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Alexandrina Maria da Costa

SENTIMENTOS DA ALMA

SETEMBRO 1942

5 de Setembro – Primeiro sábado

― “A dor das almas amadas e vítimas de Jesus são a sua glória, o seu triunfo. Como é sublime, como é belo o caminho dos eleitos do Senhor. A crucificada de Jesus sofre com as almas que a rodeiam, mas dias virão, e não longe, toda a dor se transformará em alegria. Jesus alegra-se, Jesus consola-se com os que sofrem. A dor é a maior prova do amor de Jesus para a alma e da alma para Jesus. A dor é a salvação dos pecadores”.

Jesus, o meu martírio tem salvo muitas almas?

― “Milhares, milhares ; depressa o verás, louquinha de Jesus”.

Jesus, aquele Senhor Padre José era aquele de quem há muito me tínheis feito queixa e por quem eu sofria? Salvou-se?

― “Era, era, minha louquinha ; está salvo, mas lá muito no interior do Purgatório. Necessita de orações, muitas orações. Ofendeu muito a Jesus, mas foi grande o seu arrependimento, a sua dor. Que grande dita para uma crucificada e esposa de Jesus dar-lhe as almas que tanto o magoaram e feriram!”

Bendita seja toda a dor qua me dais, bendito seja o remédio das almas!

― “Escuta, filhinha amada. Em nome de Jesus afirma, jura ao teu Paizinho que ele é amado por Jesus e Maria loucamente. O amor de Jesus ultrapassa todos os abandonos dos homens. Os homens estão cegos, mas tempo virá que chorarão sua cegueira. Jesus reina, Jesus triunfa, Jesus não consente que o seu filho predilecto desista do seu posto. Será sempre no tempo e na eternidade o Pai espiritual, o guia e a luz da louquinha de Jesus. Jesus pede ao médico da sua crucificada para que ele peça ao Senhor Arcebispo que faça que a sua causa triunfe, que faça que o mundo seja consagrado ao Imaculado Coração da Virgem-Mãe. Que escutem a voz de Jesus, que se apressem a salvar o mundo, a salvar Portugal. Jesus ama o Doutor Azevedo e sobre ele derrama todas as graças divinas e o seu Amor. Venham os estudos se assim o querem, mas sem grande demora, porque o Céu aproxima-se”.

Jesus, obrigada pelas vossas carícias e pelas da Mãezinha que me tem em seus braços, beija-me e acaricia-me docemente.

20 de Setembro

Triunfai em min, meu Jesus. Sinto que se vai abrindo o caminho que tão amargamente tenho seguido e que só por vosso amor e pelas almas o tenho trilhado. Já quase posso entrar no Céu; à custa de muita dor vai passando a tempestade. Que aguaceiro tão forte. Que fúria, que fúria que tanto tem ferido o meu pobre coração. Bendito sejais vós, meu Amor, bendita seja a vossa mão santíssima que vai desviando do meu caminho tudo aquilo que me estorva de seguir.

Sinto que o Céu está aberto quase de par en par para me receber. Já posso entrar, meu Jesus? Não sei que estado é agora o da minha alma. Parece que me sinto entre o Purgatório e o Céu; na maior parte do tempo não sinto nem grande dor, nem grande gozo. Contudo, em alguns momentos, ai de mim, Jesus, vejo-me em cinza do abismo; sem nada ter que me sustente, lá vou a cair nele. E logo vindes vós livrar-me de tão grande horror, amparais-me, desviais-me dele. E eis-me de novo confiada só no amor do vosso santíssimo Coração, a viver da esperança. Não caio, Jesus ampara-me, Jesus sustenta-me. E, louquinha por vós, lanço-me para os vossos divinos braços e sinto que vós com todo o amor me estreitais e acolheis. Com Jesus, toda a amargura é doce, toda a dor se torna suave. Ah! Se todos conhecessem o amor de Jesus!...

30 de Setembro

Depois da Sagrada Comunhão

Senti que Jesus unio os seus divinos lábios aos meus, assim como unia também ao meu o seu divino Coração, abrindo-o de par em par para toda me receber, e dizia-me:

― “Minha filha, lábios com lábios, coração com coração, amor com amor para se abrasar num só fogo divino. Minha filha, tenho-te pedido toda a reparação, pedi-te por último a reparação da gula; não te pedirei mais nada. Sou tão ofendido! Roubam, calcam aos pés o alimento dos pobres. As ânsias que tens de te alimentares são as ânsias que os pecadores têm de satisfazer os seus apetites, as suas paixões. As saudades que sentes da alimentação são as saudades que eu tenho de possuir as almas. Tudo termina, mas não como meus breves. Que grande é a tua glória! O mundo não te compreende, alegra-te; também não me compreenderam a mim e ainda muitos não me compreendem.”

   

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