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PONTOS
DE REFLEXÃO
PRIMEIRA
LEITURA - Is 35,1-6.8.10
O tom solene
de anúncio, que dá unidade e significado aos primeiros dez versículos do
capítulo 35 de Isaías, confere ao olhar do profeta sobre o futuro um
carácter de algo iminente. De resto, os ritmos do tempo de Deus não são
medidos pelos relógios dos homens: «Olhai para o vosso Deus... vem para
vos salvar.» (v. 41) O futuro já começou, embora a experiência da
presença divina seja para o homem lenta e progressiva. O
deserto, transfigurado num jardim,
serve de cenário ao regresso a Deus para todos os que provêm de
experiências de desorientação e de desconfiança.
A libertação
mais completa do homem chama-se «salvação»,
e não tem o homem por autor, mas Deus! Todas as outras formas de
auto-libertação humana - social, reli-giosa, intimista - são demasiado
condicionadas pelos limites da criatura e por amar-gas desilusões.
O nosso
oráculo de confiança não nos isenta de procurar,
não desencoraja as iniciativas
humanas, seja qual for a distância de onde começam, mas convida a
contar sobretudo com Deus. No
capítulo 6 do mesmo livro de Isaías denunciavam-se olhos fechados
e ouvidos surdos à voz de Deus. Finalmente, a cura que salva será dada
pelo Senhor a todos os que restituírem a Ele a iniciativa e acolherem o
Seu dom. Esta obra de salvação já foi inaugurada em Jesus
(Mt 11,2-11).
SEGUNDA LEITURA - Tg
5,7-10
Da longa série
de exortações à autêntica espiritualidade evangélica, recolhida na Carta
de Tiago, a que está contida no texto de hoje é a penúltima (seguida de
um original e denso apelo à oração:
Tg 5,13-18). O autor
convida os cristãos a uma espera fiel e perseverante do Senhor, segundo
o modelo de espera dos profetas.
A «vinda» do
Senhor é traduzida no texto de hoje com uma palavra grega (parusia)
que literalmente exprime «presença» (w. 7 e 8). E este significado é
confirmado também pela frase conclusiva: «Eis que o Juiz está à porta.»
(v. 9) Portanto, não vivamos com a ideia de quem se julga órfão e no
exílio. Volvamos o olhar da fé para a presença do Senhor. Certamente, é
mais fácil vê-l'O em Belém, do que caminhando para Jerusalém, não tanto
em ambientes e «culturas» de abundância, autonomia e grandeza presumida,
mas voltado para os pequenos e para os simples (onde existem novos
esfomeados, estrangeiros, encarcerados, doentes), como os próprios
profetas nos ensinaram.
Não se pode
evitar depois o outro tema espiritual do texto de hoje: «Sede
pacientes» (w. 7-8), como o agricultor que espera «pacientemente» (v.
7), como os profetas, autênticos modelos de «paciência» (v. 10). O
vocábulo utilizado não diz somente «suportação» (como em Tg
1,2-12), mas também «ânimo grande e forte» (em grego temos o
verbo makrothy-meo)y plena confiança num Deus ao qual
se adere sem receio. É isto precisamente o que exige o facto de irmos de
novo em direcção ao Natal e encontrarmos ou descobrirmos o Senhor em
Belém.
EVANGELHO
- Mt
11,2-11
É a segunda
vez nestes domingos do Advento que João Baptista nos guia à procura e ao
reconhecimento de Jesus, d'« Aquele que há-de vir» (v. 3) e que a
Humanidade espera, exprimindo de várias maneiras a sua esperança. Por
seu lado, Jesus faz um grande elogio à personalidade profética do
precursor: «De todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que
João Baptista.» (v. 11b) Isto é, a grandeza passa a medir-se em relação
ao Reino e já não em relação à função profética, a respeito da qual João
foi o último grande intérprete!
Nos dez
versículos do texto evangélico a questão central é obviamente a resposta
de Jesus à questão colocada por João Baptista «mediante os seus
discípulos» (v. 2b). Todavia, deve ter-se presente o contexto: do
cárcere, no qual se encontra, João «ouve falar das obras de Cristo» (v.
2a). Isto justifica o envio de discípulos a Jesus: então já não eram as
obras de Cristo que o convenciam?
Jesus enumera
o tipo de obras em que pode ser reconhecido, em linha com os grandes
anúncios proféticos (Is 29,18--19; 35,5-6; 61,1). É surpreendente, mas
significativa, a frase conclusiva: «Feliz daquele que não se escandaliza
por causa de Mim!» (v. 6). Então, esse tipo de «obras» pode
escandalizar? Porquê?
A esta altura
é inevitável um esclarecimento posterior, ou seja: qual é o Jesus de
Nazaré que estamos a procurar e a esperar? Segundo modelos já prontos e
sem surpresas? Ou então, com a previsão de sair da Belém dos presépios,
para os seus «presépios» e as suas presenças ainda escandalosas?
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |