

Bartolomeu dos Mártires
Dominicano, Arcebispo de Braga, Beato
1514-1590
Apresentação
Em 4 de Novembro deste ano de 2001 o
Santo Padre João Paulo II proclamou solenemente Bem-Aventurado D. Frei
Bartolomeu dos Mártires, um religioso dominicano que foi arcebispo de Braga.
Não se trata de uma personalidade
qualquer -- se o fosse, não teria sido proclamado Beato – mas de alguém que
marcou a sua época, quer como membro da Ordem dos Pregadores, quer como Primaz
das Espanhas, quer como interveniente no concílio de Trento.
A sua actividade, a sua palavra e os
seus escritos exerceram grande influência na via da Igreja, projectando-o no
tempo e no espaço.
O presente trabalho tem como objectivo
dar a conhecer aos cristãos de hoje, e não só aos cristãos, quem foi D. Frei
Bartolomeu dos Mártires. Apresenta uma síntese da sua biografia e destaca
aspectos fundamentais da sua personalidade: a austeridade com que sempre viveu,
o amor à Igreja que o levou a empreender uma corajosa e difícil reforma, a
dedicação aos pobres.
1
Biografia
D. Fr. Bartolomeu dos Mártires nasceu na
freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, em Lisboa, no princípio do mês de Maio
(no dia 3?) de 1514. Reinava em Portugal el-Rei D. Manuel I e presidia à Igreja
universal o Papa Leão X.
Filho de Domingos Fernandes e de D.
Maria Correia, começou por ter o apelido de Fernandes Vale. Este, de um dos
avós. Mais tarde adoptou o apelido dos Mártires, em homenagem à igreja onde foi
baptizado.
Em 11 de Novembro de 1528 recebeu das
mãos de Fr. Jorge Vogado, Prior do Convento de S. Domingos de Lisboa, o hábito
da Ordem dos Pregadores, em cujo Instituto professou em 20 de Novembro de 1529.
Logo que terminou o noviciado iniciou os
estudos de Filosofia e de Teologia, defendendo teses nos dois Capítulos da
Ordem, reunidos em Guimarães (1532) e em Lisboa. Aqui, foi escolhido para
professor de Filosofia no colégio fundado na Capital por D. Manuel I.
No Capítulo reunido em Santo Estêvão de
Salamanca foi-lhe conferido o título de Doutor e Mestre em Teologia. Leccionou
durante 28 anos Teologia e Filosofia nos conventos de S. Domingos, no Mosteiro
da Batalha e no Convento de Benfica.
A pedido do Infante D. Luís foi mandado
para o Convento de S. Domingos, de Évora, onde se encontrava a Corte e onde
continuou a leccionar. Teve como discípulos o filho bastardo do Infante D. Luís,
D. António, que veio a ser Prior do Crato; o continuador das Décadas de João de
Barros, Diogo do Couto; os primeiros teólogos da Companhia de Jesus, fundadores
do Colégio de Évora.
Foi mais tarde eleito Prior do Convento
de Benfica, nos arredores de Lisboa, para onde se deslocaram, a fim de
prosseguirem estudos com o Mestre, D. António, Prior do Crato, e Diogo do Couto.
Por morte de D. Fr. Baltasar Limpo, da
Ordem de Nossa Senhora do Carmo, em 31 de Março de 1558, D. Catarina, regente do
Reino na menoridade de D. Sebastião, por conselho do seu confessor Fr. Luís de
Granada, nomeou Frei Bartolomeu dos Mártires Arcebispo de Braga, cargo que,
contra sua vontade, foi obrigado a aceitar pelo Provincial da Ordem, em Capítulo
reunido em 8 de Agosto de 1558. A nomeação foi confirmada em 27 de Janeiro de
1559 por Paulo IV, pela bula Gratiae divinae praemium.
Recebidas as bulas em fins de Agosto de
1559, tomou posse do arcebispado por intermédio do seu procurador Doutor Martim
Salvador Azpilcueta.
Foi ordenado bispo na igreja de S.
Domingos, em Lisboa, em 3 de Setembro e no dia 8 recebeu o pálio das mãos do
arcebispo de Lisboa D. Fernando Vasconcelos de Meneses.
Partiu da Capital no dia 22 de Setembro
e fez a sua entrada solene em Braga a 4 de Outubro. Acompanhavam-no, entre
outros, Fr. João de Leiria, que foi seu Mestre de noviços no convento da
Batalha, e a quem confiou, mais tarde, o governo da Arquidiocese, durante a sua
ausência por ocasião do Concílio de Trento.
Em Janeiro de 1560 iniciou a visita
pastoral aos vários locais da Arquidiocese, regressando a Braga no princípio da
Quaresma. Tenha-se em conta que o arcebispado de Braga era muito maior do que
hoje e que as deslocações se faziam numa mula.
Em 24 de Março de 1561 partiu para
Trento, onde chegou em 18 de Maio, a fim de participar no Concílio com que a
Igreja Católica respondeu à reforma protestante. Aí desempenhou um papel de
grande relevo. Terminado o Concílio saiu de Trento em 8 de Dezembro de 1563,
montado numa mula que Pio IV lhe oferecera, tendo entrado na Arquidiocese por
Freixo de Espada à Cinta. Chegou a Braga, como que em segredo, na tarde de
sábado, 26 de Fevereiro de 1564, e no dia seguinte, segundo domingo da Quaresma,
inesperadamente, apareceu a pregar na Catedral.
A partir de então o grande trabalho do Arcebispo foi a aplicação das Reformas
decididas em Trento, o que não foi fácil.
Por ocasião das alterações políticas surgidas após a morte do Cardeal Rei D.
Henrique, em 31 de Janeiro de 1580, D. Frei Bartolomeu dos Mártires chegou a
refugiar-se em Tui, onde adoeceu gravemente. Regressado ao País, participou em
16 de Abril de 1581 nas Cortes de Tomar, perante as quais Filipe II de Espanha
prestou juramento como Rei de Portugal, e no fim destas solicitou ao Monarca a
sua renúncia ao Arcebispado de Braga, que foi aceite. Tinha 67 anos e
encontrava-se, escreve Mons. Ferreira, exausto, esgotado, velho, doente e falho
de memória.
Enquanto a renúncia não foi confirmada
por Gregório XIII, prosseguiu a visita pastoral à arquidiocese, que governou
durante 22 anos, de 1559 a 1581.
Quando se encontrava em visita pastoral,
em 23 de Fevereiro de 1582, foi informado de que já tinha sucessor, D. João
Afonso de Meneses (1581-1587). Nesse mesmo dia recolheu ao Convento de Santa
Cruz, em Viana do Castelo, que tinha fundado naquela Cidade.
Apercebendo-se do fim da vida terrena,
em 7 de Julho de 1590, fez testamento:
«Eu o Arcebispo D. frei Bartolomeu quero
e ordeno que levando-me Nosso Senhor para si, meu corpo seja sepultado neste
mosteiro de Santa Cruz de Viana que eu fundei. E declaro que faço pura e
irrevogável doação inter vivos a este mosteiro dos meus livros e dos meus móveis
que tenho e assim de tudo o que me pertencer e tiver vencido até o tempo do meu
falecimento».
Veio a falecer pouco depois, em 16
daquele mês e ano, com 76 anos de idade e dois meses. Quis levar consigo um anel
que Pio IV lhe dera, antes de regressar do Concílio de Trento.
Foi sepultado na capela mor do referido
convento, do lado da Epístola. Para impedirem que trouxessem o cadáver para
Braga ficaram na igreja, por ordem da Câmara de Viana, «trinta homens armados e
tantos continuaram depois muitos dias sem faltar momento de dia nem de noite
revezando-se ordenadamente com suas armas na mão como em auto de guerra. Até que
o Prior e Padres pediram à Câmara quisessem escusar o trabalho».
Em 24 de Maio de 1609 foi trasladado
para um túmulo alto de mármore, do lado do Evangelho, no qual foi posto o
seguinte epitáfio, escrito em latim:
Aqui jaz Fr. Bartolomeu dos Mártires,
natural de Lisboa, Religioso da Ordem de S. Domingos, Primaz das Espanhas, Adão
três vezes grande, o qual sendo tirado da sua cela para a Sede e Arcebispado de
Braga, assim foi em sua opinião forçado e violentado, como se o arrancaram donde
tinha cetro e reinado, para ir ser crucificado. E tendo por mercê de Deus
alcançado em segundo lugar aquela graça de bem governar a Igreja, que os
Apóstolos somente tiveram em primeiro, e com tanta abundância, que resplandeceu
entre os homens, como o Sol entre as pequenas estrelas, do que nasceu ser amado
dos Sumos Pontífices, respeitado e amado dos Padres do Concílio Tridentino.
Vendo-se entrado em dias deixou de sua vontade a dignidade e tornou a povoar
alegremente uma cela, que escolheu neste Convento que ele tinha edificado, na
qual passou o restante da vida, amado de Deus e dos homens. E vivendo em
contínuo trato com o Céu por meio de altas considerações e arrebatamentos de
alma, foi levado a ele dentre os braços e ósculos do Senhor, com mágoa dos pobre
e dos Religiosos, aquele que era pai deles, amador da pureza, mártir em desejos,
em profissão de letras. Doutor e mestre, sal da terra, tocha acesa e cheia de
luz, como espelho e treslado de verdadeiros Bispos e entre todos como a banha e
grossura apartada da carne (Ecles. 47). Viveu 76 e entrado em 62 de hábito e 32
de Arcebispo e cumpridos 8 depois que tornou para a Ordem, faleceu no Senhor de
1590 aos 16 de julho. Requiescat in pace. Amen.
Por ocasião da renúncia ao Arcebispado
foi-lhe fixada uma pensão anual de mil cruzados.
2
Divisa
Ao entrar na Ordem de S. Domingos,
Bartolomeu dos Mártires tomou por divisa Ardere et Lucere. Nolite conformari
huic saeculo.
Ardere: arder em amor por Deus e pelos
homens.
Lucere: ser luz para todos. Alumiar o
mundo com exemplos e dourinas, guardando-se de o querer comprazer ou conformar
com suas leis (Nolite conformari huic saeculo).
Esta letra, escreve Fr. Luís de Sousa,
«lançava em todos os seus papéis e cartapácios e desta usou depois toda a vida
por divisa junto com a Cruz da Ordem» (de S. Domingos).
3
O Evangelizador
Um dos problemas com que D. Frei
Bartolomeu dos Mártires se confrontou, logo que chegou a Braga, foi o da
ignorância religiosa, quer de sacerdotes quer de leigos. Mal deu início às
visitas pastorais começou a notar «a falta de doutrina, tanto nos doutrinados
como nos doutrinantes, escreve Fr. Luís de Sousa; muitos sacerdotes idiotas
(ignorantes) e poucos idóneos, alguns viciosos e, ainda assim, maus de
contentar...»
Falando no Concílio de Trento, o
Arcebispo dizia: «Ai, e muitas vezes ai, gravíssimos Padres, que vejo e sei que
se dão hoje as igrejas paroquiais como quem dá hortas ou quintas. E daí vem que
não temos quem ensine, quem confesse, nem quem pregue frutuosamente. Por isso
ninguém estuda, ninguém trabalha por saber e geralmente se tem por erro gastar
tempo, vida e fazenda nas Universidades: quando basta servir ociosamente ao
bispo; ou a seu parente sem mais cansar, nem saber, para gozar rendas de grandes
benefícios: quando vale mais a ignorância com poucas onças de favor, que a
ciência e boas letras com grandes pesos de merecimento» (José de castro,
«Portugal no Concílio de Trento, vol. V, pag. 177-178).
Numa localidade de Barroso, por ocasião
da visita que fez à região em 1565, conta Fr. Luís de Sousa, as pessoas
juntavam-se a «recebê-lo pelos caminhos com suas danças e folias rudes, que era
o extremo de festa que podiam fazer. E porque não fossem julgados menos agrestes
que os seus beatos, nas cantigas que entoavam entre as voltas e saltos dos
bailes, publicaram logo o que sabiam do Céu e da Fé.
Que dizia assim: — Benta seja a Santa
Trindade irmã de Nossa Senhora.
Este mote com glosas igualmente
disparatadas repetiam muitas vezes havendo que grangeavam com música santa um
prelado que trazia fama de santo e mostravam fineza de Cristandade».
«Encontrou a um caminhando, chamou-o,
perguntou-lhe quantos eram os mandamentos da Lei de Deus, respondeu
espevitadamente que eram dez.
Mandando-lhe que os declarasse, foi a
resposta levantar as mãos ambas e alargar os dedos, fazendo conta que em mostrar
o número nos dez dedos estava a ciência e nenhuma outra cousa soube o pobre
dizer», lê-se em «A vida do Arcebispo».
Encontrou igrejas que em três meses não
tinham Missa porque «nenhum cura aturava nelas por ser a vivenda intolerável, e
se alguns perseveravam eram tão rudes como os seus fregueses».
Com o intuito de resolver o problema
trouxe para Braga jovens daquelas terras a fim de lhes dar formação.
Logo no início da sua actividade como
Arcebispo estabeleceu no Paço duas lições de Casos de consciência, dadas por
dois Religiosos da Ordem de S. Domingos.
Porque, dada a distância, nem todos os
eclesiásticos as podiam frequentar, encarregou Fr. Diogo do Rosário, seu antigo
condiscípulo, de verter do espanhol para português a Summa dos Casos do Cardeal
Caetano, antigo Mestre Geral da Ordem de S. Domingos.
Ele mesmo compôs, para o povo, um
Catecismo da Doutrina Cristã e Práticas espirituais, a fim de ser lido nas
paróquias, onde não houvesse pregação.
Por provisão de 3 de Novembro de 1564
ordenava aos párocos e capelães que lessem aqueles livros ao povo. Os sacerdotes
ilustrados eram dispensados de fazer a leitura mas deveriam tratar de viva voz
esses ou outros temas.
Pediu também a Fr. Diogo do Rosário que
compusesse um Flos Sanctorum ou História das vidas e feitos heróicos dos Santos
e antes de partir para o Concílio de Trento mandou fazer uma nova edição do
Manual dos Sacramentos.
Ele mesmo redigiu uns sermões breves
sobre as festas principais de Cristo e de Nossa Senhora para se lerem ao longo
do ano.
Por provisão de 27 de Fevereiro de 1561
entregou à Companhia de Jesus, com o intuito de os melhorar, o Colégio de S.
Paulo onde funcionavam os Estudos e, como fonte de rendimento, as igrejas anexas
de Vimieiro, Negrelos e Moledo, no que foi contrariado pelo Cabido mas apoiado
pelo Papa Pio IV. Foi primeiro reitor do Colégio, nesta fase, o Beato Inácio de
Azevedo, que viria a ser martirizado, com trinta e nove companheiros, por
corsários conotados com os calvinistas, em frente das Canárias, em 15 de Julho
de 1570.
De posse do Colégio e com a ajuda do
Arcebispo os Padres da Companhia de Jesus construíram a actual Igreja do
Seminário dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, que do lado da Epístola tem o
brasão de D. Fr. Bartolomeu dos Mártires.
Os Estudos públicos no Colégio,
edificado próximo da Porta de Santiago, da parte de dentro da Cidade, com capela
dedicada a S. Paulo e edifício anexo, tinham começado em 1531, com D. Diogo de
Sousa, que esteve à frente da Arquidiocese entre 1505 e 1532. Foram completados
pelo Infante D. Henrique, Arcebispo de Braga de 1533 a 1540, que trouxe para cá
professores estrangeiros como Clenardo e João Vaseu. Como fontes de rendimento
uniu-lhe as igrejas de Santa Maria de Vimieiro e de Santa Maria de Negrelos. D.
Fr. Baltasar Limpo, da Ordem do Carmo, que governou a Arquidiocese entre 1550 e
1558, uniu ao Colégio a igreja de S. Salvador de Mazedo, do concelho de Monção.
O referido Chegou a ser frequentados por três mil alunos.
Os Estudos naquele estabelecimento
terminaram antes da expulsão dos Jesuítas, em 15 de Fevereiro de 1759, quando o
Regimento de Infantaria de Viana bloqueou o Colégio de S. Paulo, por força de um
decreto de 19 de Janeiro do mesmo ano. (Os Jesuítas foram expulsos do País por
Decreto de 3 de Setembro de 1759).
Depois de incorporadas na Coroa, em 4 de
Julho de 1774, as Casas dos Jesuítas foram cedidas à Universidade de Coimbra,
pelo que o Arcebispado ficou sem os Estudos, e a Mitra, sem os rendimentos das
igrejas por ela aplicados ao património dos mesmos Estudos. E os alunos do
Seminário ficaram sem ter onde poder ir às aulas, pois era ali que estudavam, de
manhã e de tarde, Humanidades — sobretudo Latim —, Filosofia e Casos de
Consciência.
Em 1560 D. Fr. Bartolomeu dos Mártires
lançou os fundamentos do Convento de Santa Cruz, da Ordem de S. Domingos, em
Viana do Castelo, onde veio a falecer. Os Religiosos tinham a obrigação de ir
pregar à Matriz aos domingos e festas de Cristo e de Nossa Senhora e de dar
quotidianamente lições de Casos de consciência, excepto durante quarenta dias de
férias, perto do Outono. Na Quaresma deviam percorrer as paróquias de fora da
cidade, a fim de nelas fazerem sermões.
A formação do Clero foi também uma das
necessidades apontadas pelo Arcebispo de Braga no Concílio de Trento.
«Que aproveitará, perguntou, ser o Bispo
tão sábio e tão santo como um S. Martinho, se os párocos forem inábeis e
destruidores?...»
Regressado de Trento, tratou de
construir o Seminário, que, por resultar de uma decisão do Concilio passou a
chamar-se conciliar e tomou como patrono S. Pedro. O local escolhido foi o Campo
da Vinha de Santa Eufémia. Começou a funcionar em Outubro de 1572 e foi seu
primeiro reitor Fr. João de Leiria.
O Seminário ficava em frente ao Convento
do Salvador, com as traseiras encostadas ao antigo muro da Cidade, que fechava o
quintal ou cerca do Paço Arquiepiscopal, fazendo-se por aí a comunicação entre
os dois edifícios. A fachada principal tinha 63 metros de comprimento e o
edifício era de dois andares.
O Arcebispo anexou ao Seminário três
«benefícios simples e ténues»: S. Clemente do Fujacal, na então freguesia de S.
Vítor; S. Salvador de Bulhente, no concelho de Caminha; Santa Eulália de Trute,
no concelho de Monção.
Na opinião de Fr. Luís de Sousa este foi
o primeiro Seminário que em Portugal e porventura em toda a Espanha se edificou.
O P. José de Castro, porém, (Ob. cit., vol. VI, pag. 9) assevera que o Seminário
Conciliar de Braga foi o primeiro seminário de Portugal e do mundo. Ao contrário
do que afirmam os biógrafos de S. Carlos Borromeu, o seminário de Braga foi
construído antes do de Milão.
O capítulo 18 e último da Sessão 23 de
Reformatione, do concílio de Trento, manda erigir um seminário em cada diocese
para prover à educação dos jovens eclesiásticos. «Todos os que desejam ver a
Igreja reformada concordam nisto, que não há outro remédio, se não criar os
Clérigos como antigamente se criavam, isto é, em Colégios, e encerramentos, e
exercícios de doutrina, e disciplina eclesiástica, e devoção», escrevia o
Arcebispo em carta dirigida de Trento em 9 de Março de 1563 a Fr. João de
Leiria, que na sua ausência tinha ficado à frente da Arquidiocese.
Também aqui D. Fr. Bartolomeu dos Mártires teve de vencer a oposição do Cabido,
a quem «parecia, salvo opinião mais sã, que se devia escusar o dito Seminário,
e, quando a alguém parecesse necessário, devia sustentá-lo à sua custa, e não se
fazer agravo às pessoas do Cabido nem à sua Mesa capitular». (Mons. Cónego José
Augusto Ferreira, «História Abreviada do Seminário Concliar de Braga», pag.
142).
É que, para poder construir o Seminário,
D. Fr. Bartolomeu do Mártires lançou um imposto de 2% sobre todos os rendimentos
líquidos das igrejas e mosteiros do Arcebispado, menos das Comendas da Ordem de
Malta e dos Conventos das Ordens mendicantes, exceptuados pelo Concílio.
Em 14 de Outubro de 1880 D. João
Crisóstomo de Amorim Pessoa, Arcebispo de Braga entre 1876 e 1883, transferiu o
Seminário do Campo da Vinha para o edifício do extinto Colégio de S. Paulo, no
Campo de Santiago, onde esteve até à execução da Lei da Separação decretada pelo
Governo provisório da República em 20 de Abril de 1911. Em meados de Julho de
1911instalou-se no edifício do Seminário, no Largo de Santiago, o Regimento de
Infantaria n.º 29, criado pela reorganização do Exército em 25 de Maio daquele
ano e colocado em Braga por decreto de 8 de Junho. Todavia, as dificuldades
criadas ao Seminário tinham começado com a extinção do Colégio de S. Paulo e com
o Decreto do Governo Liberal de 30 de Julho de 1832 (Idem, pags. 220, 263, 418)
O edifício de Santa Margarida, onde
agora funciona a Faculdade de Teologia, foi construído por iniciativa do
Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos (1915-1932) e concluído no tempo de D.
António Bento Martins Júnior. A primeira pedra foi benzida em 8 de Dezembro de
1928. A inauguração teve lugar em 14 de Outubro de 1934.
Além do Seminário Conciliar, a
Arquidiocese, como é sabido, possui também o Seminário de Nossa Senhora da
Conceição, na Rua de S. Domingos, construído por iniciativa de D. Manuel Vieira
de Matos, que em 27 de Novembro de 1922, para esse efeito, comprou os edifícios
dos extintos Recolhimento de S. Domingos da Tamanca e do Conservatório das Órfãs
do Menino Deus.
4
Um dos Padres de Trento
D. Fr. Bartolomeu dos Mártires foi,
juntamente com S. Carlos Borromeu, seu particular amigo, o que, na linguagem
profana de hoje, poderíamos classificar como uma das grandes estrelas do
Concilio de Trento, convocado por Paulo III em consequência do fenómeno
protestante. A ele se deve a maior parte do decreto sobre a reforma (De
Reformatione), votado na sessão 25.ª de 3 de Dezembro de 1563. Composto por
quarenta e dois artigos, pode considerar-se a essência da reforma tridentina.
Trata da nomeação dos bispos e dos deveres dos cardeais, da organização dos
sínodos e dos seminários diocesanos, da visita da diocese pelo bispo, da reforma
dos capítulos e das ordens monásticas, etc.
Do Prelado bracarense escrevia o Padre
Mestre Frei Henrique de Távora, em carta dirigida ao hoje Beato Inácio de
Azevedo, datada daquela cidade de 3 de Novembro de 1561: «Enquanto ao Senhor
Arcebispo, posso afirmar-lhe que diariamente cresce em luzes e santidade (...)
Adquiriu aqui uma extraordinária reputação. Os bispos admiram-no; os pobres
procuram-no porque aqui, como em Braga, é o pai deles».
A cidade de Trento, no actual norte de
Itália, naquela altura pertencia ao império alemão. Convocado pelo Papa Paulo
III para 15 de Março de 1545, o Concílio abriu oficialmente em 13 de Dezembro
daquele ano, na presença de uns trinta participantes, e encerrou somente no
pontificado de Pio IV (1559-1565), em 4 de Dezembro de 1563, após os
pontificados de Júlio III (1550-1555), Marcelo II (cujo pontificado durou apenas
alguns dias) e Paulo IV (1555-1559).
D. Fr. Bartolomeu dos Mártires saiu de
Braga em 24 de Março de 1561, já no tempo de Pio IV, tio de S. Carlos Borromeu,
montado numa mula.
Pormenores curiosos do que foi a viagem
de ida e volta podem ler-se na citada obra de José de Castro, vol. III pag, 420
e seguintes e vol. V, pag. 408 e sgs.
Iniciou o regresso a Portugal em 8 de
Dezembro de 1563, montado numa outra mula, branca, mais veloz, a Águia, que lhe
oferecera Pio IV. Chegou a Braga após 64 dias de jornada, em 26 de Fevereiro.
Na 5.ª sessão do Concílio, celebrada em
16 de Julho, tratando-se da Comunhão sob as duas espécies e sobre a concessão do
Cálix pedida pelo Imperador, exprimiu D. Fr. Bartolomeu dos Mártires uma opinião
magistral, dizendo que na Alemanha havia quatro categorias de pessoas:
verdadeiros católicos, hereges declarados e obstinados, hereges simulados,
pessoas tíbias ou fracas na Fé. As primeiras não pediam o Cálice e até eram
contrárias a ele; as segundas não se importavam com isso; as terceiras
desejavam-no, para melhor encobrirem a sua heresia e terem as graças do
Imperador, porém a estas se devia recusar, a fim de não lhes fornecerem meios de
ocultar os seus erros; finalmente, aos fracos que pediam o Cálice, porque o
julgavam necessário, também se não deve conceder, sobretudo quando houver a
certeza de que não o pedem por devoção, pois muitos comungam uma só vez por ano.
Que o Pontífice, concluiu, mandasse averiguar da qualidade das pessoas, e depois
determinasse o que fosse mais conveniente à salvação do povo.
Relativamente ao provimento da Igrejas,
lembrou que se distribuíam sem ter em nenhuma conta a salvação das almas, e
propôs que todos os Benefícios fossem dados por concurso.
5
Defensor dos direitos da Igreja
D. Fr. Bartolomeu dos Mártires foi um
grande defensor dos direitos da Igreja. Da Igreja universal e da Igreja
bracarense.
A defesa desta sua Igreja de Braga
levou-o a protagonizar, no Concílio de Trento, dois incidentes originados numa
questão de precedência do Arcebispo de Braga sobre os outros arcebispos não
primazes, embora mais antigos do que ele na promoção. O primeiro, com o
arcebispo de Naxo, o dominicano grego D. Fr. Sebastião Leccavéla, muito mais
antigo na dignidade; o segundo, por causa da reivindicada primazia de Toledo.
O primeiro caso foi facilmente sanado.
Pio IV deu ordens para que D. Fr. Bartolomeu dos Mártires se sentasse à frente
dos outros arcebispos, por ser primaz. (P. José de Castro, Ob. cit., vol IV, pag.
56-58; 100 sgs.)
O segundo foi muito mais complicado e
deu lugar a uma porfiosa batalha diplomática. Tratava-se de dirimir sobre quem
era o primaz das Espanhas, se o arcebispo de Braga se o arcebispo de Toledo.
Aqui o Papa entendeu que não se deveria dar a precedência nem a um nem a outro,
ignorando a disputa de primazias e deixando, neste pormenor, tudo como estava
antes do Concilio. (Idem, pag. 104-132). No Breve Sicut ea, de 31 de Dezembro de
1561, Pio IV escrevia: «Para acabar com toda a matéria de controvérsia que entre
os prelados reunidos pro tempore na cidade de Trento para a celebração do
sagrado, ecuménico e geral Concílio acerca da sua precedência que já tenha
nascido ou possa nascer mais tarde: queremos e mandamo-vos pelo presente mandado
que todos e cada um dos prelados referidos, a saber primeiro os veneráveis
patriarcas, depois os arcebispos e ainda depois os bispos se assentem e tomem
lugar em todos e cada um dos actos públicos segundo o grau, ordem e promoção às
suas igrejas, assim que o primeiro promovido tenha na sua ordem o primeiro
lugar, não se tendo em nenhuma conta as suas dignidades primaciais sejam elas
verdadeiras ou pretendidas e assim trateis de o fazer por nossa autoridade».
Recorde-se que o Cabido de Braga, antes
de o Arcebispo partir para Trento, lhe tinha recomendado que tivesse todo o
cuidado em defender no Concílio as preeminências da sua Igreja, como diz Mons.
J. Augusto Ferreira.
Quando Filipe II de Espanha passou a ser
também rei de Portugal, D. Fr. Bartolomeu dos Mártires participou nas Cortes de
Tomar, reunidas em 16 de Abril de 1581, e foi sobre um Missal, colocado sobre as
mãos do Arcebispo, que o Monarca fez juramento. Para vincar a ideia de que «a
Igreja de Braga estava em posse da Primazia das Espanhas por muitas, mui antigas
e mui jurídicas razões», o Arcebispo sentiu-se «obrigado a levar sua Cruz
Primacial alçada por todo lugar e em todos os autos e solenidades das Cortes».
Porque o Arcebispo era também o senhor
de Braga e dos seus Coutos, não consentiu que neles entrasse uma Alçada enviada
por D. Sebastião em 1570 a visitar o Norte do País. «Não entrou em Braga em todo
o tempo que o Arcebispo a governou nenhum ministro de justiça real, se não foi
com ordem e a requerimento do mesmo Arcebispo».
No que refere aos direitos dos
padroados, escreve Fr. Luís de Sousa, «o Arcebispo de nenhuma maneira sabia
ceder um ponto da sua jurisdição ou fosse adquirida por razão de posse ou
prescrição ou propriedade. Como era cousa em que intervinha qualquer género de
escrúpulo, não havia força que o dobrasse».
6
Hospital de S. Marcos
Um dos primeiros actos de governo de D.
Fr. Bartolomeu dos Mártires consistiu em anexar e unir perpetuamente à Irmandade
da Misericórdia o Hospital de S. Marcos, por o achar menos bem administrado pela
Câmara Municipal. Esta união fez-se por diploma de 19 de Outubro de 1559.
7
Retrato
Frei Luís de Sousa deixo-nos do Prelado
bracarense o seguinte retrato:
«Foi o Arcebispo D. Frei Bartolomeu de
boa e bem proporcionada estatura, maior que meã. Conformava com ela a composição
de todos os membros, cabeça grande, rosto comprido e descarnado; testa larga e
alta, que abria em uma venerável calva, os olhos eram pequenos e sumidos, a
vista em ambos torcida. Este defeito (chamam os latinos aos que o têm Strabores)
não é de natureza. Tinha o nariz proporcionado com o rosto, direito e
moderadamente levantado; a boca grossa e o queixo e beiço inferior um pouco
saído. Destas feições resultava uma certa majestade, que o fazia tão grave e
venerável, que de primeira vista, era de quem o não conhecia julgado por esquivo
e intratável; mas conversado não havia maior brandura: era chão, fácil, humano,
mais do que se pode crer. Era alvo de rosto e antes de chegar à muita idade
inflamado sempre em cor.
Sendo moço era miúdo e delicado de
membros, que se duvidava se aturaria o trabalho da Religião. Com a idade
engrossou e fez-se corpulento e, como se trocara em outro, assim se mostrou
robusto de natureza e forças, sofredor de muito trabalho, de vigias, de estudo e
penitências, que nunca largava.
A compleição era colérica e sanguínea,
de que deram indício muitas doenças que padeceu de sangue mui graves, sendo de
admirável temperança no comer e beber.
Era de engenho subtil, claro
entendimento e firme memória, livre em dizer a cada um o que entendia e (o que é
raríssimo no mundo) sofrido e humilde em ouvir o que cada um lhe dizia de avisos
e advertências; animado em acometer as cousas de sua obrigação, acre e diligente
na execução delas, constante em as levar a cabo, porque nenhuma acometia sem
muito estudo e conselho, parte de verdadeira prudência».
O mesmo Fr. Luís de Sousa sublinhou a
firmeza de carácter do biografado:
«o Arcebispo não sabia negociar com
dobrezes, nem em toda a sua vida foi granjeador disto que chamam aura popular,
quero dizer graça e estimação do mundo».
«Neste nosso Santo, acrescenta, temos
exemplo de tudo porque foi em todas as virtudes abalizado e com extremo
escondedor delas.
Era o Arcebispo tão humilde de coração
que em nenhum tempo se lhe notou acto que cheirasse a soberba ou vanglória.
Quando de palavra era consultado em
algum caso, ainda que fosse daqueles que andava visto e resoluto, respondia que
veria os livros.
O que não fazia como hoje costumam fazer
os letrados ou por crédito da ciência ou por melhor venderem a sua, mas somente
para fugir ao fumozinho da vanglória de sentenciar de repente.
A muitos espantava a igualdade de ânimo
com que levava as apelações de suas sentenças ou mandados para maior poder,
sendo a cousa que tão mal toma qualquer julgadorzinho. E o Arcebispo não só se
não escandalizava, mas com a boca cheia de riso respondia às partes que faziam
acertadamente, porque de suas faltas e ignorâncias achariam eles emenda na mor
alçada.
A um homem que vindo-o visitar entrou
com grandes exagerações de louvores das obras e virtudes com que ilustrava o
Arcebispo e trás esta adoração propôs como acontece no mundo, uma petição de
negócio dificultoso.
Aos louvores se carregou, como outrem pudera fazer a opróbrios e à petição
respondeu secamente por razão do prólogo (Jo. 2):
Omnis homo prius bonum vinum ponit, tunc
deinde quod deterius est, dando-lhe a entender que errara os termos, em oferecer
primeiro o vinho vinagre, que por tal tinha o de seus gabos, e depois o menos
mau da petição, e por isso como ignorante arquitriclino não merecia nada».
8
Beatificação
O Prior do Convento de S. Domingos de
Viana do Castelo promoveu a beatificação de D. Frei Bartolomeu dos Mártires,
requerendo para isso ao arcebispo D. Rodrigo da Cunha uma inquirição sobre a
vida, virtudes e milagres do venerável servo de Deus, inquirição que foi feita
duas vezes, em 1631 e 1635, pelo Prior do Carmo, da mesma cidade de Viana.
Também se trabalhou na causa da
beatificação no governo do arcedbispo D. José de Bragança (1746 e 1748).
Em Agosto de 1863, por ordem do prelado D. José Joaquim de Azevedo e Moura, o
arcipreste de Viana presidiu a uma inquirição de testemunhas que depuseram sobre
os milagres atribuídos à intercessão de D. Fr. Bartolomeu dos Mártires.
De várias graças concedidas por sua
intercessão falam «A Vida do arcebispo» e José de Castro (ob. cit., vol. VI, pag.
36 sgs.; pag. 82 sgs).
Por decreto da Congregação dos Ritos, de
23 de Março de 1845, que pode ser lido na íntegra na citada obra de José de
Castro (vol. VI, pag. 102-105) Gregório XVI confirmou ter D. Frei Bartolomeu dos
Mártires praticado as virtudes em grau heróico, dando-lhe o título de Venerável.
A marcha do processo, escreve José de
Castro (ob. cit., vol. VI, pag. 101) foi lentíssima. Tanto que apenas a 27 de
Agosto de 1819 D. Pedro de Melo Breiner, ministro de Portugal junto da Santa Sé,
mandou a Tomás António Vilanova Portugal esta geladíssima e concisa notícia:
«Terça-feira haverá na presença de S. S. a relação do Processo das Virtudes de
Frei Bartolomeu dos Mártires, depois se procederá ao dos milagres». Só 26 anos
decorridos, João Pedro Migueis de Carvalho mandou dizer a 10 de Abril de 1845 a
José Joaquim Gomes de Castro: «Em 24 do próximo passado Março se declararam
exercitadas em grau heróico as virtudes do Venerável Bartolomeu dos Mártires;
declaração esta que é o passo mais dificultoso que se encontra nas causas de
canonização».
Esta noticia foi dada ao governo
dezassete dias depois.
Em artigo que publicou no «Diário do
Minho» de 26 de Julho de 2001 D. Eurico Nogueira procura explicar o facto de só
agora se proceder à beatificação do Arcebispo Santo. Diz que o processo
informativo de beatificação e canonização, na fase diocesana, iniciou-se poucas
décadas após a morte, em tempo dos Reis Filipes, e desenvolveu-se por várias
etapas, de que recorda algumas.
O primeiro impulso partiu de D. Rodrigo
da Cunha, seu quinto sucessor (1627-1635). D. José de Bragança (1741-1756)
introduziu-o em Roma, passando à categoria de Processo apostólico, com dois
impulsos: 1760 e 1764-66.
Informa que por Decreto episcopal de 21
de Fevereiro de 1989 instituiu em Braga o Tribunal eclesiástico que apreciaria a
cura instantânea de Paula da Costa Madeira Lopes, em 14 de Setembro de 1964
(então criança de nove meses e actualmente professora de ensino secundário,
natural de Guardão – Tondela), filha do Dr. Carlos Alberto Madeira Lopes,
médico, e D. Olímpia da Conceição Costa Madeira, após preces por esta dirigidas
a Deus, por intercessão do Arcebispo Santo, seguindo a sugestão do P. António do
Rosário Sousa Carvalho, O. P., então no Caramulo, em serviço de pregação. A
Conferência Episcopal Portuguesa, por Decreto promulgado na sessão ordinária de
12 de Março de 1999, aprovou o processo diocesano de investigação do milagre
examinado.
Relativamente à morosidade do processo
D. Eurico Nogueira crê poder dizer-se que se deveu isso, em boa parte, a
acontecimentos de ordem política que impediram ou retardaram esse objectivo.
«Homens da Igreja com tal envergadura, escreve, causam impacto na área
sócio-política — não apenas na religiosa — sofrendo-lhe as consequências»
E o Arcebispo Emérito indica alguns
daqueles acontecimentos, com reflexos retardatários no desfecho do processo em
causa:
– revolução de 1640, dado que Frei
Bartolomeu aceitara a sucessão de Filipe de Castela;
– consulado do Marquês de Pombal, em meados do século XVIII, que proibiu as
obras do Arcebispo;
– implantação do Liberalismo, com a extinção da Ordens Religiosas (1834), entre
as quais a Dominicana, impulsionadora da respectiva causa;
– ocupação de Roma e fim dos Estados Pontifícios (1870), com perturbações na
Cúria;
– mudança do regime político-constitucional em 1910, com as conhecidas
dificuldades criadas à acção da Igreja em Portugal.
(Um resumo dos processos de beatificação
e canonização pode ver-se na referida obra de José de Castro, vol. VI, pag.
363-399).
9
Locais de particular interesse
Relacionados com a vida e obra de D.
Frei Bartolomeu dos Mártires há locais que se revestem de particular interesse.
Um deles é a igreja e o convento de S.
Domingos, em Viana do Castelo, mandados edificar pelo Arcebispo Santo. Naquele
convento se recolheu, depois de ter resignado ao arcebispado de Braga, e naquela
igreja foi sepultado.
No Campo da Vinha, em Braga, se situou o
Seminário Conciliar, por aquele Arcebispo fundado.
A pedra que se encontrava à entrada do
mesmo, e que contém uma inscrição com dados relativos à finalidade do Seminário
e à sua ligação com o Concílio de Trento, conserva-se no Museu D. Diogo de
Sousa.
Na igreja do Colégio de S. Paulo (hoje,
Seminário Conciliar), edificada no seu tempo, encontra-se o brasão do Arcebispo.
10
Virtudes de que deu exemplo
De quanto escrevi já se pode ter
concluído ter D. Frei Bartolomeu dos Mártires praticado em elevado grau um
conjunto de virtudes. Vou, porém, salientar algumas em que particularmente
sobressaiu.
10. 1. Austeridade de vida
Começo pela austeridade de vida.
Compelido a aceitar o cargo de Arcebispo
de Braga, Frei Bartolomeu dos Mártires assegurou no Capítulo da sua Ordem,
reunido em 8 de Agosto de 1558, que em nenhum tempo mudaria o estilo de vida que
tinha levado.
«Digo claramente e declaro que se os
meus prebendados desejam ouvir alvoradas de charamelas e se os fidalgos de Braga
querem ver passeios de ginetes formosos e mulas gordas e anafadas e nuvens de
pagens enfeitados e urgindo sedas, desenganem-se, que nunca me verão tão
desatinado que despenda com ociosos aquilo com que posso dar vida a muitos
pobres», afirmou mais tarde, por ocasião de uma visita do Provincial.
Quando, em 22 de Setembro de 1559,
partiu de Lisboa para Braga, a recâmara que trouxe, escreve Fr. Luís de Sousa,
«não passava de alguns livros, e não muitos, e uma pobre cama da ordem sem cousa
comprada de novo».
Entrou no Paço, informa o Autor da «Vida
do Arcebispo», «pelas formosas salas que chamam da Rosa e de Hércules e nem
quando entrou fez caso delas nem pelo tempo adiante, porque nunca delas se quis
servir... Só da câmara em que
se recolheu e do concerto dela mostrou contentar-se, porque era a seu modo e,
por ordem sua, nesta forma: -- Uma cama sem nenhuma diferença das ordinárias da
Ordem de S. Domingos: três tábuas mal lavradas, atravessadas sobre dous
banquinhos do mesmo lavor. Sobre este leito, que na Ordem chamamos barra,
lançado um enxergão de palha e em cima seu colchão de lã, coberto com duas
mantas de pano grosso, que eram as mesmas que tirou do Mosteiro e lhe serviram
muitos anos depois. Estes faziam ofícios de lençóis mimosos e de amparo para o
frio e entre mantas dormiu toda a vida... Na cabeceira uma táboa de pinho
arrimada à parede com um papel pregado, em que havia só estas duas letras S.
B...
Esta era a cama pontifical sem outro
paramento, nem pavilhão nem cortina e era tão curta que, segundo sua estatura,
de força havia de jazer encolhido e tão estreita que não dava lugar de mudar
sítio nem jazida.
A mesa que tinha para escrever e
estudar, era como as que usamos na ordem (é seu próprio nome banca na figura e
no feitio). Sobre ela um devoto crucifixo a quem tal mesa ficava servindo mais
de Calvário, que de Altar.
Ao lado da parede umas estantes a uso fradesco que diziam com a mesa na feição e
pobreza. Poucos livros nelas, mas cartapácios muitos e cadernos de sua mão
escritos, argumento de seus estudos... Do meio das estantes pendia um pequeno
retábulo de nossa Senhora do Rosário.
Com este retrato da sua cela, que
nunca alterou enquanto viveu e foi Prelado, temperava as vivas saudades que
sempre o seguiam dela».
As letras S. B., ainda segundo Fr.
Luís de Sousa, significavam: surge bestia: «levanta-te, animal torpe, dessa
cama, que quem nela se deixa estar mais tempo do que é necessário precisamente
para refazer a natureza fraca e cansada, mais é animal bruto, que homem
racional, não digo já religioso nem estudante».
A mesma austeridade se manifestava no
seu estilo de vida.
O mantimento quotidiano da sua mesa,
prossegue Frei Luís de Sousa, os dias de carne (excepto as quartas-feiras que
para ele eram dias de peixe), era uma só ração de vaca ou carneiro. Não comia
peixe continuo por conselho médico.
Às quartas e sextas-feiras comia com
seus capelães em refeitório com lição e silêncio a uso monástico.
Dos jantares não desdiziam as ceias, que deviam ser mais leves.
Não havia escudeiros, nem pagens, nem
homens de capa e espada. Oficiais de câmara e mesa a uso de casas grandes, como
ele era, que são camareiro, mordomos, estribeiro, trinchante, eram para o
Arcebispo matéria de riso.
Todo o aparato da sua estrebaria era
uma mula só de uma pessoa e esta de tão pouco estado que de ordinário, por não
comer a cevada ociosa, andava ocupada com outras de serviço acarretando o que
era necessário para provisão da casa.
Na viagem que fez para Trento, — em
56 dias percorreu 332 léguas — quando chegava ao lugar onde tencionava
pernoitar, procurava um Convento de S. Domingos ou de S. Francisco. Deixava a
mula e os companheiros e a pé, com Fr. Henrique de Távora, ia procurar o
convento. Tinha a preocupação de se apresentar como um simples frade, ocultando
a sua condição de arcebispo. Recomendava aos restantes companheiros, que não
eram muitos, que repousassem juntos onde achassem mais cómodo e no dia seguinte
o esperassem à saída do lugar, para tornarem todos ao caminho. Recomendava-lhes
que «por nenhum caso dessem notícia de sua pessoa nem dissessem ser de sua
família».
Depois de ter renunciado à Mitra
bracarense, levou a vida de um simples frade dominicano.
«Quem quiser saber, escreve Fr. Luís
de Sousa, a vida que o Arcebispo fazia depois que se achou entre os seus frades
em Viana, ponha de parte o título de Arcebispo e debuxe à sua vontade um
religioso observantíssimo, e qual for a vida que este der, tal assento que era a
do Arcebispo.
Mostrou o santo velho em entrando no
convento que vinha com ânimo de se avantajar a si mesmo e ao mesmo tempo mais
florido.
A primeira cousa por onde começou,
foi desafiar-se juntamente com todos os rigores e obrigações da regular
observância, guardando-as tão pontualmente, como se fora um frade raso de
inteira e firme disposição, que viera assinado para aquele Convento e muito
desejoso de agradar ao Prelado com vida e exemplo.
Assim acudia ao coro a todas as horas
canónicas, assim andava apontado nas inclinações e nas pausas e pontos ao rezar
os salmos. E tão solícito era em se conformar com todos nos jejuns, silêncio,
recolhimento, trato de suas pessoas e em todas as mais cerimónias da Ordem, como
se então acabara de sair de casa de noviços com opinião do mais reformado dela.
Pedia com muita instância ao Prelado
e aos mais religiosos que se lhe queriam dar gosto, o tratassem em tudo e
mandassem como se agora entrara de novo na Ordem e começara seu Noviciado, sem
lembrança nem respeito da dignidade passada.
Por nenhum modo consentia se usassem
com ele particularidades nem dispensações e desconsolava-se muito se o Prelado o
queria aliviar nos rigores da Constituição dizendo e provando com razões que a
dignidade que tivera, fora uma cousa que se acrescentara e não sucedera ao
estado monástico que professara.
Pelo que na hora que sua renunciação
fora pelo Papa aceitada e ele assolto do Arcebispado, ficava puro frade com
todas as obrigações de sua profissão, como sempre o fora e desde essa hora não
havia mais nele, que frei Bartolomeu dos Mártires, o qual frei Bartolomeu estava
obrigado a continuar com suas Comunidades e com toda a guarda da regra e
constituições, como se nunca fora Arcebispo e somente andava alguns dias ausente
com licença.
Fundado nesta razão não sofria que na
mesa lhe pusessem cousa alguma em particular e se acaso lha punham, em notando
que não corria a mesma por toda a comunidade, logo a apartava de si e o mesmo
fazia a qualquer mimo que o Prelado lhe mandava».
Mesmo velho e doente, não deixou de
usar sempre túnicas de estamenha.
«Aconteceu um dia tratar com aspereza
a Frutuoso Fernandes, que só de todos os seus criados deixou consigo, porque uma
manhã lhe dava uma túnica lavada, mais cedo a seu parecer do que costumava
mudar-se.
Agastou-se e disse-lhe: -- Que é
isso, irmão? Mimos à carne? Quereis-me regalar? Não sabeis vós que tenho escrito
a quantos do mês vesti a que trago? -- E mandou-lhe que a guardasse».
Das mortificações do ex-Arcebispo
conta o seu biógrafo:
«Com tal determinação e continuação
perseguia o santo sua própria carne, assim se ia à mão em tudo o que podia ser
de gosto ou de bom tratamento dela, que nenhum escravo rebelde foi nunca mais
aperreado de senhor desumano cruel, no comer, no beber, no vestir, no trabalhar
e em todas as mais cousas. São e doente parecia ter publicado contra si guerra
de fogo e sangue».
Se comia em casa alheia, o maior
desgosto que se lhe podia dar era porem-lhe na mesa muitas iguarias. Afrontava,
gemia, não comia. Pelo contrário, entrando em parte onde acertava achar falta ou
aperto, ali comia de boa vontade e notavelmente se lhe enxergava achar gosto e
sabor no que lhe davam.
Visitando em Santa Maria de Airão no
ano de 1573 não se achou em toda a terra um pão de trigo para a sua mesa,
havendo abundância de tudo o mais. Pediu que lhe trouxessem uma boroa (assim
chamam por aquelas partes ao pão de milho) e não só comeu dela mas serviu-lhe de
salsa e apetite para comer bem do mais, confessando que só nela achara gosto por
ser mantimento de pobres, grosseiro e não mimoso.
A cama de que se servia enquanto
assistiu no governo do arcebispado, lê-sew ainda na Vida do Arcebispo, «sobre
ser tão pobre que nunca foi avantajada às da Religião, e sobre ser tão curta que
lhe cumpria jazer de contínuo encolhido sob pena de ficar com os pés de fora e
tão estreita que não podia dar voltas sem perigo, mandava para mais mortificação
abrir uma cova de alto a baixo no enxergão, onde assentando o colchão, que
ficava em cima, com o peso do corpo, jazia não só entalado, mas como enterrado».
Frei Luís de Sousa salienta que o
Arcebispo não se contentava com usar de rigor consigo somente quando andava são
e robusto. A mesma regra guardava sendo enfermo.
Não despia as túnicas grossas de
estamenha ardendo em febres nem consentia tirarem-lhe as mantas e porem-lhe em
lugar delas lençóis de linho. E o que é mais, não trocava o género e quantidades
de comida ordinária de são.
10. 2. Programa de vida
A austeridade do Arcebispo
manifestava-se também no seu programa de vida.
Levantava-se infalivelmente todos os
dias às três horas da manhã. Ocupava-se até pela manhã no estudo da Sagrada
Escritura e dos Santos Padres, ou em escrever tratados de devoção. Rezava suas
horas pela manhã cedo e sempre só, se não era quando nesse dia havia de pregar,
porque então se ajudava do capelão. Às oito dizia sua Missa ou a ouvia. Depois
da Missa dava audiência geral mandando entrar primeiro todas as mulheres que
havia e logo se recolhia com um desembargador para a câmara, em que dormia, a
despachar as petições e papéis que havia. Neste despacho entendia até horas de
jantar, que para ele eram sempre as do meio dia.
À tarde mandava abrir as portas para
quem queria negociar com ele e vendo papéis despachava até se cerrar o dia. De
ordinário em se fazendo sinal nas igrejas às Avé-Marias se recolhia e fechava em
sua câmara, e, largando todo o género de negócio temporal, entendia em suas
devoções particulares e a principal era a oração e contemplação.
Quando andava em visita pastoral, no
lugar que havia de ser visitado procurava ser o primeiro que de toda a família
se levantava pela manhã cedo e gastava um grande espaço de tempo na oração.
10. 3. Cumprimento dos deveres
Procurou D. Fr. Bartolomeu dos
Mártires cumprir escrupulosamente os seus deveres de primeiro responsável pela
Igreja bracarense.
Não deixa de ser elucidativo o que
Frei Luís de Sousa conta relativamente aos ensinamentos que o Arcebispo recebeu
de um pequenino pastor de ovelhas:
«Passavam um dia de um lugar para
outro. Salteou-os uma chuva fria e importuna que os não largou na mor parte da
jornada, e corria um vento agudo e desabrigado, que os congelava.
Tinha-se adiantado o Arcebispo,
segundo o seu costume, que era caminhar só, para se ocupar, com mais liberdade,
em suas contemplações; e ia fazendo matéria de tudo quanto via no campo e na
serra, para louvar a Deus.
Oferece-se-lhe à vista, não longe do
caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto ao vento e à chuva, um menino
pobre e mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas, que ao longe andavam
pastando.
Notou o Arcebispo a estância, o
tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho; e viu juntamente, que ao
pé do penedo se abria uma lapa, que podia ser bastante abrigo para o tempo.
Movido de piedade, parou, chamou-o e disse-lhe que se descesse abaixo para a
lapa e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante para a esperar.
— Isso não, respondeu o pastorinho,
que em deixando de estar alerta e com o olho aberto, vem o lobo e leva-me a
ovelha, ou vem a raposa e mata-me o cordeiro.
— E que vai nisso? – disse o
Arcebispo.
— A mim vai muito, -- tornou ele --,
que tenho pai em casa, que pelejará comigo, e tão bom dia, se não forem mais que
brados. Eu vigio o gado, ele me vigia a mim: mais vale sofrer a chuva.
Não quis o Arcebispo dar mais passo.
Esperou que chegassem os da sua companhia, contou-lhes o que se passava com o
menino, e acrescentou:
— E este esfarrapadinho inocente
ensina a Frei Bartolomeu a ser Arcebispo! Este me avisa que não deixe de acudir
e visitar minhas ovelhas, por mais tempestades que fulmine o céu; que se este,
com tão pouco remédio para as passar, todavia não foge delas, respeitando o
mandado do pai mais do que o seu descanso, que razão poderei eu dar, se, por
medo de adoecer ou padecer um pouco de frio, desamparar as ovelhas, cujo cuidado
e vigia Cristo fiou de mim, quando me fez pastor delas?»
Não obstante o inverno que fazia,
iniciou as visitas pastoraisà Arquidiocese logo em Janeiro.
Mais tarde, regressado de Trento,
decidiu visitar pessoalmente as igrejas da Cidade, no que teve de lutar contra a
oposição do Cabido. Ficou finalmente acordado, «por assento perpétuo e
irrevogável, que o Arcebispo visitasse por sua pessoa o Clero da cidade e
nomeasse para a visitação dos leigos dous Capitulares quais lhe parecesse, os
quais dariam conta a ele Arcebispo do que achassem».
Terminadas as visitas a todas as
igrejas da Cidade, iniciou a visita ao restante do arcebispado. «E para o poder
fazer, conta Fr. Luís de Sousa, como a Diocese é tão larga e espalhada ordenou
parti-la em três comarcas ou distritos, dando poucas menos de quinhentas
freguesias a cada distrito, e tantas assentou que poderia visitar cada ano.
E saiu-lhe tão acertada a traça, que
por ela se governou enquanto assistiu no Arcebispado contentando-se com dar
visita a todas as suas ovelhas cada três anos uma vez».
Durante a peste de 1570 não fez caso
dos conselhos que lhe deram para se cuidar e evitar o contágio. E as razões eram
estas: «Se o mal era declarado, escreve Fr. Luís de Sousa, se tão forte e
impetuoso que os pais fugiam dos filhos, e os filhos dos pais, pelo mesmo caso
cumpria acudir ele que tinha obrigação de socorrer todos, e não desamparar
nenhum.
Se sua pessoa era de importância como
diziam, com os necessitados o havia de mostrar, e isto havia de ser assistido
com eles no trabalho e no perigo.
Que não era bom capitão quem se punha
em salvo quando os soldados pelejavam nem bom pastor quem lhe sofria o coração
ver de outeiro o perigo das ovelhas. Nem seria amigo verdadeiro do Pastor quem
em tal tempo lhe aconselhasse fazer falta em seu ofício»
O Arcebispo fez-se, naquele período
difícil, «enfermeiro de seus súbditos encerrando-se com eles e governando-os com
amor».
Numa carta dirigida em 4 de Novembro
de 1576 ao Papa Gregório XIII D. Frei Bartolomeu referia-se aos seus muitos
afazeres: «Além dos infinitos negócios, escrevia, tenho de visitar quase mil e
trezentas paróquias cuja visita faço em quatro anos, como também gasto nesta
visita a maior parte do ano, e além disto tenho alguns conventos de freiras dos
quais tenho a cura e de que me incumbi e que assaz me crucificam, e alguns
outros de que agora me não recordo que foram visitados pelos meus antecessores
por causa da distância da cidade de Braga».
10. 4. Vida de oração
De todos os exercícios e ocupações
santas do Arcebispo, a que mais tempo lhe levava, era a oração.
Aludi atrás ao tempo que o Arcebispo
lhe dedicava, ao recordar o seu programa de vida. Diz Fr. Luís de Sousa que,
quer como pregador apostólico quer como leitor de Artes e Teologia, preparava-se
sempre com a oração, «como quem tinha experiência que se alcançava mais nela em
pouco espaço, que nos melhores cartapácios em muito». «De estudo sem devoção e
de pregação sem oração, pouco proveito se pode esperar», dizia.
Já na última fase da vida, em Viana do Castelo, aconteceu um dia ir pregar
longe. Regressou tarde e cansado do caminho. Entrou no refeitório e começou a
jantar. Ouvindo tanger a Vésperas, no mesmo ponto deixou a mesa, o comer, e
caminhou logo para o coro.
E tudo o que rezava ou entoava no
coro e fora dele era com uma certa eficácia e devoção tão do íntimo da alma que
notoriamente se via que saía dela o que pronunciava a boca.
10. 5. Santificação
Além da sua santificação pessoal
preocupava-se o Arcebispo com a santificação dos outros.
Rezava a fim de «pedir a Deus que lhe
desse particular favor e ajuda para fazer discípulos santos mais que doutos com
a lição, para salvar almas com a pregação», escreve Fr. Luís de Sousa E
acrescenta: «assim foi sempre o intento de seus sermões: desterrar vícios e
pecados, mostrando o dano e o perigo deles e afeiçoar os corações a Deus».
10. 6. Devoção ao Santíssimo
Sacramento
Tinha D. Frei Bartolomeu dos Mártires
uma particular devoção ao Santíssimo Sacramento.
Acabado o Capítulo em que foi
obrigado a aceitar a Mitra de Braga, diz Fr. Luís de Sousa, saiu-se o eleito do
Coro e foi-se lançar diante do Santíssimo Sacramento no altar de Jesus...
10. 7. O grande Reformador
D. Fr. Bartolomeu dos Mártires, que
ensinava muito com as obras e não apenas com as palavras, defendeu no Concílio
de Trento o que hoje diríamos uma reforma de cima a baixo. Das cúpulas às bases,
mas a começar por cima. «Porque lhe parecia, escreve Fr. Luís de Sousa, que como
fim principal daquela sagrada e geral consagração era emendar o mundo e
purificá-lo de vícios, convinha começar a obra pela parte mais grave dele, que
era o Eclesiástico, e pela melhor do Eclesiástico que eram os Prelados e daí
passar às coisas de menos consideração e isto dizia que era proceder com ordem».
«Instava, rogava, persuadia e aconselhava em público e em particular, que não
gastassem em cousas de pouca importância uma tão preciosa ocasião como tinham
entre mãos para grandes efeitos. Começassem logo pelo que mais convinha que era
limpar o ouro da Igreja, que era o estado eclesiástico, que estava escurecido
com costumes depravados e delícias e pompas e com muitos vícios que daqui
brotavam...
Que pois eram todos Médicos e para
curar a Cristandade estavam ali juntos, curassem primeiro a si mesmos, que assim
persuadiriam eficazmente ao mundo e aos hereges e aos membros podres da Igreja
que sofressem o ferro e o cautério, onde fosse necessário, sem poderem
dizer: — Medice, cura teipsum»
Depois desta luta do Arcebispo,
prossegue Fr. Luís de Sousa, propôs-se aos padres conciliares em primeiro lugar
se havia motivo para que fossem incluídos na reforma os Cardiais.
«Começaram a votar os que ficavam
precedendo o Arcebispo e um após outro nemine discrepante (isto é, por
unanimidade), foram dizendo com a cortesia costumada: — Que os Ilustríssimos e
Reverendíssimos Cardinais não haviam mister reformados.
Quando tocou dizer ao Arcebispo,
disse assim, aproveitando-se das mesmas palavras e termo dos que tinham votado,
mas com liberdade e espírito de Varão Apostólico: Illustrissimi et
Reverendissimi Cardinali indigent Illustrissima et Reverendissima reformatione.
A linguagem é: Os Ilustríssimos e
Reverendíssimos Cardiais hão mister uma Ilustríssima e Reverendíssima
reformação.
E logo visando com muita segurança
por onde estavam os Candiais Legados e fazendo uma mui cortês inclinação, disse
com voz grave e sonora: -- Vossas Senhorias Ilustríssimas são as fontes donde
todos os Prelados bebemos e portanto convém que esta água esteja mui limpa e
pura».
Segundo José de Castro (Ob. cit., vol
V, pag. 183-184) a sátira pungente contra os membros do Sacro colégio,
necessitados de ilustríssima e reverendíssima reforma, não se encontra nas actas
do Concílio. Mas. acrescenta: «não é de admirar porque de ordinário, a não ser
um ou outro discurso anteriormente redigido e entregue ao secretário do
Concílio, somente inserem resumos dos discursos, pareceres, sentenças, votos,
etc. Mas o Processo n.º 298 que trata do processo de canonização do Venerável
Frei Bartolomeu dos Mártires traz a este respeito uma página interessante:
‘Chegado ao Concílio de Trento empregou toda a força e energia da eloquência
para que em primeiro lugar se tratasse de reformar as pessoas eclesiásticas e
não obstante encontrar muitos contrários à sua ideia, tanto soube dizer,
aconselhar e pedir em público e em particular que finalmente obteve que se
começasse a discorrer sobre este ponto e, numa das sessões, quando lhe tocou dar
o seu voto, fez uma invectiva contra o fausto e a vaidade em que viviam muitos
prelados e outros eclesiásticos, censurando com fervor apostólico que se
proibisse tal costume com o título e o pretexto de tornar por este meio mais
respeitável a dignidade e provando com razões e exemplos ser muito maior a
autoridade e o respeito que aos prelados e ministros da Igreja’. E a transcrição
prossegue, citando textualmente o desejo da tal eminentíssima reforma, a que
acima se faz referência, como tendo sido efectivamente proferido em pleno
Concílio.
Num parecer que em 13 de Setembro de
1563 deu ao exame dos 21 cânones da reforma geral pode ler-se:
«Ponha-se um capitulo especial acerca
dos cardeais e diga-se que eles devem ser os primeiros clérigos do orbe,
excelentíssimos pela santidade e doutrina e faça-se a reforma segundo esta
sentença. Diga-se que sejam escolhidos entre os bispos que são famosos em
ciência e santidade que não necessitem de exame; mas quando tais não se
encontrem, faça-se um exame diligente».
«Ponha-se uma pena aos arcebispos que
não reúnem concílios provinciais». (José de Castro, Idem, pag. 181).
O Arcebispo não se ficou em palavras
mas entregou-se, corajosamente, a reformar a sua Diocese, aplicando as
orientações do Concílio, para o que teve de vencer grandes resistências. Mas,
diz Fr. Luís de Sousa, como «estava persuadido que o negócio lhe tocava na alma,
respondeu com poucas palavras e desassombradamente, que nunca Deus quisesse que
por temores do mundo deixasse de fazer o que a sua consciência lhe ditava».
Com esse objectivo convocou para 11
de Novembro de 1564 um sínodo Diocesano, que reuniu na Catedral e terminou no
dia 14 com deliberações de que discordaram o Cabido e parte do Clero.
Reuniu em 8 de Setembro de 1566 o IV
Concilio Provincial de Braga (nessa altura eram sufragâneos de Baga os bispados
de Coimbra, Porto, Viseu e Miranda), onde foram tratados assuntos respeitantes à
reforma dos costumes e ao melhor serviço e governo da Igreja. As sessões tiveram
lugar em 8 de Setembro de 1566, nos dias 16, 20 e 25 de Março e 10 de Abril de
1567 e cuja nulidade foi deduzida pelos procuradores do Cabido de Braga. Em
causa estavam assuntos como a visita das igrejas e capelas da Cidade; a visita
das igrejas unidas à Mesa capitular; os livros e autos dessas visitas; o terço
de todos os mantimentos que se vendiam na cidade; a Fábrica das igrejas unidas à
Mesa capitular; a residência dos Cónegos nos benefícios curados, anexos às suas
prebendas; as distribuições quotidianas dos Cónegos homiziados ou encarcerados;
as contas da administração das capelas de D. Gonçalo Pereira, D. Lourenço
Vicente, D. Diogo de Sousa e D. Fr. Baltasar Limpo; a apresentação, colação e
provisão dos vigários das igrejas do Cabido.
Roma apoiou sempre o arcebispo e os
diferendos vieram a ter soluções amigáveis.
Dando também sequência ao capítulo
XVIII da sessão 23 do Concílio de rento, que mandava estabelecer nas sedes das
dioceses seminários para a formação dos eclesiásticos, foi construído o
Seminário de Braga, como já vimos.
Os bispos do Concílio Provincial
decidiram fundar os Seminários.
Nas suas corridas apostólicas, conta
o P. José de Castro (ob. cit., vol. III, pag. 345), encontrou igrejas pobres e
sem culto, dadas em comenda aos Cavaleiros da Ordem de Malta e da Ordem de
Cristo. Sequestrou-lhes os frutos das comendas, dotou-as com o necessário, e em
algumas pôs párocos e coadjutores, sem consideração pelos privilégios locais ou
pessoais.
Imaginam-se as consequências: iras,
censuras, apelos aos tribunais, sendo os piores os da Ordem de Malta, e de um
modo especial o Visconde de Ponte de Lima que, tendo o seu feudo dentro dos
limites da diocese de Braga, teve com ele uma terrível controvérsia. Mas por fim
o Visconde foi conquistado pelo zelo apostólico do Santo Arcebispo.
10. 8. Servo da Palavra
D. Frei Bartolomeu dos Mártires
dedicou à pregação todo o tempo que pôde, como disse já a propósito da sua
actividade evangelizadora.
Quando recolhido ao convento de
Viana, «começou a continuar o ofício da pregação pelos lugarinhos do redor
(...), como se saíra estudante moço e fresco do colégio e começara então a fazer
exercício do púlpito e desbastar-se. E não passava domingo nem festa que
deixasse de ir a uma e mais léguas de distância». Entendia que «não se jubilava
na obrigação de servir os próximos, enquanto havia forças e que pois vencia e
levava pensão e podia andar a pé, ainda que cercado de indisposições, estava
obrigado a servir».
Eram as palavras do Arcebispo em todo
o tempo chãs e singelas, comenta Frei Luís de Sousa, mas sabia-as propor com um
termo tão grave que lhes dava alma e uma certa força que obrigava e persuadia e
sujeitava.
O seu estilo de pregar era mui
diferente do que usava na Corte. Deixou flores de retórica, explicações agudas e
conceitos levantados e entregou-se todo a termos chãos e doutrina clara que
servisse para todos.
Nas visitas pastorais pregava
doutrina acomodada à necessidade e capacidade dos ouvintes que achava.
10. 9. Caridade
Uma das grandes virtudes praticadas
por D. Fr. Bartolomeu dos Mártires foi a da Caridade, sobretudo para com os
pobre e os doentes.
Como Prior do Convento de Benfica,
escreve Fr. Luís de Sousa, «pelo temporal do Convento matava-se pouco ainda que
não tinha descuido. Mas, persuadido e confiado que não podia Deus faltar a quem
de verdade o servisse, conforme suas divinas promessas, não fazia diligência por
adquirir renda nem acrescentar a que a casa tinha e do que havia de portas
adentro era tão liberal que lhe aconteceu tempo de fome, acudindo muitos pobres
a portaria, mandar repartir por eles o peixe que estava guisado e prestes para o
jantar da comunidade, dizendo que, em tempo de necessidade, para religiosos que
professavam a pobreza, bastavam ervas e frutas e que, se eles fossem verdadeiros
filhos de S. Domingos em obras e exemplo, isto bastaria para os seculares se
desentranharem por lhes acudir».
À mesa, a primeira coisa que fazia
era separar logo metade para os pobres, fazendo de conta que, quando se sentava,
tinha Cristo por convidado.
Nas visitas que fazia, ia tomando
«estreita e miúda informação» das necessidades mais precisas que havia em cada
lugar e os nomes dos necessitados, mandando-lhes depois roupas e outra ajudas.
Na Cidade, conta Fr. Luís de Sousa,
«mandou tomar a rol todo o género de pobres, assim das portas, como
envergonhados e viúvas e donzelas honradas, com tanta diligência que não havia
necessidade tão encoberta que andasse fora de seus memoriais. E porque receava
ficar-lhe alguma por remediar, como se fora algum grande delito, encomendava a
pessoas de confiança e virtuosas que com todo o resguardo e cuidado procurassem
saber se havia gente que antes quisesse padecer que manifestar-se e logo lhe
dessem aviso para não lhe escapar o socorro. E ele por outra parte, com o mesmo
segredo, se informava se viviam virtuosamente. E como achava necessidade e
virtude, logo entravam no rol e conforme à qualidade e família lhe taxava a
quantidade que haviam de haver de seu esmoler, de pão, carne e peixe, azeite e
vinagre para cada semana E o pão mandava dar em grão e aos de mais qualidade
ajuntava quantia certa de dinheiro e alguns alqueires de pão na entrada de cada
mês. E a todos se acudia com tanta pontualidade, que nem no dia limitado havia
falta nem na taxa alteração.
Estes eram providos todos de vestido
e às mulheres mandava dar mantas para não faltarem em ir à igreja. A muitos que
moravam em casas alugadas mandava pagar os alugueres.
A esmola da porta que se dava a todos
os pobres que a ela vinham, era quartas e sextas-feiras e era em dinheiro e
achava-se que passavam de mil pessoas, as que de ordinário vinham a ela em cada
um destes dias. Afora esta esmola costumava o Arcebispo dar de sua mão outra a
todos quantos lha pediam sem excepção de pessoa e para isso trazia na algibeira
quantidade de vinténs em prata, que outra moeda nenhuma conhecia nem lhe sabia a
valia. »
Nas visitas pastorais, além de pregar
e crismar, reunia também com os pobres, e «a uns acudia com dinheiro na mão para
remediarem suas necessidades logo, a outros tomava em rol para os mandar
vestir».
Praticava também a hospitalidade.
Costumava dizer que «em sua casa só ele era o estranho e os pobres eram os
verdadeiros e naturais senhores dela».
Em tempos de maior carestia, como
aconteceu na «esterilidade apertada» de 1567 e anos que se lhe seguiram, «mandou
suspender os pagamentos e consignações de dinheiro que dava de suas rendas para
a fábrica do Colégio da Companhia, e do seu Convento de Viana, dizendo que
convinha acudir às paredes vivas com as rendas pontificais, rendas mais
propriamente dos pobres que do Prelado». Chegavam a juntar-se à porta do Paço,
para receber esmola, muito pouco menos de três mil pessoas, e a todos mandava o
Arcebispo dar de comer cada dia. «À noite tinham suas esmolas, que as vinham
buscar muitos homens nobres disfarçados, que dando-se a conhecer ao Padre frei
João de Leiria, recebiam cada um com segredo e decoro a quantidade de pão que
haviam mister para as suas famílias».
Em carta endereçada de Trento a Frei
João de Leiria recomendava: «Digo que quanto Vossa Reverência recebeu o ano de
1561, eu não quero mais que os dois mil cruzados que comigo trouxe; e todo o
mais minha vontade é que nada se entesoure, mas que tudo se gaste em obras pias,
em casamento de órfãs assim na cidade como nas câmaras: e nos vestidos dos
pobres, e nos estudantes, e doentes, e outras minhas esmolas». E mais adiante:
«Bem suspeito que Vossa Reverência se enfastiará de tanto lhe repetir a
diligência com os pobres, mas nisto me há-de perdoar é meu ofício, sou
dispenseiro da fazenda dos pobres. Não a herdei, não a ganhei; queria-se
repartir como manda seu Senhor. E porque não convém encobrir nada a Vossa
Reverência, saiba que todas as novas que vêm de Braga são boas, tirando acerca
dos pobres que vai a coisa mui apertada para eles» (José de Castro, ob. cit.
Volume IV, pag. 206-208).
Já em Viana do Castelo, deu a própria
cama a uma pobre velha, passando a dormir sem ela.
Uma vez deu o colchão a um pobre e um
cobertor a outro.
Para tesoureiros do dinheiro buscou
os mais afeiçoados aos pobres e a fazer esmolas.
Tendo conhecimento de que em
Fevereiro de 1570 a peste iniciada em Portugal dois anos antes tinha invadido a
Cidade, o Arcebispo, que andava em visita pastoral, regressou imediatamente a
Braga, a fim de prestar assistência aos doentes, não obstante o risco do
contágio.
Mandou levantar na Devesa, além da
ponte de Guimarães, um hospital para recolher e curar os doentes com o pessoal
médico e de enfermagem necessário. Ele mesmo visitava todos os enfermos. Fez
guardar com rigorosa vigilância as portas da Cidade. Ordenou fossem feitas
fogueiras em todas as praças e ruas e mandou que se limpasse a Cidade de todas
as imundícies.
Memórias desta epidemia são, ainda
hoje, uma inscrição no cruzeiro de S. João da Ponte, e o «caixão do rolo»,
existente na capela de S. Sebastião das Carvalheiras, a recordar o suposto voto
da Câmara feito nesta ocasião e em nome do povo de, se o mal cessasse, ir todos
os anos em procissão à capela do Santo, fazendo primeiro a volta à Cidade com um
rolo de cera, da medida exacta da sua circunferência, o qual havia de arder no
templo enquanto durasse a festa.
Condoído com a pobreza em que
encontrou os moradores da serra da Gávia, autorizou-os a dormirem na igreja,
«pondo-lhes preceito que pagassem a pousada com silêncio inviolável», pela
grande veneração que tinha ao Santíssimo Sacramento.
Foi voto seu, conta Frei Luís de
Sousa, quando se achou no Concílio de Trento e nele com veemência instou, que se
decretasse que todo o Prelado, depois de tomar de suas rendas o necessário para
uma côngrua e decente sustentação de sua pessoa e casa e oficiais, tudo o mais
depositasse no tesouro de sua Sé, aplicado logo como património que era de
Cristo, para sustentação de pobres e daí se repartisse por eles.
«Obrigava, diz também aquele
Biógrafo, a estudar os filhos dos homens pobres e honrados da cidade de Braga
para depois lhes sustentar a casa com mais abundância, porque enquanto eram
moços assinalava-lhes ração de comida e vestido e quando maiores, se continuavam
o estudo e davam boa conta de si em vida e costumes, provia-os nos benefícios de
sua apresentação, com que ficavam ricos e remediados pais e filhos e toda a
família».
Adoecendo qualquer capelão ou outro
criado seu, não só fazia diligência que fosse bem curado e provido de todo o
necessário, mas ele em pessoa o visitava em cada dia.
10. 10. Patriotismo
Houve quem, por ocasião da crise
política de 1580, pusesse em dúvida o patriotismo do Arcebispo. Os partidários
do Prior do Crato não gostaram do seu comportamento. Não parece, no entanto, que
tenha sido partidário de Filipe II, que aceitou a sua renúncia ao Arcebispado
com tanta facilidade.
Sobre este tema pode ler-se a citada
obra do P. José de Castro, vol. I, pag. 55sgs. Em sua opinião «é efectivamente
uma grande injúria pensar que o santo Arcebispo e Senhor de Braga fora pela
candidatura de Filipe II (Idem, pag. 67).
Bibliografia
Castro, P. José de, Portugal no
Concílio de Trento, volumes III, IV, V e VI. Ed. União Gráfica, Lisboa, 1944. No
vol. VI, pag. 401-409) apresenta uma extensa bibliografia sobre D. Frei
Bartolomeu dos Mártires. Também no vol. VI, pag.411-426, publica-se uma relaçao
das obras de D. Frei Bartolomeu dos Martires.
Ferreira, Mons. J. Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, tomo
III, 1932, pag. 7-62.
Idem, História Abreviada do Seminário Conciliar de Braga e das Escolas
Eclesiásticas Precedentes, Braga, 1937.
Nogueira. D. Eurico, Bartolomeu dos Mártires: porquê só agora beato?, «Diário do
Minho», 26 de Julho de 2001
Sousa, Frei Luís de, O.P. Vida do Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, ed.
da Empresa do Diário do Minho, L.da, Braga, 1946.
Monsenhor Silva Araújo



|