Uma das maiores figuras católicas do século XIX; a história da
Espanha, nessa época, não pode ser compreendida sem o estudo da vida
do grande missionário.
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Santo
António Maria Claret foi um dos grandes esteios da Santa Igreja no
seu tempo. Pio XII, quando o
canonizou em 1950, chamou-o de “Santo
de todos”. Isso porque, diz o Pontífice, “nele olham os artesões,
os sacerdotes, os bispos e todo o povo cristão, já que se encontram
nele exemplos preclaros com que se alentar e encorajar-se, cada qual
segundo seu estado, nessa perfeição cristã da qual unicamente podem
sair, nas perturbações presentes, os oportunos remédios e atrair
tempos melhores”.
Esse
santo, de uma actividade espantosa, foi “apóstolo da palavra,
pregando inumeráveis sermões; apóstolo da pena, publicando
muitíssimos volumes; apóstolo da Imprensa, criando academias,
livrarias e bibliotecas; apóstolo da acção social católica e dos
exercícios espirituais. Foi catequista, missionário, formador do
clero, director de almas, fundador de congregações, pedagogo e ‘anjo
tutelar da família real’, em frase de Pio XI; mas, sobretudo,
eminentemente santo”.
Pregador popular, fundou a Congregação Missionária dos Filhos do
Coração Imaculado de Maria. Foi Arcebispo de Santiago de Cuba,
confessor e conselheiro da rainha Isabel II, da Espanha. No Concílio
Vaticano I, destacou-se como intrépido defensor da infalibilidade
pontifícia.
Como
não é possível abarcar aqui toda a obra desse incansável batalhador,
limitar-nos-emos a algumas rápidas pinceladas.
António João Adjutor nasceu no dia 23 de dezembro de 1807 em
Sallent, diocese de Vich, província de Barcelona, na Espanha, quinto
dos 11 filhos de João Claret e Josefa Clará. Proprietários de uma
pequena tecelagem, eram eles “honrados e tementes a Deus, muito
devotos do Santíssimo Sacramento do Altar e de Maria Santíssima”,
como diz o santo em sua autobiografia.
No Crisma, “por devoção a Maria Santíssima, acrescentei o
dulcíssimo nome de Maria, porque Maria Santíssima é minha Mãe, minha
Madrinha, minha Mestra, minha Directora e meu tudo depois de Jesus”.
Piedade e verdadeira
vocação sacerdotal
De
uma piedade precoce, desde a idade de cinco anos já se preocupava
com a eternidade e o destino do homem. Adulto, pondera: “Não sei
compreender como os outros sacerdotes que crêem nestas mesmas
verdades que eu — e todos devemos crer — não pregam nem exortam para
preservar as pessoas de caírem nos infernos”.
Sua
devoção à Santíssima Virgem surgiu quase que com o uso da razão:
“nunca me cansava de estar na igreja diante de Maria do Rosário, e
falava-lhe e rezava com tal confiança, que cria bem que a Santíssima
Virgem me ouvia”.
Compreende-se que, assim, a vocação sacerdotal despertasse nele
muito cedo: “Sendo ainda muito pequeno, quando estava ainda no
Silabário, fui perguntado por um grande senhor, que veio visitar a
escola, o que queria ser. Eu lhe respondi que queria ser sacerdote”.
Acentuado espírito
missionário
Adolescente, começou a trabalhar na tecelagem do pai; como fez
muitos progressos nessa arte, foi especializar-se em Barcelona,
grande centro da indústria têxtil. Com muita aplicação no trabalho e
um talento fora do comum, dominou tão bem a arte têxtil, que iria
longe se se dedicasse exclusivamente a ela. Mas o apelo de Deus se
fez mais premente, e ele resolveu romper de uma vez com o mundo e
retirar-se para uma cartuxa. Mas acabou optando por ser sacerdote
secular.
Em
1829 António ingressou no Seminário de Vich. Nesse tempo, como pegou
uma forte gripe, mandaram-lhe guardar o leito. Num desses dias foi
atacado por terrível tentação contra a pureza. Recorria a Nossa
Senhora, ao Anjo da Guarda, aos seus santos padroeiros, mas tudo em
vão. Finalmente, “eis que se me apresenta Maria Santíssima,
formosíssima e graciosíssima, [...] e me disse: ‘António, esta coroa
será tua se vences’.[...] E a Santíssima Virgem me punha na cabeça
uma coroa de rosas que tinha no braço direito”. Essa não foi a
única graça mística que recebeu. Em sua vida, há várias
manifestações palpáveis do sobrenatural.
No
dia 13 de junho de 1835, festa de seu patrono, António recebeu a
ordenação sacerdotal, e foi nomeado coadjutor em sua cidade natal.
Compreendeu então que sua vocação era a de ser missionário, e quis
evangelizar os povos da Catalunha, órfãos desde a supressão das
Ordens religiosas. Como isso não era factível por causa da guerra
civil, foi a Roma pedir admissão na Congregação das Missões
Estrangeiras.
Pregar “oportuna e
inoportunamente”
Na
Cidade Eterna, depois de fazer os Exercícios Espirituais com padres
da Companhia de Jesus, resolveu nela ingressar, e começou o
noviciado. Mas sobreveio-lhe aguda dor em uma perna, e teve que
voltar para a Espanha. Pouco depois o Padre Geral da Companhia de
Jesus lhe escrevia: “Deus o trouxe à Companhia, não para nela
ficar, mas para que aprendesse a ganhar almas para o Céu”.
António Maria obteve então licença para pregar missões na Catalunha
e nas ilhas Canárias. Operava curas milagrosas, tanto materiais
quanto espirituais, expelindo demónios dos possessos, regularizando
casais mal-casados. A isso movia-o o intenso desejo de livrar almas
do inferno, pois “obriga-me a pregar sem parar o ver a multidão
de almas que caem nos infernos, porque é de fé que todos os que
morrem em pecado mortal se condenam”.
Animava-o o exemplo de São Paulo: “Como corre de uma parte a
outra, levando, como vaso de eleição, a doutrina de Jesus Cristo!
Ele prega, escreve, ensina nas sinagogas, nos cárceres e em todas as
partes; trabalha e faz trabalhar oportuna e inoportunamente; sofre
açoites, pedras, perseguições de toda espécie, calúnias as mais
atrozes”. Pode-se dizer que essa descrição cabe também a Santo
António Maria Claret.
Diz
ele: “Quando ia missionando, tocava nas necessidades e, segundo
via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Se na população
observava que havia o costume de cantar cânticos desonestos,
publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral. Por isso os
primeiros folhetos que publiquei, quase todos, são de cânticos”.
Em
1849 o Pe. António Maria fundou, com mais cinco sacerdotes, uma
Congregação religiosa cujos membros seriam seus auxiliares na obra
das missões, com o nome de Missionários Filhos do Imaculado Coração
de Maria. Assim descreve como deve ser esse missionário: “Um
Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade
e que abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por
todos os meios acender em todo o mudo o fogo do divino amor. Nada o
pára; goza nas privações; procura os trabalhos; abraça os
sacrifícios; compraz-se nas calúnias e se alegra nos tormentos. Não
pensa senão em como seguirá e imitará a Jesus Cristo em trabalhar,
sofrer e no procurar sempre e unicamente a maior glória de Deus e a
salvação das almas”.
Nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba em 1850, afirma em suas
palavras de saudação que “a verdadeira Prelada será a Virgem
Santíssima, e a forma de governo a que Ela me inspire”.
Na
primeira missão que pregou na Ilha o fruto foi tão grande, que 40
confessores não foram suficientes para atender todas as confissões.
A comunhão geral, distribuída por três sacerdotes, durou seis horas!
Somente nessa missão, foram legitimados 8.577 matrimónios.
Os
“espíritos fortes” fizeram várias tentativas infrutíferas para
matá-lo, mas Nossa Senhora velava por ele.
Desvendando o futuro
de Cuba e Espanha
Santo
António Claret fez muitas profecias. Por exemplo, quando em Cuba,
profetizou “grandes terremotos”. Estes vieram. Quando as
autoridades quiseram remover os escombros, alertou: “Haverá
outro”. Depois profetizou: “Se os pecadores não despertam com
os terremotos, Deus passará a castigá-los no corpo com a peste ou
cólera”. Veio a epidemia de cólera-morbo, que em três meses fez
2.734 vítimas. Afirmou, no entanto, que isso fora uma misericórdia
de Deus, porque “muitos que não se haviam confessado na missão,
se confessaram para morrer; e outros, que se haviam convertido e
confessado na missão, se haviam precipitado outra vez nos mesmos
pecados. E Deus, com a peste, os levou”.
Em
1861, já como confessor da Rainha Isabel II, “o Senhor me fez
conhecer os três grandes males que ameaçavam a Espanha, e são: o
protestantismo, ou melhor, a descatolização, a república e o
comunismo. Para atalhar estes males, me deu a conhecer que se haviam
de aplicar três devoções: o Triságio, o Santíssimo Sacramento e o
Rosário”.
Combatendo os erros dos socialistas
Escrevendo sobre uma visita que fez às províncias da Andaluzia, na
Espanha, no ano de 1862, o indómito Arcebispo comenta o trabalho dos
socialistas naquela região, aproveitando-se da apatia de governantes
e eclesiásticos. Anota vários erros espalhados por eles, dos quais,
por sua actualidade, citaremos um que poderia ser subscrito hoje
pela CPT, MST e congéneres:
“Até agora os ricos desfrutaram as terras. Já é tempo que as
desfrutemos e as dividamos entre nós. Essa divisão não só é de
equidade e justiça, mas também de grande utilidade e proveito; pois
os terrenos aglomerados pelos ricos ladrões são infrutíferos.
Divididos entre nós em pequenos lotes, e cultivados por nossas
próprias mãos, darão abundantes colheitas”.
Comenta o Santo: “Com essas perorações e demais meios tão
aliciantes e fascinantes, e ameaçando e insultando aos que não
cediam logo, foi como [o movimento socialista] tomou grandes
proporções em tão pouco tempo”.
Santo
António Maria Claret faleceu no dia 24 de outubro de 1870, no
mosteiro cisterciense de Fontfroide (França), sendo canonizado por
Pio XII em maio de 1950.
Plínio Maria Solimeo

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