no pequeno lugarejo português de Balasar, concelho de Póvoa do Varzim, a 50 Km do Porto, foi batizada a 02 de Abril, Sábado de Aleluia. Durante toda a sua infância teve uma vida muito simples ao lado de sua mãe, D. Ana Costa, e sua irmã Deolinda. De fisionomia robusta, Alexandrina logo se destacaria nos trabalhos domésticos e agrícolas.

É perceptível desde a mais tenra infância um amor muito grande a Deus, à Eucaristia e às obras do Criador, principalmente as flores, que vão ter uma grande importância na vida da Beata, tanto que o próprio Jesus a presenteou mais tarde, com um lírio, uma açucena e uma palma, simbolizando a pureza e o martírio.

Sem duvidar, o principal acontecimento ocorrido na infância de Alexandrina foi a sua Primeira Eucaristia:

 

Foi na Póvoa de Varzim que fiz a minha Primeira Comunhão, com sete anos de idade. Foi o Senhor P.e Álvaro Matos quem me perguntou a doutrina, me confessou e me deu pela vez primeira a Sagrada Comunhão. Como prémio, recebi um lindo terço e uma estampazinha. Quando comunguei, estava de joelhos, apesar de pequenina, e fitei a Sagrada Hóstia que ia receber de tal maneira que me ficou tão gravada na alma, parecendo-me unir a Jesus para nunca mais me separar dele. Parece que me prendeu o coração. A alegria que eu sentia era inexplicável. A todos dava a boa nova. A encarregada da minha educação levava-me a comungar diariamente.

02 – UM EXEMPLO DE PUREZA

Um acontecimento marcante na vida da Beata Alexandrina ocorreu no Sábado Santo de 1918. Estando em sua casa, juntamente com sua irmã Deolinda e uma amiga, foram surpreendidas pela presença suspeita de três homens, um deles antigo patrão de Alexandrina; percebendo a intenção deles homens e para defender a sua pureza, pulou da janela a uma altura de mais de três metros. Conseguiu expulsar os homens da casa, todavia contraiu uma mielite na espinha dorsal, o que lhe ocasionará uma paralisia progressiva.

Ë durante este período que Alexandrina tem uma visão, na qual o Senhor lhe revelaria a sua missão na terra, este episódio lembra o ocorrido com diversos outros santos, como S. Pio de Pietrelcina.

 

Subi ao Paraíso por umas escadinhas tão estreitinhas que mal me cabiam as pontas dos pés. Foi com muita dificuldade e com muito tempo que lá cheguei, porque não tinha nada onde me amarrar. Pelo caminho, via algumas almas que ficavam ao lado das escadas, dando-me conforto sem me falarem.

Lá em cima, vi ao centro, num trono, Nosso Senhor e, ao lado d’Ele, a Mãezinha. Todo o céu estava cheio de bem-aventurados. Depois de contemplar tudo isto, tive que vir à terra, o que eu não queria. Desci com muita dificuldade e encontrei-me na terra, e tudo tinha desaparecido.

 

03 – VÍTIMA PELOS PECADORES

 

A partir de 1918 passa por momentos de crises e melhoras; em junho de 1924 participa, com muita dificuldade, no Congresso Eucarístico em Braga e a partir de 14 de Abril de 1925 fica acamada definitivamente. Ansiava por ser curada, sonhava em tornar-se freira. Em 1928, volta a sonhar com a cura, após a peregrinação de sua paróquia a Fátima. Logo depois afirma:

“Como não consegui nada, morreram os meus desejos de ser curada e para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento e de só pensar em Jesus”.

Amando cada vez mais o sofrimento e o Seu Jesus, Alexandrina passou a ser uma vítima pelos pecadores, oferecendo os seus sofrimentos também em reparação pelas blasfêmias com que Jesus era ofendido no Santíssimo Sacramento.

“Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima; e vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo”

Jesus confirmou a cada dia a escolha daquela alma para tornar-se vítima pela humanidade, como Ele, existindo aí uma união mística entre Jesus e Alexandrima. A Beata passa a sofrer cada vez mais, pois agora como vítima ela sofre pelos pecados da humanidade. Diversas vezes, o Senhor descontava sobre ela o furor da sua ira por causa dos pecados.

Maldita! Satanás é o teu senhor. Expulsaste-me a Mim, para ele te possuir. Ele quer instalar-te em corpo e alma no aposento dele que é o inferno: és digna dele! As tuas paixões desregradas to fizeram merecer. Converte-te: ouve a voz do teu Deus; deixa-me de novo tomar posse do teu coração, para poderes ser digna da minha mansão celeste. Para que Eu te possa instalar lá, arrepia caminho!

Cruel! Insensata! De ti esperava tudo: desprezaste-me, calcaste aos pés o alimento da tua alma e de todas as almas. Desafias com os crimes mais horrendos a justiça divina. Criei-te para mim, desprezaste-me; abandonaste o teu Deus, o teu Criador: és digna de morte, és digna de inferno! 

Essas palavras não eram para Alexandrina, eram para a humanidade que se desviara do plano de Deus. Mas como Alexandrina sofria!!! Como era difícil ouvir estas palavras do Senhor, seu Amado, e reparar pelos pecadores! Alexandrina tornou-se fiel reparadora pelos pecados da humanidade. E como ela se sentia feliz por esta árdua missão! Cada vez mais amava a humanidade, mesmo conhecendo e sofrendo pelos seus pecados. Assim, sentia-se mãe da humanidade, e os pecadores como sendo seus filhos. 

Desde domingo sinto-me mãe da humanidade, mãe terna.

Contra este amor vem ao mesmo tempo a dor: dor causada pelas desordens destes irmãos que sinto serem meus filhos.

Queria apresentar-me aos governantes de todas as nações para lhes pedir que se reconciliem uns com os outros; mas queria uma reconciliação feita de perdão duradouro,

Para que não aconteçam mais as mesmas desordens.

O desejo de fazer isto é às vezes tão grande que me parece voar até eles.

Para obter esta paz, submeteria o meu corpo aos maiores suplícios e sacrifícios,

Mesmo que devesse ser arrastada de nação em nação e fazer o que há de mais custoso.

Queria tomar nas minhas mãos o Coração de Jesus e dizer-lhes:

Vede quanto está ferido! São os nossos pecados que o ferem assim!... (6/3/1945)

 

Além de reparar pelos pecados e pela salvação dos pecadores, a Beata Alexandrina também se tornou uma grande consoladora de Jesus Eucarístico nos Sacrários e uma alma reparadora dos sacrilégios cometidos contra o Santíssimo Sacramento do Altar. Vejamos a oração que o Santíssimo Senhor ensinou a Beata para que rezasse em reparação: 

Diz às almas que Me amam que vivam unidas a Mim durante o seu trabalho.

Nas suas casas, seja de dia seja de noite, ajoelhem-se muitas vezes em espírito e de cabeça inclinada digam Jesus,

Eu Vos adoro em todo o lugar onde habitais sacramentado;

Faço-Vos companhia pelos que Vos desprezam,

Amo-Vos pelos que não Vos amam;

Desagravo-Vos pelos que Vos ofendem.

Jesus, vinde ao meu coração!

 

Jesus fala a Alexandrina sobre a alegria que Ele sente ao ser consolado por orações reparadoras; ao mesmo tempo menciona a Sua grande tristeza por ser ofendido, principalmente, pelas almas que se dizem piedosas. 

Estes momentos (de adoração) serão para Mim de grande alegria e consolação.

Que crimes se cometem contra Mim na Eucaristia!

Sou horrivelmente mais ofendido neste sacramento de amor por aquelas almas que se dizem piedosas (…) que pelos grandes pecadores.

Estes cometem grandes sacrilégios pela grande ignorância, enquanto os outros com conhecimento do mal que fazem.

Repara, minha filha; vive a vida da cruz, vive a vida da Eucaristia. 

Alexandrina, uma alma essencialmente eucarística, torna-se o “Anjo Consolador”de Jesus nos sacrários. Põe-se em reparação também pelas pessoas que comungam o Santo Corpo do Senhor sem estar preparadas; também repara pelos Sacerdotes, dispensadores dos Santos Mistérios. No seu diário, Alexandrina narra uma visão que teve da Santa Ceia: no meio da visão, pode ver as almas das pessoas que comungam indevidamente e as almas de sacerdotes que distribuíam o Corpo e Sangue do Senhor (na época de Alexandrina, a Sagrada Comunhão só era distribuída pelos ministros sagrados).

Dali em diante toda aquela cena seria renovada …

Vi tantos Judas a comerem e a beberem indignamente!

Que línguas tão sujas!

Mas mais horror ainda: mãos tão indignas a distribuírem este Pão e este Vinho!

Mãos indignas, corações cheios de demónios.

Que horror, que horror de morte!

Senti tanta dor que, de dor e de horror, parecia-me rasgar a alma e despedaçar o coração. (12/04/1945)

 

04 – VIVER DA EUCARISTIA.

 

A Beata Alexandrina pode ser considerada sem sobras de dúvidas uma alma Eucarística! Foi chamada por Jesus para reacender no mundo o Amor a Jesus no Santíssimo Sacramento. Em 1934, Jesus confia-lhe esta missão, que será desenvolvida até o final de vida: a devoção aos sacrários.

... seja bem pregada e propagada a devoção aos Sacrários, porque passam-se dias e dias que Me não visitam, não me Amam, não Me desagravam. Não crêem que eu habito lá. Eu quero que se acenda nas almas a devoção para com estas Prisões de Amor; não somente naquelas que já Me amam, mas em todas. Em todo o trabalho podem consolar-Me.

Que seja bem pregada e bem propagada a Devoção aos Sacrários, porque são tantos aqueles que, embora entrando na Igreja, nem sequer Me saúdam, e não param um momento para adorar-Me!

Eu quereria muitos guardas fiéis, prostrados diante dos Sacrários, para impedirem tantos e tantos crimes! (01-11-1934)

Alexandrina era solicitada pelo seu Amado a fazer-lhe companhia nos sacrários, com suas dores e orações reparadoras, e cada dia mais ansiava pelos Sacrários, queria estar noite e dia diante de Jesus Sacramentado. Em  08-11-1934 assim fala Jesus: 

Não acreditam na Minha Existência! Não acreditam que Eu ali habito!
Blasfemam contra Mim!

Outros crêem, mas não Me amam e não Me visitam,
vivendo como se Eu não estivesse presente!

Faz tuas as Minhas Prisões!
Escolhi-te para Me fazeres companhia nesses pequenos Refúgios.
Muitos são tão pobrezinhos!
Mas, dentro deles, que riqueza! Aí está a Riqueza do Céu e da Terra!

Ouve, minha filha, e atende ao pedido do teu Jesus: anda fazer-me companhia nos meus Sacrários, nesta noite, nestas horas em que Eu sou mais ofendido.

Não me deixes sozinho, tem pena de Mim! Anda com essas tuas dores e com as tuas orações sustentar o braço da minha justiça, prestes a cair sobre os pecadores, que ainda para alguns o baixarei sem castigar; mas para muitos não! Muitos no pecado e daí a poucos momentos no inferno!

Eu morri por eles e por eles dei o meu sangue e por eles fiquei nos Sacrários há tantos séculos; e lá estarei até ao fim. Mas eles desprezam as minhas graças: triste verdade! (13-01-1935) 

No dia seguinte Jesus volta a pedir a presença de Alexandrina nos Sacrários, mas desta vez avisa que Alexandrina vai estar parte das noites nos Sacrários de todo o mundo, consolando e reparando Jesus pelas ofensas à Santíssima Eucaristia.
A Eucaristia é a Paixão recordada. Por isso, Minha esposa fiel, vai, com o teu amor e com a tua reparação, curar as feridas que Me são abertas pelos delitos!

As dores [na Eucaristia] são mais horríveis que as do Calvário!

Quantos cravos, quantas coroas de espinhos e quantas lanças!

Vai passar grande parte da noite nos Meus Tabernáculos, com o teu coração!
E, assim mesmo, estarás neles em todo o Mundo
! (14-01-1935) 

A partir de 27 de março 1942, Jesus concede à Alexandrina uma graça, “viver somente da Eucaristia”, como aconteceu a Santa Catarina de Sena. Alexandrina passou sem se alimentar até 13 de Outubro de 1955, quando “entrou para a Glória dos Céus”, perfazendo 13 anos e alguns meses. Muitos contestaram este jejum eucarístico; de 10 de junho de 1943 a 20 de julho do mesmo ano a Beata ficou internada numa clínica na “Foz do Douro”, junto ao Porto, para, sob rígida vigilância, verificarem se se alimentava às escondidas: provou-se que nada comeu durante esse tempo!

Sobre este período a Alexandrina comenta: “Não faltaram as seduções para ver se eu tomava alguma coisa das suas comidas. Quando me mostravam os petiscos sem dizer nada, eu contentava-me com sorrir-lhes... E quando ofereçam comida com palavras, eu agradecia, “Muito obrigada”, mas sempre a sorrir, mostrando não compreender a sua maldade.”

Quando os médicos duvidam, pois ela além de não se alimentar também não evacuava, e acreditavam que por isso ele viria a falecer, ela escreveu: “Coitados deles!... Jesus sabe fazer as coisas bem melhor do os homens”.

Em 1946, assim disse Jesus à Beata a respeito do Jejum: 

Não te alimentarás jamais na Terra: o teu alimento é o Meu Corpo; a tua bebida é o Meu Divino Sangue.

A tua vida é a Minha Vida, de Mim a recebes, quando te bafejo e acalento, quando uno ao teu o Meu Coração.

Não quero que uses medicina, a não ser aquela a que não se possa atribuir alimentação. Esta ordem é para o teu médico. É grande o milagre da tua vida... (07-12-1946) 

Em 1954, Jesus revela a Beata o motivo da abstinência: 

Faço que vivas só de Mim para provar ao mundo o que vale a Eucaristia e o que é a minha vida nas almas: luz e salvação para a humanidade

A Quinta-Feira, o dia da Instituição da Sagrada Eucaristia, tornou-se o dia mais feliz para Alexandrina, assim ela escreveu: 

Que belo dia a Quinta-feira! É o dia em que o Senhor instituiu o Santíssimo Sacramento. (1-10-1934).

É Quinta-feira; é o meu dia! (20-12-1934).

Hoje [Quinta-feira] é o teu dia, o grande dia, a tua paixão: dia do Meu Sacramento. Pede que Me procurem almas que Me amem no Meu Sacramento de Amor, as quais te substituam à tua partida para o Céu. (24-3-1938).

Em 25 de fevereiro de 1949, Jesus confiou à Beata Alexandrina a divulgação da Devoção às Seis primeiras Quintas-feiras do mês: 

Minha filha, minha esposa querida, faz que Eu seja amado, consolado e reparado na minha Eucaristia.

Diz em meu nome que todos aqueles que comungarem bem, com sinceridade e humildade, fervor e amor em seis primeiras quintas-feiras seguidas e junto do meu sacrário passarem uma hora de adoração e íntima união comigo, lhes prometo o Céu.

É para honrarem pela Eucaristia as minhas santas Chagas, honrando primeiro a do meu sagrado ombro tão pouco lembrada.

Quem isto fizer, quem às santas Chagas juntar as dores da minha Bendita Mãe e em nome delas nos pedir graças, quer espirituais, quer corporais, eu lhas prometo, a não ser que sejam de prejuízo à sua alma.

No momento da morte trarei comigo minha Mãe Santíssima para defendê-lo

A prática desta Devoção está totalmente fundamentada na Santa Missa, Comunhão e Adoração. Jesus quis por este pedido e promessa trazer o maior número possível de almas até à Sua presença nos Sacrários.  

Longe do Céu, longe de Jesus estão todos os que estão longe do sacrário.

Eu quero almas, muitas almas verdadeiramente eucarísticas.

O sacrário, o sacrário, oh, se fosse bem compreendido o sacrário!

O sacrário é a vida, o sacrário é o amor, o sacrário é a alegria e a paz.

O sacrário é lugar de dor, é lugar de ofensas, é lugar de sofrimentos: o sacrário é desprezado, o Jesus do sacrário não é compreendido! (11-09-1953) 

Jesus faz uma ligação muito importante entre a Virgem Maria e a Adoração à Sua Presença Real nos sacrários: elas são imprescindíveis para se viver uma vida na graça de Deus. 

Estou ali no sacrário naquela Hóstia pura, em Corpo, Alma e Divindade (...)

Venham com os seus corações puros, muito puros e sequiosos!

Se vierem ao sacrário nas devidas disposições e rezarem o Rosário, ou uma parte dele, todos os dias, de mais nada mais é preciso para que se afaste a justiça de Deus.

O Rosário, o sacrário e as minhas vítimas, a vítima deste Calvário, são o suficiente para que ao mundo seja dado o perdão e a paz.

Quem vem ao sacrário vive puro.

Quem vive à sombra de minha Mãe bendita, vive da sua pureza.

E assim a humanidade vive a vida nova, pura, santa, neste quartinho tantas vezes recomendada por Mim. (10-12-54) 

Jesus tinha prometido a Beata que não permitiria que ela ficasse sem receber a Santíssima Eucaristia, pois Ele mesmo ou o Anjo da Guarda de Alexandrina traria a Santa Comunhão. 

— Vou dar-Me agora a ti na Eucaristia. Como prova de que és a minha verdadeira crucificada, prometo-te, minha filha, não deixar-te sexta-feira nenhuma sem Me dará ti sacramentado, ou pelas mãos dos meus discípulos, ou pelos meus anjos, ou mesmo como agora vou fazer.Tomou Jesus em Suas Saníssimas Mãos uma hóstia e disse:

— Corpus Domini Jesu Christi: sou Eu sacramentado, sou a tua vida e teu alimento.

Pede-Me agora o que quiseres. Confias que sou Eu?

— Confio, porque confio na vossa palavra, não por me pareceres aquele Jesus cheio de luz e amor.

Jesus, peço-Vos para ser santa, como Vós o quereis, se o quereis.

Peço-Vos para amar-Vos tanto como o vosso Divino Coração deseja.

Peço-Vos para não Vos ofenderem gravemente todos os que me são queridos e me pertencem.

Peço-Vos para não Vos ofender.

Deixai-me entrar com todos no vosso Santíssimo Coração e lá viver e morrer.

Deixai-me entrar com o mundo inteiro, para que ele seja salvo. (14-09-45) 

Noutro momento, é o Anjo da Guarda juntamente com S. Miguel e S. Gabriel que levam até Alexandrina o Corpo do Senhor. 

— Minha filha, esposa querida, vais agora receber-Me pelas mãos do teu Anjo da Guarda. Vem ao seu lado o S. Miguel Arcanjo e o Anjo S. Gabriel; atrás deles seguem-nos uma grande multidão deles. Prepara-te; descem do Céu.

Só disse: “Senhor, eu não sou digna, ...”

Vínhamos três Anjos, como disse Jesus, e pararam à minha frente. O do meio com a Sagrada Hóstia nas mãos; os dos lados alumiavam e cobriam o do meio, o que trazia Jesus, com uma umbela rica. A multidão deles não cantavam, mas de mãos levantadas, cabeças inclinadas, num profundo recolhimentos, diziam:

— Glória, glória ao nosso Deus, ao nosso Rei, ao nosso Amor!

A Ti glória, a Ti glória, Jesus, nosso Deus e Senhor!

Isto era em tom de quem reza e não de quem canta.

Inclinou-se para mim o Anjo; eu estendi-lhe a língua e ele ao dar-me Jesus não principiou pelas palavras do costume, mas sim:

“Viaticum Corporis Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam.

Desapareceram com a mesma reverência, no mesmo silêncio com que tinham aparecido em volta de mim. E toda a multidão de Anjos batia as suas asinhas brancas e pronunciavam as mesmas palavras.

Vi-os seguir: tudo era luz. Fiquei mergulhada em amor, numa intimidade com Jesus; parecia-me inseparável dele. (04/04/1947)

05 – NA CRUZ COM CRISTO

A Beata Alexandrina, pelo seu próprio sofrimento, uniu sua vida aos Sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, o Seu Amado queria que ela estivesse com Ele desde a Agonia no Horto das Oliveira até o Monte Calvário.

Em 1934, Jesus falou à Beata que a queria crucificada com Ele:

Dá-me as tuas mãos, que as quero crucificar; dá-Me os teus pés, que os quero cravar comigo; dá-Me a tua cabeça, que a quero coroar de espinhos, dá-Me o teu coração que a quero trespassar com a lança, como Me trespassaram a Mim. Consagra-Me todo o teu corpo; oferece-te toda a Mim! 

Contudo somente a 03 de Outubro de 1968 Alexandrina revive em seu próprio corpo a Paixão de Nosso Grande Deus e Senhor Jesus Cristo. Quando revivia a Paixão, Alexandrina, mesmo paralisada na cama desde 1925, em êxtase, levanta-se, prostra-se completamente no chão com os braços erguidos. Depois de um tempo levanta-se ajoelha-se e ergue os olhos ao céu e abre os braços, repete por três vezes este sinal. Neste momento revive a Suprema Angústia de Jesus no Horto, ouve-se alguns gemidos e soluços. Algumas pessoas assistiram no decorrer dos anos estas cenas e choravam muito. Era perceptível o momento da traição de Judas e da prisão de Jesus. Andando ou arrastando-se pelo quarto repetia as palavras que Jesus falou a Pilatos. Durante a flagelação, a Alexandrina ficava de joelhos apoiada na cama e algumas vezes caia no chão, ficava completamente molhada de suor. Em seguida recebe a Coroa de Espinhos, o que torna visível as dores que sente na cabeça.

No momento de carregar a Cruz, a Alexandrina anda vagarosamente pelo quarto, carregando um imenso peso às costas. Caía, exatamente três vezes, com grande força, tanto que chegava a machucar os joelhos. Também se percebia um certo alívio, no momento em que era ajudada pelo Cireneu. Depois de um tempo a caminhar, deitava-se ao chão, com os braços abertos – era a hora da crucifixão. Percebia-se o momento que os pregos perfurarem os seus pulsos e os seus pés. Após este momento a Beata levantava e fica na posição de Cruz, permanecendo assim por um certo tempo, até quando, prostrada, exclamava: “Pai, em tuas mãos eu entrego o Meu Espírito”.

Estas cenas se repetiram de 1938 até 27 de Março de 1942. A partir desta data, a Alexandrina continuou a reviver a Paixão de Nosso Senhor, só que não mais visivelmente com todas estas cenas e sim deitada na sua cama em êxtase. Destes momentos temos muitas referências nos escritos de Alexandrina.  

Esta manhã saí da prisão e, por horas, percorri muitas estradas, desfalecida, caindo aqui e ali: Ficava com o rosto em terra e a terra fechava os meus lábios sufocando os gemidos da minha dor.

Sentia chegarem-me de longe as zombarias de escárnio e satisfação.

Com quanta fadiga subi o calvário!

Lá em cima tiraram-me as cordas que tinha ao pescoço e à cintura. Que dores!

Estavam cravadas na carne, embebidas de sangue.

No arrancá-las deixaram-me no corpo a que estavam coladas sinais de grandes feridas.

Custou-me muito ser despida em público: Com as vestes levaram-me pedaços de carne.
Não os olhos do corpo mas os da alma viam que com a espada cortavam as vestes para distribuí-las. A alma sentia tudo.

Com os olhos ao céu, aterrorizada pelas trevas e abandono, ouvi sair muitas vezes do coração este grito:

Pai, Pai, não desvies de mim o teu Rosto; não afastes de mim o teu olhar! Os meus olhos, mergulhados nas trevas, não podiam ver nada; havia neles outro olhar que via tudo.

Viam, através dos tempos, o sofrimento que até ao fim do mundo devia ferir um Coração que estava vizinho do meu. Aquele coração sentia toda a ingratidão do mundo.

As orelhas tinham outro ouvido para ouvir os insultos, as maldades, os delitos de todos os tempos. Ondas contínuas se levantavam no mar imenso do sofrimento.

No meu corpo sentia Jesus:

Era Ele o crucificado, era Ele que do alto da cruz contemplava a Mãezinha numa agonia de dor e murmurava:

Mãezinha, Mãezinha, até tu me serves de martírio: a tua dor aumenta a minha; nem tu me podes dar consolo.

Parecia-me que o coração e a alma fossem despedaçados pelas punhaladas. (04/05/45) 

A união mística entre Jesus e a Beata Alexandrina se deu por seu amor incondicional à Santíssima Eucaristia, mas também pela união no sofrimento e na Paixão. Sua Santidade o Papa João Paulo II, de santa memória, assim resumiu a vida da Beata:

A vida da beata Alexandrina Maria da Costa pode resumir-se neste diálogo de amor. Permeada e ardorosa desta ânsia de amor, não quis negar nada ao seu Salvador: forte de vontade, aceita tudo para lhe demonstrar que o ama. Esposa de sangue, revive misticamente a paixão de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a força da Eucaristia que se torna o seu único alimento nos últimos seus treze anos de vida.

Contudo, o Santíssimo Esposo deu à Beata Alexandrina uma grande prova de Seu amor: uma Gota do Seu Precisíssimo Sangue. Segundo S. Tomás de Aquino e S. S. Clemente IV, uma só Gota deste Precioso Sangue bastaria para salvar o mundo de toda a culpa. À Beata Aelxandrina, segundo o próprio Jesus, foi a primeira alma a receber uma Gota do Seu Sangue, desta forma tão extraordinária. 

Venho depressa, minha filha, a dar-te a vida : só recebendo-a de Mim poderás viver. E para que vivas opero um milagre.

Vou dar-te mais três gotas do Meu Sangue divino: é com ele que tu vives.

Vou fazer esta transformação sagrada, transformação divina: transformar-Me em ti, transformar-te em Mim.

És o fontanário das almas. É este sangue o maná que lhes preparo, o maná que vem do Céu. Dá-o, dá-o ao mundo: é este sangue o sangue da pureza, o sangue da nova geração. O sangue de Cristo, o sangue da Minha esposa e virgem.

Estudem, estudem os doutores da Igreja, estudem os sábios; repito: estudem os doutores e sábios das ciências divinas.

Que maravilhas, que prodígios opero na tua alma! Que riquezas dou por ti ao mundo, ao mundo que é meu, ao mundo que é teu, porque to confiei! (02/11/1945) 

Este fenômeno místico, no qual a Beata recebe o Sangue de Cristo, será repetido muitas outras vezes: 

Dar-te-ei o meu Sangue gota a gota, assim como gota por gota o dás por Mim e pelas almas”. (29-6-45)

 Recebe-o antes que percas todo o sangue que tens em tuas veias.

Quero sempre esta mistura: o sangue da vítima deste Calvário (o lugar de Balasar onde vive Alexandrina), da maior vítima da humanidade, com o sangue da Vítima do Gólgota, de Cristo redentor. Assim tens todo o poder e tudo vencerás. (19/10/45) 

O próprio Cristo menciona que teria guardado tal particularidade mística para a maior vítima da humanidade.  

Vou dar-te a gota do meu divino Sangue, a maior prova do meu infinito amor, a maior de todas as maravilhas, a maravilha única, que tinha destinado de dar à maior vítima da humanidade, a quem confiei a missão mais sublime. (13/02/1948)

Recebe agora esta gota do Meu divino Sangue,

a vida que vives

a vida com que dás as vidas,

a vida de prodígios e de maravilhas,

a vida que a nenhuma outra vida foi igualada.

És a primeira alma a quem desta forma dei o meu Sangue. 

Alexandrina, também tinha recebido os estigmas, mas de forma escondida, pois tinha pedido a Jesus que eles não ficassem visíveis. Sobre estas chagas escondidas o próprio Jesus falou: 

Pouco depois, de todas as suas Chagas divinas saíram raios que me vinham trespassar os pés e as mãos! Da sua sacrossanta cabeça para a minha passava-se também um «sol» que me trespassava todo o cérebro.

Falando do primeiro clarão e raios que saíam do seu Divino Coração, disse Jesus com toda a clareza:

— Minha filha, à semelhança de Santa Margarida Maria, eu quero que incendeies no mundo este amor tão apagado nos corações dos homens.

Incendeia-o, incendeia-o!

Eu quero dar, Eu quero dar o meu Amor aos homens!

Eu quero ser por eles amado. Eles não mo aceitam e não Me amam.

Por ti quero que este amor seja incendiado em toda a humanidade, assim como por ti foi consagrado o mundo à minha Bendita Mãe.

Faz, esposa querida, que se espalhe no mundo todo o amor dos nossos Corações!

— Como, Jesus? Como trabalhar dessa forma?! Se ele não é aceite por Vós, como hão-de os homens recebê-lo por mim?

— Com a tua dor, com a tua dor, minha filha! Só com ela as almas ficam agarradas às fibras da alma e depois se vão deixar os corações incendiar no meu amor.

Deixa que estes raios das minhas Chagas divinas vão penetrar nas tuas chagas escondidas, nas tuas chagas místicas. (01/10/1954)

 

06 – A DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM
           E A CONSAGRAÇÃO DO MUNDO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA.

 

A Beatíssima Virgem estava muito presente na Vida da Beata Alexandrina; pode-se afirmar que Alexandrina teve dois grandes amores: Jesus Eucarístico e a sua Mãezinha (era assim que se referia a Nossa Senhora). Diversas são as orações e poemas à Virgem tributados. A maioria das suas orações a Jesus é encerrada em união com a Virgem Maria. Vivia, principalmente no mês de Maio, uma profunda intimidade com Maria: era o mês mais feliz do ano! A própria revelação de Jesus à Alexandrina confirma uma intima unidade entre a devoção à Virgem através do Rosário e a Adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar.

Se vierem ao sacrário nas devidas disposições e rezarem o Rosário, ou uma parte dele, todos os dias, de mais nada mais é preciso para que se afaste a justiça de Deus.

Jesus confiou à Alexandrina a missão de acender no mundo a Adoração ao Santíssimo Sacramento e a Consagração ao Imaculado Coração de Maria.

Somente por Ela (Virgem Maria) o mundo poderá ser salvo, e se o mundo fizer penitência e se converter. Ela é a Minha Rainha, Rainha do céu e da terra. (25/04/1938)

Veja-se um dos seus belos sobre a sua “Mãezinha”, que tem a forma de carta:

Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!

Ave Maria, cheia de Graça!

Eu Vos saúdo, ó Cheia de Graça!

Soberana Rainha do Céu e da Terra, Mãe dos pecadores,

Eu, a mais indigna de todas as Vossas filhas,

Vos agradeço de todo o coração,

Ó Santa Mãe de Deus,

Por terdes consentido que o meu Amabilíssimo Jesus

Encarnasse em Vossas puríssimas entranhas

Para redenção da Humanidade.

Sim, minha Mãezinha, encarnar, nascer,

Viver trinta e três anos no mundo,

E por fim morrer numa cruz

Pelos miseráveis filhos de Eva!...


Entenda quem puder tantos excessos de Amor, que eu por mim só tenho que confundir-me e lamentar este meu pobre coração, por não ter correspondido a tanta bondade dos meus dois queridos Amores, Jesus e Maria!

A mais indigna das Vossas filhas.

O seu amor a Santíssima Virgem ocorreu de maneira tão bela que a Virgem Maria, no dia 02 de Dezembro de 1944, lhe entregou o Seu Santíssimo Manto:

Aceita o meu santíssimo Manto, aceita-o... Podes cobrir com o meu manto o mundo inteiro, chega para todos. Aceita a minha coroa... És rainha.

Para a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, solicitada à Beata por Jesus, contou com a ajuda do seu primeiro diretor espiritual, o sacerdote jesuíta Pe. Mariano Pinho, que mais tarde veio para o Brasil. A empreitada não era fácil: por ela a Alexandrina viveu visivelmente a Paixão de Cristo.

No dia 30 (de Julho), depois da sagrada Comunhão... ouvi que Ele (Jesus) me chamava:

— Minha filha... manda dizer ao teu pai espiritual que... assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim o peço a ti para que seja consagrado a Ela (“Virgem sem mancha de pecado”) com uma festa solene.

O Pe. Mariano Pinho, sempre com os pés bem assentes, leu atentamente a carta, mas esperou. Um ano depois, em fins de Agosto de 1936, teve de pregar um tríduo em Balasar. Volvidos poucos dias após o seu regresso a casa, recebe uma carta da Alexandrina, datada de 10 de Setembro, em que lhe é transmitido novo recado de Jesus :

— Manda, filhinha, já dizer ao teu pai espiritual que espalhe já, que faça chegar aos confins do mundo que este flagelo (a revolução comunista em Espanha —  anota o Pe. Pinho) é um castigo... Eu vou dizer-te como será feita a consagração do mundo à Mãe dos homens e minha Mãe Santíssima. Amo-A tanto! Será em Roma, pelo Santo Padre, consagrando a Ela o mundo inteiro e depois pelos Padres em todas as igrejas do mundo, sob o título de Rainha do Céu e da terra, Senhora da Vitória. Se o mundo corrompido se converter e arrepiar caminho, Ela reinará e a vitória por Ela será ganha. Vai, minha filha, não haja receios que os meus desejos sejam cumpridos.

Se, à distância de todo este tempo, examinarmos o comportamento de Pio XII no tocante a este assunto, veremos como ele se ateve fielmente a estas indicações de grande importância pastoral. Para além da consagração do Mundo a Maria, efectuada em 1942, aquele grande Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Rainha em 31 de Maio, ou seja, na conclusão de um mês de pregações então muito seguido pelos fiéis. Também decretou que, por essa ocasião, todos os sacerdotes renovassem a consagração do mundo a Maria.

E pena que estas sábias disposições pastorais tenham sido abolidas.

Primeiros passos junto do Cardeal Pacelli

As primeiras respostas às palavras ouvidas durante os êxtases da Alexandrina foram imediatas. O Padre Mariano, que já reflectia havia um ano e rezava por esta comunicação celeste, a 11 de Setembro de 1936 escreveu uma breve carta ao então Secretário de Estado, o Cardeal Pacelli, expondo sucintamente aquilo de que se tratava. De Roma, imediatamente pediram informações sobre a Alexandrina ao Arcebispo de Braga. As informações foram boas e muito exactas, pois que o Arcebispo se valeu para o efeito do auxílio do Pe. Pinho. Depois, a Santa Sé mandou um seu representante, como já dissemos, o P.e Paulo Durão, Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, que encarregou o seu irmão, Padre António, também Jesuíta, do desempenho dessa missão.

A visita à Alexandrina realizou-se no dia 21 de Maio de 1937 e vem descrita na autobiografia da Serva de Deus. A impressão colhida pelo Pe. António e transmitida para o Vaticano pelo irmão, Pe. Paulo Durão, foi óptima.

Decorrido quase um ano, na noite de 24 para 25 de Abril de 1938, a Alexandrina ouviu Nosso Senhor segredar-lhe:

Atenta ao que te vou dizer, para que se não perca nenhuma palavra. O teu pai espiritual é boa testemunha da angústia que te fiz passar. Diz-lhe que escreva ao Santo Padre, que Eu quero a consagração do mundo à minha Imaculada Mãe.

Nesse instante, a Alexandrina teve a visão de grandes ruínas. E a voz acrescentou:

O que vês é o castigo que está preparado para o mundo... Só por Ela poderá ser salvo e se fizer penitência e se converter.

Movimenta-se o Episcopado português

O Padre Pinho escreveu pela segunda vez ao Cardeal Pacelli no dia 9 de Fevereiro de 1938, sem imaginar que estava muito próxima a ascensão do Cardeal ao Pon­tificado. Entretanto, aproveitou uma outra ocasião que podemos considerar como historicamente decisiva. Em princípios de Maio de 1938, foi encarregado de pregar os Exercícios Espirituais aos Bispos portugueses, reunidos em Fátima. Teve assim a oportunidade de lhes falar também da Alexandrina e do pedido de Jesus. A sua palavra foi tão convincente que o Episcopado português, no fim dos Exercícios, dirigiu colegialmente um pedido oficial ao Papa, a fim de obter a consagração de Maria (a súplica tem a data de 13 de Maio de 1938).

À procura de “Sinais”

Mas parecia que tudo isso não fosse suficiente. Falámos do Pe. António Durão, que em 1937 tinha ido examinar a Alexandrina por mandato da Santa Sé. Através do seu irmão Pe. Paulo, Provincial dos Jesuítas em Portugal, sabemos que o bom êxito da visita não convenceu. Pretendia-se um sinal exterior que autenticasse a origem sobrenatural das locuções interiores e, particularmente, do pedido da Alexandrina. Este sinal foi dado pela Paixão revivida todas as Sextas-Feiras, desde o dia 3 de Outubro de 1938 até ao dia 27 de Março de 1942, exactamente durante o período em que ama­dureceu a ideia e se decidiu fazer a consagração. Durante um êxtase, no primeiro ano, Jesus tinha dito a Alexandrina:

“Eu quero a consagração do mundo à minha Mãe Imaculada... E por isso que te faço sofrer assim, e tens de sofrer muitas vezes isto, até que ele (o Papa) o consagre”.

Carta aos Papas

Quando começaram os fenómenos da Paixão (3.10.38), o Pe. Pinho informou directamente o Santo Padre Pio XI, através duma carta datada de 24 de Outubro desse mesmo ano. Depois escreveu ainda outra, desta vez a Pio XII, no dia 31 de Julho de 1941. Já a sua primeira carta tinha obtido um resultado: a Santa Sé decidira proceder a um novo exame sobre a Alexandrina. Foi dele encarregado o Cónego Manuel Pereira Vilar, Reitor do Seminário de Braga, depois Reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma. Em Janeiro de 1939, o Cónego Vilar interrogou a Alexandrina, conforme ela própria narra na autobiografia. Depois do colóquio, ele quis assistir ao fenómeno da Paixão. Naquela ocasião, nos êxtases que habitualmente se seguiam, Jesus repetiu o Seu desejo de que o mundo fosse consagrado a Sua Mãe.

A impressão que o Cónego Vilar colheu dos vários encontros com a Alexandrina foi óptima. Fez sua a causa e, a partir daquele momento, não hesitou em prodigalizar-se para que acreditassem na “crucificada de Balasar” e se chegasse à consagração pedida. Transferido para Roma, procurou falar pessoalmente com o Santo Padre. Não o tendo conseguido imediatamente, enviou ao Papa toda a documentação que tinha preparado na sua missão de inquérito a respeito da Alexandrina e do pedido de Jesus. Infelizmente, a saúde não o ajudou e não pôde ver realizado o que tinha sido também um sonho seu. Regressado a Portugal para ser tratado num hospital do Porto, veio a falecer de cancro em 1941.

Ao morrer Pio XI, a Alexandrina afirmava com toda a segurança que o novo Papa seria o Cardeal Pacelli. Depois, imediatamente após a eleição de Pio XII, teve a confirmação disso da parte do Céu:

“Este é o Papa que fará a consagração” (20 de Março de 1939).

Chegou-se finalmente a 1942, o ano da consagração e um dos anos mais dolorosos da vida da Alexan­drina. Ela, em Janeiro, recebe a visita de despedida do P.e Mariano Pinho, transferido pelos seus Superiores para o Brasil. A Alexandrina continuará a esperar durante todo o resto da vida, mas em vão, de voltar a tê-lo como seu guia espiritual. No dia 27 de Março, a enferma revive pela última vez a Paixão, acompanhada por movimentos externos. Até ao fim da sua vida continuará a vivê-la, mas sem manifestações visíveis, de tal modo que os presentes que a não conhecessem bem não se apercebiam de nada.

Nesse mesmo dia, teve início um novo prodígio: o jejum total, acompanhado por uma anúria completa. A partir de então, nunca mais poderá comer nem beber nada, embora sinta fortemente os estímulos da fome e da sede. Somente poderá receber a comunhão, que se tornará o seu único alimento do corpo, além de ser o alimento da alma. No dia 3 de Abril, Sexta-Feira Santa, começa a sofrer as dores da segunda morte mística, que durarão cerca de dois anos.

A consagração

Como recompensa de tantos sofrimentos, a 22 de Maio desse ano (1942), Nosso Senhor anuncia-lhe:

Glória, glória, glória a Jesus!

Honra, honra e glória a Maria!

O coração do Papa, o coração de oiro está resolvido a consagrar o mundo ao Coração de Maria!

Que grande dia e alegria para o mundo, pertencer mais que nunca à Mãe de Jesus!

Todo o mundo pertence ao Coração Divino de Jesus; vai pertencer todo ao Coração Imaculado de Maria!

Finalmente, no dia 31 de Outubro, todo o mundo pôde ouvir a radiomensagem através da qual, em língua portuguesa, Pio XII consagra o mundo ao Coração Imaculado de Maria. A mesma fórmula da consagração será depois repetida, em língua italiana, na Basílica de S. Pedro, no dia 8 de Dezembro seguinte. A Alexandrina soube da notícia imediatamente, por um telegrama que o Pe. Pinho lhe enviou de Fátima, onde se encontrava naquele dia juntamente com os Bispos portugueses, com muitos sacerdotes e uma grande multidão de povo. Foi, de facto, um dia muito feliz para ambos.

Mas não esclareceremos completamente este assunto se não acenarmos a um facto que interveio e que pôde encorajar ainda mais a tomada de decisão pontifícia. Lúcia de Fátima estava a desempenhar a missão que o Céu lhe tinha confiado. Em 1917, Nossa Senhora tinha-lhe dito: “Virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração”. Manteve esta promessa aparecendo a Lúcia em 1929, em Tuy, onde ela se encontrava nessa altura: “Chegou o momento em que Deus pede que o Santo Padre faça, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado, prometendo salvá-la por este meio”. A partir daquele momento, a Irmã Lúcia escreveu muitas cartas e fez tudo o que estava ao seu alcance para dar a conhecer e realizar os desejos da Virgem, mas com pouco sucesso.

Note-se bem esta diferença: à Irmã Lúcia tinha sido confiada a mensagem de pedir a consagração somente da Rússia e não do mundo. Portanto, a isso se limitou o pedido da vidente de Fátima. Quando, em 1938, a seguir à pregação do Pe. Pinho, o Episcopado português pediu ao Papa a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, estava presente e apoiante também o Bispo titular de Gurza, D. Manuel Ferreira da Silva, que, na altura, era confessor da Irmã Lúcia. Este informou a sua penitente do pedido dos Bispos —  que tinha probabilidades de ser atendido —  e aconselhou-a a juntar a sua súplica à deles. (Gabriele Amorth, Por detrás de um sorriso, Ed. Salesianas, Porto, 1994, pp. 75-85)

 

07 – ALEXANDRINA E OS “PREDILETOS DO REINO”

 

Mesmo sendo de uma família bastante simples, e algumas vezes passando por sérios problemas de subsistência, a Beata Alexandrina tinha um coração completamente sensível aos irmãos mais pobres. Escreveu em 1948, que queria percorrer todo o mundo para ajudar os que mais sofrem:

Queria percorrer o mundo para enxugar todas as lágrimas, consolar todos os aflitos, vestir todos os nus, saciar todos os famintos.

Queria difundir na humanidade inteira, nos corpos e nas almas, a caridade de Cristo.

Ó santa caridade do meu Senhor, como tu és bela, quanto tu podes alegrar e consolar o meu Jesus! (12-02-48)

Eu queria ser bálsamo para todas as feridas, consolação para todas as tristezas, conforto para todos os desalentos, alimento para toda a fome, agasalho para todo o frio, remédio para todo o mal.

Eu não sou ninguém, não sou nada, nada valho. (21-5-48)

Mesmo não podendo fazer “grandes coisas” aos olhos humanos, Alexandrina intercedia por inúmeras pessoas que acorriam ao seu quarto. Para diversas delas conseguiu empregos. Distribuia muitas esmolas a quem chegasse na sa casa, ajudava financeiramente vários pobres, até mesmo com doações mensais. Conseguia quem ajudasse as pessoas que não tinha habitação. Obteve a entrada de diversas crianças e doentes em casas de misericórdia. Facilitou a entrada de crianças em Ordens religiosas para estudarem. No Natal e na Páscoa distribuia roupas e calçados aos necessitados da paróquia. Vestia os órfaos e conseguia madrinhas para os estudantes.

Alexandrina socorreu vários necessitados, espirituais e temporais.

Quero praticar o bem, quero que todos os meus actos levem em si toda bondade e doçura. Não posso saber que os pobrezinhos têm fome e não têm com que se cobrir. Não posso saber que os meus semelhantes estejam em grande aflições, sejam elas quais forem. O meu coração apesar de ser tão mau, sofre, morre por não poder desfazer-se em pão, agasalhos, conforto e alegria, consolação e bálsamo para quantos sofrem. Jesus amo a todos e a todos quero consolar por vosso amor.

 

08 – ATÉ AOS CONFINS DO MUNDO

 

Tu és a missionária de Jesus. Esta missão sublime continuará com maior eficiência, com maior esplendor quando estiveres no Céu. (21-08-53)

Alexandrina faleceu a 13 de Outubro de 1955, na sua casa em Balasar; seu velório e enterro foram dos mais belos de que se recordam na região: milhares de pessoas se vieram despedir daquela que ficou conhecida como a “Doente do Calvário”; até as rosas brancas, símbolo da pureza de Alexandrina, se esgotaram no Porto, para serem trazidas para junto do seu caixão.

A 14 de julho de 1948, Alexandrina escreveu o epitáfio para o seu túmulo:

Pecadores, se as cinzas do meu corpo vos têm utilidade para vos salvardes, aproximai-vos, passai por cima delas, calcai-as até que desapareçam, mas não pequeis mais, não ofendais mais vezes o nosso Jesus.

Pecadores, tantas coisas queria dizer-vos! Não me chegava este grande cemitério para as escrever!...

Convertei-vos! Não ofendais a Jesus, não queirais perdê-Lo eter­namente. Ele é tão bom! Basta de pecar!

Amai-O! Amai-O!

Efectivamente estas palavras encontram-se por sobre o seu túmulo.

Em 14 de Junho de 1946, Jesus fez à Alexandrina esta promessa:

 Vai, louquinha das almas, vai ditar tudo: tens a força divina, tens o Espírito Santo. Vai dá-Lo às almas, vai dar a Sua luz com todas as riquezas que de Mim recebeste.

Prometo-te – confia – que depois da tua morte todas as almas que visitarem o teu túmulo serão salvas, a não ser que o visitem para prevalecer no pecado, abusando da grande graça que por ti lhes dei.

Para todas as que visitarem o teu túmulo se salvarem, necessitam doutras graças, que não são precisas às que o teu leito visitarem, mas por ti lhes serão dadas.

São promessas minhas, sou o teu Jesus: prometo e não falto!”

Alexandrina foi enterrada no cemitério local, com o rosto voltado para a Igreja, onde está Jesus, seu Amado Senhor, pois assim era o seu desejo. Posteriormente, os seus restos mortais foram depositados na Igreja Paroquial de Balasar, onde permanecerão aguardando a Ressurreição da Carne.

Contudo, a Missão de Alexandrina não terminou. Do Céu ela continua a interceder pelos pobres pecadores para que encontrem a conversão e a reparar pelos sacrilégios contra Jesus Sacramentado e, principalmente, guiando almas para se tornarem almas verdadeiramente eucarísticas, conforme lhe pediu Jesus:

Escolhi-te como vítima para tu continuasses a minha obra de redenção.

Pus no teu coração o amor, o amor louco pela Eucaristia.

É graças a ti, é à luz de este fogo que tu deixaste acender que muitas almas, guiadas por esta estrela escolhida por mim, transportadas do teu exemplo, si transformarão em almas ardentes, em almas verdadeiramente eucarísticas.

Pobre mundo, sem a Eucaristia! Pobre mundo, sem as minhas vítimas, sem hóstias imoladas comigo continuamente!

Eu quero, minha filha, diz que eu quero um mundo novo, de pureza, um mundo todo eucarístico. (05-01-52)

Por isto mesmo Jesus prometeu que a vida de Alexandrina seria conhecida por todo o mundo!

Eu quero, logo depois da tua morte, que a tua vida seja conhecida, chegue até os confins do mundo. (20-11-1937)

 

   Wendell Mendonça             

 

 

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