Biografia
O pai,
António Galvão de França, nascido em Portugal, era o capitão-mor da
vila. Sua mãe, Isabel Leite de Barros, era filha de
fazendeiros,
bisneta do famoso bandeirante Fernão Dias Pais, o "caçador de
esmeraldas".
António
viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais
gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo
dar uma forma-ção humana e cultural segundo suas possibilidades
económicas, mandou o filho com a idade de treze anos para o Colégio
de Belém, dos padres jesuítas, na Bahia, onde já se encontrava seu
irmão José.
Lá fez
grandes progressos nos estudos e na prática cristã, de 1752 a 1756.
Queria tornar-se jesuíta, mas por causa da perseguição movida contra
a Ordem pelo Marquês de Pombal, seu pai o aconselhou a entrar para
os franciscanos, que tinham um conven-to em Taubaté, não muito longe
de Guaratinguetá. Assim, renunciou a um futuro promissor e influente
na sociedade de então, e aos 16 anos, entrou para o noviciado na
Vila de Macacu, no Rio de Janeiro.
Distinguia-se pela piedade e virtudes. A 16 de abril de 1761 fez
seus votos solenes. Um ano após foi admi-tido à ordenação sacerdotal,
pois julgaram seus estu-dos suficientes. Este privilégio mostra a
confiança que nutriam pelo jovem clérigo.
Foi
então mandado para o Convento de São Francis-co em São Paulo a fim de
aperfeiçoar os seus estudos de filosofia e teologia, e exercitar-se
no apostolado. Data dessa época a sua "entrega a Maria", como seu
"filho e escravo perpétuo", consagração mariana assinada com seu
próprio sangue a 9 de março de 1766.
Terminados os estudos foi nomeado Pregador, Confessor dos Leigos e
Porteiro do Convento, cargo este considerado de muita importância,
pela comunicação com as pessoas e o grande apostolado resultante.
Foi confessor estimado e procurado e, muitas vezes, quando era
chamado ia sempre a pé mesmo nos lugares mais distantes. Em 1769-70
foi designado confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as
"Recolhidas de Santa Teresa", em São Paulo.
Fundação de Novo
Recolhimento
Neste
Recolhimento encontrou Irmã Helena Maria do Espírito Santo,
religiosa de profunda oração e grande penitência que afirmava ter
visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.
Frei Galvão, ouvindo também o parecer de pessoas sábias e
esclarecidas, considerou válidas essas visões. No dia 2 de fevereiro
de 1774 foi oficialmente fundado o novo Recolhimento e Frei Galvão
era o seu fundador.
Em 23
de fevereiro de 1775, um ano após a fundação, Madre Helena morreu
repentinamente. Frei Galvão tornou-se o único sustentáculo das
Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência.
Enquanto isso o novo capitão-general da capitania de São Paulo,
homem inflexível e duro, retirou a permissão e ordenou o fechamento
do Recolhimento. Fazia isso para opor-se ao seu predecessor, que
havia promovido a fundação. Frei Galvão aceitou com fé e também as
recolhidas obedeceram, mas não deixaram a casa e resistiram até os
extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças a pressão do
povo e do Bispo, o recolhimento foi aberto.
Devido
ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a
aumentar o recolhimento. Durante catorze anos cuidou dessa nova
construção (1774-1788) e outros catorze para a construção da igreja
(1788-1802), inaugurada aos 15 de agosto de 1802. Frei Galvão foi
arquitecto, mestre de obras e até mesmo pedreiro. A obra, hoje o
Mosteiro da Luz, foi declarada "Património Cultural da Humanidade"
pela UNESCO.
Frei
Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da
Ordem Franciscana, deu toda a atenção e o melhor de suas forças à
formação das Recolhidas. Era para elas verdadeiro pai e mestre. Para
elas escreveu um estatuto, excelente guia de vida interior e de
disciplina religiosa. Esse é o principal escrito de Frei Galvão, e
que melhor manifesta a sua personalidade.
Frei
Galvão era considerado santo já em vida e a cidade fez dele o seu
prisioneiro. Em várias ocasiões as exigências da sua Ordem Religiosa
pediam que se mudasse para outro lugar para realizar outras funções,
mas tanto o povo e as Recolhidas, como o bispo, e mesmo a Câmara
Municipal de São Paulo intervieram para que ele não saísse da
cidade. Diz uma carta do "Senado da Câmara de São Paulo" ao
Provincial (superior) de Frei Galvão: "Este homem tão necessário às
religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da
Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e de prudente
conselho; todos acorrem a pedir-lho; é homem da paz e da caridade".
Frei
Galvão viajava constantemente pela capitania de São Paulo, pregando
e atendendo as pessoas. Fazia todos esses trajectos sempre a pé, não
usava cavalos nem a liteira levada por escravos, o que era
absolutamente normal para aquele tempo. Vilas distantes sessenta
quilómetros ou mais, municípios do litoral, ou mesmo viajando para o
Rio de Janeiro, enfim, não havia obstáculos para o seu zelo
apostólico. Por onde passava as multidões acorriam. Ele era alto e
forte, de trato muito amável, recebendo a todos com grande caridade.
Fenómenos místicos e
canonização
Frei
Galvão era homem de muita e intensa oração, e dele se atestam certos
fenómenos místicos, como os êxtases e a levitação. São famosos em
sua vida os casos de bilocação: estando em determinado lugar,
aparecia em outro, improvisamente, para atender um doente ou
moribundo que precisava da sua atenção.
Era
também procurado para a cura, em tempos em que não havia recursos e
ciência médica como hoje. Numa dessas ocasiões, inspirado por Deus,
escreveu num pedaço de papel uma frase em latim do Ofício de Nossa
Senhora: Post partum Virgo Inviolata permansisti: Dei Genitrix
intercede pro nobis, que poderia ser traduzida assim: "Depois do
parto, Ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por
nós!". Enrolou o papel em forma de pílula e deu a um jovem que
estava quase morrendo por fortes cólicas renais. Imediatamente
cessaram as dores e ele expeliu um grande cálculo. Logo veio um
senhor pedindo orações e um 'remédio' para a mulher que estava
sofrendo em trabalho de parto. Frei Galvão fez novamente uma
pilulazinha, e a criança nasceu rapidamente. A partir daí teve que
ensinar as irmãs do recolhimento a confeccionar as pílulas e dar às
pessoas necessitadas, o que elas fazem até hoje.
É
interessante ver na imensa relação de graças alcançadas por
intermédio de Frei Galvão, no Mosteiro da Luz, que, embora cerca de
60 a 70% das graças sejam relacionadas a cura de câncer, um grande
número de graças refere-se a problemas por cálculos renais, gravidez
e parto, ou de casais que não conseguiam ter filhos e foram
atendidos.
Em
1811, a pedido do bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira,
Frei Galvão fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, onde
permaneceu por onze meses para encaminhar a nova fundação e
comunidade. Posteriormente, após a sua morte, outros mosteiros foram
fundados por essas duas comunidades, seguindo assim, a orientação
deixada pelo beato.
Faleceu
em 23 de dezembro de 1822 e a pedido do povo e das irmãs foi
sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo
construíra. Seu túmulo sempre foi lugar de contínuas peregrinações.
Em 8 de
abril de 1997, foi beatificado pelo papa João Paulo II, tornando-se
o primeiro beato
brasileiro.
O papa
Bento XVI reconheceu em 16 de dezembro de 2006 o segundo milagre do
frade franciscano António de Sant'Ana Galvão (1739-1822). Com isso,
ele é o primeiro brasileiro nato a ser declarado santo pelo
Vaticano. A canonização aconteceu em 11 de maio de 2007 durante
missa campal que o papa Bento XVI celebrou em São Paulo em 11 de
maio durante sua visita ao Brasil.
A missa
foi realizada no
Campo de
Marte num dia frio e ensolarado, com a presença de
milhares de fiéis vindos de toda a parte do mundo e com transmissão
ao vivo para todo o país.
|