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PONTOS DE REFLEXÃO
PRIMEIRA LEITURA -
Is 2,1-5
O anúncio
profético de Isaías que escutamos na liturgia de hoje é muito
parecido com o que é descrito no livro do profeta Miqueias
(Mq
4,1-3). Provavelmente esta dupla edição utiliza um texto
escrito precedente - de autor desconhecido - que já celebrava
horizontes universalistas para o monte do Templo do Senhor. Um tema
que se tor-nará querido dos profetas de uma época de pós-exílio,
muito mais do que os de Isaías ou de Miqueias (Is 60,1-6; Zc
8,20-23).
Estamos
perante o primeiro de uma longa série de oráculos reunidos a partir
de Is, introduzidos pelo versículo inicial do texto de hoje. Nele se
distinguem: o anúncio da grandeza futura do monte, no qual se
encontra o Templo do Senhor; depois, a profissão de fé do povo, a
sua peregrinação à procura de orientação da parte do Deus de Jacob,
que reside em Sião.
Note-se o
aspecto ético-sapiencial do pedido: não se trata apenas de uma
expressão genérica de religiosidade. Temos aqui a implícita
confissão de ter caminhado por sendas que conduziram - como depois
se comenta - às divisões, às opressões e à guer-ra.
Porventura
o nosso oráculo tem por referência um dos significados originais do
nome de Jerusalém: «cidade de paz» e de «harmonia plena»
(Mq
5,4; Sl 121),
porque nela julgará com justiça o descendente messiânico, o Emanuel
(Is 11,1-9).
SEGUNDA LEITURA -
Rm
13,11-14
Na série
exortativa da sua grande Carta aos Romanos, São Paulo traça alguns
itine-rários de vida nova em Cristo. O pedido ineludível é que haja
o afastamento de uma mentalidade deste século: nas relações mútuas
entre crentes e também para com todos os homens. O critério
fundamental seja portanto a «honestidade de comporta-mento» da parte
dos cristãos, «como em pleno dia!» (v. 13)
Como já no
texto de Isaías da primeira leitura, também nesta passagem epistolar
o olhar está voltado para o futuro: para um dia que já está perto.
Ele pede-nos que «despertemos do sono» (v. 11), para assumir um
estilo de vida inspirado no Evangelho de Jesus Cristo. Portanto deve
aplicar-se uma reviravolta à vida de cada dia.
Paulo
prefere aqui uma simbologia muito frequente na Bíblia: a
contraposição entre a luz e as trevas, entre o dia e a noite. Assim
tinha começado a história do Universo, o seu primeiro dia
(Gn 1,3-5). Efectivamente - observa noutro lugar o Apóstolo - a
nova relação com o Senhor, inaugurada por Cristo, consistiu em
reacender a luz de Deus nas trevas da existência humana, acabada nas
áreas opacas do pecado e da morte: «O Deus que disse: "Do meio das
trevas brilhe a luz!", foi Ele mesmo que reluziu em nos-sos corações
para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece
na face de Cristo» (2Cor 4,6).
EVANGELHO -
Mt
24,37-44
Mateus
dedica dois longos capítulos do seu Evangelho
(Mt
24-25) à recordação do discurso de Jesus acerca dos últimos
acontecimentos da História, quer de Jerusalém
(Mt
24,1-22), quer do mundo, com o regresso final do Filho do
homem
(Mt
24, 23-36).
Derivam daí diversos apelos à vigilância
(Mt
24,37-25,30): antes de
mais, a página litúrgica de hoje com três apelos precisos,
sucessivamente com três parábolas. Como conclusão, aí lemos a
conhecida profecia ou parábola acerca do
juízo final dos «povos»
(Mt 25,31-46). Por conseguinte,
mais um olhar sobre o futuro, mas desta vez dirigido para a conclusão
do tempo da Igreja (e de cada homem).
Não é
difícil, no trecho evangélico proposto, distinguir os
três apelos à vigilância, fundados em acontecimentos da história
bíblica e da experiência humana.
O primeiro
é construído mediante um apelo à história longínqua de Noé (de que
se escreve em Gn
6-8): os contemporâneos de Noé, diz Jesus, «nada perceberam»,
não se interessaram por nada
daquilo que Noé lhes dizia. Por conseguinte, a
geração do dilúvio vivia numa
grande inconsciência espiritual.
Jesus
relembra, depois, prováveis «provérbios espirituais»
acerca da imprevisi-bilidade dos
acontecimentos: porque é que um sim, e outro não (w. 40-41)? Para
dizer que todos são chamados a «vigiar» (o verbo utilizado é
o que se refere às tarefas dos servos de um senhor, ou dono de casa); efectivamente,
«não sabeis em que dia virá o
vosso Senhor» (v. 42).
Finalmente, um texto parabólico tomado da vida quotidiana de um
dono de casa (w.43-44). Trata-se de uma imagem bíblica frequente: as
imprevisíveis irrupções nocturnas do ladrão,
para dizer que «na hora em que menos pensais virá o Filho do
homem». Portanto, estai prontos e na expectativa: não por medo do
Senhor que vem, mas para alimentar um espírito de serviço fiel e a
tempo inteiro!
Padre José Granja
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |