 |
Pontos de reflexão
Primeira leitura
A questão
fundamental que o nosso texto põe é a da atitude de Deus diante dos
homens e do mundo. O catequista deuteronomista autor deste texto, está
seguro de que o Senhor da história, se preocupa com o caminho que os
homens percorrem e encontra sempre forma de derramar o seu amor e a sua
bondade sobre o Povo que ele próprio elegeu. Numa época em que a cultura
dominante parece apostada em decretar a “morte” de Deus ou, pelo menos,
em torná-lo uma inofensiva figura de cera e em exilá-lo para o museu das
experiências pré-racionais, é importante para nós crentes não
esquecermos esta certeza que a Palavra de Deus nos deixa: o nosso Deus
preside à história humana, vem continuamente ao encontro dos homens, faz
com eles uma Aliança, oferece-lhes a paz e a justiça e aponta-lhes o
caminho para a verdadeira vida, a verdadeira liberdade, a verdadeira
salvação.
É preciso,
nestes dias que antecedem o Natal, ter consciência de que a promessa de
Deus a David se concretiza em Jesus… Ele é esse “rei” da descendência de
David que Deus enviou ao nosso encontro para nos apontar o caminho para
o reino da justiça, da paz, do amor e da felicidade sem fim. Que
acolhimento é que esse “rei” encontra no nosso coração e na nossa vida?
Mais uma
vez, a Palavra de Deus deixa claro que Deus intervém no mundo e
concretiza os seus projectos de salvação através de homens a quem Ele
confia determinada missão (“tirei-te das pastagens onde guardavas os
rebanhos, para seres o chefe do meu povo de Israel”). Estou disponível
para que Deus, através de mim, possa continuar a oferecer a salvação aos
meus irmãos, particularmente aos pobres, aos humildes, aos
marginalizados, aos excluídos do mundo?
Segunda leitura
A segunda
leitura reitera a mensagem fundamental da primeira: Deus tem um plano de
salvação para oferecer aos homens. O facto de esse projecto existir
“desde os tempos eternos” mostra que a preocupação e o amor de Deus
pelos seus filhos não um facto acidental ou uma moda passageira, mas
algo que faz parte do ser de Deus e que está eternamente no projecto de
Deus. Não esqueçamos isto: não somos seres abandonados à nossa sorte,
perdidos e à deriva num universo sem fim; mas somos seres amados por
Deus, pessoas únicas e irrepetíveis que Deus conduz com amor ao longo da
caminhada pela história e para quem Deus tem um projecto eterno de vida
plena, de felicidade total, de salvação. Tal constatação deve encher de
alegria, de esperança e também de gratidão os nossos corações.
A nossa
leitura deixa ainda claro que esse projecto de salvação foi totalmente
revelado em Jesus Cristo – no seu amor até ao extremo, nos seus gestos
de bondade e de misericórdia, na sua atitude de doação e de serviço, no
seu anúncio do Reino de Deus. Prepararmo-nos para o Natal significa
preparar o nosso coração para acolher Jesus, para aceitar os seus
valores, para compreender o seu jeito de viver, para aderir ao projecto
de salvação que, através Deus Pai nos propõe.
Evangelho
Neste
domingo que precede o Natal de Jesus, a história de Maria mostra como é
possível fazer Jesus nascer no mundo: através de um “sim” incondicional
aos projectos de Deus. É preciso que, através dos nossos “sins” de cada
instante, da nossa disponibilidade e entrega, Jesus possa vir ao mundo e
oferecer aos nossos irmãos – particularmente aos pobres, aos humildes,
aos infelizes, aos marginalizados – a salvação e a vida de Deus.
Outra
questão é a dos instrumentos de que Deus se serve para realizar os seus
pla-nos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa
“Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta
que tivesse uma significativa pre-paração intelectual, extraordinários
conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de
influência da Palestina de então… Apesar disso, foi esco-lhida por Deus
para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na
história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na
perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a
visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma
missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das
suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor
com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
Padre José
Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga |