― “A dor das
almas amadas e vítimas de Jesus são a sua glória, o seu triunfo. Como é sublime,
como é belo o caminho dos eleitos do Senhor. A crucificada de Jesus sofre com as
almas que a rodeiam, mas dias virão, e não longe, toda a dor se transformará em
alegria. Jesus alegra-se, Jesus consola-se com os que sofrem. A dor é a maior
prova do amor de Jesus para a alma e da alma para Jesus. A dor é a salvação dos
pecadores”.
Jesus, o meu
martírio tem salvo muitas almas?
― “Milhares,
milhares ; depressa o verás, louquinha de Jesus”.
Jesus, aquele
Senhor Padre José era aquele de quem há muito me tínheis feito queixa e por quem
eu sofria? Salvou-se?
― “Era, era,
minha louquinha ; está salvo, mas lá muito no interior do Purgatório. Necessita
de orações, muitas orações. Ofendeu muito a Jesus, mas foi grande o seu
arrependimento, a sua dor. Que grande dita para uma crucificada e esposa de
Jesus dar-lhe as almas que tanto o magoaram e feriram!”
Bendita seja toda a
dor qua me dais, bendito seja o remédio das almas!
― “Escuta,
filhinha amada. Em nome de Jesus afirma, jura ao teu Paizinho que ele é amado
por Jesus e Maria loucamente. O amor de Jesus ultrapassa todos os abandonos dos
homens. Os homens estão cegos, mas tempo virá que chorarão sua cegueira. Jesus
reina, Jesus triunfa, Jesus não consente que o seu filho predilecto desista do
seu posto. Será sempre no tempo e na eternidade o Pai espiritual, o guia e a luz
da louquinha de Jesus. Jesus pede ao médico da sua crucificada para que ele peça
ao Senhor Arcebispo que faça que a sua causa triunfe, que faça que o mundo seja
consagrado ao Imaculado Coração da Virgem-Mãe. Que escutem a voz de Jesus, que
se apressem a salvar o mundo, a salvar Portugal. Jesus ama o Doutor Azevedo e
sobre ele derrama todas as graças divinas e o seu Amor. Venham os estudos se
assim o querem, mas sem grande demora, porque o Céu aproxima-se”.
Jesus, obrigada
pelas vossas carícias e pelas da Mãezinha que me tem em seus braços, beija-me e
acaricia-me docemente.
Triunfai em min,
meu Jesus. Sinto que se vai abrindo o caminho que tão amargamente tenho seguido
e que só por vosso amor e pelas almas o tenho trilhado. Já quase posso entrar no
Céu; à custa de muita dor vai passando a tempestade. Que aguaceiro tão forte.
Que fúria, que fúria que tanto tem ferido o meu pobre coração. Bendito sejais
vós, meu Amor, bendita seja a vossa mão santíssima que vai desviando do meu
caminho tudo aquilo que me estorva de seguir.
Sinto que o Céu
está aberto quase de par en par para me receber. Já posso entrar, meu Jesus? Não
sei que estado é agora o da minha alma. Parece que me sinto entre o Purgatório e
o Céu; na maior parte do tempo não sinto nem grande dor, nem grande gozo.
Contudo, em alguns momentos, ai de mim, Jesus, vejo-me em cinza do abismo; sem
nada ter que me sustente, lá vou a cair nele. E logo vindes vós livrar-me de tão
grande horror, amparais-me, desviais-me dele. E eis-me de novo confiada só no
amor do vosso santíssimo Coração, a viver da esperança. Não caio, Jesus
ampara-me, Jesus sustenta-me. E, louquinha por vós, lanço-me para os vossos
divinos braços e sinto que vós com todo o amor me estreitais e acolheis. Com
Jesus, toda a amargura é doce, toda a dor se torna suave. Ah! Se todos
conhecessem o amor de Jesus!...
Depois da
Sagrada Comunhão
Senti que Jesus
unio os seus divinos lábios aos meus, assim como unia também ao meu o seu divino
Coração, abrindo-o de par em par para toda me receber, e dizia-me:
― “Minha filha,
lábios com lábios, coração com coração, amor com amor para se abrasar num só
fogo divino. Minha filha, tenho-te pedido toda a reparação, pedi-te por último a
reparação da gula; não te pedirei mais nada. Sou tão ofendido! Roubam, calcam
aos pés o alimento dos pobres. As ânsias que tens de te alimentares são as
ânsias que os pecadores têm de satisfazer os seus apetites, as suas paixões. As
saudades que sentes da alimentação são as saudades que eu tenho de possuir as
almas. Tudo termina, mas não como meus breves. Que grande é a tua glória! O
mundo não te compreende, alegra-te; também não me compreenderam a mim e ainda
muitos não me compreendem.”
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