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PONTOS DE REFELXÃO
PRIMEIRA LEITURA -
Is 7,10-14
O Livro do Emanuel (Is 6-12)
abrange vários oráculos de Isaías - o profeta da fé inquebrantável em
Deus - destinados a contrastar a
política e o estilo de vida diametralmente opostos do rei Acaz e
da parte de Israel desse tempo. Acaz não quer motivar a sua vida e o seu
olhar sobre a história em Deus e nos
sinais da sua presença. Melhor, não quer saber deles, e por
isso Isaías leva-o a fazer um acto
de fé mediante o anúncio do nascimento de um «Emanuel».
O início de um itinerário de
fé em Deus dá-se quando se procura algum sinal sensível da sua presença,
ou melhor, que o próprio Deus se deixa encontrar e surpreender na origem
e para além de algum episódio (que pode também ter a dimensão de um
«milagre»). Isaías sugere ao rei Acaz esse percurso, mas inutilmente. O
sinal será no entanto oferecido - para quem quiser reconhecê-lo - no fim
inglório e trágico dos dois reis, que agora Acaz tanto teme (Is 7,4-5).
Quando é que isso acontecerá? Muito
depressa, antes que chegue ao uso da razão
(v. 16) um «Emanuel», a criança que ainda não nasceu quando
Isaías pronuncia o oráculo.
Por
conseguinte, Isaías está a traçar a história de um Deus--connosco
(Emanuel), sinal concreto da presença e da acção do Senhor na história
de Israel (oráculos de Is 8,5-8; 9,1-6; 1U-9).
Quando o versículo 14 do texto
foi traduzido do hebraico para o
grego dos LXX alargaram-se as proporções prodigiosas do sinal do
Emanuel, propondo como mãe deste último uma «virgem» (parthénos).
Daqui o cumprimento reconhecido de tal profecia em
Mt 1,23.
SEGUNDA LEITURA - Rom. 1,1-7
O
início da Carta aos Romanos é redigido com evidente solenidade e com
uma exposição que é típica do Apóstolo Paulo.
Nele podemos distinguir três
temáticas: a vocação apostólica de Paulo e a sua finalidade, «escolhido
para o Evangelho» e «levar todos os gentios a obedecerem à fé»: w. 1-5;
o conteúdo central do Evangelho de Deus, que é «Jesus Cristo, Nosso
Senhor», «que, como homem, foi descendente de David», e «constituído
Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os
mortos» (v. 4); finalmente, todos os
gentios, e os próprios cristãos de Roma, são «amados por Deus e
chamados à santidade», (v. 7)
Assim o Apóstolo Paulo, neste
último domingo do Advento introduz-nos no «Evan-gelho de Deus», que o
Natal do Senhor nos chama a acolher e a anunciar.
Os versículos 2-4 são uma
antiga profissão de fé cristã, considerada «pré-paulina» (ou seja, dos
primeiros anos da Igreja apostólica). Nela se afirmam duas verdades: o
Filho de Deus, que é o Nosso Senhor, fez-se «verdadeiro homem» na
descendência de David; com a sua «ressurreição dos mortos» Ele foi
glorificado na Sua própria humanidade «santificada» pelo Espírito
Santo. Este mistério fora prometido por Deus e já anunciado pelos
profetas nas Sagradas Escrituras. A partir de Cristo desenrola-se depois
toda a história de Paulo, que recebe a graça de ser Apóstolo e se dirige
a todas as gentes, entre as quais estão os destinatários da carta e
também nós, para suscitar a fé em Jesus Cristo.
EVANGELHO - Mt.
1,18-24
Nos dezassete versículos
iniciais do primeiro capítulo do seu Evangelho, Mateus resume - sob a
forma de uma lista bem seleccionada de antigos antepassados de Israel -
a pré-história da Salvação no Antigo Testamento. No texto evangélico de
hoje são apresentados os três personagens que encabeçam o início dos
acontecimentos definitivos: o Filho de Deus, tornado homem, Jesus e o
Emanuel (w. 21-23); Maria de Nazaré, esposa de José, tornada mãe de
Jesus por obra do Espírito Santo (w. 18 e 20); José, da casa de David,
chamado a fazer de pai do Filho de Deus e de Maria, ao impor-Lhe o nome
de Jesus (w. 1-9-20.24).
Fundamentalmente, o nosso
olhar de fé dirige-se para o mistério do Filho de Deus que Se faz homem
por iniciativa de Deus e do seu Espírito.
Os dois primeiros crentes,
envolvidos num modo diferente, mas igualmente decisivo nesta entrada do
Senhor na história humana, são Maria de Nazaré e José de Belém. Estes,
na evocação que aqui Mateus nos oferece, não falam, mas obedecem ao
plano que lhes é indicado por Deus. Melhor, nos dois capítulos
relativos ao «evangelho da infância»
(Mt
1-2), Maria e José deixam-se guiar unicamente pelos
acontecimentos e pela interpretação que o próprio Senhor lhes oferece
através do sonho.
Mateus quer sobretudo
demonstrar como os dois papéis, expressos nos nomes atribuí-dos ao Filho
de Deus feito homem, correspondem perfeitamente ao que o Senhor foi e é
para a Humanidade: «Jesus», isto é, salvador de todos com o Seu sangue
derra-mado pela Humanidade (Mt
26,28) e «Emanuel», ou seja, Deus connosco «todos os dias até ao
fim do mundo» (Mt
28,20).
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |