|
Pontos de reflexão
PRIMEIRA
LEITURA Is 11,1-10
O oráculo de
Isaías é rico de referências que se relacionam com toda a tradição
profética e messiânica. Podemos distinguir nele pelo menos quatro
temáticas: a plenitude do Espírito do Senhor sobre o ramo saído do
tronco de Jessé (w. 1-2). A sua tarefa prioritária será o de
restabelecer a justiça, em defesa dos pobres (w-3-5); o efeito do seu
governo será a paz (w. 6-9); os povos procurarão por isso o reino
messiânico da raiz de Jessé (v. 10).
Quantas vezes
Israel, na sua longa história, exprimiu a espera de uma ordem
messiânica, entre homens e no Universo, que tivesse Deus por origem e
autor primeiro, e como seu «instrumento» visível e histórico um seu
eleito! A recordação do oráculo de Nata a David
(2Sm
7) foi fonte de múltiplas profecias, como a de Isaías no texto
litúrgico de hoje.
De entre as
quatro secções temáticas da leitura de hoje, não se sabe qual a que
melhor nos prepara para as festas natalícias! Acaso será a efusão
singular do «Espírito do Senhor» ou o exercício da justiça em defesa dos
pobres? É precisamente esta última acção messiânica que olha, com uma
fervorosa invocação, para grande parte da Humanidade, mesmo dos nossos
dias!
SEGUNDA LEITURA
Rm
15.4-9
Em todo o
capítulo 14 da Carta aos Romanos, Paulo enfrentou o problema dos fracos
na fé, presentes na comunidade cristã: não se podem escandalizar, mas
acolher, e levar à união de pensamento e à relação com Deus.
O apelo está
fundado quer nas Sagradas Escrituras, que agora estão nas nossas mãos e
nos motivam e instruem, quer no exemplo que nos deixou Jesus Cristo.
Sobressai,
antes de mais, a profissão de fé na leitura e na escuta das Sagradas
Escrituras, reconhecidas aqui como Palavra de Deus, destinadas a
«instruir» e reacender a «esperança» no Povo de Deus (v. 4). Essa
experiência de fé vem já do Antigo Testamento (Is 55,8-11; lMc 12,9), e
agora é, retomada pelos Escritos apostólicos
(2Tm
3,15-16).
Mas depois
Paulo propõe como ponto central Jesus Cristo, a cuja existência terrena
somos chamados a referir-nos, para O imitarmos: quer no que diz respeito
à relação com Deus Pai, quer no acolhimento de todos, hebreus e pagãos,
com a finalidade de dar glória a Deus. Por isso, para além do caminho
espiritual para cada um - e do nível de fé alcançado - procuremos a
unidade da fé e do abandono do «Deus da paciência e da consolação» (v.
5).
EVANGELHO
Mt
3,1-12
Deve
entender-se, nos seus temas diferentes, a mensagem transmitida por
Mateus acerca de João Baptista. Sucedem-se quatro cenas: a profecia
central de João Baptista - «Convertei-vos, porque o Reino do Céu está
próximo» - em linha com a de Jesus
(Mt 1-3; Mt
4,17); a figura espiritual de João que lembra a de Elias (w. 4-6;
Mt 11,14; 17,10-13); os
fariseus e os saduceus acusados por João de conversão não autêntica (w.
7-10); finalmente, o anúncio acerca d'Aquele que «baptizará no Espírito
Santo e com fogo» (w. 11-12).
A figura de
João Baptista é apresentada pelo evangelista Mateus na sua identidade
austera, insensível a compromissos, paralela e subordinada à de Jesus.
Mais que os outros evangelistas, Mateus junta o ministério profético de
João Baptista ao do Mestre: na cena do Baptismo conferido a Jesus (Mx
3,13-17), na alternância quanto à pregação do Reino dos Céus (Mx
4,12-17); na pergunta que João, do cárcere, envia a Jesus através dos
discípulos (Mx 11,2-19); na narração da morte do precursor (Mx 14,1-12);
finalmente, numa última recordação do Baptismo recebido de João pelo
Mestre em Jerusalém (Mx 21,23-32). Eis porque, segundo Mateus, Jesus
orienta os discípulos a identificarem João Baptista com o Elias
esperado por Israel (Mx 17,10-13).
É desta
singular figura profética que nos chega, actual e urgente, o apelo à
conversão, também para vivermos intensamente o encontro com o Senhor
que vem no Natal.
Padre José Barbosa Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |